Domingo, 11 de Julho de 2010

Insones, noctívagos & afins - Flor, telefone, moça

Carlos Drummond de Andrade

Não, não é um conto. Sou apenas um sujeito que escuta algumas vezes, que outras vezes não escuta, e vai passando. Naquele dia escutei, certamente, porque era a amiga quem falava, e é doce ouvir os amigos, ainda quando não falem, porque amigo tem o dom de se fazer compreender até sem sinais. Até sem olhos.

Falava-se de cemitérios? De telefones? Não me lembro. De qualquer modo, a amiga – bom, agora me recordo que a conversa era sobre flores – ficou subitamente grave, sua voz murchou um pouquinho.

- Sei de um caso de flor que é tão triste!

E sorrindo:

- Mas você não vai acreditar, juro.

Quem sabe? Tudo depende da pessoa que conta, como do jeito de contar. Há dias em que não depende nem disso: estamos possuídos de universal credulidade. E daí, argumento máximo, a amiga asseverou que a história era verdadeira.

- Era uma moça que morava na rua General Polidoro – começou ela. – Perto do cemitério São João Batista. Você sabe, quem mora por ali, queira ou não queira, tem de tomar conhecimento da morte. Toda hora está passando enterro, e a gente acaba por se interessar. Não é tão empolgante como navios ou casamentos, ou carruagem de rei, mas sempre merece ser olhado. A moça, naturalmente, gostava mais de ver passar enterro do que de não ver passar nada. E se fosse ficar triste diante de tanto corpo desfilando, havia de estar bem arranjada.

Se o enterro era mesmo muito importante, desses de bispo ou de general, a moça costumava ficar no portão do cemitério para dar uma espiada. Você já reparou como coroa impressiona a gente? Demais. E há a curiosidade de ler o que está escrito nelas. Morto que dá pena é aquele que chega desacompanhado de flores – por disposição de família ou falta de recursos, tanto faz. As coroas não prestigiam apenas o defunto, mas até o embalam. Às vezes ela chegava a entrar no cemitério e a acompanhar o préstito até o lugar do sepultamento. Deve ter sido assim que adquiriu o costume de passear lá por dentro. Meu Deus, com tanto lugar para passear no Rio! E no caso da moça, quando estivesse mais amolada, bastava tomar um bonde em direcção à praia, descer no mourisco, debruçar-se na amurada. Tinha o mar à sua disposição, a cinco minutos de casa. O mar, as viagens, as ilhas de coral, tudo grátis. Mas por preguiça, pela curiosidade dos enterros, sei lá por que, deu para andar em São João Batista, contemplando túmulo. Coitada!

- No interior isso não é raro…

- Mas a moça era do Botafogo.

- Ela trabalhava?

- Em casa. Não me interrompa. Você não vai me pedir a certidão de idade da moça, nem sua descrição física. Para o caso que estou contando, isso não interessa. O certo é que de tarde costumava passear – ou melhor, “deslizar” pelas ruinhas brancas do cemitério, mergulhada em cisma. Olhava uma inscrição, ou não olhava, descobria uma figura de anjinho, uma coluna partida, uma águia, comparava as covas ricas às covas pobres, fazia cálculos de idade dos defuntos, considerava retratos em medalhões – sim, há-de ser isso que ela fazia por lá, pois que mais poderia fazer? Talvez mesmo subisse ao morro onde está a parte nova do cemitério e os túmulos mais modestos. E deve ter sido lá que, uma tarde, ela apanhou a flor.

- Que flor?

- Uma flor qualquer. Margarida, por exemplo. Ou cravo. Para mim foi margarida, mas é puro palpite, nunca apurei. Apanhou com esse gesto vago e maquinal que a gente tem diante de um pé de flor. Apanha, leva ao nariz – não tem cheiro como inconscientemente já se esperava – depois amassa a flor, joga para um canto. Não se pensa mais nisso.

Se a moça jogou a margarida no chão do cemitério ou no chão da rua, quando voltou para casa, também ignoro. Ela mesma se esforçou mais tarde por esclarecer este ponto, mas foi incapaz. O cero é que já tinha voltado, estava em casa bem quietinha havia poucos minutos, quando o telefone tocou, ela atendeu.

- Alooô…

- Quede a flor que você tirou de minha sepultura?

