Quinta-feira, 23 de Setembro de 2010

Na noite de terça para quarta assisti a algo de indescritível num dos canais da Sportv. Uma reportagem de um combate de kickboxing entre crianças, com idades bastante baixas, de certeza entre quatro e seis anos. O "combate" disputou-se no Casino Solverde, penso que em Espinho, e o que vi foi verdadeiramente lamentável. As duas crianças davam murros e pontapés e uma delas, a mais pequena, olhava permanentemente para fora das cordas tentando encontrar, concerteza, o pai. Bem triste. As imagens não dignificaram nem o desporto nem todos os que colaboraram naquele triste espectáculo.
Essa tristeza, aí em cima , que fui buscar ao" Todos Somos Portugal" do Carlos Godinho, é o resultado de os paizinhos quererem à força que os filhos lhes preencham as frustações que lhes ficaram de, eles próprios, não terem tido a coragem de andar ao murro e ao pontapé .É ver os miúdos a correr para os treinos de captação de talentos dos grandes clubes; ver os miúdos e miúdas em filas de espera à porta dos "castings" para novelas e filmes; para modelos, enfim, para tudo que dê dinheiro sem trabalho,sem estudar, para preencher o ego e a vaidade aos paizinhos.
Em muitas reuniões de pais eu ficava chocado com o que os pais diziam sobre o que queriam para os filhos, nenhum falava em alegria de viver, ser feliz, deixar os miúdos serem miúdos, todos queriam que o filho fosse o próximo Einstein...
Nestas condições, sonhos perdidos, amargura quanto baste, acabam na violência, no abandono escolar e na droga.
Há bem pouco tempo lemos na imprensa o desejo de uma jovem de catorze anos, com o apoio incondicional dos pais, querer dar a volta ao mundo num veleiro, sozinha, meteu tribunais e tudo o que é comunicação social, tudo o que contribua para que, no fim da aventura, se tudo correr bem, o livro que se vai escrever venda muito e bem, que os convites para os shows televisos sejam pagos milionariamente e que ,os paizinhos fiquem muito orgulhosos de terem posto a vida da filha em perigo com a sua estupidez e a bolsa cheia ...
Sábado, 4 de Setembro de 2010
Perfil de Sidónio PaisBruno de MontalvãoLisboa, 1942 Sidónio Pais ocupa lugar de relevo no conjunto de valores da nossa Raça.
O seu nome pode inscrever-se na galeria dos mártires e, por isso, tem um lugar escolhido no meu coração,
Nunca recebi qualquer benesse da política ou da obra sidonista e no entanto, à medida que o tempo passa mais se afervora o meu culto e a minha admiração por essa nobre figura de português.
Se este pequeno e singelo preâmbulo à «Vida e Obra de Sidónio Pais», trabalho a que pacientemente me tenho dedicado, for agora bem acolhido pelo público, não me furtarei a lançar à luz da publicidade essa obra em que procuro focar, com a maior clareza possível, a vida, a obra e as intenções do desventurado Presidente.
O AUTOR
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O Poder e o Povo(A Revolução de 1910)Vasco Pulido ValenteMoraes Editores, 1982Da revolução de 1820 à queda da Monarquia, em 1910, a Coroa apoiou invariavelmente os partidos moderados «cartistas» contra o perigo do jacobinismo urbano. E excepto por breves intervalos, estes conseguiram prevalecer sobre as forças «democráticas» e radicais, a que apenas se aliaram nos mais negros dias da guerra civil Entre 1847 e 1852, a esquerda pequeno-burguesa dissolveu-se em dúzias de facções impotentes ou foi absorvida e domada pela Regeneração. A nova burguesia terra-tenente, financeira e comercial dos «barões» liberais dominou o Estado, quase sem desafio, até 1903-1905. Os médicos, advogados, professores, oficiais, funcionários públicos, comerciantes, pequenos empresários da indústria oficinal e médios proprietários rurais, que haviam dirigido a ala intransigente do «Vintismo», a revolução de Setembro e a revolta da Patuleia ficaram sessenta anos numa posição subordinada.
