enviado por Julio Marques Mota
Berlusconi , o homem que hoje perdeu, o homem a quem com o voto hoje o povo venceu
Silvio Berlusconi tem muitos motivos para sorrir. Com os seus 74 anos criou um império dos media que fez dele o homem mais rico da Itália. Ele tem dominado a vida política italiana desde desde 1994 e é agora o mais antigo primeiro- ministro da Itália desde Mussolini. Berlusconi sobreviveu a inúmeras previsões da sua partida iminente. No entanto, apesar dos seus sucessos pessoais ele tem sido um desastre como dirigente nacional e por três ordens de razões.
Duas delas são bem conhecidas. A primeira é a saga das suas lúgubres orgias sexuais "Bunga Bunga", uma das quais levou ao espectáculo pouco edificante de um primeiro ministro a ser julgado em Milão sob a acusação de pagar para fazer sexo com uma rapariga ainda menor. O julgamento Rubygate não envergonhou apenas Berlusconi, envergonhou também o seu país.
No entanto, por muito vergonhoso que o escândalo sexual tenha sido , o seu efeito sobre a actividade de Berlusconi como político tem sido muito limitado, razão pela qual The Economist tenha ignorado estes factos. No entanto, temos protestado e muito quando à segunda ordem de razões acima citada: as suas travessuras financeiras. Ao longo dos anos, Berlusconi foi acusado mais de uma dúzia de vezes por fraude, falsificação da contabilidade ou por suborno. Os seus defensores afirmam que ele que ele nunca foi condenado, mas isto é falso. Vários casos já houve em que foi considerado culpado, simplesmente foram postos de lado porque o processo complicado de ser levado a tribunal tinha praticamente que ser cronometrado dado um estatuto de sérias limitações- pelo menos duas vezes, porque Berlusconi mudou a lei. Foi por esta razão que este jornal defendeu em Abril de 2001, que ele era incapaz de dirigir a Itália.
Não vimos nenhuma razão para mudar de opinião. Mas agora está claro que nem as suas loucuras sexuais nem a história de negócios duvidosos deve ser o principal motivo para os italianos olharem para trás e verem a política de Berlusconi como desastrosa, mesmo maligna, como um fracasso. Pior que tudo , e de longe, tem sido um terceiro conjunto de razões : o seu total desprezo pela situação económica do seu país. Talvez por causa das ocupações à volta do emaranhado legal à sua volta, ele falhou em quase nove anos como primeiro-ministro para resolver ou sequer para ser capaz de reconhecer as graves fragilidades económicas da Itália. Como resultado, ele vai deixar para trás de si um país em muito maus lençóis.
Uma doença crónica, não uma doença aguda
Notas sobre o texto Cavalgada wagneriana para o abismo
Júlio Marques Mota
Um amigo meu de muito longa data, e de tão longa é que já quase nos esquecemos do seu início, escreve-me revoltado face à leitura que ele fazia do texto, A cavalgada Wagneriana para o abismo. E escreveu-me, a dizer:
“Então esse texto conclui a defender que (última página):
Em vez de amputar um membro gangrenado, os dirigentes europeus correm o risco de infectar todo o corpo fatalmente - enfraquecendo as posições financeiras dos membros da zona euro mais fortes e as suas economias, que estão a pagar pelo resgate e sofrerão as suas perdas quando os incumprimentos inevitavelmente aparecerem.
Isto quer dizer que os “bons” europeus deveriam expulsar a Grécia do Euro?! E a seguir logicamente …Portugal?!”
A minha resposta foi simples a este comentário, foi curta:
“Não interpretei assim o texto. Vê como é que o texto abre.”
Aos leitores de Estrolabio relembro a abertura. E o texto abre com o seguinte parágrafo:
“No livro A importância de se chamar Ernesto de Oscar Wilde, Lady Bracknell numa memorável observação diz que: "perder um dos pais ... pode ser considerado como uma infelicidade mas que perder os dois pode ser tomado como uma falta de cuidado" A zona euro tem necessidade de resgatar três dos seus membros (Grécia, Irlanda e Portugal) com outros três (Espanha, Bélgica e Itália) cada vez mais a serem vistos com diferentes possibilidades de serem atacados devido a uma incompetência institucionalizada.”
O texto é claro. A União Europeia têm de ajudar, têm de resgatar…. Não há aqui dúvidas. Mas o meu amigo é ainda mais teimoso que eu e volta à carga:
“Ora é mais do que claro na abertura: Diz claramente que é preciso extirpar um para não haver dois!! Terá ele [o autor] noção do que está verdadeiramente a propor?!!”
O meu amigo, eu, e muitos de nós temos medo, muito medo que se abandone Portugal nesta crise e que este seja forçado a sair do euro. Pessoalmente nunca publicaria um texto por empenho pessoal se não concordasse com ele ou se não o pudesse desmontar caso dele discordasse. Não era aqui o caso pois fiquei colado ao texto. Portanto não estava a fazer a mesma leitura que o meu amigo e respondi-lhe:
“Não e não. O texto diz: morrer um, é um grande desastre, morrerem dois só por descuido, por negligência, em suma, por não querer ver e mais, diz-nos que é necessário salvar a Grécia, Portugal e Irlanda.”
E a nossa discussão ficou por aqui. Mas perguntará ainda não muito convencido um meu amigo qualquer que estes textos leia no Estrolabio: e então a amputação de que fala o texto no fim?
A resposta ainda aqui é directa: por este caminho, por esta política de submissão o que vai acontecer é que vai saltar a Grécia, vai saltar a Irlanda, vai saltar Portugal. E é preciso evitar isso, reestruturando a dívida grega. Pelo meio do texto são múltiplas as referências às posições da direita crescentes em vários Países, como a Finlândia, a França, tendência claramente a alargar por essa Europa e à direita não deve ser a esquerda a dar-lhe de bandeja os trunfos para esta política suicida, e dá-los-á se aceita a actual condução da crise feita pela União Europeia, que esta sim, é uma verdadeira cavalgada para o abismo, para a destruição da própria União.
Saída? A primeira de acordo com a minha leitura pessoal do texto é a necessária reestruturação da dívida grega e rapidamente, reestruturação essa que deve ser negociada sob os auspícios da própria União e cortar de raiz as possibilidades de contágio, de infecção, caso contrário pode ficar tudo doente. Exige-se coragem, exige-se politicamente classe e o autor duvida que actualmente a classe política no poder seja capaz de fazer com que essa outra política exista. . Esse é talvez o maior drama e, neste caso, retomando o início do texto de Das, retomando Oscar Wilde, acontecer-nos um drama é já de si uma infelicidade, acontecerem dois dramas juntos é uma negligência. E basta de tanta negligência. O povo grego dessa já se cansou, está nas ruas. E que nos diz Das? Diz-nos:
“Em suma e ao que parece mais ninguém, excepto os europeus, são os culpados. A dissonância cognitiva aumenta fortemente Cada vez mais, a trajectória da crise é motivada por considerações políticas. O desenlace da crise da dívida na Europa, provavelmente ainda um pouco longe, virá pela via da "rua" ou das urnas.
Nas nações em dificuldade, os protestos e as manifestações públicas estão a aumentar com a população a recusar aceitar ainda mais austeridade.”
Caros leitores do Estrolabio, trata-se, do meu ponto de vista, de um texto duríssimo e além disso, de um texto culturalmente nada fácil, sabemo-lo, e dê-se disso um exemplo. A ajuda que agora é feita funciona como uma espécie de passe para sair da prisão, não lhe tira a situação de condenado e vejamos já agora em inglês como o autor se exprime:
“In reality, markets understood that the EU bailouts were a "get-out-of-jail" pass for poor lending decisions.”,
A saída, perguntou-se acima e pergunta-se agora, também?. Como segunda via é necessário, por outras palavras, é urgente, uma outra política que, segundo Das, irá ser decidida nas ruas ou nas urnas. É sobre este texto que muito gostaria que reflectissem, mas é importante também dizer-se ainda sobre a saída da crise: é necessário mudar de modelo. Muito do endividamento que está agora em questão, e o autor di-lo claramente, deve-se a que se tratou de um modelo cuja dinâmica esteve assente na precariedade e assente também no endividamento e assim não. A crise, a crise de hoje é assim também o resultado de opções feitas ao longo de décadas enquanto nos vendiam a soberania dos mercados como verdade absoluta. E é isso que é preciso mudar, nas ruas ou nas urnas, como nos diz o autor.
E é tudo.
Júlio Marques Mota.
Introdução de Julio Marques Mota
Texto 1. Grécia
Texto 2 - Merril Lynch
Mandaram-me um manifesto de cidadãos gregos. Li-o, traduziu-o, e este texto, este manifesto é, do meu ponto de vista, bem confirmado por um outro texto, um texto sobre a riqueza mundial, produzido por Merril Lynch e Capgemini Consulting. Vale a pena ler os dois documentos, um do povo grego a declarar alto e bom som que não está disponível para se deixar roubar no que um povo tem de mais fundamental, a sua dignidade como nação e a dignidade de cada um como cidadão , e o outro texto , frio, a falar de números, a falar da evolução da riqueza em tempo de crise, e podemos admitir sem esforço que um texto é o contraponto do outro,
Na semana passada ao querer escrever sobre o trabalho na economia global, num dos textos em vez de falarmos do trabalho na China, o que seria normal, era o tema, falámos da dinâmica do consumo dos bens de luxo neste país. A razão era simples: num país onde muita gente trabalha sessenta a setenta horas por semana por salários quase que de fome tería que haver muitos milionários, teria que haver uma boa dinâmica no consumo destes bens. Foi o que mostrámos.
Neste momento face à Grécia e face à extorsão a que estte povo está a ser dramaticamente sujeito, o texto de Merryl Lynch e Capgemini Consulting pode ser visto como o seu contraponto, como a imagem ao espelho e invertida.
Traduções feita na urgência é certo e com o pedido de desculpa por eventuais enganos com o sentimento havido na tradução.
Amanhã num texto de grande rigor analítico procuraremos mostrar a validade de muitas das afirmações no manifesto contidas, e com o qual se pretenderá mostrar a dimensão da tragédia que se está abater sob a Europa sem que nenhum político por isso responsável esteja preso, venha a ser preso. A liberdade dos mercados, dir-se-á, mas o drama é que a liberdade destes não é a liberdade dos cidadãos, antes pelo contrário é a sua confiscação. E é essa usurpação que com a nossa passividade estamos já todos a pagar.
E boa leitura.
Júlio Marques Mota
Coimbra, 27 de Junho de 2011.
Por iniciativa de Mikis Theodorakis, um apelo de cidadãos gregos aos cidadãos da Europa
Nós cumprimentamos as dezenas de milhares, ou mesmo as centenas de milhares dos nossos concidadãos, jovens na sua maior parte, que se reuniram nas praças de todas as grandes cidades para manifestar a sua indignação por ocasião da comemoração do memorando (acordo-quadro assinado entre o governo grego, a UE, o FMI e o BCE, em Maio de 2010 e renovado desde aí regularmente), pedindo a partida do governo da Vergonha e de todo o pessoal político que geriu o património público, destruindo, pilhando e dominando a Grécia. O lugar de todos estes indivíduos não é no Parlamento, é na prisão.