A voz era longínqua, pausada, surda. Mas a moça riu. E meio sem compreender?

- O quê?

Desligou. Voltou para o quarto, para as suas obrigações. Cinco minutos depois, o telefone tocava de novo.


- Alô.

- Quede a flor que você tirou de minha sepultura?

Cinco minutos dão para a pessoa mais sem imaginação sustentar um trote. A moça riu de novo, mas preparada.

- Está aqui comigo, vem buscar,

No mesmo tom lento, severo e triste, a voz respondeu:

- Quero a flor que você me furtou. Me dá a minha florzinha.

Era homem, era mulher? Tão distante, a voz fazia-se entender, mas não se identificava. A moça topou a conversa:

- Vem buscar, estou te dizendo.

- Você bem sabe que eu não posso buscar coisa nenhuma, minha filha. Quero minha flor, e você tem obrigação de devolver.

- Mas quem está falando aí?

- Me dá minha flor, eu estou te suplicando.

- Diga o nome, senão eu não dou.

- Me dá minha flor, você não precisa dela e eu preciso. Quero minha flor, que nasceu na minha sepultura.

O trote era estúpido, não variava, e a moça, enjoando logo, desligou. Naquele dia não houve mais nada.

Mas no outro dia houve. À mesma hora o telefone tocou. A moça, inocente, foi atender.

- Alô.

- Quede a flor…

Não ouviu mais. Jogou o fone no gancho, irritada. Mas que brincadeira é essa! Irritada voltou ao trabalho. Não demorou muito, a campainha tinia outra vez. E antes que a voz lamentosa recomeçasse:

- Olhe, vire a chapa. Já está pau.

- Você tem que dar conta de minha flor – retrucou a voz de queixa – Pra que foi mexer logo na minha cova? Você tem tudo no mundo, eu, pobre de mim, já acabei. Me faz muita falta aquela flor.

- Esta é fraquinha. Não sabe de outra?

E desligou. Mas, voltando ao quarto, já não ia só. Levava consigo a ideia daquela flor, ou antes, a ideia daquela pessoa idiota que a vira arrancar uma flor no cemitério e agora a aborrecia pelo telefone. Quem poderia ser? Não se lembrava de ter visto nenhum conhecido, era distraída por natureza. Pela voz não seria fácil acertar. Certamente se tratava de voz disfarçada, mas tão bem que não se podia saber ao certo se de homem se de mulher. Esquisito, uma voz fria. E vinha de longe, como do interurbano. Parecia vir de mais longe ainda… Você está vendo que a moça começou a ter medo.

- E eu também.

- Não seja bobo. O facto é que aquela noite ela custou a dormir. E daí por diante é que não dormiu mesmo quase nada. A perseguição telefónica não parava. Era sempre à mesma hora, no mesmo tom. A voz não ameaçava, não crescia de volume: implorava. Parecia que o diabo da flor constituía para ela a coisa mais preciosa do mundo, e que o seu sossego eterno – admitindo que se tratava de pessoa morta – ficara dependendo da restituição de uma simples flor. Mas seria absurdo admitir tal coisa, e a moça, além do mais, não se queria amofinar. No quinto ou sexto dia, ouviu firme a cantilena da voz e depois passou-lhe uma bruta descompostura. Fosse amolar o boi. Deixasse de ser imbecil (palavra boa, porque convinha a ambos os sexos). E se a voz não se calasse, ela tomaria providências.

A providência consistia em avisar o irmão e depois o pai. (A intervenção da mãe não abalara a voz). Pelo telefone, pai e irmão disseram as últimas à voz suplicante. Estavam convencidos de que se tratava de algum engraçado absolutamente sem graça, mas o curioso é que, quando se referiam a ele, diziam «a voz».

- A voz chamou hoje? – indagava o pai, chegando da cidade.

- Ora. É infalível – suspirava a mãe, meio desalentada.

Descomposturas não adiantavam, pois, ao caso. Era preciso usar o cérebro. Indagar, apurar na vizinhança, vigiar os telefones públicos. Pai e filho dividiram entre si as tarefas. Passaram a frequentar as casas de comércio, os cafés mais próximos, as lojas de flores, os marmoristas, Se alguém entrava e pedia licença para usar o telefone, o ouvido do espião se afiava. Mas qual. Ninguém reclamava flor de jazigo. E restava a rede de telefones particulares. Um por cada apartamento, dez, doze no mesmo edifício. Como descobrir?

