Quarta-feira, 30 de Junho de 2010

ter o curso de futebol não chega...

Luís Moreira




A selecção portuguesa quando teve que vencer uma equipa do melhor nível, perdeu! É só isto, o resto é a conversa de encher habitual, as desculpas mal amanhadas.

O defesa direito devia ter sido um dos dois defesas direitos que lá estavam, mas quem jogou foi um defesa central? O médio defensivo não jogava há seis meses e mesmo assim foi para o Mundial, sem ritmo e sem rotinas? O único médio que sabe colocar a bola jogável nos avançados zangou-se com o seleccionador e não jogou mais? O melhor jogador do mundo não jogou nada e está feito num menino mimado ? O avançado centro foi substituído por um jovem que corre muito mas não acerta na baliza?

Foi mesmo por isso tudo que perdemos!Agora há que arranjar uma equipa preferida e torcer para ver bons espectaculos.

Só para quem gosta!
publicado por Luis Moreira às 08:30
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Terça-feira, 29 de Junho de 2010

Portugal/Espanha

Carlos Godinho (Na África do Sul com a Selecção)


No início das actividades da Selecção Nacional a larga maioria dos jogos realizavam-se contra a Espanha. As dificuldades de transportes eram grandes e optava-se por jogar com os nossos vizinhos. Com o decorrer dos tempos foram acontecendo cada vez menos jogos entre o nosso país e Espanha. Ultimamente têm sido mesmo muito esporádicos os confrontos entre os dois países. Portugal defrontou a Espanha em 35 jogos, nos quais obteve 7 vitórias, 12 empates e 16 derrotas. O último encontro teve lugar em 2004, no durante a fase de grupos do Euro e realizou-se no Estádio de Alvalade. O resultado foi-nos favorável por 1/0, com golo de Nuno Gomes, e deu lugar à eliminação dos espanhóis. Que tudo se mantenha como então é o meu, nosso, desejo!
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publicado por Carlos Loures às 10:45
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Sexta-feira, 18 de Junho de 2010

Um fantasma chamado Olivença



António Marques *

Um fantasma surge, regularmente, nas chancelarias de Madrid e Lisboa, e intromete-se no relacionamento peninsular. Fantasma que, por fragilizar argumentos, incomoda aqueles que porfiam na «aproximação ibérica». Em Espanha, erigido como troféu pelos mais imediatistas e radicais, é, para os que têm uma visão sólida e calculista da «aproximação», um «esqueleto no armário» que talvez preferissem dispensar. Em Portugal, o espectro é a ilustração perfeita da tentação imperial da Meseta e, por isso, a maioria receia-o e acautela-se. Alguns, proclamando que não existe, ingénuos, não alcançam que, justamente, ele se revela como símbolo e alerta a Portugal de um certo «abraço peninsular». O fantasma chama-se «Questão de Olivença» e nasceu há duzentos anos:

Espanha, cínica e manhosamente concertada com a França Napoleónica, invadiu Portugal, sem qualquer pretexto ou motivo válido, tomando Olivença e outras povoações do Alentejo, em 20 de Maio de 1801, na torpe e aleivosa «Guerra das Laranjas». Portugal vencido, às exigências de Napoleão e de Carlos IV, entregou a Espanha, «em qualidade de conquista», a «Praça de Olivença, seu território e povos desde o Guadiana», assinando em 6 de Junho o «Tratado de Badajoz», iníqua conclusão de um latrocínio. «Cedeu-se» Olivença, terra entranhadamente portuguesa que participara na formação e consolidação do Reino, no florescimento da cultura nacional, nas glórias e misérias dos Descobrimentos, na tragédia de Alcácer-Quibir, na Restauração!...

Findas as «guerras napoleónicas», reuniu-se, com a participação de Portugal e Espanha, o Congresso de Viena, concluído em 9 de Junho de 1815 com a assinatura da Acta Final pelos plenipotenciários, entre eles Metternich, Talleyrand e D. Pedro de Sousa Holstein, futuro Duque de Palmela. O Congresso retirou, formalmente, qualquer força jurídica a anteriores tratados que contradissessem a «Nova Carta Europeia». Foi o caso do «Tratado de Badajoz». E consagrou, solenemente, a ilegitimidade da retenção de Olivença por Espanha, reconhecendo os direitos de Portugal. Na Acta Final, apoio jurídico da nova ordem europeia, prescrevia o seu artº 105º:

«Les Puissances, reconnaissant la justice des réclamations formées par S. A. R. le prince régent de Portugal e du Brésil, sur la ville d’Olivenza et les autres territoires cédés à Espagne par le traité de Badajoz de 1801, et envisageant la restitution de ces objets, comme une des mesures propres à assurer entre les deux royaumes de la péninsule, cette bonne harmonie complète et stable dont la conservation dans toutes les parties de l’Europe a été le but constant de leurs arrangements, s’engagent formellement à employer dans les voies de conciliation leurs efforts les plus efficaces, afin que la rétrocession desdits territoires en faveur du Portugal soi effectuée ; et les puissances reconnaissent, autant qu’il dépend de chacune d’elles, que cet arrangement doit avoir lieu au plus tôt».

Espanha assinou o tratado, em 7 de Maio de 1807 e assim reconheceu os direitos de Portugal. Volvidos 183 anos, o Estado vizinho não deu, porém, provas do carácter honrado, altivo e nobre que diz ser seu, jamais nos devolvendo Olivença. Mas em terras oliventinas, sofridos dois séculos de brutal, persistente e insidiosa repressão castelhanizante (hoje, falar-se-ia de genocídio e crimes contra a Humanidade...), tudo o que estrutura e molda uma comunidade, a sua História, cultura, tradições, língua, permaneceu e permanece pleno de portugalidade! Entretanto Portugal, nunca aceitou nem reconheceu o esbulho. Todavia, não fazendo o que pode e deve (repudiar, determinada e desembaraçadamente, a situação ultrajante de Olivença e exigir a sua retrocessão), transmite a Espanha um despudorado sinal de fraqueza e dependência.

Eis, singela, a «Questão de Olivença»: uma parcela de Portugal encontra-se usurpada por Espanha, extorsão não reconhecida por Portugal e ilegítima face ao Direito das Nações.