Nós cumprimentamos as primeiras Assembleias gerais que se desenrolam nos centros das nossas cidades e a democracia imediata que se esforça por descobrir o movimento inédito da nossa juventude. Cumprimentamos os trabalhadores da função pública que empreenderam manifestações, greves e ocupações para defender um Estado que, mais do o desmantelamento previsto pelo FMI, tem desesperadamente necessidade de uma melhoria e de uma reforma radicais. Pelas suas mobilizações, os trabalhadores do Hellenic Postbank, da empresa pública nacional de electricidade e da sociedade pública de lotaria e das apostas desportivas que defendem o património do povo grego que os bancos estrangeiros se propõem pilhar, através do seu representante que é o governo fantoche em Atenas.
O pacifismo exemplar destas manifestações demonstrou que quando a polícia e os agentes provocadores não recebem a ordem de intervir, o sangue não corre pelas praças. Nós apelamos a que os polícias gregos não sejam os instrumentos das forças escuras que tentarão certamente, a um momento dado, reprimir pelo sangue os jovens e os trabalhadores. O seu lugar, o seu dever e o seu interesse é o de estarem ao lado do povo grego, dos protestos e das reivindicações pacíficas deste, aos lados da Grécia e não das forças escuras que ditam a sua política ao governo actual.
Um ano depois do voto sobre o memorando, tudo parece mostrar o seu malogro. Depois desta experiência, não se pode mais permitir ter a mais pequena ilusão. A via que o governo tomou e continua a tomar , sob a tutela dos bancos e das instâncias estrangeiras, Goldman Sachs e dos seus empregados europeus, levam a Grécia à catástrofe. É imperativo que tudo sito cesse e imediatamente, é imperativo que partam imediatamente.
Dia após dia, as suas práticas revelam a sua perigosidade para o país. É espantoso que o Procurador-geral ainda não tenha intervindo contra o Ministro da Economia e das Finanças, depois das recentes declarações proferidas por este último sobre a eminente falência e sobre a ausência de recursos orçamentais. Porque é que não interveio depois das declarações do Presidente da Federação dos Patrões da Indústria e do Comissário europeu grego Mari Damanaki sobre uma saída do euro? Porque não interveio contra o terrorismo de massa com o qual um governo em falência total, sob o diktat da Tróica [UE - FMI - BCE], tenta uma vez mais extorquir o povo grego?
Pelo seu catastrofismo, pelas suas alusões trágicas e por tudo o que inventam e discutem aos gritos para assustar os Gregos, tiveram êxito em humilhar o país face ao mundo inteiro e a levá-lo realmente à beira da falência. Se um dirigente de empresa se exprimisse da mesma maneira que o faz o Primeiro ministro e os seus ministros quando falam da Grécia, estes estariam rapidamente nas barras dos tribunais comportamentos altamente gravosos.
Nós dirigimo-nos também aos povos europeus. O nosso combate não é somente o da Grécia, o nossos combate aspira a uma Europa livre, independente e democrática. Não acreditem nas mentiras dos vossos governos quando pretendem que o vosso dinheiro serve para ajudar a Grécia. Não acreditem nas mentiras grosseiras e nos absurdos de jornais comprometidos que querem convencer-vos de que o único problema é devido supostamente à preguiça dos Gregos enquanto que, de acordo com os dados do Instituto estatístico europeu, estes trabalham mais do que nos outros países Europeus!
Os trabalhadores não são os responsáveis pela crise; o capitalismo financeiro e os políticos por eles dominados são os que a provocaram e que a agora a exploram . Os seus programas “de salvamento da Grécia” apenas ajudam os bancos estrangeiros, precisamente aqueles que, através dos políticos e dos governos que estão ao seu serviço, impuseram o modelo político que levou à crise actual.
Não há outra solução que não seja uma reestruturação radical da dívida, na Grécia, mas também em toda a Europa. É indispensável que os bancos e os detentores de capitais responsáveis pela crise actual não desembolsam um cêntimo para reparar os prejuízos que provocaram. Não é necessário que os banqueiros constituem a única profissão protegida do planeta!
Não há outra solução que não seja a de substituir o actual modelo económico europeu, concebido para gerar dívidas, e retornar a uma política de estimulo da procura e o desenvolvimento, de voltar a um proteccionismo dotado de um controlo drástico sobre a Finança. Se os Estados não se impõem aos mercados, estes absorvê-los-ão ao mesmo tempo que absorverão a democracia e todos os acervos da civilização europeia. A democracia nasceu em Atenas quando Solon anulou as dívidas dos pobres para com os ricos.
Não é necessário impedir hoje os bancos de estarem a destruir a democracia europeia, a extorquirem somas gigantescas que são elas-próprias geradas sob a forma de dívidas . Como se pode propor que venha a ser um antigo colaborador de Goldman Sachs a dirigir o Banco Central Europeu? De que espécie de governos, de qual espécie de políticos, se dispõe hoje na Europa?
Nós não vos pedimos que apoiem o nosso combate por solidariedade, nem porque o nosso território foi o berço de Platão e de Aristóteles , de Péricles e de Protágoras, dos conceitos de democracia, de liberdade e de Europa. Não vos pedimos um tratamento de favor porque sofremos, como países, uma das piores catástrofes europeias nos anos 1940 e lutamos de maneira exemplar de modo a que o fascismo não se instalasse sobre o continente.
Nós pedimos-vos que o façam no vosso próprio interesse. Se autorizam hoje o sacrifício das sociedades grega, irlandesa, portuguesa e espanhola sobre o altar da dívida e dos bancos, será cedo a vossa vez. Não poderão prosperar no meio das ruínas das sociedades europeias. Demorámos do nosso lado, mas despertámos. Construamos juntos uma Europa nova; uma Europa democrática, próspera, pacífica, digna da sua história, das suas lutas e do seu espírito.
Resistam ao totalitarismo dos mercados que ameaça desmantelar a Europa transformando-a em Terceiro Mundo, que coloca os povos europeus uns contra os outros, que destrói o nosso continente suscitando o regresso do fascismo. »
O número de pessoas afortunadas e a sua riqueza ultrapassaram os níveis de antes de crise na maior parte das regiões do mundo . Pela primeira vez, a Ásia-Pacífico alcança o segundo lugar à frente da Europa e atrás da América do Norte em termos de número de pessoas afortunadas e de património A França conta 396 200 milionários
Paris, 22 de Junho de 2011 -
O número de pessoas milionárias e o seu património aumentou em 2010, ultrapassando os níveis antes de crise de 2007 em quase todas as regiões do mundo, de acordo com a 15º edição do World Wealth Report publicado hoje por Merrill Lynch Global Wealth Management e Capgemini.
Em 2010, esta população aumentou de 8,3% (contra 17,1% em 2009) para estabelecer-se agora em 10,9 milhões de pessoas e o seu património aumentou-se de 9,7% (contra 18,9% em 2009) o que levou a que se tenha atingido 42 700 mil milhões de dólares. Os mais ricos de entre eles viram o seu número progredir de 10,2% para atingir 103.000 pessoas e o seu património cresceu de 11,5% em 2010.
“Após fortes flutuações nos últimos anos, o número de milionários s e o seu património ultrapassaram os níveis de antes de crise quase por toda a parte no mundo” declarou Gilles Dardo, Presidente da actividade Gestão Privada França e Europa Continental de Merrill Lynch Global Wealth Management. “Em 2010, as suas taxas de crescimento estabilizaram-se depois de terem conhecido uma crescimento expresso por dois dígitos, em 2009, ano de correcção no seguimento da crise. »
Na França, o número de milionários aumentou de 3,4% o que leva a que se passe de 383.100 pessoas em 2009 para 396.200 em 2010.
Os milionários continuam a estar fortemente concentrados nos Estados Unidos, no Japão e na Alemanha, estes três países só por si reúnem ainda 53% desta população no mundo.
Os Estados Unidos contam sempre com o maior número de milionários , cerca de 3,1 milhões, que corresponde a 28,6% das pessoas afortunadas no mundo.
“Se o crescimento do número de milionários dos países emergentes continua a ser superior ao do dos países desenvolvidos, a parte relativa dos três principais países (Estados Unidos, Japão, Alemanha) diminuirá progressivamente” explica Laurence Chrétien, pelo World Wealth Report em França e da Capgemini Consulting.
Pela primeira vez, o número e o património dos milionários s da região da Ásia-Pacífico excedem os da Europa
Em 2010, a região da Ásia-Pacífico registou a taxa de crescimento mais elevada em termos de número de milionários e da dimensão do seu património. Enquanto que esta região já tinha ultrapassado a Europa em termos de património em 2009, ultrapassa-a igualmente em 2010 em termos do número das grandes fortunas. Esta população aumentou de 9,7% para se estabelecer em 3,3 milhões de pessoas, passando à frente da a Europa que apresenta uma taxa de crescimento de 6,3% e conta 3,1 milhões de pessoas afortunadas. Paralelamente, o património dos milionários da região da Ásia-Pacífico aumentou de 12,1% representando assim 10.800 mil milhões de dólares e excedendo os 10.200 mil milhões de dólares de património dos milionários europeus ( em aumento de 7,2% em 2010). A região da Ásia-Pacífico é hoje a segunda maior região atrás da América do Norte em termos do números de pessoas afortunadas e do seu património.
“Outro elemento novo na região Da Ásia-Pacífico: a Índia juntou-se pela primeira vez à classificação dos doze primeiros países em termos de número de milionários ” precisa Laurence Chrétien.
Procurando ao mesmo tempo melhorar a rentabilidade dos seus investimentos em 2010, os milionários assumiram riscos calculados
Num contexto de retoma relativamente estável mas desigual, os mercados de acções das matérias primas, bem como do imobiliário (em especial na região de Ásia-Pacífico), progrediram de maneira significativa em 2010.
No fim de 2010, 33% do total dos investimentos das pessoas afortunadas tem a ver com acções, em aumento em relação ao ano precedente (29%). Em contrapartida, a proporção dos seus investimentos monetários diminuíram, passando de 17% em 2009 para 14% em 2010 e a parte investida no mercado obrigacionista passou de 31% para 29%.
Entre os investimentos alternativos, numerosas pessoas afortunadas optaram por pelas matérias-primas que representam cerca de 22% do total deste tipo de investimentos em 2010, contra 16% 2009.
Os milionários da região da Ásia-Pacífico (com exclusão do Japão), continuaram a procurar os seus rendimentos adicionais no mercado do imobiliário . Os investimentos sobre este mercado têm representado cerca de 31% da sua carteira de títulos no final d e2010, contra 28 por cento no ano anterior e situam-se acima dos 19 por cento da média mundial.
Além disso, as pessoas afortunadas desejosas de fazer render o seu património puderam encontrar oportunidades investindo nos mercados emergentes. Assim, durante os 11 primeiros meses do ano 2010, investiram somas recorde nos mercados bolsistas e nos fundos obrigacionistas dos países emergentes. No fim do ano, quando muitos dos destes valores tinha atingido os seus níveis antes de crise, os investidores revenderam-nos para realizarem assim os seus proveitos, os seus lucros. .
