Terça-feira, 26 de Abril de 2011

Sempre Galiza! - Ernesto Guerra da Cal: 2011 centenário do nascimento

Queremos ser parte da homenagem a Ernesto Guerra da Cal - um galego com um coração que também batia por Portugal... e Brasil... e lusofonia, porque transbordava Galiza.

 

Visitem o sítio do centenário do nascimento de Ernesto Guerra da Gal da Academia Galega da Língua Portuguesa.

 

 

 

 

"Eu, sem pejo nenhum, afirmo aqui o meu orgulho de ter sido o primeiro escritor galego, desde o Ressurgimento, a levar a vias de facto essa tão repetidamente desejada aproximação da nossa língua escrita ao português [...] Em 1959 fui de facto “iniciador dessa reintegração” no meu poemário Lua de Alén-Mar, com o que abri fogo nessa batalha [...] Esse apelo não caiu em saco roto. Nele teve princípio a corrente “reintegracionista” contemporânea - na que hoje enfileira o melhor e mais capacitado da nossa mocidade. [...] os que neste momento detêm o poder autonómico - clientes e agentes do Estado Central [...] Esse é o bando da “Xunta de Galicia” [sic], que, de colaboração com algumas entidades “isolacionistas” esclerosadas, engenhou e “oficializou”, de maneira maleficamente subreptícia, umas aberrantes Normas cujo evidente propósito é condenar o galego ao languidescimento como dialecto - do espanhol [...] /eu tenho a convicção de que a única defesa do galego contra a política linguicida dos “espanholizantes” descansa na progressiva adopção do padrão luso-brasileiro que os “reintegracionistas” perfilham".

 

(Ernesto Guerra da Cal, "Antelóquio indispensável", in Futuro Imemorial. Manual de Velhice para Principiantes, Lisboa, 1985, pp. 9-11; recolhido em Vol II, 1986, de Temas de O Ensino, nos 6/10, “Linguística, sociolinguística e literatura galaico-luso-brasileira-africana de expressão portuguesa).

 

 

 

Lançado site comemorativo sobre o centenário do nascimento do professor Ernesto Guerra da Cal

 

A Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP), com o apoio doutras entidades cívicas, comemora o 100 aniversário do nascimento do professor, investigador e poeta galego Ernesto Guerra da Cal (1911-1994) com o lugar web Centenário Guerra da Cal.

O lugar acolhe e solicita materiais sobre a sua vida, obra, época e legado intelectual. Para doar materiais, pode utilizar-se o contato na própria página web. O endereço web do site é:http://guerradacal.academiagalega.org.

 

 

 

 

Apresentação

Escrito por Carlos Durão 

    

Ernesto Guerra da Cal (Ferrol, 1911 – Lisboa, 1994) foi o primeiro poeta galego moderno que tratou temas universais, no espaço e no tempo, desde “dentro” e desde “fora”. Foi sem dúvida o poeta galego que mais eco teve dentro e fora da Galiza, como testemunha a abundandíssima bibliografia transnacional e transcontinental a que deu origem a sua obra. E foi, em fim, o professor galego de mais prestígio internacional, autor da por muitos conceitos monumental Língua e Estilo de Eça de Queiroz, e duma viçosa obra devotada à nossa comum cultura galego-portuguesa, para a que viveu e pela que padeceu até morrer no exílio, consequente com as suas ideias e firmes ideais, sem por isso se importar ser sempre proscrito na sua pátria, e até maldito pelos que nela detêm ainda o poder.


Fez os seus estudos universitários em Madrid, onde travou amizade com vultos do galeguismo cultural e político, bem como com outros da cultura espanhola em geral, entre estes o seu amigo F. García Lorca, com quem conviveu na Residencia de Estudiantes e com quem colaborou na gestação dos famosos Seis poemas galegos lorquianos. Ao estourar a chamada “guerra civil” no 1936, alistou-se como voluntário nas Milícias Galegas, combateu pela legalidade republicana na frente de Toledo, e passou à Seção do Exterior do Servicio de Información Militar, do Ministério da Guerra; enviado a Nova Iorque em missão oficial pouco antes da derrocada da frente do Ebro, teve de ficar ali ao rematar a guerra.


Completou os seus estudos universitários na Columbia University, e chegou a ser catedrático na New York University, onde realizou os trabalhos de pesquisa que culminaram no seu magnum opus, a Língua e Estilo de Eça de Queiroz, pelo que é justamente reconhecido e louvado internacionalmente, e condecorado em Portugal. Ocupa-se da parte galega do Dicionário das Literaturas Portuguesa, Galega e Brasileira. Pronuncia conferências, realiza seminários, colabora em trabalhos de investigação para universidades do Brasil e de Portugal, sempre reclamando, em todo o mundo lusófono, o reconhecimento da Galiza como pertencente a esse mundo, e em toda a parte dizendo, sem pejo, que ele era galego.


Nos anos 1959 e 1963 publica os seus seminais poemários Lua de Além-Mar (o primeiro livro em que um autor galego aposta pelo reintegracionismo linguístico após o chamado Rexurdimento) e Rio de Sonho e Tempo, na editora Galaxia, de Vigo.