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Terça-feira, 31 de Agosto de 2010
Paixão eMorte de SidónioVisconde do Porto da CruzFunchal, 1928O Outono descia rápido, anunciando que se avizinhava um inverno rigoroso…
Sintra estava adorável e eu gozava aquelas ferias inesperadas, após tantos meses agitados com boatos e prevenções…
Quando reabririam as aulas na Escola de Guerra? Que importava? Abrissem quando abrissem era sempre a tempo. E no entanto ia-se gozando aqueles dias de doce tranquilidade. Mas de súbito o boato de novas tentativas do Partido Democrático vem quebrar aquele paradisíaco sossego…
De facto não tardou que rebentasse uma forte agitação revolucionaria no Barreiro, que o Porto, Coimbra e Lisboa tentaram secundar… Procurei os Camaradas que tinham, como eu, ido para Sintra e concertámos na forma de mais rápida e eficazmente chegar a Lisboa…
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Para a História da Maçonaria em Portugal1913-1935António Carlos CarvalhoVega, 1976Várias razões nos levaram a escrever este livro: um interesse muito grande, desde sempre, por estes assuntos: a noção de que está tudo, ou quase tudo, por dizer e esclarecer; a consciência de que a Maçonaria só tem sido apresentada parcialmente aos profanos; a verificação de que era importante continuar a obra de Borges Grainha, «História da Franco Maçonaria em Portugal» que se detém no ano de 1922, e incidir no período 1913 1935, ou seja, até à proibição das actividades das sociedades secretas, decretada pelo Governo de Salazar.
De 1935 até Abril de 1974, pouco se sabe acerca da acção da Maçonaria, a não ser que a Ordem nunca deixou de existir, apesar da forte repressão policial. Esse facto foi, aliás, confirmado recentemente pela própria Maçonaria, ao reclamar publicamente a propriedade do prédio da Travessa do Guarda-mor, em Lisboa, onde existia o Grémio Lusitano.
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Quinta-feira, 29 de Julho de 2010
A Igreja Católica e Sidónio PaisCunha e CostaCoimbra Editora, 1921Essa hora virá, ma só quando a Providência entender que a expiação colectiva suficientemente resgatou os graves pecados de que nenhum de nós está inocente.
Estou, entretanto, convencido, de que a tragédia da noite de 14 de Novembro de 1918 muito contribuiu para adiantar essa hora.
Em torno dessa memória se está lenta mas seguramente, refazendo a Nação, como, devagar, mas com firmeza, após Alcácer-Quibir se refez.
O erro dos que ainda hoje a mera invocação do seu nome enfurece, consiste em não se aperceberem de que o chamado Sidonismo não pôde ser um partido político precisamente porque é a religião cívica de todos os bons portugueses.
Assim considerado, ele é invencível. Pode-se, em rigor, exterminar uma facção politica;
Segunda-feira, 26 de Julho de 2010
istória Política de Portugal 1910-1926Douglas L. WheelerPublicações Europa-América, s. d. No breve espaço de tempo entre a monarquia constitucional (1834-1910) e o regime emergente da Revolução Nacional, em 1926, Portugal teve quarenta e cinco governos sucessivos. A Primeira República foi o regime parlamentar mais instável da Europa ocidental.
As hipóteses da sua sobrevivência eram poucas. O País sofreu com a desorganização económica e social sem precedentes, com a violência pública e com os constantes pronunciamentos militares-revolucionários. A desvalorização da moeda e a inflação foram de longe as piores dos tempos modernos. Por volta de 1926, restavam à República muito poucos apoiantes.
É sobre este período turbulento que o Prof. Douglas L. Wheeler se debruça.
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O Homem Que Matou Sidónio PaesAlberto Franco
Paulo Barriga Guerra & Paz, 2008Lisboa, 14 de Dezembro de 1918: pela primeira vez, o leitor pode viajar no tempo e seguir os últimos passos do Presidente-Rei através do homem que mudou, para sempre, o rumo da história do século XX português: José Júlio da Costa, o homem que matou Sidónio Pais.
Escrito numa linguagem simples e acessível, apoiado numa investigação de fundo de Alberto Franco e Paulo Barriga, este é um relato único e inédito, que o fará reviver a empolgante história do assassino do Presidente-Rei.
No momento em que se assinalam 90 anos sobre a morte de Sidónio Pais, aceite o nosso convite e embarque nesta viagem.
Domingo, 27 de Junho de 2010
Elogio Académico ao Dr. Sidónio PaisFernandes CostaLisboa, 1919Sidónio Pais, o malogrado Presidente da Republica, que a mão criminosa de um desvairado prostrou sem vida, quando desta e do seu pessoal prestigio tantos problemas nacionais dependiam, tornados agora a ser outras tantas interrogações temerosas e sinistras, era um sábio, um estudioso, um pensador, um homem de gabinete, um professor; e, fundamentalmente, um académico; embora não tivéssemos a honra, ainda, de engrandecer a relação luminosa dos antigos e modernos membros desta Academia, com o seu nome ilustre.
