Sábado, 4 de Dezembro de 2010
coordenação de Pedro Godinho
Síntese do reintegracionismo contemporâneo (26)
por Carlos Durão
(continuação)
Luís Gonçáles Blasco: “Segundo os usos lingüísticos habituais esta língua [medieval] pode ser chamada Galego antigo, Português antigo ou Galego-Português (antigo ou nom), podo estar de acordo em que por razons históricas o nome mais acaído seria o de Galego antigo, por ter nado na Galiza; mas nom tudo é História nas línguas e, por exemplo, hoje (quase) todos concordamos em falarmos de Espanhol e nom de Castelhano como quereriam as razons históricas [...] Galego e Português fam parte de um mesmo diassistema lingüistico que, geralmente, chamamos Galego-português, ainda que também podemos chamar-lhe Galego à nossa variante particular (e mesmo às outras)” (1998, 54: 241); “devia ficar claro que os independentistas nom podem ter outra normativa do que a histórica: Porque foi a nossa quando éramos independentes, porque cientificamente é a única válida, porque a normativa isolacionista levaria-nos a umha deriva cara ao espanhol por tratar-se de uma normativa espanholista (com algumhas pinceladas de enxebrismo para dissimular), porque é umha normativa imposta polo poder espanhol e nom por um poder galego” (1999, 58: 253).
Manuel Maria: “Galego e português são a mesma língua, com alguma variante” (2009).
Carlos Garrido: “Desde 1978 até o momento presente assistimos, relativamente ao modelo culto do galego, como que à reediçom da dialéctica entre as duas atitudes [...] por um lado [..], na década de 1980 configura-se com força um movimento reintegracionista, partidário de um modelo de galego culto coordenado com o português, que, embora contasse com ilustres precursores, nunca antes atingira um corpo teórico tam sólido e umha praxe tam conseqüente. Mas, por outro lado, no decénio de 80 também se constitui, guiada polo populismo e pola inércia da recente e adulterada tradiçom de galego escrito, uma corrente isolacionista (autodenominada autonomista), que reage contra os postulados reintegracionistas e propugna um modelo de galego independente, na teoria, do português e do castelhano, mas na prática subsidiário quanto a ortografia, morfossintaxe e léxico deste último. A corrente isolacionista, orfa de umha fundamentaçom teórica consistente, apresenta-se, porém, como dominante nesta etapa, devido à sua condiçom de norma demótica nas actuais circunstâncias sociolingüísticas do país, mas, sobretudo, graças à sua instrumentaçom por parte de um poder político que a sente compatível com o seu projecto nacionalitário” (1999, 57: 5).
Valentim Rodrigues Fagim: “A língua portuguesa –além da sua continuadora- é essencialmente a mesma língua que a medieval com as suas lógicas regularizações e posteriores influências como a língua do Cid é essencialmente a mesma língua que o castelhano actual. Não é um produto made in Lisbon. De ser assim palavras como [lenho, espelho, vou, leite, mais, chover, fórmula, Rosa, isso] deveriam ser transcritas lanhu, ixpalhu, vô, laite, maix, xover, formla, Roza, iço e se outro tanto fizeram os brasileiros (como já faz o galego oficial), onde existe uma única língua existiriam, no mínimo três línguas (a ideia pode ser copiada por mais variantes: galego-asturiano, portunhol ou açorense, por exemplo). O problema, realmente, é que o debate e as decisões não estão em mãos dos galegos. Naqueles lugares onde a identidade da língua depende basicamente dos movimentos sociais que se importam com ela, Quebeque, Puerto Rico, Vale de Aosta, Moldávia actual, Flandres, Tirol do sul... o integracionismo é o comportamento dominante. Naqueloutros onde não é assim, e Valência é o paradigma junto à Galiza, o destino da língua fica baixo a direcção dos seus verdugos.” (1999, 58: 243-244); “Que porta-vozes de ideologia gregária espanholista sejam tam entusiastas das “señas de identidad” de galegos/a e valencianos/as, ao mesmo tempo, sustentem políticas quanto ao status que nada fazem por reverter a progressiva espanholizaçom das sociedades que governam deveria, achamos, acender algumha luminária, em especial naqueles contigentes amplos de galegos/as preocupados/as com a cultura, língua e construçom nacional galega, ao menos entre aqueles/as que nom estám a tirar réditos a situaçom actual” (2002, 71/72: 119-120).
José Luís Valinha: “Os grupos regeneracionistas estão a realizar uma regeneração da língua em todos os níveis da linguagem, e nela o espelho do português de Portugal está a desempenhar um papel fundamental [...] o português de Portugal, no campo fonético como noutros campos, funciona como importante critério de correcção linguística, residindo o problema na determinação prática de a quê ponto em cada caso há que adoptar uma ou outra solução [...] o movimento regeneracionista, na teoria, preferiu, por a considerar mais correcta, a pronúncia do “sesseio” à pronúncia com interdental castelhana de palavras como “cedo” ou “fazer”” (2003, 75-76: 151-156); emprega o sintagma “português da Galiza”.
