Carlos GodinhoNão gosto muito de alguns critérios utilizados pela FIFA para a nomeação dos árbitros durante o mundial, e não tendo o estatuto que me permita falar deste assunto como Maradona o fez a propósito do Portugal/Espanha, e que curiosamente, não foi muito levado em conta, não posso deixar de referir e salientar o peso que alguns, poucos, países têm hoje nessa instituição internacional e reguladora do futebol mundial. É claro para mim há muito tempo, e disse-o ao Expresso, em Julho de 2006, após o mundial da Alemanha, que o poder das equipas em competições deste tipo não se mede só pela qualidade dos seus jogadores, das suas equipas técnicas e das estruturas de suporte.
Essa entrevista causou-me alguns problemas e hoje tenho a certeza absoluta que as palavras então utilizadas eram justas e correctas. Há bastantes factores que têm peso neste processo e que também são fruto de muito trabalho e organização dirigida a um determinado fim e objectivo. Por exemplo, qual a razão de termos tido um árbitro argentino, portanto sul-americano e de língua castelhana, no nosso jogo com a Espanha? Não poderia e deveria ter sido europeu, usando o princípio da transparência e da limpidez de processos, como o foi na grande maioria dos jogos entre equipas europeias? A Espanha, na globalidade do jogo, talvez nos tenha sido superior, mas também não é menos verdade que o golo foi irregular.
Muito mais difícil de analisar foi o golo do Paraguai, também no jogo com a Espanha, que o árbitro não hesitou em anular. E se esse golo tivesse entrado, talvez hoje a história fosse outra. Outro mistério, ou talvez não, era saber quem nomeia os árbitros do mundial? Pergunta interessante que deixo sem resposta. Outra questão: qual a razão lógica para que o árbitro do Espanha/Paraguai, tenha sido Carlos Batres, da Guatemala, quando no jogo anterior, Portugal/Espanha, já tinha sido o 4º árbitro? Ou que Carlos Pastrana, das Honduras, que foi 5º oficial no Portugal/Espanha, tenha sido 2º assistente no Espanha/Paraguai? Havia assim tanta falta de árbitros que levassem a estas situações? Guatemala, Honduras, grandes potências da modalidade como todos sabemos, produzirão assim árbitros de tanta qualidade? Reflexões baseadas em factos concretos, não inventados.
(Transcrito de Todos Somos Portugal)
Foto de Francisco Paraíso
Carlos Godinho (na África do Sul, com a Selecção)Há factos que dificilmente entenderei neste tipo de competições. Presumo que deve ser pura e simples coincidência que nos três jogos efectuados por Portugal, na fase de grupos, os respectivos árbitros fossem de três países de língua castelhana, quando se sabia antecipadamente que Portugal estaria no cruzamento dos oitavos de final, com o Chile ou com a Espanha. Como também deve ter sido por mero acaso que nos jogos Portugal/Brasil e Chile/Espanha, ambos os árbitros fossem mexicanos. Curioso ainda o facto de termos sete jogadores amarelados, e a Espanha, também em três jogos, não ter um único amarelo! Notável. Não deveria haver um pouco mais de cuidado na escolha das equipas de arbitragem e a existência de alguns condicionamentos na sua nomeação? Mas infelizmente há tanta coisa no mundo do futebol que não percebo e que nunca perceberei, que coincidências deste tipo já não estranho.
(Transcrito de "Todos Somos Portugal")