Sexta-feira, 8 de Abril de 2011

António Damásio Versus Freud - Clara Castilho

António Damásio esteve em Lisboa, no dia 31 de Março, a dar uma conferência sobre “As origens da consciência”, durante a apresentação do Prémio Janssen Neurociências. Não tive oportunidade de o ir ouvir, mas fi-lo há dois anos num congresso do CADIN. Tirei alguns apontamentos, ideias que partilho aqui.

 

 

 

 

Fazia ele a ligação entre o seu trabalho e o de Freud. A Freud faltaram-lhe as técnicas necessárias para alcançar o que pretendia estudar pelo que se voltou para o estudo psicológico e cultural, fazendo nascer a psicanálise. E só nos anos 70 a neurocirurgia chegou à neurociência cognitiva, com as ressonâncias magnéticas e outras metodologias.

E que diria Freud se pudesse ter tido à sua disposição as imagens de um cérebro vivo? Damásio considera que existe uma clara ligação entre os conceitos de Freud e o que se descobriu hoje. O que Freud descreveu é que se o indivíduo funcionar de acordo com os instintos sexuais, sem controlo, o funcionamento irá ser desastroso. Freud postulou o Princípio da realidade e hoje sabe-se que esse controlo vem do córtex pré-frontal. O que Freud não poderia prever é que apesar de termos um controle, esse inclui informações que vem de níveis mais baixos do cérebro (investigações dos anos 90), incluindo mesmo aspectos daquilo que vai ser controlado. Não é bem uma imposição da razão. A própria emoção vai ter influência sobre a decisão. Daí não termos um controle completo sobre as emoções…

No ano 2000, Damásio, debruçou-se sobre a Base dos sentimentos - a “ínsula” no córtex. Freud teria gostado de conhecer estas descobertas que implicam um processo de sentimento que corre no tempo a seguir ao processo das emoções. As investigações posteriores mostram que quase todos os sentimentos são activados na “ínsula”.

Em 2009 estudou a emoção, admiração e compaixão na dor mental e física.

Voltando a Freud, referiu o Ensaio que elaborou em 1938/9, sobre a consciência e a mente. Tem ideias com as quais Damásio não tem divergência, que vão ao encontro do que tem estudado e investigado.

Referiu que habitualmente se olha para a consciência como a maneira de entrar dentro da mente. Mas é o contrário. A consciência é só uma parte mínima que está a “traduzir” parte da actividade mental, mas não sabemos tudo o que se está a passar. O que existe é um inconsciente que produz muitas das nossas actividades. O que recebemos são soluções que nos apontam caminhos, mas não são conscientes. E isto é compatível com Freud. O que ele apontava é que o que a consciência nos dá são resultados semelhantes às que uma pequena célula como a amiba consegue dar à própria amiba, no que respeita ao problema fundamental da vida – a sobrevivência com bem-estar.

Assim, é preciso distinguir entre TER um sentimento e CONHECER um sentimento.

 

 

 

 

Também se poderá ouvir a entrevista na Antena 1 :

http://ww1.rtp.pt/antena1/index.php?t=Entrevista-a-Antonio-Damasio.rtp&article=2468&visual=11&tm=16&headline=1

publicado por atributosestrolabio às 18:00
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Quinta-feira, 7 de Outubro de 2010

Contribuições de António Damásio

Clara Castilho



António Damásio (um dos mais reputados neurocientistas do mundo, dirige o Brain and Creativity institute na Universidade da Califórnia do Sul) publicou um livro “SELF COMES TO MIND”, que teve em português o título de “O livro da consciência”. Confessando estar longe de ter resolvido o mistério do que é a consciência humana, dispõe-se à controvérsia sobre o que defende – o corpo e o cérebro são duas caras da mesma moeda.

Estou longe de ter bagagem para discutir estes assuntos. Mas assisti a um conferência que o autor proferiu, em 2008, no Estoril e de que tirei alguns apontamentos que passo a partilhar convosco.