(continua)
Sexta-feira, 3 de Dezembro de 2010
coordenação de Pedro Godinho
Síntese do reintegracionismo contemporâneo (25)
por Carlos Durão
(continuação)
Quinta-feira, 2 de Dezembro de 2010
coordenação de Pedro Godinho
Síntese do reintegracionismo contemporâneo (24)
por Carlos Durão
(continuação)
Ângelo Cristóvão Angueira: “Deve deixar-se bem claro que, apesar de manipulações políticas, o galego não é nem será nunca uma língua regional da Espanha [...] Não é uma língua minoritária, pois é falada atualmente por cerca de 200 milhões de seres nos cinco continentes./ A nossa língua é, sem embargo, minorizada no território administrativamente espanhol. Neste jogo da minorização a primeira culpável é a consideração do galego como língua diferenciada da portuguesa [...] Esta auto-exclusão, denominada na Galiza isolacionismo é, sem lugar a dúvidas, o intento histórico mais elaborado do regionalismo espanhol por suprimir definitivamente a comunidade lusófona da Galiza, reduzindo o problema ao nível das denominadas “minorias linguísticas da Europa” [...] / O problema da língua portuguesa na Galiza não é, pois, exclusivo domínio dos linguistas e filólogos universitários espanhóis [...] nem das universidades galegas: é também, em boa medida, assunto da comunidade científica internacional e responsabilidade moral e legal dos Estados em que se fala qualquer das variantes da nossa língua. Dentre eles, nomeadamente, a República Portuguesa” (1991, 19-28: 387); “o nacionalismo galego compartilha a ideologia espanhola. Começando polos aspectos mais patentes, “recebe” a distribuição territorial da Galiza nas quatro províncias espanholas [...] Também o nacionalismo galego não tem claro se a Galiza fala português ou galego, como língua diferente, como se evidencia nos intentos de elaborar uma “nova” ortografia para o português da Galiza em vez de tomar singelamente o português comum” (1989, II: 747); “a disputa sobre o modelo de língua para o português da Galiza só pode resolver-se com a aceitação generalizada das convenções gráficas da língua comum, e a assunção do discurso da unidade como garante da unidade e do futuro, conjugado com o reconhecimento das pronúncias, os sotaques, as especificidades lexicais e também, se for o caso, verbais, que têm o seu lugar de expressão privilegiado na literatura” (2006: V); “Se o português é língua nacional é porque existe a Nação Portuguesa. É evidente. O que não resulta tão evidente para alguns nacionalistas galegos é que a única nação galega que existe se chama Portugal, e que a nação galega não existe propriamente. A nossa afirmação não necessita demonstração. O que é preciso provar é justamente o contrário, que existe a nação galega, quer diferenciada da portuguesa, quer diferenciada da espanhola.[...] Se preferível, dir-se-á que não há uma nação galega diferente da nação portuguesa, dentro do território político espanhol [...] É claro que os galegos, considerados no território político espanhol, isto é, as quatro províncias da Corunha, Lugo, Ourense e Ponte-Vedra, mais os territórios limítrofes desagregados em 1833, constituímos una nacionalidade com características étnicas e nomeadamente lingüísticas, diferenciadas, o que até é reconhecido de alguma forma pola legalidade vigente espanhola emanada da Constituição de 1978. Mas a respeito de Portugal, tais características poderiam considerar-se simples e lógicas diferenças regionais, esperáveis em todas as culturas. Assim pode e deve afirmar-se que nada do que os galegos temos de essencial e definitório, em cultura, língua, tradições, etc., é alheio aos portugueses, apesar de ter sido tamisado ou deturpado -que não “livremente evoluído”- através da história e a influência castelhana./ Não existem razões de peso para defender a promoção de uma nação galega diferente da portuguesa” (1991, 26: 239); “língua galega ou portuguesa” (1988, 14: 157); “Pretendemos uma instituição nacional galega criada por iniciativa da sociedade civil, independente dos organismos do estado. Uma AGLP presidida por princípios de responsabilidade e rigor no trabalho, integrada por aquelas pessoas que mais têm apoiado a lusofonia galega, através de diversas formas como a docência, a investigação, a criação literária ou o ativismo cultural. Uma entidade que recupere e ponha em valor o nosso património linguístico e literário, ora maltratado, ora esquecido, ora deturpado” (2007).
Fernando Vázquez Corredoira: “Pode-se formular, como princípio geral, que o carácter distintivo e delimitador da ortografia é singularmente evidente nas situações de contacto linguístico em que os utentes de uma das línguas sentem a necessidade de marcar a distância em relação à outra e que esta necessidade é tanto mais premente quanto menor a distância estrutural entre as línguas em contacto” (1998: 11).
Xavier Vilhar Trilho: “A codificação espanholizadora do galego nega-lhe a este o caráter de língua nacional na medida em que o converte numa simples língua “regional” do Reino da Espanha, num dialeto do espanhol, numa espécie de castelhano antigo ou de português aldeão. Esta normativização, que isola o galego do português, desintegra o galego, ao desagregá-lo da comunidade linguística lusófona, da que faz parte, e ao facilitar a conversão do mesmo num dialeto do espanhol. A estandardização espanholizadora do galego priva ao galego da função de língua de cultura na medida em que o desvincula da própria tradição cultural dos cancioneiros líricos medievais galego-portugueses, na medida em que também o desliga da literatura portuguesa e brasileira (a forma mais culta, mais “cultivada” do galego), na medida em que não se serve do léxico científico já acunhado no português, que segue a orientação erudita das restantes línguas românicas.” (2003) “O reintegracionismo e/ou lusismo ortográfico não precisa de intervenção dos poderes públicos autonómicos para se impor socialmente. Ao lusismo ortográfico bastar-lhe-ia usufruir na Galiza de condições de igualdade com o oficialismo isolacionista, viver com ele numa situação de competência não desleal, sem discriminações legais, para se consolidar socialmente, porque não esquece que o passado do galego são os cancioneiros líricos medievais galego-portugueses e sabe que o seu futuro está na lusofonia” (1994, 35-40: 160).