Desafortunadamente, talvez a inacção do Estado Português seja culpa colectiva, como alvitrado por Oliveira Martins, na sua História de Portugal: «um povo que não só desconhece o patriotismo, que não só ignora o sentimento espontâneo de respeito e amor pelas suas tradições, pelas suas instituições, pelos seus homens superiores (...) que não só não possui uma alma social, mas se compraz em escarnecer de si próprio com (...) o desdém mais burlesco. Quando uma nação se condena pela boca dos seus próprios filhos, é difícil, se não impossível, descortinar o futuro de quem perdeu por tal forma a consciência da dignidade colectiva».
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*Ex-Presidente do Grupo dos Amigos de Olivença
publicado por Carlos Loures às 19:30
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Quinta-feira, 17 de Junho de 2010

A independência da Galiza e a restituição de Olivença

Carta de Carlos Leça da Veiga a Carlos Loures



Meu Caro Carlos Loures,

Para realizares um bom exercício de literatura - o que te vai a matar
- estás a dar-me cabo da cabeça.
Enviei-te um texto com tonalidade telegráfica e tu respondes com um texto imenso e, para mim, esgotante. Meios demasiado desproporcionados!
Pouco terei para dizer-te e, esse pouco, condenso em quatro pontos:

1º) Escreveste "Quanto à Galiza, penso que devemos deixar os Galegos decidirem sobre a sua independência. Se a querem". Não será por eles quererem, ou não, que vou deixar de insistir em que têm de querer.


Nunca ouvi que tu fosses favorável à manutenção da escravatura pela razão de, durante tempos infindos, os escravos aceitarem sê-lo. O fenómeno da alienação das populações nunca foi uma matéria que tenhas considerado feliz inclusive, por não teres compaginado com essa dissonância social, tiveste de provar a cadeia. Não se têm opiniões em função do grau de alienação dos circunstantes.

No mundo, há populações a quem a cultura foi roubada a ponto de perderem a própria noção da sua autonomia, por desígnio, a da sua Nacionalidade (com maiúscula). Não pode nem deve aceitar-se que assim possa acontecer. A Democracia (outra com maiúscula) não cumprirá o seu papel se, entre muitos outros, esquecer que, também, tem de esforçar-se por querer rectificar todos os erros históricos que estiverem ao seu alcance. A absorção da Galiza por Castela, só foi conseguida pela força das armas e do direito dinástico e na sua forma mais acabada não é tão antiga como parece. Tudo inaceitável.

2º)A Andaluzia, tal como a Galiza, tem todas as razões para ser um Estado independente e não uma região, melhor dito, uma colónia de Castela. Todas as razões invocadas para contrariarem esta minha asserção não têm valor político porquanto foram construídas depois dos tais reis católicos terem conquistado aquela zona da Hispânia e, à posterior, terem-na moldado à custa das maiores violências de que a da inquisição não foi a menos despicienda.

3º)A coerência de quem descolonizou - tanto por ser obrigado como, também, por querer fazê-lo - obriga a querer impor essa mesma condição a todos os demais. A auto-flagelação, tão do gosto dos esquerdalhos portugueses, não tem o mais pequeno cabimento no combate pela Democracia que, esse, não pode ser objecto de avaliações ou interpretações tácticas.

4º)Mesmo tendo mais para dizer-te não o faço. Cansa-me e, por igual, nenhuma discussão, por melhor argumentada que esteja, far-me-á abandonar o que penso sobre as Libertações Nacionais.

Com amizade, segue mais um abraço do

Carlos Leça da Veiga
publicado por Carlos Loures às 19:30
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Quarta-feira, 16 de Junho de 2010

Costa do Marfim/Portugal

Carlos Godinho
(na África do Sul com a Selecção)

Para quem achava que eram favas contadas, aí está um resultado que premiou sobretudo a boa exibição defensiva dos marfinenses. Desde o início que se colocaram numa atitude de defesa esperando o nosso erro e explorando o contra-ataque. Nada que não esperássemos mas que dificultou bastante a nossa manobra ofensiva. Eriksson apostou numa estratégia matreira e muito bem executada, que nalguns momentos poderia ter dado resultados. Composta por alguns excelentes praticantes, a Costa do Marfim, com Drogba em condições, poderá ser uma equipa a ter em conta. Veremos como se comporta com o Brasil. Finalmente uma palavra para o árbitro que mostrou um cartão amarelo disparatado a Cristiano Ronaldo que além de ter sofrido uma falta dura ainda sofreu posteriormente um empurrão. Por ter protestado levou um amarelo. Bem simples. Também me pareceu que na jogada que veio a dar golo, já interrompida, não ter havido qualquer falta dos nossos jogadores. Finalmente uma palavra para a decisão controversa, e contra as leis, de ter permitido que Drogba jogasse com uma protecção no braço. De nada valeram as nossas objecções. Estranha-se que uma simples fita no pulso seja proibida e uma protecção de material duro tenha sido aprovada. Veremos se esta decisão se manterá no jogo com o Brasil.



(Transcrito de "Todos Somos Portugal")
publicado por Carlos Loures às 14:00
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Olivença, a Terra das Oliveiras, é terra portuguesa

António Marques, ex-presidente do Grupo dos Amigos de Olivença, enviou-nos a seguinte reflexão:

«20 de Maio de 1801, "Guerra das Laranjas", ocupação de Olivença.


Vão passados 209 anos de sequestro da Terra das Oliveiras.

E hoje e sempre, o que de Olivença se vê e alcança são Terras de Portugal.

Neste 20 de Maio de 2010, guardemos Olivença e os oliventinos.


Horizonte

O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa e, com sensíveis
 Movimentos da es'prança e da vontade,
 Buscar na linha fria do horizonte
 A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte -
 Os beijos merecidos da Verdade.

[Mensagem, Fernando Pessoa]
publicado por Carlos Loures às 11:00
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Segunda-feira, 14 de Junho de 2010

Resposta de Carlos Loures à carta de Carlos Leça da Veiga

Meu caro Leça da Veiga:

Respondo à tua carta de ontem, começando pelo fim, pelo quinto ponto: «Não gostei de ver-me mencionado como alguém que defende uma Independência duns e esquece a dum território que é português e está invadido». E terminas: «Se no meu texto sobre a Galiza não fiz referência a Olivença dever-me-ia ser perguntada a razão e não tirar-se a conclusão duma falta cometida».