CONGRESSO “PERTURBAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO”


CONFERÊNCIA DE ANTÓNIO DAMÁSIO : “O QUE DIRIA FREUD SE AINDA FOSSE VIVO?”




MÉTODOS E POSSIBILIDADES

Quanto aos problemas da linguagem, Freud viu a ligação entre o que se pode observar nas autópsias e os comportamentos anteriores do doente. Faltavam-lhe as técnicas necessárias por não serem suficientes. Percebeu que não havia métodos para chegar ao que queria estudar. Assim, abandonou este projecto científico e voltou-se para o estudo psicológico e cultural, fazendo nascer a psicanálise.

Mente cérebro

Egas Moniz, 1937

Só nos anos 70 a neurocirurgia chegou à neurociência cognitiva (ressonâncias magnéticas, etc.).

Que diria Freud se pudesse ter tido à sua disposição as imagens de um cérebro vivo?

Prazer – não prazer

Regulação da vida

Instinto de sobrevivência e instinto sexual.

Existe uma clara ligação entre os conceitos de Freud e o que se descobriu hoje.

Emoção para Freud – programa de acções não conscientes. Emoção e sentimentos são coisas diferentes (Damásio).

As acções são do meio interno e não ideias. Os sentimentos são ideias, cognição, ideias que temos sobre as acções, conscientes ou inconscientes.

O trabalho sobre as emoções é sempre inconsciente. A profundidade fisiológica das emoções. Só são conhecidas através do que passa para os sentimentos. Ligação ao corpo (W. James, poetas).

Controlo dos instintos. Hoje fala-se de mecanismos de

Prazer/ dor,

Recompensa/castigo,

Motivações.

O que Freud descreveu é que se o individuo funcionar de acordo com os instintos sexuais, sem controlo, o funcionamento pode ser desastroso.

Defendeu o Princípio da realidade e hoje conhece-se esse controle e que vem do córtex pré-frontal. O que Freud não poderia prever é que, apesar de termos um controlo, este inclui informações que vem de níveis mais baixos do cérebro (investigações dos anos 90), incluindo mesmo aspectos daquilo que vai ser controlado. Não se trata bem de uma imposição da razão. A própria emoção vai ter influência sobre a decisão. Daí não termos um controle completo sobre as emoções…

Base dos sentimentos - “ínsula” no córtex – Damásio, 2000

Freud teria gostado de conhecer estas descobertas. Trata-se do processo de sentimento que ocorre no tempo a seguir ao processo das emoções.

As investigações posteriores mostram que quase todos os sentimentos são activados na “ínsula”. (estudo sobre a depressão major com activação directa de uma zona do cérebro)

2009 – emoção, admiração e compaixão no que diz respeito à dor mental e física.

Estas emoções são tão penetrantes como as do medo ou zanga. É belo ver que emoções “sociais” têm um recrutamento muito profundo. Todas estas emoções têm percursos fisiológicos noutras espécies (macacos, lobos, mamíferos marinhos).

Consciência

Freud – 1938/9 – Ensaio inacabado sobre a consciência e a mente. Tem ideias com as quais Damásio não tem divergência, que vai ao encontro do que tem estudado e investigado.

Damásio – produto biológico recente mas que remonta a seres anteriores. Pequena parte da mente que é trazida em subjectividade (este é o âmbito da sua investigação actual).

Olha-se para a consciência como a maneira de entrar dentro da mente. Mas é o contrário. A consciência é só uma parte mínima que está a “traduzir”parte da actividade mental, mas não sabemos tudo o que se está a passar.

O que existe é um inconsciente que produz muitas das nossas actividades. O que recebemos são soluções que nos apontam caminhos, mas não são conscientes. Isto é compatível com Freud. O que ele apontava é que o que a consciência nos dá são resultados semelhantes às que uma pequena célula como a amiba consegue dar à própria amiba, no que respeita ao problema fundamental da vida – a sobrevivência com bem-estar.