Reformado da súa cátedra na universidade americana, Guerra da Cal retornou à Europa, primeiro a Estoril, e posteriormente a Londres. Nesses anos impulsou o movimento reintegracionista desde o exílio. Foi graças aos seus contatos com os seus colegas em universidades lusófonas, à sua acessibilidade para a mocidade reintegracionista, e com o seu respaldo académico, que a Galiza conseguiu um merecido posto de observadora nas negociações dos Acordos Ortográficos, em 1986, no Rio, e em 1990, em Lisboa.


Com a sua obra, poética e erudita, com o seu prestígio e impulso ao reintegracionismo, Guerra da Cal deixou um incalculável legado à sua pátria, a “Nação soberana/ sem estrangeiro senhor”, da que ele foi cantor. Por isso foi dela banido, por isso merece sobejamente a nossa sentida homenagem, e por isso descansa hoje entre “os bons e generosos”, que cantou o bardo Pondal.

 

 

 

 

 

Filho Pródigo

  

Abre-me a Porta

Pai!

      Abre-me a Porta!

 

      Porque venho cansado

e derrotado

desfeito

pobre

e nu

      e envergonhado

 

      Tudo esbanjei

Só trago

      encravados no peito

nele bem entranhados

      os pungentes punhais

de todos os Pecados Capitais

 

      Delapidei o rico Património

do teu Amor

      na subida

      arrogante e pressurosa

da Montanha da Vida

 

      E hoje conheço a Dor

Da descida agoniante

      trémula e vagarosa

pela encosta abrolhosa

      na que nos acompanha

      o impiedoso demônio

da consciência dorida

da fortuna malgasta

      dissipada

      e a existência perdida

 

      Abre-me a Porta

Pai!

      E acende a luz da Casa

que outrora foi a minha

     quando eu era inocente

                              criancinha

 

      Não me tardes

Senhor!

      Abre-me a tua Porta luminosa

depressa, por favor!

 

in Futuro Imemorial (Manual de Velhice para Principiantes), Livraria Sá da Costa Editora, Lisboa, 1985

 

 

 

Morrinha de Rio e Lua lido por Celia Díaz

 


 

 

 

PÁTRIA


«Porque volvió, sin regresar, Ulises.»

MIGUEL ANGEL ASTURIAS

 

 

A Galiza

 

é para mim

 

um mito pessoal

 

maternal e nutrício

 

com longa teimosia elaborado

 

de louco amor filial

 

de degredado

 

(E de facto é também

 

—porquê não confessá-lo—

 

um execrável vício

 

sublimado)

 


A Galiza

 

foi sempre para mim

 

um refúgio mental

 

um jardim de lembranças

 

sossegado

 

um ninho de frouxel acolhedor

 

para onde fugir

 

do duro batalhar e do estridor

 

da Vida

 

e do acre ressaibo do Pecado

 

Subterfúgio subtil

 

e purificador

 

de interior evasão

 

para o descanso da alma

 

na calma

 

pastoril

 

da perfeição de Arcádia

 

da Terra Prometida

 

da imaginação

 


A Galiza

 

é o meu amor constante

 

tranquila e fiel esposa

 

e impetuosa amante

 

sempre

 

como Penélope a tecer

 

na espera

 

ansiosa e plácida

 

paciente e palpitante

 

do retorno final

 

do seu errante e navegante Ulisses

 

—outra quimera!

 


Amo-a

 

como o náufrago desesperado

 

ama a costa longínqua e ansiada

 

que nunca há-de avistar

 

Amo-a

 

com saudade antevista de emigrado

 

que à partida se sabe já

 

fadado

 

a ser ausente morrinhento*

 

de nunca mais voltar

 

Porque ninguém jamais regressa do desterro

 

à mesma terra que deixou

 

(O Espaço dissolve-se no Tempo:

 

os lugares

 

e as gentes que os habitam

 

mudam e morrem sempre

 

e nós também morremos

 

e mudamos

 

Posso eu acaso me reconhecer

 

naquele rapaz loiro

 

que chorando partiu

 

um dia crepuscular e montanhoso

 

de Quiroga

 

no Sil

 

há tantos anos

 

e tantos desenganos?)

 


Amo-a
Amei-a sempre

 

porque nunca deixei

 

de estar ligado a Ela

 

pelo umbigo

 

Porque Ela foi meu berço

 

e onde quer que eu morrer

 

Ela há-de ser

 

o meu íntimo

 

e último jazigo

 


Amo-te
enfim
Galiza

 

coitada, triste e bela Pátria minha

 

como Tu és

 

como o Senhor

 

num mal dia te fez

 

órfã de história e alienada de alma

 

vespertina submissa e maliciosa

 

rústica e pobrezinha

 


Amo-te
sobretudo

 

como eu te quereria

 

como eu em mim te crio

 

dia após dia

 

como um encantamento da minha infância

 

e da minha fantasia

 


Amo-te
como eu

 

tresnoitado poeta evangelista

 

te invento e mitifico

 