“ Os investidores, tendo reencontrado o seu "gosto do risco', levaram a que os mercados financeiros mundiais e as principais classes de activos registassem bons resultados durante o ano” declara Gilles Dard. “ A inversão de tendência a favor das acções em 2010 nas pessoas afortunadas reflecte a procura de rendimentos e a vontade de compensar ainda mais as perdas ligadas à crise. Temos igualmente notado que continuam a favorecer as classes de activos específicas, como as acções e as matérias primas, apoiando-se sobre oportunidades do mercado ou sobre colocações pelas quais têm manifestado desde há muito tempo a sua preferência. »
Em 2012, os milionários deveriam aumentar mais os seus investimentos nas matérias primas e nas acções , reduzindo ao mesmo tempo a parte do sector imobiliário e as aplicações monetárias. O destino geográfico dos seus investimentos é contudo menos certo. Dependerá da capacidade dos países emergentes de atingir novos picos de crescimento e do ritmo da retoma económica no mundo, enquanto que os governos reduzem as suas políticas de retoma económica..
Júlio Marques Mota
Recentemente a fraude dos candidatos a juízes que frequentaram um curso no Centro de Estudos Judiciários (CEJ) foi uma grande caixa nos media.
Foi uma grande caixa o relato dessa notícia, a fraude, foi uma grande caixa a decisão que à volta da questão foi deliberada, a passagem de todos com dez valores, foi uma grande caixa a reacção posterior a este mesmo facto.
Quanto à decisão na altura tomada, declarou o director-adjunto desta Instituição: “O CEJ não tem o mesmo calendário de uma escola ou universidade. O ano termina em Julho e não há época de exames em Setembro. Por isso, a direcção ponderou várias alternativas: anular o teste, obrigando à sua repetição, mas tal era incomportável com a marcação de outros testes. Deixar o assunto passar sem fazer nada ou classificar a turma com 10. Foi o que fizemos”.
O mal menor dir-se-á até porque um 10 corresponde na carreira profissional a uma reprovação. Como se o problema fosse apenas esse, ou se esse é o problema e cremos que claramente não é. E vejamos então como esse é apenas o sintoma de que muita coisa no ensino está mal, muito mal mesmo, neste país virado de costas para o destino ou para o futuro da nossa juventude, o que acontece desde há vários anos e com o silêncio de muita gente. A decisão, segundo esta instituição do Governo deste nosso país, estava apenas na alternativa “Deixar o assunto passar sem fazer nada ou classificar a turma com 10”, o que mostra bem o estado das nossas instituições ao ensino ligadas. Punição exemplar, reprovação da cadeira e portanto do ano, expulsão mesmo, nada disso.
Para lá destas duas opções, a de nada fazer ou a de fingir que se fazia alguma coisa, nada mais havia nos quadros mentais daquela gente como o atestam as opções de solução consideradas como sendo as possíveis. É portanto a expressão bem clara de que neste país pela modernidade neoliberal bem marcado o que temos de fazer é não levantar ondas, é estar a favor do vento, e estar a favor do vento é fazer crer que tudo vai bem neste nosso mundo de Pangloss.
A explicação da incapacidade de acção é ainda maior quando o método de avaliação era o de perguntas de resposta múltipla. Sobre isso, segundo um relato da imprensa, Luís Eloy diz que quando assumiu funções no CEJ este era o modelo já instituído naquela cadeira. Por isso, a direcção decidiu não alterar o formato do teste a meio do ano. Para o próximo curso, já não será bem assim.
enviado por Júlio Marques Mota
Algo que podemos dizer com certeza: A Economia cheira muito mal !
Há pelo menos uma coisa boa que é publicada nestes tempos sombrios: os números do emprego do mês de Maio divulgados na semana passada: a equipa para a reeleição do actual presidente Obama decidiu assumir o frágil estado da economia real como fazendo parte de sua mensagem de campanha.
Em primeiro lugar, os números agora conhecidos: a economia criou um total líquido de 54 mil empregos em Maio, cerca de 100 mil a menos do que se esperava. Isto vem na sequência da taxa de crescimento do PIB igualmente desanimadora , cerca de 1,8 por cento no primeiro trimestre, . Além do mais, os números de emprego do mês de Março e Abril foram revistos para valores mais baixos, para 39 mil. Infelizmente, é tarde demais para rever em alta a intensidade da resposta do governo Obama para a crise do emprego dos últimos dois anos.
Em vez disso, a Casa Branca perdeu um tempo precioso apontando fantasmagóricos rebentos de esperança, e juntou os dirigentes de ambos os partidos deslocando a partir daí a atenção da Nação do problema da criação de empregos para que o grande problema a enfrentar seja agora a redução do défice - ignorando deliberadamente o sofrimento que está a acontecer por todo o país.
Mas agora os números são de tal forma maus - e Novembro de 2012 está tão perto - que os organizadores da campanha de Obama decidiram que se deve, como Carrie Budoff Thrush Glenn Brown publicitá-los e " temperar muito do optimismo de “Morning-in-América que estava a atravessar toda a América "
Isto é verdadeiramente chocante. Não é que a equipa do presidente conceba e utilize uma campanha do tipo "Morning in-América" mas o desfile sob esta bandeira é sempre considerado em primeiro lugar. Mesmo que os números quanto a postos de trabalho tivesse sido o que se esperava, cerca de 150.000 - ou mesmo se eles viessem melhores do que o que se esperava , digamos, 200.000, e ficassem a este nível durante vários meses, continuaríamos muito perto da ideologia de “ Morning-in- América“, de estar a sonhar sem nada que o justifique. Mas infelizmente, muito do país parece estar mais perto de um pesadelo permanente.
Como o nosso Editor Peter Goodman afirma, as condições subjacentes a esses números são "já familiares para além da esfera dos economistas profissionais e dos decisores políticos." Isto é o que a maioria dos americanos, Goodman escreve, "sente na própria pele, não a partir de relatórios do governo e de reflexões abstratas dos economistas, mas a partir dos medos que os acompanham todos os dias ao olharem para os livros de cheques e para os seus últimos cartões de crédito : não há nenhum alívio à vista . Ninguém está em posição de conseguir modificar este quadro deprimente, ninguém está disponível para gastar as suas reais energias para tentar melhorar este mesmo quadro , e muito menos dentro da Casa Branca, onde a liderança é fundamental. "
Em vez disso, a Casa Branca aceitou a mensagem do Great Old Party para quem o défice é um problema bem maior que o do emprego, cortando as pernas à sua capacidade para criar outras formas capazes de estimular a economia. E agora o presidente e sua equipa afirmam calmamente que não há muito que possam fazer. Mas o que eles não mencionam é a forma como eles foram cúmplices na criação de condições que não os deixam agora fazer grande coisa Eles entregaram todas as munições e agora invocam a sua incapacidade em modificar esta situação por falta de munições.
enviado por Julio Marques Mota (veja aqui e aqui)
Que se deve concluir dos dados económicos recentes, nomeadamente quanto aos dados relativos aos países avançados? A economia mundial retarda o seu crescimento económico? Se assim é será que se devem tomar medidas para o relançar?
O meu colega Gavyn Davies observava recentemente que “a rapidez e a amplitude do declínio do crescimento da indústria transformadora foi excepcionalmente forte, sobretudo nos Estados Unidos ".
Considera-se que o sector privado americano terá apenas criado 38.000 empregos no mês de Maio, ou seja bem menos que os 175.000 que eram esperados.. Davies sublinha que “se nós reunimos o conjunto dos elementos económicos observados em Maio, obtemos a imagem de uma economia mundial que continua a crescer, mas a um ritmo fraco ". Em suma, sublinha “a baixa dos resultados económicos foi mais forte que a verificada na Primavera do ano passado, época em que a retoma da economia mundial tinha conhecido uma passagem temporária para o vazio ".
Mas estes resultados “estão longe de terem caído a níveis susceptíveis de gerar sérias apreensões sobre a hipótese de uma nova queda em profunda recessão ".
FRACA RETOMA NOS PAÍSES AVANÇADOS
Nos países mais desenvolvidos, a retoma é fraca desde a partida, particularmente face à amplitude da recessão.
Sobre as seis principais economias desenvolvidas - Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido e Itália - só os Estados Unidos e a Alemanha registaram no primeiro trimestre de 2011 um produto interno bruto (PIB) superior - mas pouco - ao que era há três anos. Continuo a considerar sempre que os outros ainda não saíram da recessão.
O facto de que os Estados Unidos tenham, em relação à sua posição de partida, o PIB mais elevado destes seis países pode surpreender, sabendo que a taxa de desemprego americana no mês de Abril era de 9%. Isto é revelador da flexibilidade do mercado de trabalho nos Estados Unidos.
Mas tudo indica também que a procura e, por conseguinte, a produção continuam a mostrar-se sem fôlego. Em relação ao seu passado recente, a retoma além-Atlântico é extremamente decepcionante.
Que se passa então? As recessões que têm a sua origem no rompimento das bolhas alimentadas pelo crédito são geralmente mais graves e mais duradouras que as que são geradas pelas tentativas de jugular um sobreaquecimento inflacionista.
São necessários anos para que os preços dos activos, e sobretudo do imobiliário , se estabilizem e que o nível excessivo de dívida diminua, graças à uma cascata de falências e ao lento reembolso do excedente de dívidas. Durante este tempo, a despesa privada é geralmente fraca, como é o caso hoje nos Estados Unidos, Inglaterra e Espanha.
DÉFICES ORÇAMENTAIS
Na maior parte dos casos, também resulta um enorme crescimento dos défices orçamentais pelo facto de que as receitas caiem e que as despesas aumentam em relação a um PIB que, por seu lado, diminui.
Esta forte queda da produção constitui uma causa bem mais importante dos enormes défices orçamentais dos países mais afectados pela crise do que as modestas e muito desacreditadas reactivações orçamentais.
Trata-se do vento estrutural de sentido contrário, ao qual se vieram acrescentar o aumento dos preços dos bens e serviços, nomeadamente do combustível, bem como o impacto nas cadeias mundiais de abastecimento por causa do tsunami que atingiu frontalmente o Japão a 11 de Março.
O recente aumento do preço de petróleo, que é com efeito uma taxa sobre os consumidores é, em parte, uma consequência “da primavera árabe”.
Mas o principal elemento é constituído por um reequilíbrio estrutural duradouro: o impacto crescente dos gigantes emergentes na procura mundial de bens e de serviços.
Qual a política que poderia ser eficaz nestas circunstâncias? Nas suas últimas Perspectivas Económicas, publicadas em Maio, a Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económico (OCDE) concentra-se nas políticas estruturais.
Para justificar esta orientação, a OCDE afirma que “a retoma mundial se torna autónoma e (que) a sua base se alarga ". Mas estamos, na realidade, muito longe “da normalidade”.
Existe uma série de riscos à baixa , entre os quais , os dos novos aumentos dos preços dos bens e serviços, os das novas baixas nos preços dos activos, os das crises financeiras ou das orçamentais.