Dizem que o rapaz começou a tocar para todos os telefones da rua General Polidoro, depois para todos os telefones das ruas transversais, depois para todos os telefones da linha dois-meia… Discava, ouvia o alô, conferia a voz – não era – desligava. Trabalho inútil, pois a pessoa da voz devia estar por ali perto – o tempo de sair do cemitério e tocar para a moça – e bem escondida estava ela, que só se fazia ouvir quando queria, isto é, a uma certa hora da tarde. Essa questão da hora também inspirou à família algumas diligências. Mas infrutíferas.

Claro que a moça deixou de atender ao telefone, Não falava mais nem para as amigas. Então a “voz”, que não deixava de pedir, se outra pessoa estava no aparelho, não dizia mais “você me dá minha flor”, mas “quero minha flor”,”quem furtou minha flor tem de restituir”, etc. Diálogo com essas pessoas a “voz” não mantinha. Sua conversa era com a moça. E a “voz” não dava explicações.

Isso durante quinze dias, um mês, acaba por desesperar um santo. A família não queria escândalos, mas teve de queixar-se à polícia. Mas, ou a polícia estava muito ocupada em prender comunistas, ou investigações telefónicas não eram a sua especialidade – o facto é que não se apurou nada. Então o pai correu à Companhia Telefónica. Foi atendido por um cavalheiro amabilíssimo, que coçou o queixo, aludiu a factores de ordem técnica…

- Mas é a tranquilidade de um lar que eu venho pedir ao senhor! É o sossego de minha filha, de minha casa. Serei obrigado a me privar do telefone?

- Não faça isso, meu caro senhor. Seria uma loucura. Então é que não se apurava mesmo nada. Hoje em dia é impossível viver sem telefone, rádio e refrigerador. Dou-lhe um conselho de amigo. Volte para casa, tranquilize a família e aguarde os acontecimentos. Vamos fazer o possível.

Bem, você já está percebendo que não adiantou. A voz sempre mendigando a flor. A moça perdendo o apetite e a coragem. Andava pálida, sem ânimo para sair á rua ou para trabalhar. Quem disse que ela queria mais ver enterro passando. Sentia-se miserável, escravizada a uma voz, a uma flor, a um vago defunto que nem sequer conhecia. Porque – já disse que era distraída – nem mesmo se lembrava da cova de onde arrancara aquela maldita flor. Se ao menos soubesse…

O irmão voltou de São João Batista dizendo que do lado por onde a moça passara aquela tarde havia cinco sepulturas plantadas.

A mãe não disse coisa alguma, desceu, entrou numa casa de flores da vizinhança, comprou cinco ramalhetes colossais, atravessou a rua como um jardim vivo e foi derramá-los, votivamente, sobre os cinco carneiros. Voltou para casa e ficou à espera da hora insuportável. Seu coração lhe dizia que aquele gesto propiciatório havia de aplacar a mágoa do enterrado – se é que os mortos sofrem, e aos vivos é dado consolá-los, depois de os haver afligido.

Mas a voz não se deixou consolar ou subornar. Nenhuma outra flor lhe convinha senão aquela miúda, amarrotada, esquecida que ficara rolando no pó e já não existia mais. As outras vinham de outra terra, não brotavam do seu estrume – isso não dizia a voz, mas era como se dissesse. E a mãe desistiu de novas oferendas, que já estavam no seu propósito. Flores, missas, que adiantava?

O pai jogou a última cartada: espiritismo. Descobriu um médium fortíssimo a quem expôs longamente o caso, e pediu-lhe que estabelecesse contacto com a alma despojada de sua flor. Compareceu a inúmeras sessões, e grande era a sua fé de emergência, mas os poderes sobrenaturais se recusaram a cooperar e a voz continuou, surda, infeliz, metódica. Se era mesmo de vivo (como às vezes a família ainda conjecturava, embora se apegasse cada dia mais a uma explicação desanimadora, que era a falta de qualquer explicação lógica para aquilo), seria de alguém que houvesse perdido toda a noção de piedade; e se era de morto, como julgar os mortos? De qualquer modo, havia no apelo uma tristeza húmida, uma infelicidade tamanha que fazia esquecer o seu sentido cruel, e reflectir: até a maldade pode ser triste. Não era possível compreender mais do que isso. Alguém pede continuamente uma certa flor, e essa flor não existe mais para lhe ser dada. Você não acha inteiramente sem esperança?

