O caráter hibernou! Deram-lhe uma dose cavalar de antidepressivos e puseram-no a dormir. Está reduzido a pó de caca pelo que as elementares noções de dignidade transformaram-se numa massa untuosa, venal e degradada.
O mundo está dando várias cambalhotas globalizantes em que se mistura na mesma panela o liberalismo económico, o comércio livre e a não menos livre circulação de capitais. O dinheiro, o poder económico, a submissão política, a ambição, as fortunas provocatórias, desumanizam a sociedade. Nesta arena estimula-se a intolerância, o egoísmo, o cinismo, o culto da ganância do poder que pode nem ser, necessariamente, o do dinheiro.
Perante isto interrogo-me: como poderá vir a ser a raça humana no século XXI?
A partir da matriz atual nada se anuncia de bom. Politicamente as nações mais avançadas estão a ser lideradas por indivíduos medíocres e a economia global está fazendo deles seus reféns. Se tivermos uma visão desapaixonada verificamos que, na prática, a maioria dos países estão insolventes. Não é apenas a Irlanda, Grécia e Portugal, mas também a Itália, a Espanha, a Bélgica, os Estados Unidos da América, numa dança de possível junção de mais uns quantos. Quer dizer: vivemos num universo global falido.
Com tais ventos as pessoas encontram-se mais afastadas da reflexão crítica, do pensamento filosófico (no sentido do conhecimento), dos ensinamentos culturais que fortaleçam a massa crítica tornando-as conscientes da realidade e das malfeitorias e conferindo um elevado grau de exigência coisa que nenhum político ou patrão do dinheiro deseja. O saber só trás atritos!
O retrato atual da sociedade não contempla a camaradagem, a verdade, a solidariedade, o sacrifício, a generosidade, a amizade desinteresseira. Mergulha tudo num caldeirão de interesses, acotovelando-se, atropelando-se, traindo quem for preciso para atingir rapidamente os ambiciosos objetivos. É feio! É indigno! Paciência, é preciso ser rico aos 30 anos.
Lamento, mas não acredito que isto esteja melhor lá para 2050. Bem sei que depende do ponto em que nos colocarmos. A velocidade é característica comum à rapidez executiva das ações e ao processo abrasivo da vida. Homens e mulheres serão submetidos a um grau de exigência maior e o convívio pessoal perderá terreno perante o convívio de círculos de amigos via Internet (facebooks, twitters, etc.). O prazer de criar e desfrutar realidades virtuais e representações tridimensionais fornecerá um novo tipo de contacto cibernético com os povos, cidades, pessoas e vida sexual. Segundo uma multiplicidade de formas e atos ao gosto de cada um, epicuristas informáticos viverão na dependência de fabulosos aparelhos gestores de progresso e a rendição à inovação técnica será veloz a fim de alimentar incansavelmente o ego
Neste tsunami tecnológico e opulentamente vaidoso a primazia do espírito, do caráter e dos sentimentos deixarão de fazer sentido e a natureza humana será agredida de uma forma cada vez mais obscena.
O que será enfim perene?
A cultura e a arte sobreviverão como restos de um continente perdido porque são a expressão libertadora do mais secreto intimismo. Estas serão manifestações de eternidade visto que têm perdurado através dos séculos como refúgio espiritual de todas as paixões e tragédias humanas. Por tudo quanto de inovador passa nada substituirá a arte porque só ela nos concede a verdadeira noção de grandeza da vida e do seu mistério.
Debate-se muito o papel da arte na vida da sociedade. Será excessivo para uns, insuficiente para outros. Parece ser geralmente aceite que a arte surge a partir das questões da adaptação do homem à vida e ao ambiente que o envolve. As atitudes e realizações que hoje integra terão constituído, para o homem chamado primitivo, formas daquilo que designamos por magia.
Ernst Fischer em A Necessidade da Arte chamou a atenção para a importância de, hoje em dia, o produtor e o consumidor de arte tenderem a estar cada vez mais distantes. Assinala que o desenvolvimento do capitalismo fez com o mundo antigo se dissolvesse num turbilhão de microcosmos, dissolvendo as relações existentes entre o produtor e o consumidor, e arremessando todos os produtos para um mercado anónimo para serem vendidos e comprados. Recorda ainda a característica básica do capitalismo: torna tudoem mercadoria. E que, pela sua essência, não constitui uma força social declaradamente inclinada para a arte ou que promova a arte (capitalism is not essentially a social force that is well-disposed to art or that promotes art; tradução inglesa de Anna Rostock, ed. Penguin Books, pág. 51).