(continua)
Quarta-feira, 1 de Dezembro de 2010
coordenação de Pedro Godinho
Síntese do reintegracionismo contemporâneo (23)
por Carlos Durão
(continuação)
Jürgen Schmidt-Radefeldt: “o galego, variedade dialectal do antigo galaico-português, sintagmaticamente perto do português mas foneticamente mais próximo do castelhano” (1990, 22: 149).
Eugenio Coseriu (Eugen Coşeriu era o seu nome romeno; assinava Eugenio Coseriu os seus trabalhos na filologia hispânica): “a pesar de que durante siglos no ha habido contactos efectivos, el gallego y el portugués siguen perteneciendo al mismo conjunto, al mismo continuum lingüístico [...] Históricamente, el portugués es el gallego de la Reconquista y es hasta hoy, en todas sus formas, la continuación de ese gallego. Esto vale también para el portugués literario y común en su relación con el gallego literario medieval, pues la tradición de este gallego ha sido adoptada y continuada por la lengua literaria portuguesa. Se trata, por tanto, del caso, bastante raro en la historia de las lenguas, de una lengua que, precisamente en la forma que se difunde y se constituye en lengua común y gran lengua de cultura, se llama con otro nombre: ya no gallego, sino portugués” (1989, II: 800); “provavelmente um estudo deste tipo, uma semântica estrutural do galego e do português chegaria à conclusão de que o sistema básico é o mesmo no galego e no português e que as distinções, as oposições básicas, os traços diferenciadores são os mesmos, mas há, como dizia o nosso amigo Leodegário, diferença de norma, como há também diferença de norma entre o português de Portugal e o português do Brasil e também no português de várias regiões de Portugal e no português de várias regiões do Brasil” (1993, III: 100); “Una lengua no se impone por decreto” (1995); “a ninguém se pode impor por decreto uma língua. A língua é sempre um saber e o verbo saber não se conjuga no imperativo” (1995); “desde el punto de vista puramente lingüístico, el límite entre las “lenguas” es convencional, como también lo es el límite entre los dialectos: depende de las isoglosas que se consideren, pues casi no hay isoglosas que coincidan exactamente en un determinado territorio”; ““lengua” se llama, o se puede llamar, cualquier sistema de isoglosas” (1983); “não são [a maioria das inovações poéticas] quase sempre violações ou ampliações da norma, permitidas pelo sistema?” (1979: 50-51); “existem em cada língua oposições constantes e peculiares, tanto entre as invariantes quanto entre variantes normais, com a diferença de que as oposições entre invariantes são funcionais, enquanto que as oposições entre variantes não têm esse caráter, mesmo não sendo nem indiferentes nem arbitrárias na língua dada” (1979: 54); “o sistema é um conjunto de oposições funcionais; a norma é a realização “coletiva” do sistema, que contém o próprio sistema e, ademais, os elementos funcionalmente “não-pertinentes”, mas normais no falar duma comunidade; o falar (ou, se se quer, fala) é a realização individual-concreta da norma, que contém a própria norma e, ademais, a originalidade expressiva dos falantes./ O sistema é sistema de possibilidades, de coordenadas que indicam caminhos abertos e caminhos fechados: pode ser considerado como conjunto de “imposições”, mas também, e talvez melhor, como conjunto de liberdades, pois que admite infinitas realizações e só exige que não se afetem as condições funcionais do instrumento lingüístico: mais que “imperativa”, sua índole é consultiva. [...] A norma é, com efeito, um sistema de realizações obrigadas, de imposições sociais e culturais, e varia segundo a comunidade” (1979: 74); “é legítimo interpretar foneticamente as vogais nasais do português cindindo-as em vogal+arquifonema nasal” (1979: 122).
Mª do Carmo Henriques Salido: “Labov nos seus trabalhos manifesta que a “norma” é parte constitutiva da estrutura sócio-lingüística e que sem ela essa estrutura desaparece [...] A Assembleia do “Congresso Internacional da língua Portuguesa no mundo”, realizado em Lisboa em 1983, recolheu, entre outras esta proposta: “I.-Atendendo à situação dos estudos linguísticos, o Congresso reafirma a tese de que o Galego e o Português são normas cientificamente reconhecidas de um mesmo sistema, que engloba as comunidades linguísticas luso-galego-brasileiro-africanas”” (1984.1987, 18-22: 236-238); “A primazia do “espírito de campanário” é exponente de complexo provinciano e rústico; corresponde-se, porém, com o “novo” processo assimilacionista do galego, subsidiário do projecto nacional espanhol, embora os seus promotores revistam os seus textos de separatismo lingüístico, aparente a respeito do castelhano, real a respeito do português, que envolvem em retórica patrioteira inconsistente. Em síntese, constitui umha manobra manifesta para substituir o idioma nacional da Galiza polo espanhol” (1988, 14: 186); “lembraremos que a língua real se pode conceber satisfactoriamente como umha instituiçom em equilíbrio nom estático mas dinâmico e a que só por exigência de estudo se imagina como detida. Isto é, dentro do constante constituir-se ou conformar-se de umha língua histórica, cabe detectar um determinado estado de língua, um momento que, por necessidades de estudo, abstraímos do contínuo devir. E neste momento o que se observa é a existência de “variedades” entrecruzadas que, como variedades, remetem a umha invariante fundamental chamada diassistema. Assim, o que se denomina normalmente “língua espanhola”, “língua galego-portuguesa” e “língua catalá”, som, observadas desde um determinado estado de língua, os diassistemas gerais que presidem aos diferentes sistemas lingüísticos cujas diferenças, vistas desde o respectivos diassistemas, nom som mais que variantes” (1996, 48: 421).