Uma política estrutural seria a poção mágica? A OCDE defende que “ os temores de uma instalação duradoura de uma forte taxa de desemprego e de uma redução post-crise permanente da produção potencial, que se acrescentam à necessidade de reforçar a confiança na durabilidade da dinâmica de dívida do sector público (...), tornam mais urgente a aplicação de reformas estruturais capazes de ajudar o crescimento ".
Certamente, a OCDE sublinha também que “as políticas do mercado de trabalho têm um papel essencial a desempenhar para impedir que o desemprego cíclico se torne estrutural ". Na zona euro, na ausência de ajustamento da taxa de câmbio, uma maior flexibilidade dos salários nominais é, com efeito, necessária.
Controlar o aumento dos constrangimentos orçamentais a longo prazo
Por último, como o nota a OCDE, é necessário controlar o aumento dos constrangimentos orçamentais de longo prazo, nomeadamente os que estão ligados ao envelhecimento da população, mesmo se é inquietante que muitas destas políticas causem mal-estar aos considerados mais desvantajados.
Mas uma política estrutural não será suficiente. Em situação difícil na situação de após crise, a procura é igualmente importante. As políticas estruturais que favorecem os estímulos a investir são duplamente benéficas, porque fazem crescer ao mesmo tempo a procura e a oferta potencial.
Devem ser uma prioridade nos projectos da tributação e das despesas.
Mas é igualmente crucial ter de efectivamente calcular o momento do abandono das medidas orçamentais e monetárias. É muito mais provável, nas circunstâncias actuais, que as medidas de apoio sejam retiradas demasiado cedo em vez de o serem mais tarde o que minará a retoma e gerará uma estagnação prolongada, com efeitos estruturais nocivos a longo prazo. É essencial ter bem presente três coisas sobre este tema.
Em primeiro lugar, o rendimento sobre as obrigações de Estado americanas e alemãs a dez anos cairam a semana passada para valores abaixo de 3%.
Em segundo lugar, em despeito da expansão da base monetária, o crescimento dos agregados em sentido lato está bem enquadrado, tanto na zona euro como nos Estados Unidos. Uma nova flexibilidade quantitativa seria perfeitamente de fácil gestão e, no caso a economia desse sinais de sufocar, seria perfeitamente sensata.
Por último, as principais medidas da inflação dos preços no consumidor são muito baixas, tanto nos Estados Unidos como na zona euro. Querer enfrentar uma taxa de inflação não corrigida, volátil e imprevisível, é o meio mais seguro de desestabilizar a economia. E como o objectivo da luta anti-inflação é pelo contrário o de a querer estabilizar , a luta anti-inflação neste momento não tem nenhum sentido.
Resumidamente, a opção que consiste a combinar medidas estruturais que permitam melhorar a produção potencial e os equilíbrios orçamentais a longo prazo com a manutenção de um vigoroso apoio monetário e orçamental à retoma parece-me desejável nos países que dispõem de certa margem de manobra.
O maior perigo não é o de um crescimento excessivo e de uma forte taxa de inflação mas a semi-estagnação prolongada no período pós crise.
Martin Wolf, La relance à nouveau nécessaire, LE MONDE ECONOMIE | 13.06.11 |
Nota do editor: Um erro a que o Prof Julio Marques Mota é alheio, levou à publicação da segunda parte do texto ontem (ver aqui). Peço desculpa ao autor e aos nossos leitores.
Luis Moreira
1ª parte
SÍNTESE
Os Estados Unidos estão agora numa situação em que muitos prevêem que será uma recessão muito grave. A turbulência económica deste tipo é susceptível de ter consequências de longo alcance que não estão pois limitadas a um futuro imediato. As recentes estimativas são de que, em resultado da desaceleração económica, cerca de 2,6 a 3,3 milhões de crianças irão cair numa situação de pobreza. Permitir que estas crianças caiam na situação de pobreza irá levar a que se crie um obstáculo significativo a longo prazo para a economia americana. De facto, um acréscimo de 3 milhões de crianças às fila dos "pobres ", significaria uma perda económica global de pelo menos 1,7 milhões de milhões de dólares durante a vida dessas crianças. Isso equivale a uma perda anual de cerca de 0,27% do PIB, ou seja de 35 mil milhões de dólares por ano.
Esta análise é baseada em estimativas anteriores dos custos agregados da pobreza na infância, incluindo os efeitos da pobreza infantil relativa à redução dos ganhos durante a vida e aos custos em saúde. Especificamente, os estudos sugerem que as crianças que passam mais da metade de sua infância em situação de pobreza vêm a ganhar, em média, 39% menos que o rendimento mediano. Além disso, uma criança pobre perde cerca de um quarto de milhão de dólares de "qualidade em custos de saúde" ao longo de sua vida. Ao agregar estes efeitos de longo prazo dos milhões adicionais de novas crianças pobres podemos obter uma estimativa inicial dos custos económicos ao permitir que este volume adicional de crianças se venham a tornar crianças pobres durante esta recessão.
Finalmente, por causa das consequências negativas que resultam da pobreza na infância serem particularmente graves para as crianças que passam um grande número dos seus primeiros anos em situação de pobreza, é importante investigar se a pobreza induzida pela recessão é persistente ou "apenas" temporária. Uma análise dos dados do estudo do painel da dinâmica dos rendimentos revela que mais de metade das crianças que caem na pobreza durante as recessões tendem a permanecer em situação de pobreza pelo menos durante algum tempo depois do fim da recessão. Na verdade, cerca de um quarto das crianças que sofrem de pobreza induzida pela recessão vai gastar pelo menos metade do seu tempo de infância restante em situação de pobreza.
Porque a pobreza induzida pela recessão é, pelo menos, bastante persistente entre as crianças, e porque sabemos que o alongamento da situação de pobreza durante a infância leva a custos económicos no longo prazo, podemos concluir que existe uma material e comensurável vantagem económica para agir agora , de modo a evitar que dispare a taxa de pobreza infantil. No fundo, se formos capazes de simplesmente manter a actual taxa de pobreza infantil, a economia americana irá beneficiar de pelo menos 1,7 milhão de milhões de dólares durante as próximas décadas.
INTRODUÇÃO
Recentemente, o National Bureau of Economic Research calculou que a economia americana deixou de crescer e que caiu em recessão no início em Dezembro de 2007. Isto significa que vinha a passar por uma contracção a nível da economia durante mais de nove meses, mesmo antes do colapso do Lehman Brothers ter provocado uma crise aguda. Agora, cerca de um ano depois de ter entrado em recessão sem se ver claramente o fim do túnel, o governo federal centra a sua atenção na tentativa de simultaneamente acalmar os mercados financeiros agora nervosos e de impulsionar o conjunto da economia com um amplo pacote de estímulos orçamentais. Grande parte da
discussão em torno de um programa de potenciais gastos do governo americano para melhorar a economia tem estado concentrada em investimentos que forneçam simultaneamente um impulso imediato e preparem o caminho para que haja mais crescimento económico a prazo.
Aqui tem havido pouca discussão, no entanto, sobre o impacto desta crise económica sobre o desenvolvimento a longo prazo do mais importante recurso de que dispõe a nossa nação: o seu capital humano.
Não há dúvida de que todas as recessões, mesmo as menos severas do que a que estamos agora a sofrer , têm um impacto comensurável sobre a força de trabalho actual. Naturalmente, as recessões estão associadas com um aumento significativo nas taxas de desemprego a partir das quais se leva geralmente, vários anos a recuperar. O aumento do desemprego significa uma perda de rendimento e mais ainda de perda de experiência.
Por exemplo, há indícios de que a economia ainda está a sofrer de uma perda de rendimentos devido a que durante a recessão os recém-licenciados terem vindo recentemente para o mercado de trabalho e terem encontrado uma mercado muito em baixa relativamente aos níveis de formação de que eram portadores .Os prejuízos, esses podem levar uma década a recuperar .
Mas há um outro aspecto nas recessões que é muitas vezes ignorado, e que é o impacto a longo prazo sobre o crescimento económico que decorre do aumento da pobreza na infância que sempre acompanha uma prolongada recessão económica. De acordo com um relatório recente divulgado pelo Center on Budget and Policy Priorities (CBPP), as três últimas recessões viram aumentar significativamente a pobreza infantil. Isso não é surpreendente dado que os elementos mais vulneráveis da sociedade são geralmente aqueles que são os mais atingidos e durante muito tempo; e as crianças claramente fazem parte desta categoria. Na recessão do início dos anos 80, por exemplo, três e meio milhões de crianças caíram na situação de pobreza, levando a taxa de pobreza infantil a alcançar o espantoso valor de 5,9 pontos percentuais, ou seja um aumento de cerca de 36% sobre o nível precedente. As mais recentes recessões têm trazido com elas, embora de forma menos grave, o aumento da
situação de pobreza infantil, com cerca de 2,6 milhões de crianças a caírem em situação de pobreza durante a recessão do início dos anos 90, e 1,7 milhões durante a recessão que começou em 2001.
Usando as estimativas de aumento do desemprego e aplicando a relação entre as taxas de desemprego e as taxas de pobreza infantil a partir das três últimas recessões, o Center on Budget and Policy Priorities (CBPP) chega à conclusão de que na actual conjuntura económica a recessão vai levar a mais crianças pobres, entre 2,6 a 3,3 milhões de novas crianças em situação de pobreza .
O custo económico da pobreza
enviado por Julio Marques Mota
“A Alemanha deve 575 mil milhões de euros à Grécia”
Jacques Delpla:
O economista Jacques Delpla , membro do Conseil d'Analyse Économique, calculou que os Alemães devem aos Gregos pelo menos 575 mil milhões de euros nos termos da segunda guerra mundial. Considera que a Europa deve absorver o excesso de dívida refinanciando-o com taxas de juro muito baixas, em troca de reformas estruturais.
Entrevista feita por Catherine Chatignoux e Richard Hiault
O acordo dos ministros das Finanças, no domingo, a favor de uma nova ajuda à Grécia e de uma participação do sector privado no financiamento da sua dívida vai acalmar duravelmente os mercados?
Os mercados já não são, na verdade, o problema da Grécia. Dentro dos próximos 10 a 20 anos o financiamento da dívida grega vai ser realizado por dois meios: para uma boa metade , vai ser feito por financiamentos públicos e para a outra parte, mais pequena, será financiada pelos bancos e pelas seguradores, via a famosa “Iniciativa de Viena”, ou seja a manutenção da sua exposição. Não haverá mais passagem pelos mercados.
A Alemanha renunciou à sua proposta de reescalonamento da dívida. É uma boa notícia?
Os Alemães não tinham visto que a sua proposta de troca obrigatória de títulos de dívida conduzia directamente à situação de incumprimento da Grécia. Ora se há um incumprimento sobre a dívida grega, é a falência imediata de todo o seu sector financeiro que está cheio de obrigações soberanas. Nenhum banco central pode refinanciar com uma dívida em incumprimento aceite por colateral: o BCE não o fará. É por conseguinte o ataque cardíaco imediato assegurado para a Grécia com uma interrupção do sistema dos pagamentos internos, até mesmo do pagamento dos salários e do funcionamento dos hospitais. A Grécia reencontrar-se-ia no euro sem poder estar a utilizar o euro. A única solução para ela seria então sair do euro, com uma mega recessão e com o risco de contágio que se conhece.