E, como com Jesus Cristo fez Mateus,

 

visto com ilusórios véus

 

a tua miseranda e cinzenta Paixão

 

e intento

 

com interna e intensa

 

distante devoção

 

pôr-te um ninho de Glória imaginária

 

num apócrifo Novo Testamento

 

ESTORIL 
      1984

 

——————
*De morrinha: saudade da terra natal.

publicado por Pedro Godinho às 11:00
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Quarta-feira, 22 de Dezembro de 2010

Os dez mais - Academia Galega da Língua Portuguesa

Carlos Loures


Em 6 de Outubro de 2008 foi criada a Academia Galega de Língua Portuguesa, sediada em Santiago de Compostela e presidida pelo Professor José Martinho Montero Santalha. Segundo Montero Santalha, a criação da Academia corresponde a uma ideia do Professor Carvalho Calero que, na década de 80, concebeu o projecto de uma instituição que «mantivesse de modo inequívoco a unidade linguística da Galiza com os outros países de língua portuguesa». A cerimónia de fundação da Academia, de qual pudemos apreciar alguns dos momentos mais importantes no vídeo abaixo, realizou-se no Centro Galego de Arte Contemporânea, em Santiago de Compostela. Foi apadrinhada pelos Professores Malaca Casteleiro e Artur Anselmo, da Academia das Ciências de Lisboa, pelo escritor moçambicano João Craveirinha (filho de José Craveirinha), pelo Professor Carlos Reis, reitor da Universidade Aberta, pelo Professor Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras, pelo Professor Elías Torres Feijó, presidente da Associação Internacional de Lusitanistas e vice-reitor da Universidade de Santiago de Compostela, entre outros.

Como se vê, padrinhos não faltaram à jovem Academia. Ângelo Cristóvão, presidente da Associação promotora da AGLP comentou: «Não podemos dizer que viemos ao mundo sem padrinhos!» E acrescentou: «queremos devolver ao galego o lugar que lhe corresponde, que é o de uma forma do português e não o de um dialecto do castelhano».


Em 23 de Maio de 2009 realizou-se em Lisboa, na Academia das Ciências, uma sessão inter-académica entre as duas entidades. Agora, quando falarmos em países de língua portuguesa, nunca devemos esquecer a Galiza. Somos nove e não oito, como se costuma dizer. Tanto mais que foi ali, na Galiza, que o nosso idioma comum, o galego-português, nasceu. Foi ali que pela primeira vez se falou a nossa língua, a língua de Camões, de Rosalía de Castro e de Fernando Pessoa e de Eduardo Pondal.


No entanto, na Galiza, além dos que defendem a reintegração no português, dos que são pelo acentuar da castelhanização do galego e dos que pugnam por uma via autónoma, ligada à fala popular distanciada do português por oito séculos de deriva, há também quem defenda uma mais versão radical, ainda que, em parte, apoiada na palavra do Professor Carvalho Calero e cientificamente verdadeira. Digo em parte, porque o Professor sempre defendeu a integração do galego no universo da lusofonia – a tal tese radical é a de que o nosso idioma se devia chamar galego e não português.


Vamos tentar saber se esta corrente de opinião é válida. Numa outra crónica, falei aqui um pouco da história da Galiza, um tema que me apaixona.


 Hoje pedi reforços ao professor Ramon Villares e à sua «Historia de Galicia», um livrinho de bolso editado em castelhano, que, há mais de 20 anos (em Agosto de 1988) me foi oferecido por um professor da Universidade de Santiago de Compostela. Ponhamos então a nossa máquina a funcionar.


Não vou recuar tanto no tempo como seria desejável. Jorge Castro (OrCa), num amável comentário ao meu texto anterior sobre este tema, sugere que a irmandade galego-portuguesa poderá ter raízes ancestrais, localizadas para lá da última grande glaciação (Teoria da Continuidade Paleolítica). É uma possibilidade cuja exploração deixo para quem saiba, mas que, a ser provada, nos daria conta de uma afinidade que não deve e não pode ser destruída; muito menos pela gula hegemónica de um estado artificial como o estado espanhol. Por hoje, não recuando tanto, limitar-me-ei a visitar a época em que o condado de Portucale e o da Gallaeciae seguiram caminhos diferentes.


Quando, em 1065, morreu Fernando I de Leão e Castela, reino de que os dois condados eram vassalos, o seu reino foi dividido entre os filhos, ficando D. García com a Galiza, um território que se estendia até ao Mondego, pois Fernando I, o Magno, conquistara aos Mouros Lamego (1057), Viseu (1058) e Coimbra (1064) território que o conde governou entre 1065 e 1070. Deposto D. García e levado preso a Leão, a Galiza ficou transformada numa província de Leão, dirigida por sucessivos condes. Assim, em 1090 foi enviado para a Galiza como conde Raimundo de Borgonha, casado com D. Urraca, uma das filhas de Afonso VI. No ano seguinte, o condado portucalense foi entregue a Henrique de Borgonha, casado com a irmã de Urraca, D. Teresa. Quando Raimundo morreu, em 1107, verificou-se uma profunda crise política em que a nobreza galega participou activamente, tanto a laica ( Pedro Froilaz, conde de Traba), como a eclesiástica (D. Gelmírez. Uma parte desta nobreza aliou-se a D. Urraca, ligando-se à ideia imperial leonesa, enquanto outro grupo defendeu os direitos de Alfonso Raimúndez, filho de Urraca, que em 1109 foi proclamado rei da Galiza.