(continua)
Terça-feira, 30 de Novembro de 2010
coordenação de Pedro Godinho
Síntese do reintegracionismo contemporâneo (22)
por Carlos Durão
(continuação)
Higino Martins Esteves: “O til deve ser recuperado porque doutro jeito nom há possibilidade nenhũa de integrar os diversos dialectos galegos. Nom só historicamente no passado, mas também no presente” (2008: 56). “Nom descarto escrever na norma portuguesa em contextos amplos. Só quero reservar-me o direito de usar formas galegas legítimas, que nom diminuem a consolidaçom da língua e enriquecem aos mesmos portugueses, que nelas se reencontram./ A norma AGAL foi e é boa para aproximarem-se os de fora, os que andavam desapercebidos da questom. A norma AGAL oficial de máxima (com til) cumpre-lhe aos que já conhecem e entendem a história. Além desse ponto nom há mais formalizações que a portuguesa, a brasileira e a do Acordo do 90 (2008: 69-70)”.
Leodegário A. de Azevedo Filho: “os caminhos do reintegracionismo são os únicos que podem garantir ao idioma galego a sua própria sobrevivência” (1986, I: 22); “Assim, é rigorosamente a mesma a origem lingüística do galego e do português, não havendo separação entre eles na poesia medieval cultivada pelos trovadores e jograis daquela época. [...] se o galego é um dialeto rural do português, a sua norma culta só pode ser a portuguesa. Afinal, o português de nossos dias não pertence apenas a Portugal [...] a reintegração ou reincorporação total da Galiza no seu mundo lingüístico próprio, mundo de que ela é a própria matriz histórica [...] com ampla e evidente expansão cultural do galego, seria a melhor solução do problema. [...] sem reintegrar-se no sistema luso-brasileiro, num processo de revitalização, jamais conseguirá expressão culta e literária [...] no lugar de recuperação do idioma, talvez seja melhor falar em sua revitalização” (1985.1988, 7-12: 96-110).
Gladstone Chaves de Melo: “É preciso abandonar de vez a idéia naturalista e romântica de que o único artífice das línguas é o povo.[...] só o povo é dono e modelador da língua? Qual povo? [...] concluamos que a língua é a mesma e que podemos, tranqüilos, passar do ‘diassistema’ ao ‘sistema’” (1993, III: 91-92-96); emprega também a expressão “reintegração galego-portuguesa” (1980.1985, 4/5: 41-56).
Sílvio Elia: “Vemos, pois, que para a Profª Henríquez Salido não haveria, a rigor, uma língua galega e sim uma norma-padrão galega, dentro do sistema lingüístico galego-português. A minha posição é a da existência de um sistema lingüístico galego-português, historicamente realizado como “domínio lingüístico galego-português”. Por motivos político-militares, houve, em certo momento da história, uma separação (não cisão) entre o galego e o português [...] Língua, tanto numa perspectiva (sic) estruturalista, quanto um enfoque sociolingüístico, realmente o galego não o é, pois a língua de fato historicamente existente é o galego-português. A questão desloca-se, assim, para o plano cultural, onde, só por extensão, se poderia atribuir ao galego a condição de “língua”” (1993, III: 131).
Evanildo Bechara: “há sempre um descompasso entre o que se pronuncia e o que se escreve [...] O problema se torna mais agudo, quando a língua serve a países diferentes, como é o caso da nossa, que está a serviço de brasileiros, galegos, portugueses e das recentes nações africanas. Não ocorrem complicações maiores, porque a ortografia é fonêmica, e não fonética, isto é, não se preocupa com registar variedades de fala [...] Entretanto, brasileiros e portugueses divergiram em pequenos pontos que agora os governos, pelas suas Academias, e os representantes das jovens nações africanas de língua portuguesa além dos galegos querem ver unificados. Tal intento é perfeitamente exequível, sem se perder de vista que unidade ortográfica não significa conformidade de língua se bem que uma língua histórica não deve ter mais de uma ortografia” (1990/91, 19-28: 49-50). “Falar em reintegracionismo do galego é do ponto de vista lingüístico algo pleonástico porque não se pode reintegrar algo que nunca deixou de integrar. /E do ponto de vista lingüístico o galego é uma vertente desta realidade da língua histórica que se chama língua comum, que é o grande guarda chuva ideal, modalizado pela cultura que abriga todas as variedades lingüísticas de todos os quadrantes geográficos em que essa realidade maior que se chama língua portuguesa é falada e é escrita. /De modo que do ponto de vista lingüístico, o galego nunca se separou do português como uma entidade que pertence a essa realidade histórica que caracteriza uma língua de civilização e de cultura como é o português” (2008).