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Domingo, 20 de Junho de 2010
Carlos Loures
Em Agosto de 1914, na redacção de «A Capital», foi admitido um rapazinho com 17 anos. Garibaldi Falcão, jornalista veterano, fora encarregado de o guiar no começo da profissão, mas estava preocupado com o que chegava sobre a Grande Guerra que deflagrara dias antes, em 28 de Julho. Vendo o jovem inactivo, perguntou-lhe: «Ouça lá, o menino já fez fogos?» Pensando que o estavam a tomar por um pirómano, Reinaldo Ferreira, indignado, respondeu: «Não senhor!». Desfeito o equívoco, após uma gargalhada geral dos redactores, lá foi fazer a sua primeira reportagem, a cobertura de um fogo posto, na Rua D. Estefânia. Chamava-se Reinaldo Ferreira e nasceu em Lisboa em 10 de Agosto de 1897. Foi repórter, novelista, dramaturgo e até realizador de cinema. Começou a escrever nos jornais com doze anos. Aos vinte, era considerado o maior repórter português.
Como, a princípio, só lhe davam incêndios, furtos, casos insignificantes… - começou a inventar reportagens sensacionais. Em 1917, horrorizou os leitores com um crime na Rua Saraiva de Carvalho, que metia um cadáver, criminosos encapuçados, pormenores misteriosos e macabros e um sinistro «homem dos olhos tortos» – a história ia saindo n”O Século sob a forma de cartas assinadas por um tal Gil Góis e atingiu tal impacto entre os leitores que o jornal achou melhor revelar que tudo não passava de ficção. Mesmo assim, a história prosseguiu e o interesse dos leitores manteve-se até ao desfecho, à semelhança do que acontecera cinquenta anos antes com o folhetim de Eça e de Ramalho - «O Mistério da Estrada de Sintra».
Data de 1917 a sua célebre (e fictícia) entrevista a Mata Hari. «Entrevistou» a famosa espia e o «pai» de Sherlock Holmes, Arthur Conan Doyle, sem nunca os ter contactado. Enviou para o jornal reportagens empolgantes do que ia acontecendo na Rússia, mas há quem diga que as escreveu sem lá ter ido.
Em Março de 1918, em «A Manhã», publicou «um inquérito à mendicidade». Fez-se fotografar andrajoso e mal barbeado e toda a gente acreditou que ele tinha andado a pedir esmola, mergulhado no submundo. Ainda em 1918, fez a reportagem de um assassínio de uma estrangeira numa pensão de Lisboa. O criminoso teria sido o marido. Ajudado pelo grande Stuart de Carvalhais, na pensão em causa, virou um quarto do avesso, espalhando sangue de galinha por toda a parte e fotografando depois a «cena do crime».
O presidente Sidónio Pais quando, na estação do Rossio, tomava o comboio para uma viagem oficial ao Porto foi morto a tiro. Pois, Reinaldo Ferreira (que, segundo parece, não estava lá) fez para o »Diário de Notícias» a reportagem mais lida – antes de expirar, o presidente teria dito: «Morro bem! Salvem a Pátria!». Frase heróica que entrou em livros e em crónicas, mas que Sidónio nunca proferiu, pois caíra fulminantemente morto abatido pelos tiros do tresloucado José Júlio da Costa.
Em 1919 foi para Paris, onde trabalhou no «Le Soir», no «Matin» e dirigiu a Agência Americana, cujos serviços chefiou em Madrid, Barcelona e Bruxelas, onde vivia em 1920. Note-se que tinha apenas 23 anos. Na capital belga ficou até 1922, colaborando no jornal «Neptune». Em 1923 nasceu o Repórter X. De regresso de Paris, estava em Barcelona quando, em 13 de Setembro, Miguel Primo de Rivera, capitão-general da Catalunha acabava de tomar o poder. Reinaldo Ferreira não resistiu à tentação de enviar para o jornal uma crónica atacando o ditador e denunciando as suas prepotências. Segundo uma das versões, não assinou – pôs apenas «repórter» e a seguir um rabisco ilegível. O tipógrafo ao compor o texto, tomou o rabisco por um x. Repórter X. Reinaldo Ferreira adoptou o pseudónimo nascido de uma casualidade.
Explorando a popularidade que o nome rapidamente assumiu e capitalizando o seu enorme carisma, criou o «Jornal do Repórter X». Seguiram-se o «Repórter X» e o simplesmente «X». Multiplicando-se, correndo de um sítio para outro, iniciou-se em Espanha na cinematografia, realizando uma série de filmes policiais e de comédias. Acrescente-se que também escreveu para o teatro – peças que foram representadas no »Ginásio» e no «S.Luiz». Uma delas, «1808», foi interpretada pela grande Palmira Bastos.
Em 1925, trabalhando no «ABC» foi enviado à União Soviética para fazer a cobertura dos incidentes e da luta pelo poder entre Estaline e Trotsky após a morte de Lenine. Encalhando em Paris (onde terá caído nas garras da cocaína), foi mandando telegramas para a redacção - não estava a conseguir obter o visto. Mas, enquanto explorava o bas-fonds parisiense, foi mandando trabalhos – tudo inventado. Esgotadas as desculpas, terá chegado a Moscovo de onde enviou reportagens e entrevistas – desde o porteiro do Kremlin ao embalsamador de Lenine. Há a suposição, talvez infundada, de que Reinaldo Ferreira continuou em Paris e foi lendo as crónicas diárias de Henri Bérau, correspondente de «Le Journal» em Moscovo. Há quem defenda que ele esteve, de facto, em Moscovo e que as entrevistas são genuínas. Hoje, é impossível saber a verdade. Mas as crónicas eram formidáveis.