- Mas, e a moça?

- Carlos, eu preveni que o meu caso da flor era muito triste. A moça morreu no fim de alguns meses, exausta. Mas sossegue, para tudo há esperança: a voz nunca mais pediu.
publicado por Carlos Loures às 01:00
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Quarta-feira, 12 de Maio de 2010

História, romance, história em "A Sinfonia da Morte", de Carlos Loures


Sílvio Castro

Quase certamente, como é de conceito praticamente generalizado depois da lição de Lukács e outros, na literatura contemporânea não mais existe a possibilidade do género chamado “romance histórico”, de origens scottianas. Porém, é igualmente mais que provável que se possa criar ótima obra de ficção a partir de um dado, período ou episódio históricos. Justamente o que acontece com Carlos Loures e seu terceiro romance, A Sinfonia da Morte.

Carlos Loures, ao tomar como referência central para o seu texto o episódio do regicídio de 1 de Fevereiro de 1908, no qual morreram o rei D. Carlos e o príncipe herdeiro, Luís Filipe, preanúncio do fim iminente do regime monárquico português, com a consequente proclamação da República (1910), conhece coerentemente as normas que impedem a um escritor moderno a projetação do romance histórico. Porém, ao partir de um episódio fundamental da história de Portugal, ele está igualmente convicto de que realiza uma operação criativa baseada em normas e princípios teóricos os mais atualizados. Bem como que completa sua operação consciente dos recursos retóricos e linguísticos com que trabalha.

Loures, antes de tudo, concebe sua operação literária integrada na mais viva consciência do valor específico da linguagem. A partir dela se confronta com a matéria aparentemente absurda aos seus fins artísticos, matéria que retira da história nacional contemporânea e a faz própria, integrando-a com grande consciência técnico-literária nas invenções dramáticas com que se propõe recriar tão diversos mundos. Assim agindo, o romancista revela o adequado conhecimento daquele elemento técnico que mais claramente revela a impossibilidade da realização de um dito romance histórico: a mais moderna consciência de tempo, tanto na dimensão filosófica, quanto naquela linguística, e a consequente dualidade entre o conceito do tempo pessoal da sincronia e aquele diacrônico a que está preso o episódio histórico enquanto tal. Daí a necessidade, plenamente satisfeita pelo autor, da melhor composição entre tempo diacrônico, aquele histórico, e tempo sincrônico, aquele do narrador que se apropria da história. Assumida esta consciência que se faz metodologia da criação literária procurada, Carlos Loures se mostra pronto para a difícil meta de um texto que, mesmo tendo olhos para outras obras-modelos, em particular as dos grandes mestres do neo-realismo português, aspira a ser pessoal e inovadora.

A Sinfonia da Morte é um romance de rara, mas ao mesmo tempo, absorvida complexidade, de moderna erudição, metodologicamente aplicada; erudição e complexidade essas transmitidas por um processo linguístico realista e claro, o que permite a imediata criação de um quadro de relações entre o autor e o seu público-receptor de imediata eficácia.

Toda a história se desenvolve e cumpre em forma circular - em dosado equilíbrio entre narrativa-ficção e narrativa-ensaio - que, partida do “Prólogo”, corre quase sem empecilhos até o “Epílogo” - feito a semelhança do moderno romance-inquérito da literatura americana – para, já então completado, como que retornar idealmente ao “Prólogo”. Tudo numa sábia operação que convida naturalmente o leitor a duas imediatas leituras do romance, ambas fornecidas de objetivas satisfações.

Carlos Loures se integra no tempo narrativo aberto e desenvolvido pela história de um jovem futuro romancista da província, Jorge, que naquele fim de Janeiro de 1908 parte para Lisboa com empenhos ligados a interesses materiais da família, ao quais deve dar satisfações por encargo que lhe passa o pai. Jorge, negado para a agricultura, fonte da riqueza familiar, mas apoiado na sua fresca formação jurídica realizada em Coimbra, associa o encargo circunstancial ao seu desejo de encontrar em Lisboa aquela Samarcanda propícia a fazer florescer definitivamente seus sonhos literários. Jorge está no começo indeciso de uma primeira novela. Assim, mais com sonhos que com olhos capazes de fixar a realidade, ele parte para a Capital.