Salvato Trigo: “O Minho, com suas terras e com suas gentes, reservou, desde muito cedo, lugar na literatura que se exprime neste idioma, que nos moldou o carácter e predispôs a alma de “cavaleiros andantes” em busca do mundo. Idioma, que nos uniu na Galécia, sem nos apagar totalmente os rastos celtas que nos imprimiram o acrisolado amor ao torrão natal de que a saudade é a expressão eloquente. [...] Idioma, em fim, que, apesar de alguns ventos contrários, nos fez reencontrar a nós, galegos e portugueses, nos caminhos da História que os gerou” (1993.1994, 35-40: 31); “[...] um galeguista como eu, que muitas vezes afirmo e sempre assumo a minha galeguidade do sul, de entre Minho e Lima [...]” (1996-1998, 51-58: 203).
José Mª da Costa e Silva: «Portugal e a Galliza falaram sempre a mesma língua; e a historia testefica esta asserção. Todos os antigos escriptores hespanhoes chamam língua gallega, ou língua portugueza, ao idioma das duas nações; d’aqui vem que Macias el Enamorado é contado por uns entre os Poetas Gallegos, e por outros entre os Poetas Portuguezes; daqui vem dizerem uns que El-Rei D. Affonso, o Sábio, escrevêra grande número de cantigas para musica em Gallego, ao passo que outros dizem que foram escriptas em Portuguez, mas a verdade que todos dizem a mesma cousa, usando de denominações differentes./ Mas qual é a razão, perguntará alguem, porque o mesmo idioma apparece tão outro na boca das duas nações de quem elle é a linguagem natural ? A razão é mui fácil de deduzir. Portugal constituio-se reino sobre si, teve, e tem tido independencia, e litteratura; Galliza ficou sempre provincia de Hespanha. Portugal poude por isso cultivar a sua lingua, regularisa-la, opulenta-la com muitos vocabulos latinos, gregos, e de outras nações, apurar a sua syntaxe, e tornar flexivel, e harmoniosa a sua prosodia. Galliza, que nunca teve independencia, nem litteratura propria, não poude fazer outro tanto; os homens sabios, que tem produzido, escreveram em castelhano; a lingua popular circumscripta aos usos caseiros, e ás necessidades do vulgo, foi condemnada a ficar na sua rudeza, e na sua barbarez primittiva; de que só poderá sahir, si por algum caso inesperado tornar a unir-se comnosco» (1850).
(continua)
Segunda-feira, 29 de Novembro de 2010
coordenação de Pedro Godinho
Síntese do reintegracionismo contemporâneo (21)
por Carlos Durão
(continuação)
Joan Coromines fala de “unificação ortográfica galego-portuguesa” (1976, 53: 277-282). Ele já deixara clara antes a sua atitude a respeito da pertença do galego à lusofonia, no seu Diccionario crítico etimológico de la lengua castellana.
Para J.R. Rodrigues Fernandes é “galaico-português” (1978); também emprega o termo “regeneracionismo”; e Ramom Sarmiento trata dos “regeneracionistas” (1984: 163-169), como mais tarde V.R. Fagim e J.L. Valinha (vide infra); curiosamente F. Fernández Rei fala, no entanto, da “postura rexeneracionista que propugna un galego identificado” (1991, 5: 29-40), e “O rexeneracionismo defende a elaboración dun estándar autónomo, dun galego identificado que continúe a tradición literaria contemporánea e que estea próximo á fala viva, pero depurada e modernizada” (2008, 72: 503-526), onde também: “Hai moito tempo que teño ben claro que o galego moderno é unha lingua románica reemerxente, moi afín á portuguesa pero independente dela e, por suposto, independente do castelán, que ocupa o seu teito lingüístico” (por outras palavras: castelão=teito do galego); porém confessa: “Dans une perspective strictement linguistique, nous pouvons admettre que le galicien et le portugais parlés aujourd’hui constituent une seule et même langue abstand” (1993, 6: 89-120); e: “Desde o comezo da romanística científica, coa gramática das linguas románicas de 1836 do alemán F. Diez, considérase o galego un dos dialectos portugueses.” Ainda: “O galego verbo do portugués non é lingua abstand, porque a distancia estrutural entre ambos é escasa, especialmente cando se comparan falas de puntos próximos nas dúas beiras do Miño ou da raia seca; pero si é unha lingua ausbau: o galego moderno é lingua independente do portugués moderno fundamentalmente por razóns sociolingüísticas e literarias [...]/Desde o punto de vista da distancia estrutural poderíase falar dunha soa lingua, aínda que a conciencia xeral dos falantes e da gran maioría dos escritores que están a elaborala desde o Rexurdimento é que se trata de linguas diferentes, estreitamente afíns, pero diferentes./Son linguas porque os seus escritores, os seus lingüistas, as súas institucións e as respectivas sociedades quixeron e queren que sexan linguas, a pesar da escasa distancia lingüística cun idioma veciño, distancia que, por outra parte, non é doado medir, mentres que o grao de elaboración pode medirse” (2008).