Para si, é a solidariedade financeira que deve ser mais importante?
Todo o mundo conhece a fábula da cigarra e da formiga. Mas a história tém a sua continuação e nesta é a formiga que financiou a cigarra no passado e que acarreta por conseguinte com as suas dívidas; os seus avós, os da formiga, outrora tinham exterminado os avós da cigarra e carregam pois com uma pesada responsabilidade política e financeira. De acordo com os meus cálculos, os Alemães devem aos Gregos pelo menos 575 mil milhões de euros nos termos da segunda guerra mundial. Os Alemães devem muito mais à Grécia que os Gregos devem à Alemanha. E por último, habitam ambos no mesmo edifício, e se deixamos que se faça a implosão do apartamento da cigarra, como se está no mesmo prédio é certo que serão todos a implodir.. A moral da história é que as duas coisas devem, do meu ponto de vista, ser respeitadas: o contrato da Grécia com a
Europa e o contrato da Alemanha com a Europa.
Comecemos pelo contrato da Alemanha com a Europa
A Alemanha pagou a sua reunificação oferecendo a sua moeda e aceitando o euro. Do seu lado, os seus parceiros comprometeram-se a ser sérios. O contrato não foi honrado. E os Alemães pensam a justo título que o espírito do tratado de Maastricht foi violado. Também é necessário reformar a Europa económica. Mas é necessário também que cada um assuma as suas responsabilidades e partilhe o custo dos erros cometidos e as perdas com eles geradas. É necessário que os Europeus absorvam juntos a dívida excessiva dos três países (Grécia, Portugal e Irlanda) refinanciando-os com taxas de juro extremamente baixas, na ordem 3% a 4%, durante 10 ou 20 anos. Em troca, estes países devem fazer todas as reformas orçamentais e estruturais necessárias, e por muito tempo. É a única solução.
Os Alemães não parecem muito entusiastas com esta ideia?
Os Alemães esquecem a sua dívida política. É necessário recordar-lhes isso precisamente. Em 1945 os vencedores da guerra perdoaram os custos em termos de capital humano e físico destruído pelos Nazis. Fizeram-se a CECA e o Tratado de Roma. O passivo político e financeiro da Alemanha nos termos da guerra atinge cerca de 16 vezes o PIB alemão, a que se pode chamar a dívida implícita da Alemanha. Ninguém lha reclama e em troca pede-se que faça o jogo da Europa , de um ponto de vista político e financeiro. Hoje, isso significa salvar a Grécia.
Os Gregos poderão reembolsar a sua dívida?
Devem-no! E podem-no! Devem reformar, privatizar, terminar com a corrupção e nepotismo e passar de um défice de (-15%) do PIB ao equilíbrio em alguns anos. Com isso reporão a sua dívida entre 60% e 90% do PIB daqui a 2025 ou 2030. A Grécia tem os meios para poder prosperar: dispõe do mais bonito património arqueológico do mundo, ilhas magníficas onde se tem bom viver. Penso que a Primavera árabe é uma formidável oportunidade para este país, plataforma da Europa no Mar Mediterrâneo oriental.
Exclui por conseguinte totalmente a hipótese de uma reestruturação?
Não se podem impedir as pessoas de se suicidarem. Os Gregos podem escolher entre toboggan e o salto em pára-quedas… sem pára-quedas. Devem compreender que lhes é impossível conservar o seu nível de vida de antes da crise, financiado por um défice orçamental alucinante . Ou seja, escolhem toboggan com uma baixa do nível de vida de 10% durante 5 anos. E terão interesse nisso porque a ajuda europeia é considerável: consiste numa subvenção implícita de taxa de juro que representa de 15 para 20% do PIB grego (12% para os Irlandeses e 10% para os Portugueses). Mas também podem fazer a outra opção, isto é, democraticamente podem recusar assinalar este desafio. Mas então, a sua economia afundar-se-á; os gregos deixarão de ter mais ajuda e deverão sair do euro… sem pára-quedas.
A Alemanha reflectiria no entanto seriamente numa zona euro a duas velocidades?
No inconsciente alemão, os Gregos não merecem pertencer à zona euro. É o discurso da direita conservadora alemã que sonha com uma zona euro constituida com a Áustria, a Eslováquia, a Finlândia, a Holanda - e a França por razões históricas. Mas um tal sistema, a França não o quer e, sobretudo, viola o contrato europeu básico do após-guerra. Se estamos a recriar uma zona euro com todos os bons alunos da turma e uma outra com os países periféricos, a segunda explodirá rapidamente em hiperinflação.
Concretamente, como é que se vai organizar a participação do sector privado no financiamento próximo da dívida grega?
O ideal seria que estejamos baseados na distribuição da exposição à Grécia pelo sector privado europeu antes da crise e que os resgates de títulos sejam repartidos em função. Tudo isto permitirá uma distribuição da carga, que considero em cerca de 100 mil milhões de euros para os bancos e seguradoras europeias não gregas. E assim se evita que os bancos que jogaram o jogo de uma manutenção da exposição não sejam prejudicados.
Os bancos alemães encontram o princípio de “roll over” demasiado restrito. Desejam estímulos para a sua contribuição no processo. O que pensa?
Os banqueiros queriam ter sido salvos pelos governos e não reenviarem o ascensor. Os dirigentes alemães não foram bastante claros a este respeito com os seus bancos.
Como fazer de modo que uma crise desta natureza não se reproduza?
A solução que preconizo é alterar radicalmente a estrutura do mercado obrigacionista na Europa. Separar-se-iam as dívidas dos países da zona euro em duas partes . De um lado, a dívida sénior, a que chamo dívida azul, até aos 60% do PIB, que seria emitida em comum a nível da zona euro e que seria gerida por uma agência europeia da dívida soberana. Representaria 6000 mil milhões de euros e tornar-se-ia a dívida mais segura do mundo. Seria mesmo menos cara que os títulos alemães ou franceses actuais porque este mercado seria muito mais vasto e mais líquido.
Teríamos assim um concorrente ao mercado americano da dívida pública. A esta dívida azul estaria ligada uma garantia conjunta e solidária da dívida e, assim, não seria susceptível de qualquer situação de incumprimento . A prazo, a minha forte convicção é a de que não há futuro da zona euro sem uma dívida governamental comum, a dívida Azul. Por outro lado, acima destes 60% do PIB, teríamos a dívida vermelha, ou júnior que incorporaria o conjunto do risco soberano. Poderia absorver perdas ou mesmo entrar em situação de incumprimento sem que isso viesse a provocar uma catástrofe. A força das dívidas azul e vermelha é que este sistema dá todos as boas incitações : as taxas de juro terão muita dificuldade em subir.
Afirmações recolhidas por Catherine Chatignoux e Richard Hiault
Jacques Delpla : « L'Allemagne doit 575 milliards d'euros à la Grèce », Les Echos, 22.06.2011.
Grécia: duas ideias… excluídas (infelizmente)!
Dominique Seux
Um Conselho Europeu reúne-se em Bruxelas. Aí discutir-se-á a situação criada pela Grécia Não o farão, é certo, mas as autoridades internacionais teriam todo o interesse em publicar o relatório feito pela Troika para mostrar à opinião pública dos vários países - incluindo o grego - qual é a situação real do país.
Evitem dizer que o Conselho Europeu que terá a duração de dois dias será decisivo, determinante ou difícil para a Grécia! Estas palavras estão já mais que gastas para significarem alguma coisa . .....
Mas. na verdade, em que situação estamos? O Parlamento grego renovou a sua confiança em George Papandréou e os Europeus e o FMI esperam que o plano de rigor seja, por sua vez, ratificado em Atenas. Seguidamente, abrirão a sua carteira. Há por conseguinte pequeno intervalo e de um forte suspense durante alguns dias.
Deste encontro, o que é que se espera, antes de mais nada? Que haja unidade. As pequenas querelas , as hesitações recentes foram desastrosas, a ponto de Washington quase ter falado de criancice. O segundo desafio refere-se à Alemanha. Desde há um ano, que Ângela Merkel dá passos de gigante, e cada vez que assim acontece é puxada pela manga por Nicolas Sarkozy, aceitando ajudar a Grécia. Corajosamente, enfrenta a sua opinião pública. Mas é necessário efectivamente dizer que mantém também uma certa confusão. É necessário escolher, já se tem dito aqui, entre ou a falência ou mais integração - de federalismo se não se tem medo das palavras - em suma, mais poderes exercidos a serem exercidos colectivamente e menos de cada um para só para si.
Como a opinião pública dos países membros , gregos incluídos, estão muito perturbadas por esta crise, a lógica exigiria, que ao lado desta cimeira, duas iniciativas sejam tomadas - mesmo se eu não acredito que eles o venham a ser .
1. É necessário primeiramente mostrar à opinião pública, nomeadamente a francesa, que não sejam só os contribuintes a salvar Atenas. É o debate sobre a implicação dos credores privados (bancos, seguros, fundos de pensões). A questão chave é fazê-los participar sem que isso possa ser considerado como “um incumprimento” do Estado grego, incumprimento que seria de efeitos incalculáveis. A verdade é que estes credores estão prontos para o fazer - o que é um progresso. Dizem-no em voz “off”. A questão que lhes é posta é saber se é necessário a declaração “sim”, publicamente. Os bancos pensam que não, que não ainda, para negociar; mas pode-se pensar que sim, que o deveriam, para mostrar a toda a gente que os esforços serão partilhados.
2 - a segunda iniciativa refere-se opinião pública grega. Sabe-se agora, e é reconhecido nas chancelarias, nomeadamente em Paris, que os esforços pedidos foram mal calculados: demasiado violentos os impostos sobre os rendimentos enquanto que as reformas de estruturas não são mesmo suficientes - não há cadastro, é muito pouco o controlo fiscal, é muita a corrupção. Para que entre dinheiro para os cofres do Estado , as privatizações também deveriam ter sido lançadas mais cedo. O problema de fundo não deixa de ser o facto de que o nível de vida dos gregos progrediu muito relativamente ao desenvolvimento da economia. E também que a direita grega, que maquilhou as contas públicas o que é irresponsável.
Para abrir os olhos dos Gregos, para convencer também certos europeus que a Europa não estrangula a Grécia, só há uma solução: que a Troika BCE-Comissão Europeia-FMI, que realiza regularmente missões nos locais, publique os seus relatórios e bem documentados sobre a situação. Seria como é evidente, legítimo e democrático.
A Grécia não está condenada ao pior. O economista Jacques Delpla publicou uma boa saída , no artigo anterior em Les Ecos desta manhã. Os Gregos podem escolher entre o salto em toboggan e o salto em pára-quedas mas sem pára-quedas. Ou seja: escolhem entre o salto em toboggan com uma ligeira baixa do seu nível de vida ou recusam este desafio. Mas neste último caso a sua economia afundar-se-á e sairão do euro.
Dominique Seux.