Lembro-te que o meu texto não constituía resposta ou contestação ás tuas palavras. Essa contestação, fi-la, oportunamente, em comentário ao teu texto. Aludi a esse texto, em que defendias a independência da Galiza, mas não te acusei de coisa alguma. Falavas da Galiza, não era forçoso falar de Olivença. Usei o teu texto como referência. Disse assim: «Há dias, no Estrolabio, Carlos Leça da Veiga, denunciando que na Europa há colónias, pedia a independência da Galiza. Pois há uma outra pequena colónia - Olivença, terra portuguesa, roubada há mais de 200 anos.». De uma forma geral, as nossas posições quanto a Olivença são coincidentes, pelo que uma grande parte do que dizes é por mim aceite, sem reservas. Quanto à Galiza, penso que devemos deixar aos galegos decidirem sobre a sua independência, se a querem. No que diz respeito aos oliventinos acho que não têm o direito de optar – Nasceram num território roubado; podem escolher a nacionalidade que quiserem, mas o território é português.

Passando a outro ponto, dizes. «é inaceitável falares de Espanha e não de estado espanhol. Uma cedência imprópria dum Democrata!» Ora, quem leia o que escrevo, sabe que essa fórmula «estado espanhol» é a que geralmente utilizo. É verdade que neste texto, usei mais vezes a expressão «Espanha». Não tenho que me justificar – todos utilizamos por vezes a designação: não faz, por exemplo, sentido dizer-se «vou fazer uma viagem ao estado espanhol». Esta tua observação, parece-me um exagero, semelhante ao de alguns crentes, em que as referências à entidade divina têm sempre de ser grafadas com maiúscula – Ele, faça-se a Sua vontade, e por aí fora. Não sou religioso e, portanto, reservo-me o direito de dizer Espanha, Grã-Bretanha, como também dizia Jugoslávia e União Soviética. Porque embora desejasse (e desejo) a sua extinção, esse estados existiam e existem à luz do Direito Internacional. Portanto, mencioná-los é coisa natural. Não me parece que a minha condição de democrata fique em risco. Realidade e utopia devem conviver sem sobressaltos.


Por outro lado a Espanha existe, embora tenha começado por ser uma utopia dos reis Católicos. Parece existir uma carta de D. João II a seus primos Isabel de Castela e Fernando de Aragão em que os censura pela abusiva utilização da palavra Espanha para designar os seus reinos, pois, terá escrito o Príncipe Perfeito, «Portugal também é Espanha». E dizem haver uma frase de Camões: "Hablad de castellanos y portugueses, porque españoles somos todos". Frase que reforça a tua tese, mas que também me dá alguma razão.

Em suma, não te quis atingir, não quis contestar nada do que disseste porque o que tinha a contestar, fi-lo no comentário. O meu texto sobre Olivença visava condenar, sobretudo, a cobardia dos políticos portugueses que em mais de dois séculos se têm esquivado de enfrentar este assunto. Apenas quis dizer – pede-se a independência da Galiza; muito bem. E peça-se também a restituição de Olivença.

E já agora, a tal questão sobre a existência ou inexistência de Espanha. Desmantelar o actual estado espanhol, não significa, quanto a mim, acabar com a união das regiões que têm o castelhano como idioma. Se defendemos a independência de Galiza ou a sua união com Portugal, a libertação dos chamados países catalães (Catalunha, Valência e Baleares), bem como a independência dos bascos, estamos portanto a relacionar a identidade nacional com a língua e com a cultura. Existem regiões, além de Castela, onde se fala o castelhano. Aliás, a Andaluzia (cuja independencia também reclamas), região que conheço bem, faz parte do substrato mais profundo daquilo a que se convencionou chamar Espanha – Sevilha, mais do que Madrid ou Toledo, está no cerne da «espanholidade». E não me refiro só às touradas e ao flamenco - Federico García Lorca, Picasso, Góngora, Antonio Machado, Juan Ramón Jiménez, Manuel de Falla (citei de memória, pois a lista de intelectuais andaluzes, se completa, seria maior que toda esta carta), constituem um lastro cultural impressionante. Para não falar em bascos, como Unamuno, em galegos, como Torrente Ballester ou Camilo José Cela, catalães com Manuel Vázquez Montalbán ou valencianos como Vicente Blasco Ibañez, que, sem renegar as suas origens, se consideravam espanhóis.

Espanha é uma realidade. Dentro das suas fronteiras, se há milhões de pessoas que não se consideram espanhóis, há uma maioria que como tal se considera. Hoje já não faria sentido chamar Castela a uma nação que extravasa em muito os limites das regiões castelhanas. Talvez as nossas utopias quanto ao reordenamento da Península não sejam coincidentes. Para mim, para além de Portugal, da Galiza, dos Países Catalães e do País Basco, haveria uma quinta república – a espanhola. Porque podemos recusar o conceito de Espanha, opressora de nacionalidades; mas não temos o direito de impedir quem se sente espanhol de o sentir e de reivindicar a nacionalidade. E a Andaluzia faz parte dessa Espanha. Bem sei que há movimentos autonomistas (sem expressão significativa). Quanto a mim, defender a independência da Andaluzia enfraquece a defesa das legítimas lutas pelas independências da Galiza, Catalunha e País Basco. Mas isto é só um pormenor. Por mim, a independência da Andaluzia ou a da Extremadura, não merecem discussão. É como pedir a independência do Algarve ou a da Galécia portuguesa., a norte do Douro. E pedir independências que não fazem sentido, aos olhos da opinião pública, retira o sentido às que são legítimas.

Em suma, meu caro Carlos Leça da Veiga, querido companheiro de tantas lutas, de modo algum quis acusar-te de qualquer falta, pelo que não tinha que perguntar-te fosse o que fosse. Posso não concordar sempre contigo, mas compreendo bem o que dizes, de tal maneira é clara a forma como escreves. O que acontece desde sempre é que as nossas respectivas utopias não são inteiramente coincidentes. O que não é crime, nem meu nem teu. E já não estamos em idade de as mudar. Pode ser que a razão se encontre algures a meio desses territórios. E, sem louvaminhas despropositadas, queria felicitar-te pela tua pertinácia na defesa daquilo em que acreditas, nas tuas utopias e lembrar-te uma frase de Boaventura Sousa Santos que justifica, se precisássemos de justificações, a crença que mantemos na utopia: «Mas, como disse Sartre, antes de ser concretizada, uma ideia tem uma estranha semelhança com a utopia. Seja como for, o importante é não reduzir o realismo ao que existe, pois, de outro modo, podemos ficar obrigados a justificar o que existe, por mais injusto ou opressivo que seja». Como injusta e opressiva é a ocupação que o estado espanhol faz na Galiza, no País Basco e na Catalunha, e do roubo a Portugal do pequeno território de Olivença, acrescento eu.