O narrador (quase)impessoal de A Sinfonia da Morte joga com dois tempos aparentemente conflituais: o dos sonhos de um muito jovem literato em busca de sua identidade e os episódios políticos que estão para se transformar em tragédia. O romance apresenta-se assim com a estrutura formal dos quatro movimentos sinfônicos, onde o primeiro e quarto movimentos são aparentemente autônomos, enquanto os segundo e terceiro são liberados em vibrante simbiose.

A concepção narrativa tem aparentemente fundamentos românticos, mas em verdade se revela de imediato inusitada e plena de impacto. Depois de uma aparente partida compositiva de uma história ainda focada sob o signo da dualidade “amor e morte”, o autor a transforma e conduz na direção de intensa participação com o seu quase revés: “morte e amor”. Enquanto explode no tempo fora do tempo o amor de Jorge e Margarida Diniz, revela-se com intensidade o tempo diacrônico do regicídio.

O romancista supera, de pronto, a operação começada com inevitáveis tendências à predominância de intensificações metafóricas, subordinando-as com grande eficácia ao uso de um criativo processo de linguagem metonímica. Mas. a metonímia não se exime de revelar igualmente, quando conveniente, sua face metafórica.

Como consequência de seu moderno sistema de linguagem, A Sinfonia da Morte cresce com a mobilidade do narrador (quase)impessoal, capaz de movimentos nos mais diversos tempos. Ele guia sempre as operações, mas permite os percursos de outros eu-narradores, através de uma galeria de personagens que enriquecem o romance: antes de tudo, Jorge; depois aqueles mais diretamente ligados ao personagem catalisador da ficção; o anárquico primo Luciano, de certa forma alter-ego de Jorge; o dúbio ex-companheiro da vida boêmia da Coimbra universitária, Fernando Amoreira, agora jornalista em Lisboa; Margarida Diniz, atriz, a reveladora da dimensão amorosa. Todos ligados a outras dezenas de personagens que dinamizam a ação do protagonista, como a muito simples popular Adosinda, criada de Margarida.

Paralelamente decorre a dramática presença dos mais diretos protagonistas do episódio histórico: D. Carlos, o príncipe Luís Filipe, Dona Amélia, D. Manuel, o 33º e último rei de Portugal, nascido quase como preanúncio fatal para os Braganças no dia da proclamação da República do Brasil, 15 de Novembro de 1889. Ao lado deles, a figura central do ditador João Franco, dos monárquicos dissidentes, dos dirigentes da Maçonaria e dos líderes da Carbonária portuguesa. E mais as figuras trágicas dos regicidas reconhecidos, Manuel Buíça e Alfredo Costa, junto aos quais se desenvolve a imagem um inquisidor cedo emudecido pelo poder escondido de muitos poderosos, Abílio Magro.

O romancista movimenta toda a complexidade de um tempo de pavor e violências, no qual vive por anos Portugal, disso dando testemunho a passagem aparentemente meteórica de dezenas e dezenas de nomes que são mais que somente nomes, para transformar-se em elementos da linguagem do autor: intelectuais, escritores, jornalistas, artistas, políticos, visitantes estrangeiros. Todos apanhados numa visão realista.

Somente em poucos momentos o narrador (quase)impessoal, sempre pronto ao encontro dos tempos, faz predominar aquele sincrônico; por exemplo, quando à página 236 se revela isolado num só tempo:

“Foram [Jorge e Margarida] até Algés no eléctrico aberto que tomaram perto do local do regicídio. (… …) Quando chegaram ao então agradável subúrbio, passearam de mãos dadas entre as moradias e chalés de veraneio que bordejavam a estrada asfaltada paralela à praia.”

Com A Sinfonia da Morte, Carlos Loures enriquece o moderno romance português, anunciando um possível tempo pós-moderno que reafirma as conquistas passadas, ao mesmo tempo que propicia aquelas futuras.

¬¬¬¬¬________________________________
* - Texto publicado no nº4 da revista Nova Síntese.
publicado por Carlos Loures às 00:00
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