O estrolabio Carlos Loures, num escrito de 7 de Dezembro de 2010, A poesia? Para que serve a poesia? fez uma análise do pensamento de Fisher, e conclui pela necessidade da poesia (muito bem, a meu ver). Transcrevo, com a devida vénia, um parágrafo deste escrito:
Dirão, «mas então uma das funções da arte não é precisamente a de entreter, a de distrair? Antes da escrita, quem contava histórias nas cavernas ou as pintava na rocha, não correspondia, nesse esforço de recrear, aos artistas actuais? Sim, uma dos objectivos da arte será essa. Mas há um outro, mais importante – que é a de chamar a atenção para os problemas do ser humano e da humanidade – «abrir portas fechadas». Criar de acordo com o que o mercado pede é, como disse Fischer, «passar por portas abertas»: «A função da arte não é a de passar por portas abertas, mas é a de abrir as portas fechadas.
Hoje em dia, na nossa vida moderna, temos de suportar várias das consequências do crescimento económico desordenado (que muitas vezes acaba em depressão, como se está a assistir neste últimos anos), impulsionado pela força do capitalismo, e pela acumulação desregrada que a este preside. Um dos motores para abrir as portas fechadas é sem dúvida alargar a aceitação da arte em campos que lhe têm precisamente, fechado as portas. Vou referir um: o do urbanismo. Assiste-se hoje em dia (fala-se tanto disto, mas em vão!) ao crescimento desregrado das cidades, aumentando inconsideradamente os seus perímetros, invadindo terrenos (que digo? territórios!) que têm declaradamente outras aptidões, interferindo com o ambiente e os próprios ciclos vitais da natureza, gerando modos de vida desumanos, com formas de exploração hediondas. Para se pôr um travão a isso, há que levar a cabo uma multidão de medidas (alguns chamar-lhe-iam reformas), como por exemplo recuperar os centros históricos das cidades. O estrolabio José de Brito Guerreiro também já aqui dedicou algumas linhas a esta matéria, muito recentemente, em 15 de Maio último.
Basta percorrermos algumas cidades europeias (não serão todas claro) para constatarmos as grandes diferenças que existem, em relação às portuguesas, a começar por Lisboa e Porto. Também há diferenças entre as cidades portuguesas. Arrisco a opinião de um amador: julgo que Braga está melhor neste capítulo, assim como outras capitais de distrito. Mas deixo aqui o desafio, aos estrolabios e não só, que fazer neste campo? Vamos falar sobre os estrangulamentos que persistem.
Arte, Alterações Climáticas e Desenvolvimento Sustentável Vários locais do Teatro Maria Matos DEBATES E ENCONTROS sexta 6 e sábado 7 Maio 10h00 às 18h00 Conferência internacional e seminários
O Programa para o Desenvolvimento das Nações Unidas advoga um limite máximo de 2ºC para o aumento da temperatura média global, argumentando que, caso se ultrapasse esse valor, as consequências para a vida na Terra serão irreversíveis. Apesar disso, as conferências sobre mudanças climáticas em Copenhaga e Cancun não conseguiram assegurar um acordo viável… Se as emissões continuarem a crescer ao ritmo actual, todas as previsões científicas prevêem um aumento da temperatura média global que pode chegar aos 4ºC até ao final do século.
6 Maio 10h00 > 10h30 Mark Deputter, Maria Matos Teatro Municipal, Lisboa 10h30 > 13h00
O relatório zerocarbonbritain2030 é uma visão positiva e realista para uma sociedade livre de combustíveis fósseis. Apresenta soluções políticas, económicas e tecnológicas para os desafios urgentes apontados pela ciência climática e explora sinergias entre vários sectores com o objectivo de criar soluções integradas. Explicita como se pode reduzir o uso de energia na construção, nos transportes, na ordenação do território e no comportamento humano e propõe avanços concretos na aplicação das energias renováveis. Debate aberto ao púbico
Usando como referência os múltiplos exemplos no Reino Unido de organizações artísticas, redes e parcerias que estão a reduzir o seu impacto ambiental, iremos partilhar os sucessos conquistados e as lições aprendidas referentes a teatros e salas de concertos, digressões, festivais, editoras, artes visuais e dança. Uma visão para um futuro mais sustentável e uma forma de inspirar organizações a atingi-lo.
Como deve o sector das Artes responder às alterações climáticas? Devemos encomendar trabalhos que chamem a atenção para esta problemática? Devemos continuar a promover digressões internacionais? Nesta conferência, Judith Knight fala sobre os compromissos da Artsadmin face às alterações climáticas: o trabalho no contexto da rede Imagine 2020, a curadoria de arte e os esforços para tornar as digressões mais ecológicas.
Debate aberto ao púbico
Desde 2006 que André Soares e o Boom Festival embarcaram na viagem de criar um grande festival sustentável, procurando responder ao desafio com práticas ecológicas e novas tecnologias. Actualmente o festival é tido como um caso de sucesso, tendo recebido várias distinções e prémios, incluindo os prémios europeus Green Festival e Green and Clean Festival.