Recebe um forte abraço.

Carlos Loures
publicado por Carlos Loures às 12:00
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Quarta-feira, 9 de Junho de 2010

A República nos livros de ontem nos livros de hoje - 12 e 13 (José Brandão)

A Carbonária em Portugal
(1897-1910)

António Ventura

Livros Horizonte, 2004

O estudo das organizações secretas está limitado, como é natural, pelo seu carácter reservado, pela quase inacessibilidade ou inexistência de documentos que nos permitam olhá-las como simples objecto de investigação.
Em Portugal, é assinalada a existência de uma organização carbonária no início da década de trinta do século XIX, possivelmente com origem em emigrados liberais refugiados em Paris. Intermitentemente, ao longo da centúria de Oitocentos, surgem referências mais ou menos difusas à existência da Carbonária, nas décadas de quarenta e de cinquenta, tendo como centro irradiador a cidade de Coimbra.

Procuramos, neste livro, estudar, com as limitações já referidas, duas organizações carbonárias, ambas fundadas nos finais do século XIX, e que tiveram um papel determinante na preparação do advento da República: a Carbonária Portuguesa e a Carbonária Lusitana.
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Cartas de El-Rei D. Carlos a João Franco

João Franco

Lisboa, 1924

El-Rei D. Carlos recebera uma educação primorosa. Com uma instrução geral que o não deixava encontrar hóspede em qualquer assunto de conversação; conhecedor e possuidor das línguas, especialmente do francês e do inglês, por forma que delas se servia como da sua própria (e já o imperador Carlos V dizia que um homem que fala três línguas vale por três homens) dado ao gosto e cultura das Belas-Artes, em uma das quais, a pintura, foi distintíssimo; habituado aos sports e, como atirador, excepcionalmente forte – reunia a tudo isso ser o homem mais bem criado do seu pais, dotado de humor sempre igual, sem descair nunca na vulgaridade, nem deixar perceber de si, em qualquer circunstancia, sinal de contrariedade, despeito ou irritação.
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publicado por Carlos Loures às 18:00
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Terça-feira, 8 de Junho de 2010

Outra Constituição, outra Democracia, uma Terceira República – 22

Carlos Leça da Veiga


(Continuação)

É bom não esquecer que, no fundamental, os subsídios magnânimos que foram, ou têm sido, disponibilizados pela direcção da União Europeia, no mais essencial, só servem para alimentar o parasitismo social dalguns e, muito em principal, forçar importações – quantas delas supérfluas – provenientes dos próprios estados que são, afinal, na realidade, os subsidiários mais significativos do sistema de ajudas. Assim, por força das importações necessárias aos trabalhos a empreender e daquelas dos bens deixados de produzir, todos os subsídios recebidos, nunca deixam de regressar ao bolso dos subsidiários contudo, é bom recordar, que esse regresso é feito com aquele acrescento monetário – pequeno, diz-se – que, ano após ano, pequeno atrás de pequeno, no caso português, conseguiu levar quanto por cá tinha sobrado do quanto, tempos atrás, havia sido acumulado e que, por pouco que fosse, apesar de tudo daria alguma tranquilidade. O aparelho produtivo nacional, diminuto que fosse – e era-o – apesar disso, impedia a importação duma parte significativa daquilo que, com a maior necessidade, o País tinha e tem precisão.

Quem foram os autores da desarticulação e consequente inutilização do aparelho nacional produtivo?

Quem foram os maiores beneficiários desta alteração?

As políticas da União Europeia têm sido saudáveis para os interesses nacionais portugueses?

Há qualquer razão para dizer-se que a integração na União Europeia proporcionou vantagens sentidas – sentidas de verdade, que não de fachada – à maioria dos portugueses?

Onde já vai o que foi o surto dos aparentes benefícios da integração?

A integração portuguesa da União Europeia – a sua dependência europeia – foi feita sem qualquer vergonha, com muita carga ideológica subjacente, sem qualquer respeito pelos oito séculos da História nacional e sem consulta popular prévia.

A integração na União Europeia foi procurada e conseguida não só na mira ignóbil e venal dos subsídios financeiros perspectivados como, também, na da busca de boas garantias de protecção política para os possidentes, não fosse voltar a haver uma qualquer forma de agitação popular como a do pós 25 de Abril ou, também, e não menos importante, poder haver um qualquer desvio no sentido de, como devia ser, Portugal desejar privilegiar relacionamentos políticos e económicos com qualquer zona ou estados dum mundo em que a presença de Portugal – são as contradições do processo histórico – sempre fez sentir-se e sempre poderá fazer-se mas que os centro-europeus, com o seu sentido colonialista tradicional, imaginam, santa ilusão, voltar a ganhar só para si.

Uma vez colocado o socialismo na gaveta, o passo posterior seria aquele de minimizar o regime democrático, enquanto garante dalgum privilégio para a generalidade da população portuguesa e não uma arma, como é pretendido pelos possidentes, em exclusivo, nas suas mãos. Enfim, neste sentido, era vantajoso ter mais garantias que quantas já dadas pelo próprio 25 de Novembro e pelas suas consequências políticas – a tão badalada “musculação da democracia” – que desde então, se nunca deixaram de estar a dar os seus efeitos não podiam ir tão longe quanto o guarda-chuva europeu conseguia e consegue permitir. Á custa dum imenso folclore partidário o situacionismo instalado tem conseguido “paz nas ruas e tranquilidade nos espíritos” – como no salazarismo – o que tem sido a solução política que mais convêm e muito agrada aos desígnios da União Europeia e que, por igual, é uma boa forma de dar tranquilidade aos europeístas portugueses mas que, a muitos Homens e Mulheres, com magoa, faz recordar outros tempos de mau augúrio.
Portugal, por ser o elo mais fraco da cadeia capitalista da Europa ocidental tinha de ficar sujeito a uma dependência mais apertada não fosse transformar-se numa zona europeia em oposição clara às políticas neoliberalistas, logo ao “europeísmo”.

Para ter-se bem a medida da aceitação, por parte dos possidentes e dos seus lacaios, da ingerência estrangeira em Portugal bastará recordar-se que as autoridades portuguesas anuíram a terem de mandar desmantelar os sectores nacionais produtivos, alguns deles exportadores e, como sua consequência, tudo ter de passar a adquirir-se nos estados continentais centro-europeus que, estes, de facto – não vale a pena dar-se-lhes outro nome – são os verdadeiros mandantes do crime.