Porém Alfonso Raimúndez, transformou-se, mercê da sua posição na linha dinástica, em Afonso VII de Castela e Leão, proclamando-se «Imperator totius Hispaniae». De certo modo, foi o último rei da Galiza, pois com ele integrou-se na monarquia leonesa a nobreza galega mais rebelde, representada pela estirpe dos Traba.


O que nos diz respeito sabemos nós bem – Afonso Henriques, primo direito do autoproclamado imperador, queria um reino só para ele, venceu sua mãe, D. Teresa que alinhara com a nobreza galega, prestando vassalagem ao sobrinho, na batalha (ou escaramuça; ou torneio) de São Mamede, em 1128, e proclamou unilateralmente uma independência que só em 1143, pelo Tratado de Zamora, seria reconhecida pelo rei de Leão. Como José Mattoso salienta e Ramón Villares cita, a independência de Portugal não pressupõe qualquer reacção anti-galega, pois entre os que apoiaram o nosso Afonso I estavam famílias galegas, entre as quais a dos Traba, que procurava em Portugal o êxito que na Galiza lhes era negado.


Resumindo – a formação de Portugal obedeceu a causas complexas que remetem para diferenças existentes desde a época romana entre as regiões bracarense e lucense, que constituíam a Galécia. E como Villares sublinha, correspondeu também à «incapacidade da nobreza galega para se constituir em reino próprio desde os primeiros momentos da reconquista»; a expansão territorial portuguesa, seria feita a partir da parte meridional da Gallaecia, enquanto que a região lucense, mais recolhida sobre si mesma, inserida perifericamente na monarquia castelhana, mas ligada à Europa pelo cordão umbilical do Caminho de Santiago, iria desenvolver um conjunto de traços específicos que lhe permitiriam conservar a sua identidade ao longo da história até aos nossos dias.


Nestes séculos de domínio estrangeiro, o galego foi muito invadido por castelhanismos, inquinado foneticamente e não só. Apenas no século XIX, com o Rexurdimento de Rosalía, Murguia, Pondal e tantos outros, a língua e a cultura galegas começaram a recuperar a sua identidade usurpada. Do ponto de vista da ciência linguística não parece existir dúvida de que português e galego nasceram de uma mesma matriz.


Podemos chamar por isso galego-português ao idioma que, sob duas formas dialectais, falamos lá e aqui. Que fique muito claro que quando se fala de reintegrar, não estamos a falar de Portugal anexar politicamente a Galiza, estamos só a falar de uma reintegração na tal matriz comum que quase nove séculos de domínio castelhano na Galiza quiseram apagar. Gostaria muito que a Galiza fosse independente (adoptando o galego, o português ou o galego-português como língua oficial – é um problema dos galegos). Com a certeza, porém, de que chamem o que lhe chamar, as palavras que os galegos pronunciarem serão as mesmas, tenha o idioma que falam o nome que tiver. Serão as mesmas e soarão aos nossos ouvidos como uma língua semelhante à nossa. Mas voltemos ao percurso histórico e ao paralelo fluir do idioma.


Referi-me à língua falada desde a Alta Idade Média nos territórios da antiga província romana da Galécia, uma variante neolatina ou, como diz com maior rigor científico Carvalho Calero, uma forma primitiva do romance hispânico ocidental. Forma que veio a resultar no galego-português (ou galaico-português). Um momento alto da evolução deste idioma é quando, no século XII, a poesia lírica produzida nesta região era escrita na língua que, além de utilizada pelos naturais, ultrapassando as suas fronteiras, chegava a Leão e Castela – as «Cantigas de Santa Maria», do rei castelhano Afonso X, o Sábio, foram escritas em galego-português. Era, pois, uma língua de cultura. No século XII ocorreu a separação de Portugal da coroa leonesa. À época a Galiza gozava de alguma independência relativamente à coroa castelhano-leonesa. Contudo, no século XIV, a intervenção galega a favor de Pedro I de Castela contra Henrique Trastâmara, motivou com a vitória deste, o exílio de muitos galegos em Portugal. Quando a sua nobreza tomou o partido de Joana, «a Beltraneja» ou, como se dizia em Portugal, da «Excelente Senhora» contra Isabel de Castela, a Galiza viu as suas instituições destruídas e a sua aristocracia perseguida, deixando de existir como nação independente.


Muito basicamente, descrevi, com a ajuda do Professor Villares, o momento da separação das duas partes irmãs, em que começou a deriva histórica e consequentemente a linguística. Dizer-se que em Portugal se fala galego é, pois um exagero radical (embora compreensível), é desconhecer o papel que Fernão Lopes, Gil Vicente, Sá de Miranda, Camões, para referir só alguns nomes, tiveram na criação da língua e na sua fixação em monumentos literários. É esquecer que os portugueses, trezentos anos decorridos sobre a independência, sulcavam os oceanos, descobriam novas terras, criavam uma maneira própria de estar no mundo. Talvez não a melhor, mas própria, em todo o caso.