Dominique Seux, Grèce : deux idées... exclues (hélas) !Les Echos, 22.06.2011
Jacques Delpla : « L'Allemagne doit 575 milliards d'euros à la Grèce », Les Echos, 22.06.2011.
continuação
SAÚDE
De modo a poder estimar os custos com a saúde que resultam da situação de pobreza na infância, Holzer calcula dois custos distintos: aumento directo das despesas em saúde resultantes da situação de pobreza e diminuição do "capital em saúde". Holzer calcula que os custos da situação de pobreza na infância para o país são de cerca de 26 mil milhões por ano, ou seja, cerca de 0,2% do PIB, em despesas adicionais de saúde, assumindo uma taxa de pobreza nas crianças de apenas 15%. No entanto, analisando estes custos , estes são os que resultam da redução da esperança de vida, de uma maior incidência de doença grave e geralmente de uma menor qualidade da saúde. De acordo com uma análise da literatura mais importante sobre esta matéria , Holzer et al., concluem que estes custos podem aproximar-se de um quarto de milhão de dólares, por criança, ao longo da sua vida.
Estimando-se que 600 mil crianças nascem na situação de pobreza todos os anos (aqui, de novo, assume-se uma taxa de pobreza de 15%), Holzer calcula que esta diminuição do capital de saúde representa uma perda anual de 149 mil milhões de dólares, ou seja, cerca de 1,1% do PIB. Para os nossos objectivos, podemos considerar 3 milhões de crianças adicionais vão cair na situação de pobreza durante esta recessão como "recém-nascidos", que vão agora sofrer ao longo da sua vida, as consequências de terem vivido numa situação de pobreza durante a sua infância.
Especificamente, cada uma destas crianças vai perder aproximadamente 250.000 dólares de capital em saúde, ao longo do decorrer das suas vidas. No total, isso equivale a uma perda total de quase 750 mil milhões. Se, em seguida, repartimos proporcionalmente estes custos ao longo de sessenta anos, o tempo de vida adulta aproximado destas crianças, os prejuízos anuais ascendem a cerca de 12,5 mil milhões, ou cerca de 0,1% do actual GDP.
CRIME
Comparado com as suas estimativas sobre os rendimentos auferidos e os prejuízos de saúde, Holzer e sua equipa, utilizam uma metodologia significativamente diferente ao estimar o impacto da situação de pobreza na infância sobre os custos do crime. Em vez de começarem por determinar os custos que são atribuíveis a quem individualmente tenha vivido na situação de pobreza e, em seguida agregarem todas as crianças pobres, neste caso eles começam com os custos agregados para a sociedade de criminosos como resultado da actividade criminosa e procuram determinar a quota desse montante que resulta da situação de pobreza.
Para os nossos objectivos, esta abordagem é mais complicada pelo facto de se ter que determinar os "custos do crime". Holzer situa-se numa definição relativa de "pobres", ao invés de uma definição absoluta (para estas duas categorias, Holzer parece usar aqui os conceitos habituais). Depois de uma análise sobre os trabalhos relevantes, Holzer calcula que cerca de 40% de todos os crimes são o resultado da pobreza. Aplicando esta taxa ao valor anual de cerca de 700 mil milhões que resultam dos "crimes de rua", e depois uma outra taxa de 40% resultante de factores hereditários e que não são o resultado do meio social, Holzer conclui que o "custo do crime" anual resultante da pobreza é de 170 mil milhões.
A via para se chegar a esta conclusão, infelizmente, não nos permite obter uma estimativa credível sobre os custos adicionais de crime que venham a ser o resultado de se permitir que 3 milhões de crianças venham adicionalmente a cair numa situação de pobreza. Holzer identifica uma parte do total dos custos do crime que vem da pobreza, mas não tenta desvendar como é que essa parte pode mudar se a pobreza aumenta ou diminui. Como resultado, apesar de podermos ter a certeza de que somar 3 milhões mais de crianças ao conjunto dos pobres terá, certamente, “custos de crimes” no futuro , teremos de deixar para os outros a tentativa de estimativa mais precisa dos custos acrescidos e portanto, a nossa estimativa final levará em conta apenas as despesas de saúde e as perdas de rendimentos.
A persistência da pobreza induzida pela recessão
Antes de concluirmos, é necessário avaliar se a pobreza induzida pela recessão deve ser tratada da mesma forma em termos de custos económicos de longo prazo tanto quanto a persistência da situação de pobreza na infância existe mesmo em períodos de crescimento. Holzer e sua equipa fizeram uma distinção, pelo menos, ao determinarem o valor da perda de rendimentos entre as crianças que passaram pelo menos metade de sua infância em situação de pobreza e aquelas que viveram pelo menos um quarto de sua infância em situação de pobreza. Na verdade, eles não fazem o cálculo para as crianças que só passam um a quatro anos de sua infância em situação de pobreza. Portanto, a fim de fazer uma estimativa razoável destes custos, é importante determinar a probabilidade de que as crianças que caem na pobreza durante esta recessão poderão aí continuar durante uma parte adicional significativa da sua infância.
Para responder a esta questão, realizamos uma análise dos dados do estudo do Panel Study of Income Dynamics (PSID). O PSID é um estudo longitudinal feito a nível nacional incidindo sobre cerca de 8.000 famílias americanas. Seguindo as mesmas famílias e os indivíduos desde 1968, o PSID recolhe dados sobre a situação económica, a saúde e o comportamento social. Essencialmente, ao seguir as crianças da amostra o programa PSID através dos diferentes altos e baixos económicos ao longo dos anos das suas vidas, pode dar uma melhor noção do que vai acontecer no futuro às crianças que caem na situação de pobreza durante as recessões.
Fundamentalmente, queremos saber qual a probabilidade das crianças que vivem em situações de pobreza induzidas pela recessão continuarem a viver na pobreza mesmo depois do fim da recessão. Ao responder a essa questão, podemos fazer uma avaliação mais exacta dos custos a longo prazo de uma situação de pobreza na infância induzida pela recessão, desde a situação mais prolongada da pobreza, desde a mais grave nas suas consequências futuras.
A nossa análise procura encarar as crianças que caíram na pobreza durante as duas situações de recessão recentes, que ocorreram a partir de 1980 a 1983 e de 1990 a 1.993. Seguimos essas crianças, crianças que viviam em famílias com rendimento acima da linha oficial de pobreza no ano anterior ao do início da recessão, mas que caíram em situação de pobreza durante os anos de recessão, em cerca de dez anos depois da recessão ter acabado. Entre as crianças que caíram na pobreza durante a recessão da década de 80, aproximadamente 26% delas passaram pelo menos metade dos seus restantes anos da infância em situação de pobreza, mesmo depois de a recessão ter terminado.
Outros 17% passaram pelo menos um quarto dos seus restantes anos de infância em situação de pobreza. Finalmente, outros 21% sofreram pelo menos um ano adicional de pobreza depois da recessão ter terminado. Face ao conjunto total, para cerca de dois terços destas crianças, a pobreza continuou a atormentá-los mesmo depois da economia ter recuperado.
Os números foram muito semelhantes ao corte da recessão dos anos 90. Cerca de
29% das crianças que caíram durante numa situação de pobreza durante a recessão viveram pelo menos metade dos seus restantes tempos de infância em situação de pobreza , mesmo depois da recessão ter terminado e um grupo adicional de 10% viveram em situação de pobreza, pelo menos, um quarto do seu restante tempo de infância. Embora possa parecer uma pequena parte (39%) das crianças que sofreram situações de pobreza na infância durante vários anos depois da recessão ter sido ultrapassada, deve-se comparar este grupo de crianças com as crianças da mesma idade que não caíram em situação de pobreza na infância durante a recessão.
De entre as crianças que ficaram fora da situação de pobreza durante o início dos anos 90, apesar da turbulência económica, apenas 3% delas caiu em situação de pobreza, em qualquer momento durante o resto da sua infância (por outro lado, 65% das crianças que começaram, em 1989, já em situação de pobreza, continuaram a estar sujeitos à situação de pobreza depois da recessão ter acabado). Por outras palavras, as crianças que caíram em situação de pobreza durante a recessão tiveram uma probabilidade 13 vezes maior de virem a sofrer anos adicionais de situação de pobreza na infância, depois da economia ter recuperado do que as crianças que não caíram em situação de pobreza induzida pela recessão.
CONCLUSÃO
É claro que a queda na situação de pobreza durante uma recessão carrega consigo uma possibilidade significativa de pobreza persistente que acompanha uma criança mesmo depois de a recessão ter terminado. No entanto, é também evidente que uma parte das crianças que sofrem uma situação de pobreza induzida pela recessão poderão sair dela depois do fim da recessão e, portanto, escapar à maioria das desvantagens de longo prazo que acompanham a situação de pobreza na infância. A nossa melhor estimativa, baseada na nossas análises dos dados PSID é que, se não fizermos nada, a cerca de 60% dos 3 milhões de crianças que são projectadas para caírem vítimas da pobreza durante esta recessão estas irão estar sujeitas à situação de pobreza persistente ou intermitente, que provocará graves danos a longo prazo. Destes, cerca de metade irá ainda cair na primeira categoria que é a mais prejudicial.
Utilizando a nossa análise dos dados PSID, podemos ajustar a nossa estimativa para ter em conta o facto de que nem todas as crianças que caem na pobreza durante esta recessão ficarão sujeitos em toda sua extensão aos efeitos negativos de longo prazo de se ter caído numa situação prolongada de pobreza na infância. Esse ajuste reduz a nossa estimativa de perdas de 0,3% do PIB para cerca de 0,17% do PIB, o que representa cerca de 22 mil milhões de dólares por ano.
Considerando apenas os prejuízos a longo prazo sobre as condições de saúde e sobre as perdas de rendimentos que são efeitos da situação de pobreza na infância e com hipóteses muito conservadoras, os custos anuais futuros de permitir que três milhões de crianças adicionais venham a cair numa situação de pobreza durante esta recessão ultrapassa , pelo menos, os 35 mil milhões por ano. Durante a vida dessas crianças, esses custos serão agregados e representarão um encargo económico total de aproximadamente 1,7 milhão de milhões de dólares (em dólares de 2008) .
Fonte:
Michael Linden, The Cost of Doing Nothing: the economic impact of recession-induced child poverty, Edição de: First Focus, Making Children & Families the priority.
Michael Linden is the Senior Director of Tax & Budget Policy
at First Focus. He can be reached at MichaelL@firstfocus.net.
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Aos visitantes, aos leitores de Estrolabio, um desafio aqui vos deixo
A Europa está a ser sujeita ao maior ataque civilizacional dos últimos séculos, depois da Shoah, depois do período negro que sobre a Europa se abateu com a ascensão dos diversos ismos de má memória, dando-nos a nós a impressão de estarmos agora numa sala de cinema a ver um filme de terror que nos conta uma história e essa história é a crença que alimentou durante anos muitos milhões de europeus que contra ventos e marés esta Europa construíram e que agora como o filme nos conta está a ser sistematicamente destruída.
E essa destruição, essa desconstrução, esse reenvio para os tempos da barbárie que o filme nos mostra, esse reenvio de milhões de crianças para situações de fome e de precariedade absoluta, garantindo-lhes que homens nunca mais poderão ser, de milhões de trabalhadores que a sua dignidade profissional e de vida passaram a ver pelo desemprego negada, é esta a realidade a que a União Europeia deve ter que assumir e por ela responder, por contra ela não só nada está a fazer, como é ela própria que esta realidade está também a querer para com isso os grandes capitais satisfazer. E é sobre esse, sobre o custo mínimo de nada se fazer, que se fala neste artigo que hoje apresentamos em O Estrolabio.