Quem comanda a União Europeia parece não querer ver que por força das suas circunstâncias estruturais – em que o mercado neoliberal é um aspecto saliente – a marcha acentuada da sua falência económica, por ser claramente irreversível, impossibilita o regresso aos bons tempos – à aparência de bons tempos – porém, quem escuta as afirmações determinadas e determinantes dos mais altos responsáveis pelas manobras políticas europeias, de facto, só pode concluir que, mais uma vez na História da Europa, volta a ouvir-se discutir o sexo dos anjos.
publicado por Carlos Loures às 21:00
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Segunda-feira, 7 de Junho de 2010

Outra Constituição, outra Democracia, uma Terceira República – 21

Carlos Leça da Veiga

Há um prato de lentilhas oferecido pela União Europeia
Em Portugal, neste 2010, os maus resultados consequentes à integração europeia, já estão mais que à vista e, ao que parece, a procissão ainda vai no adro!

Depois de anos a fio a ouvir dizer-se que a integração europeia era, para Portugal, sem qualquer hesitação, a verdadeira alternativa política e económica, a única possível, a única viável e o único garante do progresso nacional, os portugueses que não vivem de quaisquer mais valias financeiras mas sim de salários demasiado baixos já podem começar a tirar as suas conclusões.

A crise económica tem responsáveis nas altas esferas em que são tomadas as deliberações políticas do capitalismo selvagem e da sua culpa não podem eximir-se os dirigentes da União Europeia. Aqui, em Portugal, por muitas responsabilidades que haja e que não podem desculpar-se, de verdade, não são nada quando comparadas com as produzidas no exterior. O mais grave é elas serem bem aceites, sem recalcitrar, por quantos instalados no alto do poder político português.

Há uma sujeição servil às exigências sacrossantas do mercado que, conforme o tempo avança, só tem mostrado ser um campo de batalha cada vez mais selvagem, corrupto e gerador de pobreza. Entre nós, meses a fio, todos os dias, sabe-se de mais uma outra falcatrua de alto nível enquanto que, em simultâneo, fica a saber-se haver um aumento das dificuldades financeiras das famílias. Para dourar-se o quadro e arranjar desculpas, invoca-se ser assim fora de portas, por exemplo, na área da União Europeia, o tal instrumento gerador de progresso que levaria Portugal até ao novo eldorado!

O avultado grau de desemprego, aquele outro da precariedade laboral e os baixíssimos rendimentos do trabalho auferidos pela generalidade da população portuguesa não encontraram, não encontram, nem encontrarão quaisquer respostas verdadeiramente benéficas por parte desta União Europeia para mais, agora, assoberbada com o nível muito alto duma crise larvar essencialmente económica – que não financeira – sem resposta viável na conformidade dos cânones expansionistas do mercado neoliberal. Com as novas emergências económicas, onde é que a União Europeia encontra compradores para a sua produção?

Os subsídios que, vindos da Europa, têm chegado a Portugal durante os últimos muitos anos – o tal prato das lentilhas que tantas consciências tem comprado – no mais essencial, só forraram, e bem, os bolsos da inutilidade social, por desígnio, os de toda a espécie de oportunismos porém, curiosa contradição, quando a crise económica mais estaria a exigir um incremento do auxilio pecuniário – isto na óptica dos “subsídiodependentes” – muito em breve, conforme consta, as ajudas financeiras têm os dias contados excepto – mais outro facto escandaloso – quando forem julgados necessários para salvar a criminalidade das administrações bancárias e a dos seus “ofícios correlativos”, no caso, a corporação das personalidades políticas useiras e vezeiras no favor das babugens da banca.

O desenvolvimento económico e social de Portugal está inevitável e seriamente comprometido por força da asfixia nacional provocada pela sua iniludível submissão político-económica aos interesses estratégicos do exterior, em principal, os centro-europeus. Assim sendo, qualquer suposta solução proclamada pelo Executivo Nacional e pelos seus serventuários, como é visível, não e nunca conseguirá concretizar-se no sentido do seu bom êxito que não seja, mais uma vez e como sempre, em favor dos grandes possidentes, os eternos beneficiários do esforço do trabalho nacional e, característica indesejável, indiferentes ao bem estar e ao desenvolvimento económico e social da população à custa de quem vivem.

Qualquer solução anunciada por qualquer Executivo Nacional nunca será viável, muito menos sustentável, na conformidade duma política governamental delineada, no mais essencial, como a Europa manda e, na realidade, só manda em favor dos negócios direccionados de tal maneira que, entre nós, só consigam vingar as actividades não produtivas, por desígnio especial, as especulativas. Na realidade não serão estas que irão ser a fonte segura e fiável dum rendimento nacional sustentado, multiplicador da riqueza portuguesa, proporcionador dalgumas exportações e, sobretudo, capaz do objectivo importantíssimo e prioritário da redução das importações, logo da pesada divida externa. Muito pior que as avultadas despesas do aparelho de Estado – mas a Europa põe e dispõe – são as despesas do País, quantas delas, por completo, supérfluas.

No sentido duma redução sentida dos gastos com as importações – que só a autonomia política nacional permitirá poder prosseguir – para nada contribuem, como exemplos mais frisantes, a realização despropositada e sem valor produtivo de obras públicas de cariz faraónico conducentes a acrescentos brutais nas importações; a instalação “novo-riquista” dum comboio de alta velocidade quando em plena crise económica; a construção de mais auto-estradas para agrado, sobretudo, da indústria automóvel e do comércio transitário; a edificação de estádios para a máfia do comércio desportivo; as famigeradas ajudas tecnológicas do tipo “migalhães” e, também, outro sonho lamentável dos possidentes, a aposta, aqui, no incremento do investimento estrangeiro, uma tábua de salvação baseada, vergonhosamente, na oferta nacional duma mão-de-obra suficientemente barata ou, até, se for caso disso – última novidade – para agrado do investidor, subsidiada pelo próprio tesouro português. Entre nós, como fruto da dependência do exterior – afinal, a essência da acção política dos panegiristas do europeísmo – nada de promissor pode contribuir para um saudável desenvolvimento económico e social português. A União Europeia não reserva a Portugal um estatuto de interdependência político-económica mas sim, como salta à vista, de dependência.