Por tudo isto e não porque de algum modo a ideia nos ofenda, parece-me um exagero querer que o português se passe a designar por galego, como o pretendem os tais galeguistas radicais. Eles afirmam, em consequência, que em Portugal, no Brasil, em Moçambique se fala galego e que o galego tem, portanto, 200 milhões de falantes. Digo que são radicais porque radicam a sua tese nas raízes profundas e comuns do galego e do português. Porém, penso que o cerne do problema não se situa aí, no nome do idioma – o importante é que a língua da Galiza seja aquela que os galegos queiram como sua. Um dialecto do castelhano todos estamos de acordo que não é. É uma forma diferente de falar português (ou o português uma forma diferente de falar galego)? Penso que tudo aponta para esta hipótese. A decisão só pode ser dos irmãos galegos. Todavia, a viagem já vai longa e por hoje apenas acrescento:


- Bem-vinda ao universo da lusofonia, jovem Academia Galega da Língua Portuguesa!


publicado por Carlos Loures às 02:00
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Quinta-feira, 9 de Dezembro de 2010

Sempre Galiza! - Síntese do reintegracionismo contemporâneo (31), por Carlos Durão

coordenação de Pedro Godinho

Síntese do reintegracionismo contemporâneo (31)
  por Carlos Durão

(continuação)

2003: Comunicado conjunto de diversas entidades culturais, «A reforma ortográfica e a língua na Galiza», em defesa da unidade da língua. - 2004: «Proposta de reforma do Estatuto de Autonomia da Galiza», de modo a garantir os direitos linguísticos dos cidadãos (http://www.proposta2004.tk//).

2004: Representação conjunta da Galiza (com o MDL e AGAL) no Foro Social Europeu de Londres, em que se expôs a situação da língua na Galiza. Comunicado conjunto de AAG-P, MDL e AGAL para o Foro Social Europeu, o terceiro, em Londres, março de 2004, com participação do grupo “Galegos de Londres” (galegosdelondres@yahoogroups.com), que se organizara como grupo de trabalho para colaborar em ações de protesto depois do afundimento do navio Prestige.

2005: «Petição ao Parlamento Europeu» (http://www.peticao-pe.tk) em defesa da unidade da língua, assinado por AAG-P e MDL, 4 de novembro, em que se solicita «Que as instituições europeias se abstenham de promover a segregação linguística das minorias nacionais, e seja reafirmada a unidade da língua portuguesa, nacional ou oficial na Galiza, Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe, Moçambique e Timor Lorosae». Em 1 de janeiro de 2006 a RTP emitiu, durante o «Jornal da Tarde», uma reportagem de 8 minutos sobre esta campanha -em que trabalham as entidades promotoras, AAG-P e MDL. (O vídeo é acessível na excelente página da internet do professor Celso Álvarez Cáccamo:

A Petição ao Parlamento Europeu, campanha que continua activa, já tem dado o seu primeiro fruto: a Comissão admitiu a petição e, sem pronunciar-se sobre o fundo da questão, transmitiu-a à Comissão de Cultura, que a deve ter em conta para a elaboração das suas políticas. O primeiro parágrafo desta petição diz o seguinte:1. A língua da Galiza, ou galego, sob o nome de português, já é língua oficial do Parlamento Europeu, e os cidadãos espanhóis lusófonos que se reconheçam como tais podem usá-la nas instituições europeias. Um claro exemplo é o representado pelos ex-deputados galegos que, durante as anteriores legislaturas, decidiram usar, oralmente e por escrito, a língua da Galiza nas suas intervenções: os Sres. José Posada e Camilo Nogueira (ver: http://www.empresas.mundo-r.com/31088W0001/language.htm), que falaram e escreveram habitualmente o português com sotaque e léxico da Galiza, foram traduzidos para as outras línguas pelos funcionários que no Parlamento Europeu realizam traduções da língua portuguesa. Em consequência, os representantes europeus dos estados espanhol e português têm a obriga, por respeito aos seus respetivos cidadãos, de chegar a um acordo sobre os usos do português nas instituições europeias”.

2006: V Colóquio Anual da Lusofonia, outubro; sob o título «Do Reino da Galiza até aos nossos dias: a língua portuguesa na Galiza». Os Colóquios Anuais da Lusofonia são organizados por Chrys Christello na cidade de Bragança.

2007: cria-se em 1 de dezembro a Associação Cultural Pró-Academia Galega da Língua Portuguesa: Presidente da Pró-AGLP: Ângelo Cristóvão; Vice-Presidenta: Concha Rousia; Tesoureira: Isabel Rei; Secretário: António Gil; Vogais: Martinho Montero (2006), Luís Gonçales Blasco (Foz), Ernesto Vázquez Souza, Francisco Paradelo, Rudesindo Soutelo, Luís F. Figueiroa. Na Rede http://www.aglp.net/.