INDEX: é uma organização sem fins lucrativos fundada em 2002 e internacionalmente reconhecida pelo seu prémio bienal de design, no valor de 500 000€. INDEX: promove o sonho de um mundo concebido para satisfazer as necessidades e aspirações da humanidade e nove anos de experiência mostram que o design pode ser um factor decisivo na construção de um mundo melhor. Debate aberto ao púbico 7 Maio Seminários
Como Gerir um Teatro Sustentável
Vários teatros no Reino Unido estão a diminuir o seu impacto ambiental. Helen Heathfield expõe casos concretos como o do Arcola Theatre, do National Theatre, do Sage Gateshead e da Wembley Arena. Este seminário procura apresentar propostas concretas, das questões técnicas a medidas de gestão de uma equipa ecológica, passando pela comunicação com artistas e ao público.
Produzir Espectáculos de forma mais Ecológica
Educação para o Desenvolvimento Sustentável e para a Cidadania Mundial
Neste seminário, professores e educadores adquirem conhecimentos sobre a sustentabilidade e a sua aplicação num contexto educativo. Os participantes encontrarão inspiração e novas ideias para trabalhar estes temas globais com crianças, estudantes e adultos. As alterações climáticas, o desenvolvimento sustentável e a biodiversidade são abordados através de temas concretos como a comida, a casa e a energia.
Festivais Sustentáveis
Os eventos culturais são janelas de oportunidade para demonstrar a viabilidade de estilos de vida sustentáveis. A sustentabilidade requer um planeamento estratégico e operacional que respeita as limitações da água, da energia, das matérias-primas, do tempo e das pessoas. Neste seminário, usamos a Permacultura como uma ferramenta para discutir estratégias para um evento sustentável.
Trabalhar com os Artistas, Públicos e Decisores
Ao tomar a decisão de tornar as artes “mais amigas do ambiente”, por onde começar? Junto dos artistas, dos públicos, dos financiadores, dos espaços? Como é que uns podem influenciar os outros? Como unir todos estes pontos?
Digressões Sustentáveis de Espectáculos e Concertos
Helen Heathfield apresenta uma pesquisa recente sobre digressões de peças de teatro, orquestras e bandas e sobre a forma como as organizações têm posto em prática as recomendações da agência Julie’s Bicycle. A Industry Green Tool for Touring pode ajudar no planeamento e avaliação das digressões: a escolha de fornecedores, as opções de cenografia, os percursos da digressão, a colaboração das equipas e dos artistas e a partilha os resultados com o público. |
(ilustração de Adão Cruz)
Eva Cruz A Arte
Quem somos nós para dizer o que é a arte? Constante invenção de um permanente epítome da vida? Criação de formas da actividade humana dentro de uma estética de formatividade? A descoberta da artisticidade intrínseca que existe dentro de cada um de nós? Intuição do sentimento? Missão e dever do homem na investigação apaixonada da disposição ética das formas?
Para além do poder emotivo e criativo, a arte, em termos sociais e pedagógicos tem para nós uma finalidade formativa muito mais abrangente que o "restrito" conceito de "arte pela arte". Sabemos que, filosoficamente, este "restrito" tem ambições de absoluto, o que se nos afigura ser, a um tempo fascinante e perigoso, na medida em que podem desaparecer as fronteiras pessoalistas e a penetração da obra na sociedade como expressão cultural e humana do criador.
Sabemos que poderão ser consideradas prosaicas dentro da poética de muitos artistas, estas nossas considerações, mas, dentro do Ensino, não conseguimos dissociar a arte das nossas concepções pedagógicas. Assim, choca-nos o individualismo, a parcialidade emotiva, o elitismo tantas vezes infundado. Pelo contrário, inclinamo-nos para uma luta de plenitude que inclua a humanidade como centro de cultura, para uma luta de universalidade que abrace o mundo de forma humana, entendível, solidária. Somos dos que pensam que a arte, sem deixar de perseguir a pureza, pode constituir um elo entre o indivíduo, a vida e a comunidade. Conscientes de que, quando a reflexão e o juízo se desenvolvem, a arte pode morrer, pensamos, contudo, que o pensamento realizado no interior da actuação formante, pode dilatar-lhe o conteúdo e a memória. O reflexo e a interpenetração da obra na humanidade não a desmerecem, antes podem dar-lhe a riqueza que ela muitas vezes procura e não encontra no formalismo "estéril" de conceitos geradores de equívocos.