CONSCIÊNCIA

Não é espírito

Não é percepção

Não é “consciência moral”

Não é consciência do universo da condição humana

A ESSÊNCIA DA CONSCIÊNCIA É

Mente + subjectividade

Inclui “qualia” + um processo de SI ( componente de pertença a que todos os outros não têm acesso, sentido de perspectiva, o sentido de podermos agir sobre o que se está a passar).

A consciência é construída desde um nível muito simples, mais um SI nuclear e SI auto-biográfico (com futuro antecipado).

ANTECEDENTES DA CONSCIÊNCIA

Homeostase

Regulação da vida

Organismo unicelulares

É preciso distinguir entre TER um sentimento e CONHECER um sentimento. --- Hipótese que Damásio apresentou.

QUESTÃO LEVANTADA NA ASSEMBLEIA:

P.: De que maneira as neurociências vão modificar a sociedade? (em relação a sentimentos de culpa, de verdade, de mentira, legislação, comportamento moral)

R.: Damásio – É preciso ter uma enorme cautela. Sobre a detecção de mentiras, por exemplo. Há companhias que fazem, a pedido, skanners mentais, sendo abusivo tirar conclusões. Só é possível obter estes dados numa situação que não é real. É impossível recriar as situações… É falso e detestável.

Vejamos por exemplo, um indivíduo que cometeu um crime e tem um tumor cerebral que originou os seus actos. Deve ser retirado o tumor para proteger a sociedade, mas deve deixar de ser considerado um criminoso, para ser considerado um doente.

O que tem é que se pedir à sociedade que discuta os problemas de uma forma inteligente: --- Nem utilização selvagem da informação.

---- Nem recusa selvagem da informação.

E depois, dever-se-ão modificar as leis porque os sistemas legais não têm conhecimento sobre o que a ciência vai descobrindo.
publicado por Carlos Loures às 11:00
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Domingo, 11 de Julho de 2010

Materialismo e Espiritualismo

Adão Cruz

O mal do homem não está em pensar e ter ideias, o mal do homem está em não pensar e não ter ideias.

Por isso, na sequência de um artigo anterior aqui publicado, sinto necessidade de correr um pouco mais atrás de ideias e de fazer mais algumas reflexões em relação a este tão aliciante tema. Os que acham que sou tolo e desprovido de senso têm uma solução fácil, não leiam. Mantenham as suas valiosas ideias fechadas no cofre do deixa andar e não te rales.

Costuma dizer-se que a ciência é um cemitério de hipóteses e eu concordo. No entanto, cada hipótese perdida é um degrau de acesso à hipótese situada acima, e no meio desse cemitério de hipóteses a ciência vai-se consolidando e conquistando verdades que ganham raízes bem fundas no conhecimento humano. Se, por exemplo, as conclusões de uma sonda espacial dizem que provavelmente não há água em Marte, e as conclusões de uma sonda enviada posteriormente dizem que provavelmente há água em Marte, a primeira hipótese não foi negativa nem inútil, pois sem ela, com certeza, não se chegaria à segunda hipótese.

Também a filosofia pode ser, muitas vezes, um amontoado de disparates, e não deixa de ser importante e muito útil como pré-ciência, isto é, como proposição, umas vezes credível outras não, em que a investigação científica, sem qualquer preconceito, assenta muitas vezes os pés. Veja-se, por exemplo, o caso, muito actual, de Espinosa e António Damásio.


Sempre que um assunto é complexo, temos uma tendência generalizada a abordá-lo de forma complexa, confusa, metendo os pés pelas mãos e embrulhando-nos em labirintos onde as contradições aparecem a cada esquina. Sempre me recusei a complicar ainda mais o que, com boa vontade e necessidade de aprender, pode ser analisado de forma simples, sem ser simplista e irresponsável, dentro da complexidade fenomenológica de qualquer tema. É um pouco como explicar a um doente a sua doença por mais complicada que seja. Tudo pode e deve ser explicado a um doente, conquanto o façamos com boa vontade e interesse de o esclarecer, numa linguagem que para ele seja entendível. Nunca por nunca dizer: não posso explicar-lhe porque você não entende.