2008: Representantes da AGAL, da pró-AGLP, da AAG-P e do MDL participam em 7 de abril numa Conferência Internacional na Assembleia da República portuguesa. A Conferência Internacional/Audição Parlamentar sobre o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa foi organizada pela Comissão de Ética, Sociedade e Cultura da Assembleia da República e contou com representantes de diversas instituições, entre as quais uma delegação galega. Intervieram o presidente da AGAL, Alexandre Banhos (que apresentou uma posição conjunta das Entidades Lusófonas Galegas assinada pela AGAL, a AAG-P, a Pró-AGLP, a ASPG-P e o MDL), e o presidente da Pró-AGLP, Ângelo Cristóvão (com um comunicado a respeito da posição galega e o papel da futura Academia Galega da Língua Portuguesa; na Rede: http://aglp.net/index.php?option=com_content&task=blogsection&id=0&Itemid=31&limit=6&limitstart=30).

A Academia Galega da Língua Portuguesa foi constituída em 20 de setembro de 2008; foi eleito presidente o professor Dr José-Martinho Montero Santalha; realizou-se a Sessão Inaugural no Centro Galego de Arte Contemporânea, o dia 6 de outubro, em Santiago de Compostela. Tem como objetivos promover o estudo da Língua da Galiza para que o processo da sua normalização e naturalização seja congruente com os usos que vigoram no conjunto da Lusofonia, e integrar o pensamento galego no âmbito da Lusofonia através do relacionamento com outras instituições semelhantes, galegas e lusófonas. Publica um Boletim, com Anexos (o 1o: “Galiza: Língua e Sociedade”, abril 2009; 2o novembro, 3o abril 2010), um DVD, uma coleção de Clássicos Galegos (o primeiro: “Cantares Galegos”, de Rosália de Castro), um Léxico da Galiza (incluído no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Porto Editora), assinou protocolos (p.ex. para a inclusão da variedade galega no FLiP8 da Priberam: http://www.flip.pt/FLiPOnline/Vocabulário/tabid/577/Default.aspx), etc. (vide sessão inaugural em: http://www.youtube.com/watch?v=Yf74yWreQNs).
2009: Em 17 de março reuniu-se com a Academia das Ciências de Lisboa, na Sala de Reuniões Internacionais da ACL, onde também tiveram lugar as reuniões conducentes ao Acordo Ortográfico de 1990, nas quais participara uma Delegação de Observadores da Galiza. Na reunião trataram-se temas de interesse conjunto, como a aplicação do Acordo Ortográfico e a elaboração do Vocabulário Ortográfico Comum. A Delegação da AGLP apresentou o projeto do Léxico da Galiza, elaborado para ser integrado nesse Vocabulário (http://aglp.net/index.php?option=com_content&task=blogsection&id=0&Itemid=31&limit=6&limitstart=18, e vide supra).
Numa sessão interacadémica, realizada em 14 de abril no Salão Nobre da Academia das Ciências de Lisboa, foi apresentado o Léxico da Galiza elaborado pela Comissão de Lexicologia e Lexicografia da AGLP, e a 5ª edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, elaborado pela Academia Brasileira de Letras sob a coordenação do Prof. Evanildo C. Bechara (vide supra).
Participou no 4º Encontro Açoriano da Lusofonia do 31 março a 4 abril. Fez apresentações do livro “Galiza: Língua e Sociedade” em diversas cidades, dentro e fora da Galiza, inclusive em Bruxelas, onde estabeleceu contato com a representação galega no Parlamento Europeu (4-6 julho 2009: http://aglp.net/index.php?option=com_content&task=blogsection&id=0&Itemid=31&limit=6&limitstart=12).
No Seminário de Lexicologia da AGLP em Santiago (5 outubro 2009) foi anunciada por Evanildo Bechara a inclusão do Léxico galego (800 palavras) no Vocabulário da Academia Brasileira, depois da apresentação do Vocabulário da Porto Editora, por Malaca Casteleiro. Também foi assinado o Protocolo de Colaboração e Apoio Mútuo entre a AGLP e a Universidade Aberta (Lisboa), testemunhado por Adriano Moreira e Evanildo Bechara. Em 21 outubro 2009 a AGLP esteve presente no lançamento do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Porto Editora (Porto, agosto 2009, vide supra), sob a direção de Malaca Casteleiro, no Auditório do Padrão dos Descobrimentos. Fernando Cristóvão fez uma apresentação comprometida, com a língua, o Acordo Ortográfico, Malaca Casteleiro, e especialmente com a Galiza. Chegou a ler um parágrafo do texto distribuído pela Delegação da Galiza, na Assembleia da República, em 7 abril 2008 (http://aglp.net/index.php?option=com_content&task=blogsection&id=0&Itemid=31&limit=6&limitstart=0).
O mais recente Léxico da Galiza, elaborado pela CLL da AGLP, foi plenamente incorporado pela Porto Editora no seu Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, 2009, como tb na Rede (vide supra). A AGLP assinou protocolos de colaboração com diversas entidades lusófonas; iniciou, com a do Brasil, a inauguração das suas delegações no estrangeiro (tb Argentina e Reino Unido).
Em julho de 2009 foi lançado um Manifesto pela hegemonia social do galego (http://www.peticao.com.pt/hegemonia-social-do-galego) que atingiu 1674 assinaturas.
(continua)
publicado por estrolabio às 10:00
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Sexta-feira, 5 de Novembro de 2010