Desse ponto de vista, aconselho aos leitores, aos visitantes de Estrolabio, que vejam e revejam o filme de Fernando Solanas, O Assalto do Século onde tudo isto se descreve como um filme de terror com a diferença que a realidade argentina terá ultrapassado a ficção, terá ultrapassado a imaginação de qualquer filme de terror, a descrição feita de câmara na mão, de câmara na rua, descrevendo-nos uma realidade a que os homens do FMI levaram a Argentina, antigo celeiro do mundo, antigo talho do mundo, a ser um país onde muitas de dezenas de pessoas morriam diariamente de fome.
ca, a sugestão aqui a deixo.
(texto enviado e traduzido por Júlio Marques Mota)
Dívida grega: a União Europeia e o FMI querem esmagar a resistência dos povos indignados
A União Europeia e o FMI puseram o cutelo sobre o pescoço do Parlamento grego : devem votar urgentemente o terceiro plano de austeridade e de privatizações de um ano, mais draconiano ainda que os precedentes, ou então cortar-se-ão os víveres à Grécia que assim deixará de poder pagar aos seus funcionários.
A mensagem é clara: a finança europeia não tem nenhuma intenção de ceder face aos movimentos sociais que se desenvolvem na Europa do Sul e que estão na origem das manifestações espectaculares deste fim de semana na Espanha e na Grécia. Os governos grego, espanhol ou português são intimados a esmagar sob uma austeridade implacável as suas populações que contra estas politicas se indignam. É necessário fazer da Grécia um exemplo para dissuadir os outros países de levantarem a cabeça.
Cada um sabe no entanto que a dívida pública da Grécia é insustentável: todos os observadores, e mesmo os economistas dos bancos, o reconhecem e o afirmam. As políticas de austeridade colocam a Grécia - mas também a Espanha, a Irlanda e Portugal… - face a uma crise social dramática sem lhes estar a oferecer nenhuma perspectiva de estabilização económica. Os sucessivos cortes orçamentais não permitem de modo nenhum reduzir o défice, porque mais as despesas públicas se reduzem mais as receitas se reduzem-se elas também devido ao agravamento da recessão.
É por isso que “as elites” européias estão divididas. O governo alemão é pressionado por uma opinião pública que não compreende porque só os contribuintes europeus são solicitados a pagar. Esta quer que os credores privados da Grécia - geralmente os bancos europeus - assumam uma parte do custo. Um tal reescalonamento parcial da dívida não procuraria poupar o povo grego; mas antes teria a função de tornar “ duradoura” a cura de austeridade que lhe é imposta, evitando um desmoronamento a curto prazo.
Mas, sob as ordens de Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu e de John Lipsky, o Director Geral adjunto do FMI, a União Europeia vetou este modesto empurrão proposto por Berlim. Lipsky repreendeu os dirigentes alemães, tratando como “criancices improdutivas ” as discussões em redor de uma contribuição do sector privado. Nicolas Sarkozy apoiou sem condições a linha dura do BCE e do FMI que consiste em impôr imediatamente uma prova de força contra os movimentos de resistência. Esta escolha, se for confirmada, empurraria a Grécia para a situação de incumprrimento e tornaria inevitável uma grande crise bancária e financeira a curto prazo. Cegueira dogmática ou bluff cínico? Trata-se talvez e sobretudo de uma verdadeira declaração de guerra feita pela finança ao Estado social na Europa, onde a Grécia é o primeiro elo da cadeia.
Perante esta declaração de guerra, os movimentos sociais europeus devem organizar uma mobilização geral em apoio ao povo grego. Para além da solidariedade internacional, trata-se de uma causa imediatamente comum: a derrota do povo grego tornaria mais difícil a resistência espanhola e abriria o caminho à generalização dos planos de hyper-austeridade que quer impôr o pacto para o Euro e, destes, os seus principais instrumentos serão votados ma quinta-feira no Parlamento Europeu.
Attac France, com a rede Attac da Europa com quem se reuniu na Grécia a 18 e 19 de Junho, exprime o seu apoio e a sua solidariedade com os movimentos sociais e os cidadãos indignados da Europa. Com eles, Attac exige a criação de mecanismos de auditoria do cidadão sobre as dívidas públicas, que mostrará o carácter ilegítimo de uma larga parte destas dívidas e abrirá o caminho à sua denúncia. As populações não têm que pagar a falência da finança. Attac France organiza esta quinta-feira em Paris uma reunião pública com representantes dos partidos políticos de esquerda presentes no Parlamento Europeu, para denunciar o pacto para o Euro e debater as alternativas para a hiper-austeridade e a ditadura da finança.
Attac França,
Paris , 21 de Junho de 2011
enviado por Julio marques Mota
Ganhos mínimos
Na altura em que estávamos a visitar a cidade, a situação começou a mudar, devido às crescentes pressões sobre o governo, a organização do trabalho oficial, e as empresas. Em parte, este resultado devia-se ao facto de cada vez mais e mais trabalhadores "votarem com os pés". Durante alguns meses antes de nossa visita, houve relatos de um movimento inverso de trabalho a sair para fora das regiões costeiras ou à procura de empregos nas fábricas que estavam a surgir no interior ou até mesmo de regresso às aldeias. Deu-se então uma mudança nas políticas nacionais, incluindo o fim do principal imposto sobre a terra agrícola, que tem permitido a redução de alguns dos piores encargos económicos e tornado a agricultura parecer mais uma vez mais viável.
Algumas das empresas estão a mover-se do litoral para o interior, tanto para acompanhar a força de trabalho como para tirar partido das menores remunerações salariais e de outros incentivos que as autoridades oferecem no interior. Outras empresas estão a deixar completamente a China, deslocalizando-se para o Vietname, entre outros países vizinhos, numa "corrida para o fundo" ao nível dos baixos salários e das más condições de trabalho. Mas, apesar de inúmeras histórias sobre a forma como se paga em Shenzhen e como outras zonas baseadas principalmente no sector exportador foram assim também criadas, o efeito tem sido muito marginal, de acordo com aqueles com quem nós conversámos, em parte devido à capacidade das fábricas em se movimentarem.
Embora possa haver bolsas de falta de trabalho, em especial de trabalhadores mais qualificados, o declínio nas forças migratórias costeiras não deve ser exagerado, uma vez que novos trabalhadores das áreas rurais continuam a afluir à cidade, onde quase todo e qualquer nível de remuneração nas fábricas ultrapassa o que podem ganhar se voltarem para casa. Na Foxconn, como noutras empresas dominantes em Shenzhen, uma multidão de jovens ainda lhes rondam a porta à procura de um emprego. Muitos têm formação específica para estes trabalhos e precisam de encontrar rapidamente trabalho para poderem pagar a sua formação.
Entre aqueles que encontrámos, estavam vinte e cinco migrantes muito jovens da província de Hunan rural, que tinham acabado de sair de dois mini-autocarros que os trouxeram para a cidade. Eles pareciam ter apenas quinze ou dezasseis anos de idade e alguns pareciam ainda mais jovens.
Uma vez que a idade legal mínima para o trabalho nas fábricas é de dezasseis anos, eles disseram que era "isso". As suas vagas respostas eram compreensíveis e suspeitas — é fácil conseguir documentos falsos num país onde a pirataria de todos os tipos, incluindo documentos falsos, existe por toda a parte. A maioria dessas pessoas recém-chegadas à procura de trabalho tinham apenas uma mala ou uma mochila, junto com um balde com produtos de limpeza e outras coisas para a vida diária. Tinham pago dez mil yuan por dois anos de formação técnica básica numa escola profissional. Aí estudaram computadores, reparação de produtos electrónicos e inglês. Vieram para Shenzhen com o responsável angariador e dois assistentes, que os iriam ajudar a encontrar emprego. Quando questionados acerca do facto de eles próprios estarem na cidade, um deles citou um velho ditado acerca de "viajar nos lagos e montanhas". Todos disseram que tinham saudades de casa.
Com novos candidatos a um emprego como estes a chegar todos os dias, o movimento ascendente dos salários é relativamente limitado. As taxas de remuneração de base legal são definidas pelo governo de Shenzhen, embora algumas empresas ofereçam salários mais altos para atrair e manter os trabalhadores. Mas há, no entanto, forte pressão e crescente para que as autoridades locais que por mais de uma vez ao longo dos últimos anos aumentaram o salário mínimo — já é um dos dois mais altos no continente, junto com Xangai — o voltem a fazer. Muitas empresas, no entanto, já tinham encontrado maneiras de evitar os efeitos das exigências legais de maior remuneração. Na Foxconn, por exemplo, tenta reduzir-se a quantidade de trabalho extraordinário nos termos da lei dos novos salários mínimos, e de acordo com uma ONG de direitos do trabalho, "até mesmo o subsídio de habitação está em perigo. Cerca de 2 000 empregados já teriam deixado a fábrica depois de saberem que seriam cobrados pela ocupação dos seus quartos... logo que se determinou que aumentasse o salário" (San Francisco Chronicle, 16 de Julho de 2006).
Activismo crescente
enviado por Julio Marques Mota
2 . Trabalhadores Migrantes Chineses
Mesmo antes do início das reformas em 1978, a China socialista tinha tido movimentos migratórios. No início da década de 50 vieram milhões de trabalhadores dos campos para as cidades para trabalhar nas novas indústrias estatais. Inicialmente, eram aí necessários mas, em meados dos anos 50, com o desemprego e os problemas com os abastecimentos alimentares, por exemplo, o governo introduziu um sistema de registo rigoroso de casa de habitação (hukou). O sistema hukou restringia a mobilidade da maioria dos chineses e manteve-os na zona rural durante as décadas seguintes. Controlava assim se alguém estava no local onde que estava inscrito, e a atribuição de alimentos e outros recursos estavam directamente vinculados a este sistema, ao registo da habitação. Para a construção de indústrias pesadas — a parte central do programa de modernização ao estilo soviético — os camponeses na China socialista eram ultra-explorados através dos baixos preços dos cereais. Apenas uma minoria de pessoas foram autorizados a viver nas cidades e a beneficiar das vantagens proporcionadas pelo Estado de Planeamento socialista.
Mas a migração não termina aqui. Com a fome gerada no período do "Grande Salto em Frente" (1958-62) partiram vagas enormes de migrantes. E, na década de 60 e 70, milhões de pessoas foram canalizados das áreas rurais para as cidades, para fazer os trabalhos mais duros e mais perigosos em empresas estatais. Estes migrantes estavam apenas temporariamente com emprego e tiveram que voltar para o campo quando o trabalho terminou. Durante a sua estadia nas cidades estavam ainda excluídos dos benefícios sociais dos trabalhadores urbanos (o "Iron Rice-Bowl").