Vem isto a propósito de um tema actualíssimo, um tema que nos absorve a todos nós, os que lidamos com a vida, com a ciência médica e os que consideram o pensamento como um metabolito essencial da existência. E o tema é aquilo que pode ser designado, abusivamente ou não, por “Biologia do Espírito”, isto é, a doutrina filosófica que admite como realidade apenas a matéria, negando a existência da alma e do mundo espiritual como pertencente ao sobrenatural ou ao divino. A velha questão Materialismo- Espiritualismo, em que o Materialismo não nega a existência do “espírito”, da vida dita psíquica, igual à do espírito do espiritualista. Simplesmente, ela decorre de uma complexa e ainda pouco conhecida actividade cerebral, ainda assim dificilmente contestável pela razão e pela ciência, e não de uma concepção imaterial, sobrenatural, do domínio da crença, como acontece no Espiritualismo. A matéria é a substância de todas as coisas. A geração e a degeneração do que existe, dentro do pensamento racional, obedecem a leis físicas. A matéria encontra-se em permanente transformação, faz parte da natureza e obedece às suas leis.

Já aqui falei, em artigo anterior, de Thomas Insel, mais conhecido por Tom Insel. Tom Insel dirige, desde 2002, a maior agência de financiamento público da investigação em saúde mental do mundo: os National Institutes of Mental Health (NIMH) dos EUA, com um orçamento anual de 1500 milhões de dólares. Psiquiatra de formação, Insel já foi investigador - estudou a neurobiologia e a genética de comportamentos complexos, como o amor e os laços sociais -, mas agora diz que o seu papel consiste em "falar sobre maneiras radicalmente diferentes de pensar a doença mental" para fomentar a "inovação disruptiva" nesta área.

E ele diz peremptoriamente: “A menos que levemos em conta a biologia das doenças mentais, não há tratamento para essas doenças. Para se conseguir um dia diagnosticar a tempo e tratar eficazmente as doenças mentais vai ser preciso encará-las, não como doenças puramente comportamentais, mas como doenças cerebrais, abrindo assim a psiquiatria às neurociências e à genética”. Por isso, diz ele, a tendência hoje é acabar com a distinção entre disciplinas como psiquiatria e neurologia e fundi-las naquilo que podemos designar por Neurociências.

As lesões em muitas doenças, ditas orgânicas, como o cancro da mama ou um enfarte do miocárdio são visíveis, palpáveis, objectivas, noutras nem tanto, é necessário recorrer a análises sofisticadas e marcadores indirectos. Nas doenças cerebrais, também há lesões que são facilmente observáveis do ponto de vista orgânico e que levam a doenças mentais, de cuja origem na lesão detectada ninguém duvida. Mas as doenças mentais propriamente ditas causam alguma perplexidade quanto à sua natureza física e material, pelo simples facto de não vermos e de não conhecermos, por enquanto, a lesão ou alteração que está na sua origem. Mas, a despeito do muito que já se sabe neste campo, será lógico pensar que há uma alteração funcional, uma ou várias lesões celulares, uma ou várias alterações dentro dos milhões de neuro-transmissões do complexo mundo neuronal do nosso cérebro, igualzinho no materialista e no espiritualista, responsável quer no materialista quer no espiritualista, por toda a nossa vida psíquica, por todos os nossos pensamentos, emoções, sentimentos e afectos. Responsável por toda a nossa vida global, pelo todo da nossa vida, por mais que a queiramos cindir, fatiar e hipotecar ao que quer que seja.
publicado por Carlos Loures às 22:30
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