Em tempos que parecem ter sido apenas ontem, recebi um texto de duas origens politicamente opostas e o texto era o mesmo, um documento assinado por Álvaro Santos Pereira com publicidade a um livro cujo autor era o próprio Álvaro Santos Pereira. Auto-estima bem elevada, é o que se pode dizer.
A forma como o texto estava feito dava indícios de que se tratava de alguém que no poder desejava estar, mas enfim, uma secretaria de Estado, talvez.
O texto era de uma pobreza teórica enorme mas de consequências políticas altamente gravosas para o país se à letra fosse aplicado e reagi. Reagi de imediato (http://estrolabio.blogs.sapo.pt/1331073.html) e de imediato escrevi um texto de crítica àquele, escrito ao sabor da pena e da velocidade dos meus dedos grossos a bater num teclado onde a tinta das letras já quase que se sumiu e a vista também. O tempo que passa por debaixo das nossas múltiplas e variadas pontes, esse não perdoa. Tão rápido foi que apenas tomei como base da crítica um texto que tinha acabado, minutos antes, de traduzir para o Estrolabio e que dava pelo nome de Feliz austeridade, creio, onde se desmontava o cinismo que está por detrás da lógica que defende contra todos os que emprego já não encontram, contra todos os que pão já não têm, contra todos os que direitos à esperança de um futuro poderem ter, essa já a perderam, lógica essa que é a da Troika, que é a de um programa que o actual governo promete cumprir e mesmo ultrapassar na sua intenção de estar em consonância com os mercados. E esse texto acabado de traduzir estava mesmo a calhar para a crítica que rapidamente escrevi contra um documento que mais parecia um vergonhoso panfleto a defender de forma encapotada as duras políticas de austeridade contra as quais o povo do meu país se há-de vir fortemente a manifestar. O texto aí está, o texto que agora proponho que se reedite e que assim, quem puder, face ao que se avizinha, nele então medite.
Afinal, estava a reagir a um texto de alguém que ministro desejava ser mas que ainda o não era e em que o referido documento, a mais parecer um panfleto do que outra coisa, era um resumo da sua carta de intenções, da sua carta de condicionalidade, como a Troika já consegue agora escrever, uma vez perdida a vergonha inicial em que apenas falava de memorando de entendimento. Mas a Troika sabia que era preciso cuidado com a sua linguagem, mas distraiu-se e, num texto publicado pelo Estrolabio, falou já em carta de condicionalidade face à Grécia, país de muitos e bons activos a aproveitar. Ora uma carta de condicionalidade lembra outros tempos, lembra o roubo do século que foi feito na Argentina orquestrado pelo FMI e em defesa da liberdade de fuga dos capitais, lembra África posta a saque em nome das multinacionais das indústrias extractivas e não só, lembra por essa via a entrega deste continente à China e aos seus contratos do século como foi o caso com o Congo Kinshasa. E que o digam as vitimas de Darfour.
Reagi a um texto que era uma carta de condicionalidade de um candidato a ministro, reagi a um texto de um autor que agora ministro já é. Tratemo-lo como tal. Mas agora que já o é, que senhor Ministro deve ser chamado, neste caso a ter que cumprir um programa da Troika que não fez, que não escreveu, que não concebeu, um desejo lhe desejo como antigo aluno que foi meu : para bem do meu país e para bem, portanto, de todos nós publicamente e com muito carinho lhe manifesto o desejo de que o seu e nosso governo venha rapidamente a ser um governo de que se possa dizer, dentro de muito pouco tempo, que foi um governo de que já cada um de nós se esqueceu.
Coimbra, 17 de Junho de 2011
Júlio Marques Mota
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