Domingo, 16 de Janeiro de 2011

Esplanada da praia - por Carlos Loures

 

 

 

Numa tarde de sábado, em Abril de 1988 (é a data que pus no final do poema – Abril/68) estava sentado numa esplanada de uma praia da linha de Cascais. Lembro-me que fazia uma temperatura elevada para a época e bebia cerveja enquanto observava as pessoas que colhiam os últimos raios de sol daquele belo dia. Sentia-me bem. Depois comprei o Diário de Lisboa, que ainda se publicava e publicou por mais um ano ou dois, folheei-o, li as notícias e lá se foi a sensação de beleza e de tranquilidade…

 

 

 

Ah, meu amigo, o que é o coração do homem!

 

(Goethe)

 

Sim, na verdade

o coração do homem é assim,

espalha-se no vento,

escreve gritos na paisagem,

viaja no silêncio, enfim,

é assim –

é veleiro e astronave

em permanente viagem,

o coração do homem.

Coração, é um modo de dizer,

é uma expressão nada científica,

por sinal, que serve para definir

o local, o território misterioso

onde habitam o amor, o afecto,

o ódio, o medo e a coragem.

Onde mora também

A capacidade de sentir

os oceanos que golpeiam

o peito da humanidade.

Dizemos coração,

talvez por ser mais simples situar

num simples órgão

tudo aquilo que em nós transcende

o bisonho animal

que nos domina e vigia.

Por exemplo,

é Abril e é sábado,

estou aqui na esplanada da praia,

a cerveja está fresca,

a temperatura é amena,

o mar é azul, as pessoas são bonitas,

o céu é um lago de serenidade.

Tudo é tranquilo e belo.

Porém, compro o jornal da tarde

e a tranquilidade

quebra-se logo,

como um vidro frágil agredido

pela fúria selvagem

de um martelo à solta.

O meu coração viaja até à Palestina,

à África Austral, à América Latina,

onde a ânsia animal de dominar,

destrói a vida,

oculta o Sol,

impede o amor…

O meu coração,

muito habituado a caminhar,

abandona o corpo sentado na esplanada,

a cerveja, o mar azul,

o céu sereno, as gaivotas;

viaja até onde a morte é lei,

o passado e o futuro

se defrontam em áridas colinas

revolvidas por obuses.

Se queres que te diga,

A tarde deixou de ser tranquila

e primaveril,

a cerveja sabe-me a sangue

e no sangue passa-me a circular

vitríolo.

Nesta tarde de Abril,

em que tudo estava a correr

tão bem,

antes que me esqueça,

pergunto-me:

terá sido a  cerveja

que me caiu na fraqueza,

ou terá sido o coração

que me subiu à cabeça?

publicado por Carlos Loures às 12:00

editado por Luis Moreira às 02:13
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