Na verdade, a aceitação pacífica pelos últimos Legislativos e Executivos Nacionais da imposição europeia, paga com subsídios pecuniários, para proceder-se à liquidação do aparelho produtivo de Portugal demonstra à saciedade a verdade da sujeição política e económica em que o país está. Assim, sem peias, por parte dos Órgãos da Soberania, só são vistas darem-se facilidades de toda a ordem àquilo que chamam de “empreendorismo” porém, como isso mais convêm aos estados europeus realmente exportadores, um “empreendorismo” afastado dos terrenos sectoriais duma intervenção reconhecidamente produtiva com cuja laboração tradicional havia, anos atrás, uma capacidade técnica, apesar de tudo, habilitada a conseguir limitar, com algum significado, o rol das importações necessárias cujas, hoje em dia, têm de ser feitas por imposição política dos estados continentais da Europa. Afinal, é uma obrigação extorquida aos portugueses para compensar, com vantagens apreciáveis, o favor dos subsídios europeus já aqui recebidos.

(Continua)
publicado por Carlos Loures às 21:00
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Tratado de Tordesilhas

Carlos Loures


O Tratado de Tordesilhas, assinado na vila de Tordesilhas em 7 de Junho de 1494, foi um tratado celebrado entre o Reino de Portugal e a coroa dual dos reinos de Castela e de Aragão. Seria ratificado por Castela e Aragão em 2 de Julho e por Portugal a 5 de Setembro do mesmo ano de 1494. Os originais do ambas as cópias do Tratado estão conservados no Archivo General de Indias em Sevilha e no Arquivo Nacional da Torre do Tombo em Lisboa.

O objectivo prático do acordo foi o de dividir as terras já descobertas e as que se viessem a descobrir sem criar contenciosos entre as duas potências, tanto mais que os Descobrimentos decorriam sem que se verificassem confrontos importantes. No entanto, os frutos que os Portugueses colhiam do achamento de novas terras, começavam a traduzir-se em ganhos económicos. O avanço para sul na costa africana ia verificando-se muito lucrativo – óleo de lobos-marinhos, ouro, tráfico de escravos, por exemplo, abriam novos mercados às exportações lusitanas. Castela estava atenta a essa progressão e, furtivamente, os seus navios visitavam a costa da Guiné. Portugal reclamou à cúria romana uma intervenção que evitasse intrusões que podiam, no curto prazo, acarretar confrontos. A bula de Nicolau V reconheceu a Portugal o monopólio do comércio na costa ocidental africana para sul dos cabos Não e Bojador. Os reis Católicos fizeram letra morta da decisão e as incursões abusivas prosseguiram.

Alexandre VI, o famoso Bórgia, lançou duas bulas que estabeleciam a divisão do Atlântico em duas zonas de influência delimitadas por um meridiano traçado 100 léguas para poente dos Açores. Foi a vez de D. João II discordar. E, após discussões que envolveram diplomatas e cientistas de ambos os lados, se chegou ao Tratado de Tordesilhas. Portugal via alargado o seu espaço de manobra no Atlântico, pois a nova delimitação era feita por um meridiano localizado 370 léguas a poente das ilhas de Cabo Verde. Sem provas documentais, há historiadores que defendem que D. João II sabia já da existência do Brasil. É a tese da “política do sigilo” defendida por historiadores como Jaime Cortesão e contestada por outros, como Luís de Albuquerque.
publicado por Carlos Loures às 12:00
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Domingo, 6 de Junho de 2010

Os Problemas de Portugal. Mudar de Rumo.Um livro de Vitorino Magalhães Godinho

Pedro Godinho

Na Colibri, a primeira edição saiu em Dezembro 2009, a segunda em Fevereiro 2010. As 128 páginas de Os Problemas de Portugal. Mudar de Rumo de Vitorino Magalhães Godinho lêem-se duma assentada e sem nunca perder o interesse.

Como noutros ensaios de intervenção cívica, VMG insiste em pensar pela própria cabeça, expondo a sua análise e ideias de modo livre e sem servilismos.

Pretendendo contribuir para o debate nacional, que continua por realizar, recusando o espírito de pensamento único, VMG avança as suas propostas para concorrer para a resolução dos estrangulamentos da economia e sociedade portuguesa.

Os capítulos “1 – Relações internacionais”, “2 – A Europa”, “3 – A economia”, “4 -Reestruturação do Estado”, “5 – Sistema educacional”, “6 – Sistema do Património Cultural”, “7 – Justiça e Segurança”, “8 – Ordenamento do território, população e migrações”, “9 – Alguns problemas cruciais”, “A Grande Ilusão”, “Complementos” indicam a amplidão do ensaio.

Incrível como nem meios de comunicação social, nem académicos, nem políticos mostraram qualquer interesse na sua discussão – nem uma entrevista, nem um debate. O que não encaixa no discurso dos ‘maiorais’ é tratado como inexistente.

Não é necessário concordar com todas as afirmações e particularidades deste ensaio para lhe reconhecer a importância e valia.

“Nestas circunstâncias adversas, será bom que ressurjam as inquietações, e não se desista de reflectir na pergunta inevitável: que rumo para Portugal?”

Para ler, reflectir e discutir.
publicado por Carlos Loures às 09:00
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Segunda-feira, 31 de Maio de 2010

A República nos livros de ontem e nos livros de hoje

José Brandão


Apresentação

Conforme o título indica, este trabalho tem uma linha de força que acompanha todo o desenrolar da exposição que decorre página após página. Composta por mais de duas centenas de publicações que de algum modo têm a ver com a I República e alguns dos seus mais destacados protagonistas, esta compilação bibliográfica proporciona uma amostragem significativa das obras que reflectem o quotidiano da sociedade portuguesa nesse tempo que vai de 1910 a 1926.

Expondo antigas e novas obras que falam desse período historicamente rico e intenso o presente trabalho revela também alguns dos usos e dos costumes da vida nas cidades num critério de selecção e organização que abarca os mais variados aspectos do viver português. Da vida citadina aos eventos nacionais, a I República é aqui enunciada através dos muitos títulos expostos, todos eles publicados em língua lusa e em alguns com um século de existência.

A identificação é composta pelo o título, o autor, o editor e o ano de publicação. A apresentação é sempre alguma parte de texto extraído da introdução, ou do prefácio, ou mesmo do corpo principal da obra apresentada.

Trata-se de um trabalho com características e objectivos que aliam a simplicidade da exposição à utilidade do conhecimento numa consonância sempre presente ao longo das suas páginas.

Pretendeu-se, como objectivo principal, criar uma pequena ferramenta de consulta e de trabalho que pudesse facilitar a abordagem necessária.