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Adão Cruz Um dia com a Arte
(ilustração de Adão Cruz)
Há muito tempo que não falo contigo em público, mas penso em ti todos os dias e vivo-te intensamente. No entanto, não ando lá
muito satisfeito contigo, melhor dizendo, não estou muito convencido da verdade da nossa relação. Cá para nós, também não acredito muito nos orgasmos daqueles com quem privas e a quem iludes tanto ou mais do que a mim.
A plenitude contigo, bem como a plenitude com a tua amiguinha poesia - única valência humana que transcende a natureza - seria um contra-senso se conduzisse à frustração. E eu não vejo os teus amantes, por mais convencidos que pareçam, libertar-se das desilusões e frustrações. Apercebo-me de que, como eu, procuram constantemente mendigar o afecto que teimas em não me dar.
Todos os planos se interceptam no universo policromático e polipoético que cria o labirinto onde te escondes. O teu secreto reduto, em permanente movimento pelos céus do incriado, torna a tua posse impossível por infinitamente diversa e fugidia em cada momento da vida. Todos os meus pressupostos interpretativos na gestão do acto criativo fazem-te rir, eu sei. Todos os pressupostos não são mais do que a dilatação da memória e a memória dificilmente coexistirá com a tentativa de dissolução das experiências pessoais.
Eu não moro em ti mas moro mais em ti do que em qualquer outro lugar. Por tu o saberes, obrigas-me a ser um guardião de ruínas, medindo a palmos de esperança e futuro a arqueologia da vida. Na ânsia da tua vasta presença e no paulatino destapar das sucessivas camadas da realidade complexa, fazes de mim uma espécie de geólogo do meu próprio íntimo.
Não tenho medo nem vergonha de me preocupar com a arte, de me preocupar contigo. Tenho medo, isso sim, daquilo que o reaccionário Flaubert chamara a maré de merda que inunda o nosso estado mental. Nada nem ninguém se preocupa a sério contigo. A infinita estupidificação corre o mundo como uma conjura contra a poesia e a liberdade - as asas que te eternizam - e faz dos homens caricaturas, arremedos de arte, habitantes de quatro paredes onde não cabem as cores da inteligência e da edificação das palavras. O Homem encerrado na prisão dos actos controlados e das pseudo-vontades, longe da luz e da razão.
Caminhamos na rota da sombra, na conspiração do silêncio - a pérfida administração do silêncio é a melhor arma de matar ambições - , aos encontrões no nevoeiro, sem terra debaixo dos pés, à procura de um ponto de apoio, à procura da verdade, de um princípio seguro e fiável da verdade. Já reparaste que me escondes sempre a verdade? A verdade senta-se na paleta mas tu trocas as cores da verdade pelas tintas da fama. Eu sei que todos temos direito ao nosso quarto
de hora de fama, ainda que passemos uma vida inteira sem verdade. Gauguin nunca entendera a desordem de Van Gogh e Van Gogh nunca entendera a ordem de Gauguin. No entanto, a procura da verdade fora, provavelmente, o seu único acto comum, a consonância da arte que fez da substancialidade da pintura a ressonância dos tempos. A arte é a arte e a vida é a vida, mas viver a vida artisticamente é a arte da vida.
Penso que o pensar é uma garantia imediata do caminho da verdade, sem grandes coincidências de fundo mas com poderosos ecos na expressão e no rastreio da exactidão, ainda que não deixe de nos acompanhar uma dúvida imensa e incancelável. Quem tem as certezas e as verdades dos histriónicos e narcísicos trata a arte como os homens tratam as putas. Utilizam-nas e elas sorriem-lhes mas não os amam. Dizem eles que o tempo da beleza já passou e que a arte será cada vez mais científica e a ciência cada vez mais artística. A arte e a ciência, a ciência e a poesia podem confundir-se, é certo, quando a perversidade dá lugar à música do percurso. A arte e a ciência, a poesia e a ciência tocam-se numa espécie de sexo tangencial.
O engenho humano manipula hoje a intimidade do genoma, e a genética tornou-se um artístico poder de conhecer, predizer e mudar a vida através da enciclopédia do Homem e dos três mil milhões de unidades que a compõem. Mas se a ciência pode conviver contigo, a numerologia da arte pode ser o diabo a cortar-te os braços para com eles se persignar. Todo o homem que te ama de verdade não é cabotino e morre sempre na incerteza do seu próprio valor.
Na vida dizemos muitos adeuses. A lugares, amigos, relações, a gente que morre e a gente que se despede, coisas que se acreditam e nos enganam. Só com a verdade não é permitido romper. Mas as tuas falsas verdades...!
Consideras divertido esse teu espaço eleito como ideal mítico, fresco e atractivo, capaz de nos catapultar até à excelência interpretativa. Mas o que nos mostras, a mim pelo menos, é uma cortina de fumo que me esconde o fogo e a espontaneidade. Entre amanheceres e crepúsculos exiges-me a verticalidade do meio-dia, amargamente impossível neste balancear incessante entre a intensidade do meu sentir, a que não é alheia a tua sensualidade, e a polarização dialéctica, formal e simbólica.