Isaac Alonso Estraviz: “Tentar, por tanto, uma ortografia própria para o galego independente da portuguesa, obedece a uma ignorância imperdoável, a um infantilismo linguístico, a um nacionalismo irracional ou a uma manipulação dos servidores do colonialismo para levar a cabo a morte do galego em Galiza” (1987, 18-22: 209); “a normativa do ILG-RAG é uma cópia fonética das variantes populares existentes na Galiza e Portugal. Um afã de querer elevar a rango literário o que é um fenómeno popular e um querer demonstrar-nos que Galego e Português são diferentes. Infelizmente, a normativa do ILG-RAG é a soma de variantes dialectais portuguesas” (1993, III: 61); “O galego não precisa fundir-se com o português [...] pois o galego é português e o português é galego [...] Pessoalmente, sou partidário de aceitar a norma ortográfica portuguesa plenamente, porque ela responde à nossa história comum e porque resolve adequadamente todos os problemas que surgem quando se trata de normativizar o galego. É vantagem que têm as ortografias históricas que, sendo comuns para todos, permitem diversas realizações nas falas comarcais ou individuais [...] Devem-se respeitar, portanto, no relativo a Galiza, as soluções hoje imperantes a respeito da contracção da preposição por e o artigo: polo/pola (própria também dos falares portugueses) frente à padrão portuguesa pelo/pela (ainda que em textos medievais redigidos em território galego fosse tanto ou mais frequente pelo/pela que polo/pola)” (1986, 1: 20-22); “Se se admite que galego e português é o mesmo idioma, não se concebe muito bem o falar umas vezes do português falado na Galiza e outras dos idiomas galego e português, e mesmo do galego, português e brasileiro. Que um galego chame ao português que fala na Galiza galego ainda tem sentido por mero sentimentalismo. Ora para um português será sempre português bem ou mal falado. Para evitar essas incoerências convém falar de Língua, Idioma ou Diassistema ao conjunto de falares no mundo lusófono e falas às distintas variedades locais” (1998, 53: 15); “Todas as particularidades fonéticas e morfológicas que se dão em Portugal, dão-se, em maior ou menor medida, na Galiza. E todas as particularidades existentes na Galiza, existem, em maior ou menor proporção, também em Portugal [...] Por tanto, para mim, trata-se de ressuscitar uma ortografia que também foi nossa, e isto por muitas razões. Entre elas a de escolher uma das normas existentes antigamente, por razões de rentabilidade” (1978, 62: 477-479); utiliza também a expressão “lusistas-reintegracionistas” (1995).
Luís Polanah: “[o galego] Fora das suas fronteiras etnico-políticas (na Galiza) não tem qualquer utilidade nacional e cultural, a não ser de forma muito dispersiva para os naturais que a falam e andam emigrados dentro da Espanha ou fora dela. As suas maiores possibilidades de acolhimento e inserção cultural encontram-se em toda a rota de expansão da língua portuguesa, a começar pelo português que lhe é vizinho. [...] Cabe a Portugal facilitar esse reingresso na comunidade lusófona” (1987, 18-22: 225).
José Saramago: “praticamente falamos a mesma língua” (1989, 2: 20); “a verdade é que o galego não tem outra maneira de defender-se do castelhano, senão aproximando-se do português” (1989, 2: 25).
Eugenio Novoneyra: “Débese de adoutar a ortografía portuguesa –dentro das lindes en que non seia menester atentar contra a nosa peculiaridade— o que dun golpe multipricaría por vinte o número potencial de lectores do libro gallego e situaría a nosa cultura no seu xusto e máis comprido espacio: Galicia, Portugal i o Brasil, un dos estados que poden erguerse no futuro con exemonía mundial” (1961.1990, 24: 491).
(continua)
Domingo, 28 de Novembro de 2010
coordenação de Pedro Godinho
Síntese do reintegracionismo contemporâneo (20)
por Carlos Durão
(continuação)
“Este ibero-románico occidental, dotado dunha unidade sistemática, realiza-se en diversas falas, suxeita-se a distintas normas, e unha destas normas é o galego comun, que, à sua vez, non é outra cousa que un certo sincretismo de variantes coloquiais e literárias que se dan en Galiza. Dentro do portugués hai tamén distintas falas, distintas normas, entre as que figura o portugués normativo, con superior xerarquia político-social, mas para o lingüista unha de tantas manifestazóns dialectolóxicas do galego-portugués” (1986: 224); “Eu neste aspecto son absolutamente ortodoxo. Os heterodoxos son os que discrepan desta tradizón galeguista na que eu estou plenamente incorporado” (1986: 233); “De nada nos serviria que todo o mundo falase e escrevese en galego se ese galego [...] era realmente un castellano agalegado [...] Non abonda con que se fale galego, é que é preciso que ese galego sexa galego, é dizer, que non sexa un produto que con nome de galego nos apresente un dialecto do castellano. Asi que esta é a significazón que ten o esforzo que están realizando muitos intelectuais galegos en pro dunha reintegrazón do noso idioma no seu sistema próprio [...] apesar do decreto de unificazón ditado para impoñer unha normativa oficial, existe un sector importante do país [...] que insisten na necesidade de ter en conta o galego histórico, e que non cren que se poda normativizar e normalizar a nosa língua sobre a base da realidade dialectal dos tempos modernos, que é consecuéncia dun proceso de degradazón do noso idioma, producido por circunstáncias históricas de sobra coñecidas. Entón constitui ao meu xuízo unha cegueira dos políticos que nos governan, induzidos por estudiosos ou técnicos que non posuen a necesária amplitude de espírito para ver o galego cunha conceizón diacrónica, tratar de esmagar a estas persoas, a este grupo que propugna a reintegrazón do galego dentro do sistema ibero-románico occidental; grupo que se ten acreditado como numeroso, como responsável e como ben informado [...] Non me parece correcta a actitude da Administrazón negando, por exemplo, a sua proteczón económica a empresas culturais importantes, polo feito de que a expresón formal ortográfica dos solicitantes deses apoios estexa orientada à reintegrazón do galego ao seio do sistema galego-portugués. En realidade, eses médios económicos [...] son [...] subvenzóns, son bens, cuxo proprietário é o povo galego. E os reintegracionistas, a verdade, cremo-nos parte dese povo galego, e nos parez unha actitude abusiva, absolutamente anti-constitucional, aquela que nos priva de disfrutar dunha proteczón económica que nos parece ser un ben ao que devemos ter acceso todos os galegos” (1986: 239-240). “Então, uma postura de independentismo a ultrança que não reaja devidamente para recuperar o léxico original, substituído pelas aportações castelhanas, e não mantenha o contacto com as restantes realizações do sistema, condena o galego a um isolamento que não é económico, porque o converte numa curiosidade linguística, sem capacidade de difusão, e carente da mínima competitividade para defrontar a pressão do castelhano [...] Para justificar os esforços que se estão a fazer em prol do uso voluntário do galego, é capital apresentar o nosso idioma como variante de um sistema linguístico de uso transcontinental [...] Não sendo assim [...] as possibilidades de persistência do galego como língua normal de Galiza são bastante ilusórias./ O porvir do galego, pois, está na sua coordinação com as demais polas do velho tronco galego-português. Se, segundo querem os separatistas, se obstinasse em permanecer isolado do português, como se não formasse parte do mesmo sistema, as suas probabilidades de sobrevivência seriam escassas, e, a longo prazo, nulas. Haveria eruditos dialectólogos que poderiam continuar estudando o galego, e mesmo poderíamos estabelecer reservas subsidiadas onde se favorecesse a conservação do uso do idioma. […]/ Mas se queremos que o galego seja uma linguagem viva, que possa ser usada a todos os níveis, como língua privada e pública, deveremos reconhecer que, ainda conservando as suas peculiaridades locais, deve ter em conta a marcha geral do sistema. […] O galeguismo, que foi sempre um movimento cultural, ainda que, como é natural, arbitrou uma política ao serviço dos seus ideais, não pode ser hoje tão reacionário que queira paralisar o curso da história, cegando os caminhos pelos que o galego pode recuperar a sua vitalidade. O campo onde os distintos idiomas hão de competir é hoje um campo internacional, e a língua que não possa comparecer neste terreno de jogo, deve retirar-se e esperar a sua desaparição do mundo dos idiomas vivos. O galego não pode subsistir como língua meramente regional, porque essas limitações são incompatíveis com o dinamismo actual dos instrumentos culturais./ [...] As línguas são sempre uma coordenação de falas. Dentro do português há variantes dialectais e crioulos mui importantes. […]/ Por isso consideramos desacertada uma política preocupada por defender o galego da influência do português. A conversão do galego em língua moderna supõe o contacto com o ramo mais afortunado do ibero-românico ocidental, que pode fornecer ao galego encorado e dialectalizado as soluções ajeitadas para a sua actualização naqueles aspectos da sua estrutura que ficaram antiquados ou desfigurados pela pressão do castelhano./ Ao meu juízo, esta reintegração dentro do seu sistema originário do galego, não tem por que supor a substituição das suas formas peculiares pelas do português normativo. [...] Sem prejuízo de que a osmose natural exerça o seu imprevisível papel, devemos partir de que a unidade linguística galego-portuguesa não supõe a uniformidade burocrática. Temos traços fonológicos e morfológicos que não podem ser reprimidos, a reserva do seu destino no livre jogo do intercâmbio cultural. Mas na medida do possível, e sempre que por circunstâncias sócio-históricas não se ponha em perigo a autenticidade das realizações, uma ortografia coordenada deve cobrir a representação escrita da língua comum, como ocorre no caso das demais línguas de cultura./ De resto, na situação especial em que o galego se acha, parece evidente que a utilização de uma ortografia fundada na história do idioma considerado no seu conjunto [...] não poderia ser implantada senão como consequência de um processo que tivesse em conta a preparação do leitor para receber a reforma; [...] Os meios adequados para alcançar o fim constituem um problema privativo dos galegos. Mas o fim está claro: consiste na reintegração da norma galega dentro do sistema natural a que pertence historicamente, e do qual representa uma parte do tronco comum./ Esta política linguística é a propugnada por Castelão quando exprime o seu desejo de que o galego se aproxime ao português até confundir-se com ele. Entendemos: até reintegrar-se no seu sistema natural, até confluir com o português no seio desse sistema, sem prejuízo de manter a sua própria norma, como é o caso do brasileiro. [...]/ As fronteiras políticas não podem impor estranjaria a formas dialectais, ou simples falas, do mesmo idioma. [...]/ Nestas condições, o galego não pode viver de costas ao português, pois o Minho não é uma fronteira linguística, e as falas da Galiza bracarense [...] estão estruturalmente mais próximas às da Galiza lucense que as da Lusitânia originariamente moçárabe./[…] Do que se trata é da restauração da língua do país. Esta seria a língua normal. Não haveria uma língua alta e uma língua baixa. O galego seria língua alta e baixa [...] Mas teriam o galego como língua própria utilizável a todos os níveis, mais tingida de peculiaridades locais no uso interno, mais próxima às formas normativas do português no uso internacional. (1986, 4; 1986: 20)
(continua)
Sábado, 27 de Novembro de 2010
coordenação de Pedro Godinho