Sempre Galiza! – Do enquadramento da língua


coordenação de Pedro Godinho


“ De nada nos serviria que todo o mundo falase e escrevese en galego se ese galego (…) era realmente un castellano agalegado (…) Non abonda com que se fale galego, é que é preciso que ese galego sexa galego, é dizer, que non sexa un produto que con nome de galego nos apresente un dialecto do castellano. Asi que esta é a significazón que tem o esforzo que están realizando muitos intelectuais galegos en pro dunha reintegrazón do nosso idioma no seu sistema próprio (…) apesar do decreto de unificazón ditado para impoñer unha normativa oficial, existe un sector importante do país (…) que insisten na necesidade de ter em conta o galego histórico, e que non cren que se poda normativizar e normalizar a nossa língua sobre a base da realidade dialectal dos tempos modernos, que é a consecuéncia dun proceso de degradazón do noso idioma, producido por circunstâncias históricas de sobra conhecidas.”

   in Conversas en Compostela com Carballo Calero, M.A. Fernán-Vello / F. Pillado Mayor, ed. Sotello Blanco, 1986, p. 239


Nas palavras do professor Ricardo Carvalho Calero, “o galego ou é galego-português ou é galego-castelhano, não há outra alternativa”.


O longo período de colonização castelhana do galego abastardou-o  e tornou a questão da língua igualmente uma questão política.

Os que pugnam por um galego-castelhanizado, pretensamente ‘moderno’ por oposição a um galego ‘histórico’, alinham habitualmente com uma visão duma Galiza espanholizada e assimilada, isto é, com uma autonomia limitada e diluída num ente espanhol (leia-se castelhano) mais amplo.

A afirmação duma identidade galega, da nação galega, estão, também, ligados à afirmação da sua língua. Alguns galeguistas procuram no ‘isolacionismo’ a criação dum novo galego, pensando ser essa a melhor forma da sua afirmação, mas outros vêm no ‘reintegracionismo’, isto é, na reintegração das falas galegas no universo histórico-linguístico galaico-português (actualmente denominado internacionalmente de língua portuguesa), a visão do potencial de união do galego e do português (duas nações, uma língua), e da contribuição e utilidade que essa associação e rede internacional pode dar para uma Galiza livre, democrática e autogovernada.



Síntese do reintegracionismo contemporâneo


Para um melhor conhecimento e compreensão da problemática do galego e das bases do reintegracionismo, o Estrolabio irá publicar uma aliciante “Síntese do reintegracionismo contemporâneo” da autoria de Carlos Durão.

«Nota prévia: O presente trabalho foi concebido com o alvo eminentemente prático de orientar as pessoas que se acheguem sem preconceitos à problemática do idioma galego. Não é um ensaio histórico: só “contemporâneo”; e não é um estudo em profundidade: só uma “síntese”; tem, sim, uma parte de história recente, mas sobretudo quer refletir os testemunhos de um grande conjunto de pessoas que, em muitos casos independentemente umas das outras, chegaram a conclusões parecidas e convergentes: por isso elas não figuram no texto em ordem histórica nem alfabética. E, pelas mesmas razões, conclui com um mínimo de bibliografia e endereços de organizações reintegracionistas. Uma versão abreviada foi publicada no 1º Boletim da AGLP, 2008»


Tendo em conta a dimensão do ensaio, e para permitir uma melhor leitura sequencial, excepcionalmente, a rubrica bissemanal “Sempre Galiza!” no Estrolabio passará a diária durante a publicação deste relevante ensaio.

A partir da próxima 2ª-feira, dia 8, todos os dias, acompanhe, em “Sempre Galiza!” no Estrolabio, a “Síntese do reintegracionismo contemporâneo” de Carlos Durão.


A tentativa de nos reenquadrarem a língua

Hoje, com a habitual devida vénia, transcrevemos o seguinte artigo de opinião publicado no Portal Galego da Língua (http://www.pglingua.org) :

A tentativa de nos reenquadrarem a língua

Por Celso Alvarez Cáccamo

«Recentemente assiste-se a um certa tentativa de reenquadramento dos conflitos linguísticos no Estado Español em várias espécies.  Desde o "progressismo" centrista faz-se, por exemplo, em termos do apelo a uma "diversidade" semelhante à exuberância da flora tropical. É um discurso velho e novo ao mesmo tempo.

Velho, porque se recolhe também nessa pretensa proteção da "riqueza das modalidades linguísticas" que está na Constitución Española e em tanto discurso, também progressista, que não compreende ou não quer compreender o que é um projeto de construção de língua nacional. E novo porque, em lugar de atacar frontalmente os projetos de intervenção (pouca gente ousa dizer, por exemplo, que o galego "não serve para nada"), estes são reduzidos à necessidade de medidas locais, parciais, sempre estimadas em termos de necessidades específicas, numa paródia da auto-gestão dessa diversidade.