Sabemos que ficaram de fora algumas obras de importância elementar para o tema proposto. Mas pensamos também que nenhum outro trabalho semelhante foi tão longe quanto este.


Começaremos amanhã a publicar esta informação sobre os livros que, de algum modo, ajudam a compreender a História da I República. Em cada dia, e até 5 de Outubro, abordaremos uma ou duas obras. Tanto quanto sabemos, este trabalho de José Brandão, constitui uma informção bibliográfica de uma ímpar extensão e abrangência. Amanhã, A República nos livros de ontem e nos livros de hoje, de José Brandão.
publicado por Carlos Loures às 16:30
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Sexta-feira, 21 de Maio de 2010

Colónias nunca mais. Pela Independência da Galiza.

Carlos Leça da Veiga



A Galiza, por força do direito democrático, tem de ser um Estado independente com representação própria na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Contentar-se em reivindicar a sua língua – a portuguesa – embora uma atitude muito meritória e que nunca deve ser descurada, não parece ser um gesto político suficiente.

Compreende-se que um Cidadão Galego, obrigado à prepotência castelhana, para não ficar sujeito à injustiça das sanções penais, não queira reclamar, em público, o direito à Independência da sua Nacionalidade. Esta atitude, porém, não deve ser a de qualquer português.

A estes, quanto mais não seja por coerência histórica e, também, para reafirmação dos Direitos Humanos compete estar ao lado de todas as Nacionalidades onde quer que elas tenham uma vontade manifesta de Independência e na Galiza, bem sabido, há um importante e significativo movimento em prol da reconquista da sua Independência Nacional. Não será a acção da polícia castelhana que irá destruí-lo.

Se Portugal é um Estado que, como deve ser, só comporta uma Nacionalidade que razão haverá para que os outros Estados – sem respeito pela Democracia – obriguem várias nacionalidades a uma sujeição?

Aos portugueses compete considerar que se Portugal – e muitíssimo bem – teve de deixar de ter colónias porquê, então, o reino de Castela não está obrigado ao mesmo procedimento? E quem diz Castela tem, por igual, de dizer muitos outros Estados, dentre dos quais há vários europeus.

O direito dinástico em vigor no estado espanhol e que vem dos chamados Reis Católicos merece tanta consideração como quanta, hoje em dia, mereceria o Tratado de Tordesilhas. Castela e Aragão, em associação, nos idos do século XV começaram a ocupar indevidamente todos os Estados da periferia da Península Hispânica com excepção de Portugal já que para tanto, à época – depois foi outra conversa – não tiveram forças. Assim o colonialismo castelhano, à semelhança do de vários outros casos na Europa iniciou-se pela submissão de várias Nacionalidades da sua envolvente territorial próxima e só depois é que se abalançou às ocupações fora da Europa.

Colónias tanto as pode haver na Europa como pelo mundo fora e para ser-se colonizado não é preciso ter uma pele de cor diferente. O tempo das colónias já acabou e as que sobrevivem – que na Europa não são poucas – fazem-no à sombra da perversão do Direito Internacional, com o favor dos interesses inconfessáveis dos potentados económicos e, também, com a ajuda da repressão pela força armada. Quantas destas situações continuam a sobreviver na imensidão da Europa?

Na perspectiva política que defendo para a intervenção internacional de Portugal – uma intervenção democrática – os Galegos, os Andaluzes, os Asturianos, os Bascos e os Catalães, como exemplos mais frisantes dentro do estado espanhol, devem ganhar o estatuto legitimo de Estados Independentes e, como assim, viverem lado a lado, em fraternidade com os Castelhanos e, naturalmente, com os Portugueses. Nada de federalismos.

Aos portugueses não compete, bem pelo contrário, aceitar que o seu País tenha de defender e considerar ajustada a existência dum conglomerado de Nacionalidades forçada a qualquer autoridade, no caso vertente, a castelhana.

Depois do 25 de Abril, com a excepção honrosa duma pequena organização – a OUT – a chamada esquerda que com muito acerto soube demonstrar um grande empenho na descolonização portuguesa nunca foi capaz de reclamar, nos areópagos nacionais e internacionais, contra a existência, na própria Europa, de Estados que, como fruto aberrante das suas designadas Unificações, Reunificações ou Conquistas possam
continuar a manter muitas anexações e colonizações. Só Portugal é que era colonialista?

Mas que raio de esquerda! Não podia ofender nem Leste nem Oeste que, a cada qual, o que não faltava era ter colónias. Qualquer projecto de unidade europeia só terá exequibilidade democrática se cada Nacionalidade estiver traduzida por uma declarada Independência Nacional com representação própria e autónoma na ONU.

Lisboa, 21 de Maio de 2009
publicado por Carlos Loures às 21:00
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Terça-feira, 18 de Maio de 2010

Estadistas de outra têmpera



Rui de Oliveira

Chegou ao meu conhecimento há pouco tempo um documento político que nos faz reflectir sobre a estatura comparada dos responsáveis políticos de outrora e dos de hoje. Quando a autonomia das decisões nacionais está pelas ruas da amargura, o contra-argumento, porventura de alguma validade, é o de que as resoluções comunitárias são feitas de cedências mútuas tendo em vista um interesse comum. É sabido que o peso dos países não é o mesmo, mas uma diplomacia inteligente e hábil consegue resultados desde que não se agache à primeira pressão. Contudo o que se verifica actualmente é uma subserviência sem protesto na forma e uma submissão quase absoluta nos resultados.

Ora nem sempre foi assim e era saudável analisar-se o porquê deste contraste. É um assunto que lanço para debate num segundo tempo, pois primeiro sugiro que leiam a carta abaixo que nos foi lida numa conferência universitária e dita existente nos arquivos da Biblioteca Nacional (que por sorte encontrei reproduzida do blogue “No Arame”, a quem agradeço).

Decorria o ano de 1759 e estava-se em plena Guerra dos Sete Anos em que se afrontavam, entre outros, a França e a Inglaterra.