O primeiro grande movimento migratório depois do início da reforma foi o do retorno. Na década de 60 e 70, milhões de jovens foram enviados para o campo, na esteira da Revolução Cultural para "aprender com os camponeses". O partido queria empurrá-los para fora das cidades, a fim de obter a agitação social e política da Revolução Cultural sob seu controle e também para baixar o nível de desemprego urbano. Depois de 1978, muitos desses migrantes lutaram com sucesso pelo seu regresso às cidades. Muitos trabalhavam nas indústrias estatais, outros tornaram-se independentes e participaram nas lutas para pôr em causa a proibição de empresas privadas. Tornaram-se vendedores ambulantes ou trabalharam em serviços urbanos.
No início dos anos 80, começou o fluxo de partes da população rural para as cidades, o resultado de muitos factores, de repulsão das terras e de atracção urbana. A distribuição das terras pelas famílias e o crescimento da produtividade na agricultura levou a uma população com "excedente" de força de trabalho no campo. Enquanto isso, as empresas nas aldeias e nas pequenas cidades (que de certa forma tinham ganho independência do Estado central), a nova "zona económica especial" e mais tarde a expansão das indústrias do Estado precisaram de mão-de-obra barata.
Quando no final da década de 80 e, em especial, no início de 90 o Estado investiu em muitos projectos de infra-estruturas e de construção urbana e quando, ao mesmo tempo, os investimentos estrangeiros nas empresas industriais se expandiram, muitos milhões de pessoas, na sua maioria jovens, deixaram o campo para encontrar emprego e ganhar dinheiro nas cidades. Ao mesmo tempo, sentiam-se atraídos pela emoção da vida da cidade, da modernidade e da liberdade para consumir, processo que acompanhou as reformas. No entanto, até agora, os novos trabalhadores não se tinham tornado permanentes, não se tinham tornado moradores permanentes da cidade.
O sistema hukou, dividindo todos os chineses em população urbana e em população rural, ainda funciona. Quem sai da aldeia para ir para a cidade tem, ainda hoje, que se candidatar a um trabalho temporário e a uma autorização de residência. Essa autorização é normalmente limitada a um ano e ligada ao emprego. Por esta razão, os trabalhadores migrantes ainda são chamados mingong, camponeses que se transformam em trabalhadores urbanos. Eles não têm os mesmos direitos que os titulares de hukou urbano e estão excluídos de muitos serviços urbanos.
Números e factos
I Parte. As migrações, o regime houkou e o mal-estar social na China
1. Migração Interna de Trabalhadores na China: evolução, distribuição geográfica e políticas
Kam Wing Chan
O sistema hukou e definições de migrantes
Qualquer análise séria acerca da migração chinesa deve começar por procurar compreender o que se entende por hukou (registo da casa), e qual a sua relação com a migração. Desde há muito tempo que, na China, a migração tem sido uma área de forte controle estatal e as regras da regulação estatal ainda estão activas na actualidade. Para que as pessoas possam mudar a sua residência permanente é necessário que obtenham aprovação de uma ou mais autoridades. A mudança de residência é considerada legal, se for oficialmente aprovada e registada junto das autoridades da segurança pública.
Para os residentes urbanos, a mudança de residência na mesma cidade (ou seja, movendo o seu hukou para uma nova morada), porque mudaram de local de habitação (pessoas que se deslocam para um novo apartamento), ou mudança de residência causada, por exemplo, pelo casamento geralmente é autorizada. A mesma facilidade é também dada à população rural que se desloca dentro das mesmas zonas rurais por efeitos de casamento ou por motivos familiares de outra ordem.
No entanto, qualquer movimento formal (ou "permanente") entre cidades, entre zonas urbanas, entre zonas rurais e urbanas é fortemente regulamentado e exige a posse de uma autorização de migrar ("a migration permit") emitida pelas autoridades de segurança pública. A autorização só é concedida quando há boas razões, especialmente quando a deslocação é, ou pelo menos não está em contradição, com os interesses do Estado Central ou mesmo local, definido pelas várias leis estabelecidas na regulação dos movimentos das pessoas, como por exemplo as políticas que pretendem controlar o crescimento das grandes cidades.
Portanto, para uma pessoa normal, sem contactos oficiais, conseguir uma autorização para migrar das zonas rurais para as urbanas ou das cidades pequenas para as grandes ainda é muito difícil, se não totalmente impossível. O sistema hukou funcionou, de facto, na era da pré-reforma, como um mecanismo de passaporte interno e ainda hoje tem muitas funções semelhantes, embora os agricultores possam agora viajar para muitos locais para terem um emprego ou para permanecerem de modo "temporário" — ou seja, sem hukou local — o que significa que são inelegíveis para muitos dos benefícios e dos direitos dos moradores comuns.
Ao nível administrativo e a nível operacional, as migrações das zonas rurais para as zonas urbanas tem duas etapas: a conversão do seu estatuto de rural para o estatuto de urbano e a obtenção da autorização da permissão para se movimentar numa específica zona urbana.
Esta última etapa — a obtenção de hukou local — é o resultado substantivo. Portanto, podemos distinguir os migrantes hukou e os não-hukou consoante têm hukou local ou não local para se poderem movimentar. Duas categorias de imigrantes podem ser então diferenciadas:
A migração com "direitos de residência local (Bendi) hukou ou sem residência local permanente (migration hukou);
Migração sem residência hukou (non hukou migration).
Na China, oficialmente só a migração hukou é considerada como qianyi ("migração"). Todos as outros são simplesmente consideradas renkouliudong (ou movimento da população ou "flutuante"), o que implica um baixo grau de permanência esperada: as pessoas em trânsito não são supostas (e legalmente não têm direito) estarem de modo permanente no local de destino e, portanto, são frequentemente chamadas de "migrantes temporários", apesar do facto de muitos imigrantes não-hukou poderem estar durante anos no local de destino. À migração hukou, por outro lado, é dado apoio do Estado e cai dentro da migração "planeada" (a categoria Jihua qianyi), enquanto a população flutuante está fora dos planos do Estado.
Para o governo, e do ponto de vista administrativo, a diferenciação entre o hukou e o não-hukou é a questão mais importante. O sistema hukou chinês permanece essencialmente como sendo o registo de estatísticas do hukou (a partir da população de jure) e, mais recentemente, regista também os dados da população não-hukou. Desde o início dos anos 80, juntamente com as reformas, os investigadores e órgãos encarregados das estatísticas também começaram a recolher informações sobre os imigrantes com base numa base de facto, através dos seus vários tipos de inquéritos.
As políticas recentes
Depois de France Télécom, dos suicídios dos seus trabalhadores, depois da análise da situação de precariedade a mais absoluta a que dezenas de milhares de trabalhadores estavam submetidos no quarto operador mundial das telecomunicações, resultante do modelo a que os nossos neoliberais chamam agora de modernização das relações de trabalho, sejam eles de direita dura ou de socialistas encapotados, depois de descobrirmos que do outro lado do mundo está um outro regime, uma ditadura, mas o mesmo modelo a funcionar em pleno, depois de vermos como é que de um lado ou de outro através da exploração e desregulação da economia global se levam as pessoas a uma situação de stress que as conduz, por vezes, e não poucas , à violência brutal do suicídio.
Seja na France Télécom seja na Renault ou algures, depois do longo estudo de Foxconn e dos suicídios dos jovens, depois de termos apresentado sobre a Europa e sobre a França, em particular, situações em que legalmente se pode ir até às 72 horas semanais, com a publicação de dois pequenos textos a esta Europa dedicados em que com estes se explica que no quadro do modelo social europeu, mas agora já ninguém sabe muito bem o que isso é, o que é o modelo social europeu representa, uma vez que no mundo do trabalho aí desregulado e contra quem trabalha tudo é hoje possível, afinal, depois de tudo isto, voltemos à análise do trabalho na economia global com uma série de textos a que demos o título Sobre a China, sobre o estatuto do trabalho na Economia Global.
Depois de tudo isto voltemos à China, ao país onde se é migrante ilegal no próprio país, e aos milhões nessa qualidade sem direitos quase de cidadão, e falaremos desse elixir que neste país se descobriu para poder ter as cidades eternamente jovens. Mas que ninguém queira beber desse cálice, desse elixir, bem amargo afinal.
Desta forma esperamos deixar bem claro por onde passa então a nossa incapacidade em exportar, a nossa incapacidade em empregos arranjar, perceberemos afinal, a dureza do testamento de Maurice Allais, percebemos também o absurdo das medidas da Troika que é descobrir excedente económico onde ele não se produz.
A concluir esta série fá-lo-emos a três níveis: o primeiro sobre a problemática dos suicídios como sendo uma problemática ligada directamente ao estatuto do trabalho no capitalismo globalizado, (os suicídios vindicativos); o segundo nível dando um olhar sobre o consumo de bens de luxo na China, possíveis pela profunda desigualdade inserida na reprodução social nesse sistema, o que será feito na base de um relatório da McKinsey; e com o terceiro nível daremos uma olhadela ao futuro próximo que com esta profunda crise, que vários anos vai durar e com ela nos amargurar, os nossos políticos nos estão já cinicamente a criar.
Fá-lo-emos através de um estudo americano onde se questionam os custos futuros brutais de nada agora se estar verdadeiramente a fazer, de nada verdadeiramente estarmos a contrariar, talvez até de tudo estarmos a calar. Cinicamente, é o que dizemos dos nossos belos exemplares na política .
A liberdade de escolha nas nossas eleições recentes, a de escolha de coisa nenhuma, de entre dois programas cujas diferenças cabiam à vontade numa mortalha de papel de cigarros, como nos dizia o Le Monde, são disso um claro exemplo, mas simplesmente trata-se de exemplo por Bruxelas bem pretendido e por ela muito bem gerido, com a lógica dos PEC, com a lógica dos semestres de Primavera a sobreporem-se aos Parlamentos nacionais. De cinismo um outro exemplo, a nível global bem mais grave, é o que neste sistema de economia globalizada nos mostram agora com a nomeação para o cargo de director-geral do Fundo Monetário Internacional, onde há que escolher entre a incompetência em Economia, Christine Lagarde, ou a incompetência em Democracia, Agustín Carstens, quando a ausência das duas qualidades em conjunto significa que não se verifica depois nenhuma delas separadamente.
Não pode aqui haver meio termo, não pode aqui, neste cargo, haver uma qualidade sem a outra, pela simples razão de que nas funções do cargo em questão a ausência de uma qualidade anula a presença da outra, e portanto tudo se vai tratar como se vá estar à frente de uma das instituições mais importantes à escala mundial alguém que para o futuro da democracia já agora virou as costas.
De cinismo, mais do que isto nunca vi, mas não deixemos que esta sociedade até os nossos netos esteja já a destruir, e o quadro das nossas escolas primário disso é já um bom exemplo. E as crianças de hoje serão elas os trabalhadores de depois de amanhã , se depois de amanhã muitas delas por esta via chegarem a ter, e portanto elas mesmas se inscrevem desde já nesta óptica do trabalho na economia globalizada.
É uma nova viagem ao mundo infernal do trabalho que aqui vos proponho e dizê-lo desta maneira é tanto mais paradoxal quando milhões de jovens tudo serão capazes de dar, e logicamente, para passarem a porta da empresa que direito ao trabalho lhes vai possibilitar.
E boa viagem, portanto, esperando assim que nela me façam companhia.
Coimbra,12 de Junho de 2011
Júlio Marques Mota
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