Em poucas palavras: a recuperação das línguas não-espanholas continua a ser folclorizada porque, no fundo, se concebe sempre um quadro linguístico mais amplo (o da Lengua dominante que não precisa de tal intervenção). Mas resulta que nem a Galiza, nem Catalunha, nem o País Basco, nem o País Valenciano, etc., são sociedades tribais com o que se chamam heritage languages ("línguas de herança") que um feixe de índios conscientizados ensinam em locais provisórios como puro "património simbólico".

Da mesma maneira, ao lado dos mitos do monolinguismo e do bilinguismo surge agora o mito do "plurilinguismo", um plurilinguismo peculiarmente concebido.

O título do infame Decreto Feijóo/Lorenzo da administração do PP ultrapassa o seu nicho no DOGA para ser motivo, por exemplo, dumas jornadas do STEG. Parece que o PP é especialmente hábil em gerar palavros que até a oposição do nacionalismo linguístico faz circular, para maior glória dos seus geradores.

 Porque, é que o "plurilinguismo" é ideia nova agora? E, de que plurilinguismo se fala? Do que sempre tiveram as elites poderosas que falam os idiomas poderosos do mundo para se comunicar na linguagem do dinheiro? Do plurilinguismo "de base" das sociedades multiétnicas (africanas, por exemplo), onde várias línguas de identificação social são utilizadas junto a línguas ex-coloniais e neo-coloniais (isto é, coloniais)? Ou não se tratará do ideal dum semi-plurilinguismo acaído para perpetuarem o semi-analfabetismo numa sociedade galega que, por não ter, não terá nenhuma língua inteira (nem português, nem inglês, nem español)?

E, por último, ressurge também o enquadramento da "ecolinguística", palavro também pegadiço como canção de verão. Tampouco é nova. As línguas no seu espaço eco-social, não é? Mas, ou isto se concebe em termos eco-sócio-político-linguísticos, ou se está a falar da mesma diversidade linguística de sempre.

Na realidade, não li um recente volume coletivo, Lingua e Futuro, com a focagem nessa onda, Unha perspectiva ecolingüística, porque um livro académico que fale do passado, presente e futuro do galego sem incluir nas suas cumpridas referências bibliográficas nem sequer uma menção a nem sequer um livro, trabalho, artigo, palestra ou texto jornalístico de nem sequer uma só pessoa reintegracionista durante décadas de produção (isto é, os que dizemos e escrevemos que galego e português são a mesma língua, que se chama língua portuguesa), merece-me pouquíssimo crédito. Será um livro pavero, mas não é nem ciência nem resistência. Um pergunta-se se a urgência duma improvisada contestação ao Monstro do PP, os interesses comerciais editoriais, a caché do termo "ecolinguística" e outros fatores oportunistas se impuseram, como amiúde acontece, sobre o critério do rigor académico para uma questão tão crucial como --dizem os mal pensados-- é a Língua da Galiza.

Mas é que, já digo, o jogo do reenquadramento discursivo parece estar a ser mais importante do que outras questões. Dirá-se que me estou a referir, na minha crítica, a discursos e posições muito diferentes. Talvez sim, mas nem tanto. Todos continuam a caraterizar-se, como é costume, pola exclusão. Não é grave que neste jogo se excluam pessoas, que são mortais, mas sim o que estas dizem, que permanece escrito. Esses discursos excluem afirmar com todas as letras que o conflito linguístico na Galiza é uma questão de Estado porque é um conflito entre línguas nacionais e de Estado, não entre uma Lengua plena dominante e uma curiosa variedade dominada a "proteger".

Tírios e troianos excluem, por exemplo, a evidência categórica de que não se pode reinventar o que é uma Língua Nacional, e que esta língua nacional já a temos noutros estados, para imitarmos a sua natureza e as suas funções (dentro das nossas formas) como obedientes discípulos. Excluindo assim o discurso da razão de Estado, isto é, a questão radical do conflito linguístico galego, permite-se e tolera-se a penetração de viragens discursivas de todo o tipo que, na realidade, não dizem nada novo e, sobretudo, não abrem as portas para agirmos nada novo. É esta uma ampla aliança, não o nego, dentro do que dei em chamar o "contínuo galeguista", bem tolerada desde o centro. Mas uma aliança social assim não dá necessariamente a razão.

O galego é língua portuguesa. A gente antiga da Galiza inventou a língua, decerto, mas estruturas não galegas muito posteriores ("Portugal") inventaram a língua nacional. Um agir linguístico, cultural e político responsável deveria começar por não omitir nunca esta evidência histórica, que só uma hipocrisia de classe e de facção dominante de campo quer apresentar como dolorosa.»


Reveja também aqui o vídeo da Sessão Inaugural da Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP), realizada em 6 de outubro de 2008, em Santiago de Compostela, Galiza - Europa:

publicado por estrolabio às 09:00
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