Portugal, sob o reinado de D. José, conseguia habilmente manter uma neutralidade, a que tentaram acolher-se alguns navios franceses no Algarve. Sem qualquer consideração a esquadra inglesa apresou-os e afundou-os.
Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro marquês de Pombal, reagiu nestes termos :


Carta do Marquês de Pombal ao Ministro dos Negócios Estrangeiros da Inglaterra: por causa de terem sido queimados, debaixo das nossas fortalezas da costa do Algarve, alguns navios franceses (BN, H.G. 25068 V)


“ Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor


Rogo a V. Exa. Que me não faça lembrar as condescendências que o nosso Gabinete tem tido para com o seu. Elas são tais, que eu não sei se alguma Potência as haja tido semelhante para com outra. É justo que este ascendente acabe por uma vez, e que Portugal faça ver a toda a Europa que tem sacudido o jugo de uma dominação estrangeira. Portugal não pode provar isto melhor que obrigando o vosso Governo a dar-lhe uma satisfação, que por nenhum direito lhe deve negar. A França olharia para Portugal como para um Estado em fraqueza, se não pudesse obrigar-vos a dar razão da ofensa que lhe fizestes, vendo queimar defronte dos nossos portos, navios que deveriam ter ali toda a segurança.



Vós não fazieis ainda figura alguma na Europa, quando a nossa Potência era a mais respeitável. A vossa ilha não formava mais do que um ponto na Carta ao mesmo tempo que Portugal a enchia com o seu nome. Nós dominávamos a Ásia, África e América, quando vós domináveis sómente em uma ilha da Europa. A vossa Potência era do número daquelas que não podiam aspirar a mais do que à segunda ordem; e pelos meios que nós vos temos dado, a terdes elevado à primeira. Esta impotência física vos inabilitava para estenderdes os vossos domínios fora da vossa ilha; porque, para fazer conquistas, precisáveis dum grande exército; mas para ter um grande exército é necessário ter meios para lhe pagar, e vós não o tínheis. A moeda de contado vos faltava. Os que calcularam sobre as vossas riquezas, acharam que não tínheis com que sustentar seis regimentos. O mesmo mar, que pode olhar-se como vosso elemento, não vos oferecia maiores vantagens; com muito custo poderíeis apenas equipar vinte navios de guerra.

Há cincoenta anos, porém, a esta parte, tendes tirado de Portugal mais de mil e quinhentos milhões, soma enorme de que a História não fornece exemplo que nação alguma do mundo tenha enriquecido a outra de um modo semelhante. O modo de adquirirdes estes tesouros vos foi ainda mais vantajoso do que os tesouros mesmos. Pelas artes é que a Inglaterra consegui fazer-se senhora das nossas minas. Ela nos despeja regularmente todos os anos do seu produto. Passado um mês depois da chegada das nossas frotas do Brasil, não fica em Portugal uma só peça de oiro; tudo tem passado para aumentar a sua riqueza numerária. A maior parte dos pagamentos do Banco são feitos com o nosso oiro.

Por uma estupidez de que também não há exemplo na História Universal do mundo económico, nós vos demos a faculdade de nos vestirdes e de nos fornecerdes todos os objectos de luxo, que não é pouco considerável. Nós damos de que viver a quinhentos mil vassalos do rei Jorge; população esta que subsiste à nossa custa na capital da Inglaterra. Os vossos campos são quem nos sustenta. Vós substituístes os vossos trabalhos aos nossos; se antigamente vos fornecíamos o trigo, vós sois hoje quem no-lo fornece. Vós tendes roteado os vossos campos, nós deixamos os nossos em baldios.

Mas se vos temos elevado a esse ponto de grandeza, na nossa mão está o precipitar-vos no nada de que vos arrancámos. Nós podemos melhor passar sem vós, do que vós sem nós. Basta uma só lei para destruir a vossa Potência, ou pelo menos para enfraquecer o vosso Império. Não precisamos mais do que proibir, com pena de morte, a saída do nosso oiro, para ele não sair jamais. Talvez respondereis a isto que apesar da proibição, sairá mesmo do modo como sempre tem saído, porque os vossos navios de guerra têm o privilégio de não serem visitados na sua partida e em consequência do dito privilégio transportarão todo o nosso oiro; mas não vos enganeis com isto. Eu fiz romper vivo o duque de Aveiro por ter atentado contra a vida do rei, e poderei muito bem fazer enforcar um dos vossos capitães por ter roubado a sua efígie em desprezo da lei

Há tempos em que nas monarquias um só homem pode muito. Vós não ignorais que Cromwel, na qualidade de Protector da República inglesa, fez cortar a cabeça a Pantaleão de Sá, irmão de João Rodrigues de Sá, embaixador de Portugal na Inglaterra, por se ter prestado a um tumulto; e eu, sem ser Cromwel, estou em estado de imitar o seu exemplo na qualidade de Ministro Protector de Portugal.
Fazei, por tanto, o que deveis, se não quereis que eu faça o que posso. Que seria da Grã-Bretanha se por uma vez lhe cortasse este manancial das riquezas da América? Como pagaria à imensa tropa de terra e a grande armada do mar? Como daria ela ao seu soberano os meios de viver com o esplendor dum grande rei? Donde tiraria os grandes subsídios que paga às Potências estrangeiras para escorar e firmar a sua? Como viveria um milhão de vassalos ingleses, se se acabasse para sempre a mão de obra de que tiram o seu sustento? Em que estado de probreza não cairia todo o reino, se este único recurso lhe faltasse? Basta que Portugal regeite os seus grãos (quero dizer, o seu trigo), para que metade da Inglaterra morra de fome.

Direis que não muda com facilidade a ordem das coisas, e que um sistema há muito estabelecido não pode transtornar-se em um momento. Dizeis muito bem; mas eu direi ainda melhor. O rodar do tempo é que pode trazer esta reforma. Eu estabelecerei um plano preliminar de comércio, que se encaminhará ao mesmo objecto.

Há muito tempo que a França nos estende os braços para que recebamos as suas manufacturas de lã. Na nossa mão está aceitarmos as suas ofertas, o que sem dúvida aniquilará as vossas. A Berbéria, abundante de trigos, os fornece a melhor mercado que os vossos. Então vereis com a maior dor um dos principais ramos da vossa marinha ficar inteiramente extinto. Vós sois muito versados no Ministério, e não ignorais que isto é um viveiro de oficiais marinheiros de que a marinha real se serve em tempo de guerra; e com isto é que tendes elevado a vossa Potência.

A satisfação que vos pedimos é conforme ao direito das gentes. Todos os dias acontece haver oficiais do mar que, por zelo ou inconsideração, fazem aquilo que não devem. Ao Governo cumpre puni-los e fazer a reparação ao Estado que eles ofenderam. Todos sabem que semelhantes reparações o não tornam desprezível. A nação que se presta ao que é justo, adquire a melhor opinião; e da opinião é que depende sempre a potência do Estado. “
publicado por Carlos Loures às 12:00
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