Deixa-me
sozinho no meu barco à entrada do mar, mas não cubras a manhã fria do teu corpo, que o sol pode, um dia, chegar.
APE
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DIVULGAÇÃO
CULTURAL
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O “Textualino” é uma Revista de Artes online que visa, sobretudo, a opinião crítica e a participação democrática em todas as áreas artísticas, por todos aqueles que livremente nela quiserem participar. Os participantes podem enviar um texto inédito para o email (textualino@textualino.com)… sobre, por exemplo, arte de rua, dança, pintura, escultura, literatura, fotografia, etc.
O principal objectivo é a divulgação sem nichos, um encontro entre conhecidos e desconhecidos, ligados pela mesma causa, o gosto pela Arte. Um espaço educadamente civilizado, uma partilha de opinião e crítica artística, sempre na primeira pessoa, por aqueles que verdadeiramente presenciaram aquilo sobre o qual falam… (um livro acabado de ler, uma exposição acabada de visitar, um filme acabado de assistir, uma palestra, um quadro, etc).
Condições :
Todos os interessados que quiseram colaborar até 15 de Março de 2011 serão adicionados de imediato como Colaboradores, a partir dessa data quem o quiser ser, terá de enviar, de forma faseada, no mínimo 10 posts para serem colocadoscompassadamente no “Textualino” (por exemplo, enviar um por semana, ou um por mês), só depois poderá ser adicionado à lista dos Colaboradores oficiais.
(ilustrações de Adão Cruz)
Adão Cruz Um dia falei com A ARTE
Talvez tenhas dado por mim mas não quiseste mostrar. Ajoelhei meus passos no teu caminho e tu não viste. Sempre tiveste duas pedras brancas nos olhos e cego é o meu coração.
De mármore era o meu rosto naquela manhã, sempre foi de mármore o teu rosto em todas as manhãs! Parte-me o peito a amargura, sempre que toda tu és apenas figura, retórica figura!
Afogado na tristeza, nunca uma bóia me lançaste! Um fio de silêncio, de lágrimas molhado, foi o espaço vazio que criaste, a tela negra onde cravei os dedos e cuspi as cores sem brilho.
Desonrei o corpo das palavras e o seu mais alto dizer, para esmolar um verso, um afago ou ... morrer. Tu nada quiseste saber, em todas as plúmbeas manhãs derretidas em chuva.
Nasço e morro contigo todos os dias, amparado em versos que não têm mãos e logo se quebram aos primeiros raios de sol. Todas as minhas rugas faciais estão assinadas por um roteiro de ansiedades num calendário de esperanças, todos os meus nervos estão marcados pelos dedos vulcânicos da paixão.
Tàpies disse que tu eras mais uma manifestação do logro que são todas as coisas, mas não se cansa de procurar o cosmos numa pincelada. Outros dizem que és parcela frásica no caminho do sentido, matérica partícula dando-se ares de insubstancial. Todos os vigorosos loucos e cobardes me falam a verdade... a mentir!
Disseste, um dia, que nada havia no dorso de um quadro ou no anverso de um verso. Disseste, ainda, que o homem não é chegada nem partida, mas a vida aquém e além de si mesmo, no espaço intemporal da liberdade e da imaginação.
Não olhes para os dias de ontem como se neles tivesse ficado presa uma espécie de estilo. Abraça este agora que parecendo fora do sonho nasceu dos sonhos de outrora, porque aos sonhos não foi dada permanência estilística.
A forma configura-se como memória concreta do processo formante e da personalidade formadora. O estilo é o modo de formar, pessoal, irrepetível, a marca subtil da pessoa na obra. Compreender a obra é possuir a pessoa do criador, a sua experiência, a sua vida, os seus sentimentos e ideias. Desta forma, o estilo não é, essencialmente, a envolvência perene e mecânica, mas a razão sensivelmente constante entre a força possessiva e a força possuída. O Homem não é a narração do estilo mas da personalidade concreta, feita modo de formar, na mais diversa e dialógica conversa com a vida.
Em todas as manhãs perdidas no leito da angústia, só a ilusão foi minha amiga! Para ela me arrastaram as nuvens e com elas me confundi, com elas me perdi.
O meu lugar é aqui, ainda que eu não saiba o lugar que ocupo. Faço que rio, faço que choro, faço que canto, faço que faço, ao som de um Quinteto para Clarinete.
A arte é a liberdade de fundir a aparência da realidade com a realidade das aparências.