Ainda em 1925, fez admiráveis reportagens sobre o caso da burla cometida por Alves dos Reis, no caso do Angola e Metrópole. Em Março de 1926, deu-se o assassínio da corista Maria Alves, estrangulada num táxi e arremessada para o passeio. Escrevendo para o «ABC» e baseando-se em crime semelhantes, foi elaborando deduções que conduziram a um criminoso para o qual a polícia não apontava – Augusto Gomes, o amante da actriz. Veio a provar-se que foi ele, de facto, o autor do crime. O assassino ficou com a convicção de que Reinaldo o seguira e assistira a tudo, de tal modo a sua ficção se ajustava ao que aconteceu. O que teria sido impossível, pois as crónicas eram enviadas de Haia onde o jornalista estava à época do crime a cobrir o julgamento de Karel Marang, relacionado com o caso Alves dos Reis.
A sua imaginação era ilimitada. Às vezes abusava, como quando tentou convencer os leitores de que no subsolo de Lisboa existia uma cidade misteriosa, construída a seguir ao terramoto de 1755, onde desde então, habitando numerosa galerias, como toupeiras, as gerações se sucediam. Como peça jornalística era inverosímil, como novela era potencialmente brilhante. Reinaldo Ferreira constituiu na sua época um modelo de repórter. Hoje, com o endeusamento do jornalismo de investigação, os seus métodos seriam condenados. É que ele praticou um jornalismo de imaginação ou «criativo».
Morreu com 38 anos, devastado pelo consumo de cocaína, morfina, tabaco, álcool... Casou duas vezes, tendo dois filhos do primeiro casamento e um do segundo. Um deles, Reinaldo Ferreira como o pai (1922-1959) foi um notável poeta. Ganhou fortunas, morreu quase na miséria e, apesar da sua celebridade em vida, foi rapidamente esquecido.
Hoje, quase ninguém sabe quem foi o Repórter X.
Domingo, 6 de Junho de 2010
A Cadeira de SidónioOu a Memória do PresidencialismoJosé Freire AntunesPublicações Europa-América, s. d.Onde ia esse homem buscar um tal fascínio?
Durante muitos anos, depois da sua morte, continuaram a acender-se lamparinas de azeite em sua memória. Nas juntas de freguesia do interior viam-se fotografias de Sidónio penduradas na parede, ao lado das de Salazar.
A sua figura tem sido evocada nestes anos de brasa, em que o espectro da I República vem pairando sobre o Terreiro do Paço, São Bento e Belém, antigo triângulo da classe política.
Forçadas analogias irrompem da pena dos colunistas mais avisados. Brande-se o risco do sidonismo para vestir uma pele de autocrata ao actual presidente da República. E este já se viu obrigado a jurar: nunca os caminhos de Sidónio trilharei.
É sabido como Fernando Pessoa viu em Sidónio
Pais, num clássico poema, o chefe nacional em que, por uma efémera hora, «encarnou el-rei Dom Sebastião»
Sexta-feira, 14 de Maio de 2010
José Augusto de Jesus
Brandão, nasceu em Lisboa em 1948. Operário metalúrgico, entre 1969 e 1971 esteve na guerra em Moçambique. Ligado à ARA a partir de 1972, participou em diversas operações de reconhecimento de objectivos. Esteve preso pela PIDE em 1973. Após a revolução de Abril, foi empregado na Carris e dirigente sindical. Militante do PS, foi membro da Comissão Nacional entre 1980 e 1988 e, entre 1985 e 1987, pertenceu à Comissão Política.
Historiador, especializado na violência armada no período contemporâneo, tem uma vasta obra publicada, da qual se salienta:
Sidónio – Ele Tornará Feito Qualquer Outro (1.ª ed. 1983),
Carbonária – O Exército Secreto da República (1.ª ed. 1984),
100 Anos por 1 Dia, (1987),
A Noite Sangrenta (1991),
Suicídios Famosos em Portugal (2007);
Portugal Trágico – O Regicídio,(2008),
Cronologia da Guerra Colonial (2008) e
A Vida Dramática dos Reis de Portugal ( 2008).
Baseada na sua obra Suicidios Famosos em Portugal, iniciaremos amanhã a publicação de uma série de textos sobre o tema. Os textos que aqui apresentaremos, revistos e alterados pelo autor, são diferentes da edição de 2007.