"A arte eleva o Homem à sua verdadeira dimensão!" Que arte, que homem, que dimensão?. Quase me negaste quando te amei, com os pés assentes num determinismo de areia. Hoje, que te amo profundamente na mais sólida racionalidade, prostituis-te com essa dimensão humana que ninguém sabe o que é.
Precisamos da arte, precisamos dela mais do que nunca, para viver o amor, "a mais bela das frustrações"!
Por vezes, a chuva pára de cair, subitamente. Também a chuva chove e a chuva seca a música que soa dentro de nós!
De espada em riste, o silêncio parte os teus olhos de pedra e canta. Canta uma qualquer "Chanson Romanesque" a uma qualquer Dulcineia perdida nos montes, algures, para lá do arco-íris.
Este texto foi-nos enviado como comentário ao texto de Carlos Loures “O valor da arte”, ontem publicado. Dada a sua qualidade, resolvemos publicá-lo, com tradução para o castelhano.
El arte tiene que pagarse, indudablemente, en el mercado del arte. Pero no todo el arte pasa por el mercado, ni todo lo que pasa por el mercado es arte. El arte como expresión armoniosa del pensamiento, de la belleza o de las ideas, o de los sentimientos, o de las fabulaciones, o de la memoria, o de las creencias, o de las necesidades ... no es exclusivo de las obras literarias, musicales, plásticas, cinéticas o de cualquier tipo que se publican a través de los canales comerciales en toda su diversidad.
A lo largo de la vida todos tenemos la posibilidad de disfrutar de momentos artísticos inolvidables, por los que no necesitamos pagar. No por tacañería, sino porque no se producen en el mercado del arte. Otras veces, hemos comprado "arte" literario, musical, plástico, de cualquier tipo, y hemos quedado muy satisfechos por su calidad. Otras veces, hemos comprado algún producto del mercado artístico -un libro, una pieza musical, una representación teatral, un film ...-, por el que hemos pagado un precio estándar de mercado, y hemos quedado profundamente decepcionados, porque , salvando las diferencias de opinión y las preferencias y los criterios valorativos de cada uno, no tenía ninguna calidad artística.
El mercado del arte vende unos productos que deben cumplir unos estándares establecidos por el mercado. Y funciona así, rigiéndose por las propias leyes del mercado en cada sociedad: con cargo al consumidor, con cargo al Estado, con beneficios o pérdidas para los autores, o para los intermediarios, o para los accionistas. Estos estándares deben ser productos, no necesariamente obras de arte. Algunos, además de productos, son también obras de arte de alguna o de mucha calidad, incluso de una calidad extraordinaria, pero eso no los hace diferentes como productos de mercado de los otros que comparten con ellos los mismos estándares. El arte se basa siempre en el aprecio o la valoración de una calidad, y eso es necesariamente variable, se corresponde o no con las modas ... Por eso una obra puede tardar años, incluso siglos, en ser reconocida. O puede ser un producto de mercado típico, que responde a unos estándares determinados, y, con el tiempo, ser reconocida con un grado de excelencia muy superior a los estándares en que se difundió en su momento como producto comercial. Así pasó con parte de la novelística del XIX, aparecida como folletín en la prensa, con todas las características del género, y hoy consagrada como gran literatura.
Creo que no debemos mezclar las cosas. Cuando hablamos de mercado, hablamos de productos, de profesionales, de compradores y vendedores, de beneficios y pérdidas, de circuitos de distribución, de publicidad, de ranking de ventas, de ferias, de premios, etc., que tienen grados diversos de afinidad con el arte: mucha, alguna, poca o ninguna. Y cuando hablamos del arte, no estamos obligados a hablar necesariamente de mercado, ni de trabajadores o productores, ni de quién paga los gastos ... Porque ni todo el mercado de los productos tipificados como "artísticos" es arte, ni todo el arte es necesariamente un producto de mercado.
¿Una novela debe ser siempre "arte" porque si no ya no es novela? ¿Un cuadro, una escultura, deben ser siempre arte, porque si no ya no son nada? No. Una novela, un filme, una producción televisiva, una escultura, un cuadro, una representación teatral ... pueden cumplir perfectamente todos los estándares pertinentes como productos de mercado y no ser arte o no merecer ninguna consideración artística o muy poca en el momento en que se publica; y pueden ser, sin embargo, un éxito comercial extraordinario. Si con el tiempo ese producto ganará excelencia artística o no, ya lo dirá el tiempo. Y también una obra de arte puede no ser nunca un producto de mercado, al menos en el tiempo de su creador. Y, naturalmente, también puede haber obras de arte que a la vez sean, en su época, productos de mercado de gran rendimiento.
Podemos hablar de arte y podemos hablar de mercado. Y podemos hablar de las coincidencias que se dan entre uno y otro. Pero quizá no es bueno para el análisis dar por supuesta una identidad absoluta entre dos términos que son diferentes, pese a que puedan coincidir en muchos momentos.
Este texto: http://estrolabio.blogs.sapo.pt/1020338.html suscitou os seguintes comentários que pela sua riqueza os pode ler também no texto a seguir:
Adão Cruz
Idealmente, não me parece que a Arte deva ser paga, no sentido de objecto criado , objecto vendido, objecto transacionável. A criação artística deveria, a meu ver, obrigar a uma protecção e apoio por parte da sociedade e dos governos, de modo a salvaguardar a sobrevivência e o bem-estar do artista, a dispensr-lhe todos os materiais e condições, e a estimular-lhe o mais fortemente possível o sentimento artístico.
Talvez tudo fosse diferente se a obra de Arte não tivesse autor nem valor material. O autor da obra é, com efeito, um dos maiores obstáculos à supressão do real-palpável. O autor-pessoa deveria desaparecer na conclusão da obra, a qual seria lançada ao vento como natureza essencial, com toda a sua liberdade e autonomia. Se tal fosse possível, e a obra pudesse ser património colectivo, então sim, poderia atingir o seu verdadeiro estatuto de ponte entre a dimensão antropocêntrica e a dimensão universal do homem, deixando de ser um mero ingrediente deste caldo generalista da nossa cultura.
Carlos Loures
Penso que o facto de ter suscitado este debate, com comentários de grande profundidade analítica, já justifica o post. No fundo, eu só quis afirmar a ideia que uma obra de arte não é menos valiosa pelo facto de ser transaccionada. Também não é mais valiosa pelo facto de ser bem cotada. O que é arte e o que não é arte? Os critérios que definem o ser ou não ser mudam de e´poca para época. Temos exemplos de grandes artistas a que só a posteridade dá valor e de outros - o caso de Pessoa que morre com um livro publicado (e logo aquela que é talvez a sua obra menos profunda) é paradigmático. Se nos centrarmos em René Magritte, a qualidade da sua obra não sofre o mais pequeno beliscão pelo facto de ele se preocupar com a vertente comercial, com a venda dos seus quadros, com o marketing mais adequado. Estou de acordo com o Adão em como a arte não devia de ser transaccionada - mas estamos a falar de outro tipo de sociedade em que talvez o dinheiro fosse dispensável. Será que o pão deve ser transaccionado? Tenho pena de que alguns comentários, como os do Adão e o do Josep, não sejam posts.
Segundo li na imprensa internacional de ontem, dia 8, a publicação da correspondência privada de René Magritte (1898-1967), o grande pintor surrealista belga, está a causar algum espanto. Isto porque revela uma faceta comercial que a muitos parece ser incompatível com a essência da arte. “Os meus quadros são uma manifestação visual da poesia”, disse Magritte para descrever a sua obra: a preocupação com a venda da sua produção artística apresenta-se aos olhos de muita gente como a negação do carácter profundamente poético da sua pintura.
As cartas foram trocadas entre Magritte e o seu marchant em Nova Iorque, Alexander Iolas nos anos de 1947 a 1967. São cartas inéditas, acompanhadas por mais de 40 ilustrações, e estão a ser leiloadas em Londres pela conceituada Sotheby’s.
O que surpreende é a importância que o artista dava à vertente comercial da sua actividade, exercendo um controlo rigoroso sobre os negócios da venda das obras, dando instruções pormenorizadas de como deviam ser emolduradas, dos textos que deviam acompanhar cada um dos quadros, a localização de cada um deles na sala, a redacção dos catálogos…
Um editor com quem trabalhei, ficava extremamente irritado quando associações, escolas, clubes, lhe escreviam pedindo a dádiva de livros para as suas bibliotecas - «Será que eles também pedem para os padeiros lhes darem o pão?» E, ou não respondia, ou explicava que os livros custavam dinheiro a quem os fabricava – eram um produto como o pão. Não eram para dar, mas sim para vender. Isto passava-se durante a ditadura e depois da Revolução, mas ele terminava sempre da mesma maneira – Em vez de pedirem aos editores que vos dêem livros, peçam ao Estado que vo-los compre!».
A ideia de que a Arte, a Literatura se degradam ao ser transaccionadas, é disparatada. O artista, não se alimenta de nuvens etéreas - come pão, como qualquer outro trabalhador – se não lhe pagam o que produz como pode ele comprar o pão?
No âmbito do Colóquio “A Profissão e a Formação: entre a Ciência e a Arte de Ensinar” Local: Anfiteatro do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa (Alameda da Universidade) Data e hora: 21 Janeiro de 2011 (sexta-feira), cerca das 19h00
Coordenação de Augusta Clara de Matos
continuação...
Tenho conversado muito com os meus amigos Jean-Pierre Changeux, Thomas Insel e António Damásio grandes cientistas das novas interrogações. Também Jean-Pierre se apaixonou pela arte, também ele caiu nas suas mãos traiçoeiras. Mas não se meteu propriamente com ela, foi mais esperto. Não se deixou levar pela tentação do seu corpo nem pelo calor das suas tintas, não tentou penetrá-la e possuí-la de forma séria, profunda e infinita, agarrando-a pelo sexo numa cumplicidade de tragédia. Deixou-se embevecer e atrair pela sua beleza, é certo, mas dentro de uma espécie de amor platónico, não ousando tocá-la, talvez por imposição profissional, talvez por medo, talvez por pudor. Daí o ter-se preocupado, essencialmente, com a razão estética e com a força ontológica da criação. Provavelmente, por isso, nunca lhe fora apresentada a amiga frustração, tendo-se livrado, assim, quem sabe, do valente frete que constitui a obscura consciência da inferioridade e da falsamente compensadora necessidade de uma indignada afirmação de si próprio.
Conhecendo o enigma do artista, sabendo que a criação artística permanecera sempre um mistério dentro de uma atmosfera de magia, bom observador das duas perspectivas, psicológica e sociológica da arte, apercebeu-se que as neurociências e a psicologia cognitiva há muito começaram a contribuir para a reequacionamento desse mesmo mistério. Aventurou-se pelo complexo mundo do processo criativo, tentando responder às questões simples que a minha amiga da onça desconhece, mas que logo usaria se as conhecesse, como jóias e enfeites para as suas maliciosas conquistas e para satisfação da sua insaciável vaidade:
- O que se passa no cérebro do artista quando cria?
- Que mecanismos regem a actividade cerebral no momento em que se contempla uma pintura?
- De onde surge a estranha e poderosa emoção que é o prazer estético?
Hoje falamos de...
A minha amiga da onça
Adão Cruz
A conversa que deveria ser com a minha amiga da onça não o é. Desta vez não quero nada, directamente, com ela. Não é que esteja zangado, mas um tanto irritado. Não quero falar com ela mas quero falar dela, ainda que me digam que é má-língua. Ouçam-me, meus caros amigos. Ouçam-me com atenção, pois a vossa compreensão é fundamental para o nosso mútuo entendimento. É com os verdadeiros amigos, independentemente do prazer e da emoção, que a nossa dialógica tarefa se pode aproximar da psicologia cognitivista contemporânea.
Eu sei que nunca pensara apaixonar-me desta forma! Lá erótica é ela! Lança as feromonas no ar, hoje e através dos séculos, e depois nada promete, nada garante e tudo atraiçoa. Tantas foram as emboscadas com que me saiu ao caminho que eu, ainda hoje, vivo aterrorizado com a hipótese de ter sido, e de ser ainda, um monte de contradições. Uma análise mais profunda e uma autocrítica mais racional parecem, finalmente, começar a libertar-me desse pesadelo. Para isso muito contribuiram os meus encontros com filósofos como Jean Pierre Changeux, Umberto Eco, Wassily Kandinsky, Alain Prochiantz, Dino Formagio, Ernst Kris, Otto Kurz, Omar Calabrese, Ortega y Gasset, Vicente Jarque e Arthur Danto, entre outros, que me ajudaram a fugir dos campos de concentração do espírito e dos gigantescos congeladores de ideias.
De uma forma ou de outra, sempre estivemos convencidos de que amanhã vamos todos acordar com uma pérola no cu. As mais sãs virtudes, as mais finas e puras partículas da nossa substância, consagradas ao fim dos anos numa pequenina preciosidade imortal! Se a ostra o consegue, por que não há-de consegui-lo o Homem, com biliões de neurónios, sessenta biliões de células, noventa e seis mil quilómetros de vasos sanguíneos e seiscentos milhões de conexões por milímetro cúbico de cérebro? Mas foi ela, valendo-se da sua atractiva figura e das suas múltiplas e polifacetadas relações, quem sempre foi criando este espírito, escondendo a própria vulnerabilidade e a fragilidade do seu equilíbrio na caminhada para novos limiares de consciência, reflectidos na pintura como descontinuidades, como roturas insidiosas, ou como profundas alterações na representação do mundo em resposta às forças da história e da vida.
No campo tremendamente complexo da sensibilidade do presente e nos domínios da estética e da filosofia da arte contemporânea, há que ter muito cuidado com as manigâncias dessa bela e maquiavélica senhora. A estética, força interpretativa do belo, o belo, sensação e não ideia, a arte, sensibilidade pura cuja essência não é possível captar racionalmente, a arte-estatuto de linguagem são questões histórico-fenomenológicas que sempre lhe coloquei, sem que, alguma vez, tivesse tido a gentileza de me responder de forma convincente e não irónica.
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