Síntese do reintegracionismo contemporâneo (19)
por Carlos Durão
(continuação)
/ O reintegracionismo, portanto, não é outra cousa que aquela doutrina que quer devolver a sua própria natureza ao Galego. [...] Não se pode construir um Galego sobre a base do estado actual do idioma nas camadas populares, porque sabemos que durante muitos séculos foi erosionada a língua oral, única realmente existente, por influência do castelhano. Então se queremos escrever e falar um idioma que não seja um mero dialecto vulgar do castelhano, há que restaurar os tecidos danados. [...] O Galego há de preservar a sua natural essência para o qual há que manter o contacto com as demais normas do sistema. [...] devemos entender que as diversas manifestações do Galego colonial, do galego que se foi expandindo a partir do seu nascimento na Gallaecia, são normas, são Falas, são dialectos que podem contribuir a enriquecer o nosso idioma.[...] Por suposto, todo o mundo sabe que eu professo em matéria de Política Linguística as ideias tradicionais, as ideias de Castelão, e como essas ideias são contrárias às ideias que reinam no mundo oficial, no aspecto cultural, pois, não tenho muito predicamento, ao parecer, dentro dessas esferas. Consideram-me como um herege, como um cismático, ou como um corruptor da mocidade, e se me exclui positivamente dos organismos oficiais. Isto é evidente, ainda que tamém é certo que entre as pessoas que formam parte desse “holding” cultural que hoje nos governa há gentes que conservam um respeito pessoal para mim, alguns mesmo um afecto pessoal, mas é verdade que se me considera um obstáculo para o desenvolvimento duma determinada Política Linguística e se me exclui decididamente em geral do mundo cientificoliterário que está servido por pessoas afectas às ideias reinantes, que são mais bem isolacionistas do que reintegracionistas [...] ensinaria o Galego que existiu historicamente e que existe actualmente, propugnando uma norma ampla que não exclua a nenhum sector que tenha importância sem aplicar uma ditadura linguística que resultaria ridícula” (1987, 18-22: 14-17); “Nom hai, dentro do sistema galego-português, duas normas, senom um material sem normativizar. Mais adiante, impom-se a conveniência de umha ordem, e afastadas politicamente a parte norte e a parte sul do domínio lingüístico, aparecem tendências nom coordenadas, e assi, neste estádio posterior, os elementos comuns vam-se decantando nas suas distintas soluçons, de jeito que hai formas mais usuais em Galiza e formas mais usuais em Portugal. Com o que a distinçom a que se chega finalmente entre galego e português está determinada pola referência electiva entre as diversas formas do sistema para constituir as respectivas normas. O isolamento dos territórios correspondentes por pertencer a distintos reinos, e as influências castelhana e moçárabe correlativamente no norte e no sul, acabárom por gerar umha distinçom que também se dá entre as diversas realizaçons do catalám, e de calquer outro idioma em circunstáncias análogas” (1983.1983: 18-19); “O galego nom nace cando renace a sua expressom escrita no século XIX” (1984: 30); “pode-se afirmar que as modalidades existentes na fala nom apresentam caracteres diferenciais suficientemente marcados para que se atribuam ao galego grupos dialectais. Nom existiriam dialectos, senom falares, dentro do galego. Esta vem a ser a opiniom de Vicente Garcia de Diego (1909), e é umha opiniom correcta [...]” (1978.1981: 121); “Nom estamos isolados” (1983: 122); “Nom estamos sós” (1978.1983: 122); “os dialectos do galego estam fora de Galiza” (1978.1981: 79); “Todos os dialectos podem combinar-se ao escrever em galego” (1978.1980.1983: 25); “o livre jogo das forças normativas dentro do sistema determinaria o futuro do galego reintegrado como língua oral e como língua escrita, como fala doméstica e como instrumento internacional” (1989: 900); “o português é umha garantia de supervivência do galego, porque ainda que nas províncias espanholas esta língua deixasse de usar-se, perviveria na forma meridional” (1981.1983: 34); “Nom é científico mutilar umha língua segundo os limites políticos, pólo que nom podemos aceitar que o galego remate exactamente nos limites com Astúrias, Leom, Zamora, Trás-os-Montes ou Entre-Douro-e-Minho” (1982.1983: 78); “Andar ensaiando soluçons que hai tempo forom contrastadas e seleccionadas polos nossos vizinhos, é jogo pueril ou serril, ditado por umha indiferença ou umha xenreira perante o português, que parece resultado da inoculaçom dum vírus preparado por inimigos da pervivência do nosso idioma” (1979.1981: 19); “É certo que en determinadas reunións de lingüistas, por exemplo a celebrada en Tréveris, à que non asistin, houvo duas ou tres persoas que se permitiron combater asañadamente os meus pontos de vista. En realidade eles son os orixinais. Eu sigo a tradizón, eles son os revolucionários.” (1986: 178); “A miña aportazón a estas normas foi tan particular como xeral; pode-se dizer que as fixen case na sua totalidade. Houvo algunhas observazóns que fixeron outros colegas e que se tiveron en conta. Pero en realidade fun eu o redactor principal destas normas [...]” (1986: 182); “[...] o que era Conselleiro de Educazón e Cultura da Xunta de Galiza naquela época, o profesor doutor Alexandrino Fernández Barreiro, falou comigo e pideu-me colaborazón para problemas técnicos relativos aos problemas lingüísticos. [...] a realidade é que [...] non me pideu informes persoais sobre cuestións lingüísticas, senón que me fixo Presidente dunha Comisón Lingüística que teria que abordar os problemas relativos às formas do galego que para o uso interno, para o uso oficial da Consellaria, terian de adoptar-se.[...] as tres persoas que éramos profesores da Universidade nos reunimos unha série de veces no meu despacho e elaboramos unhas normas, un proxecto de normas, a ponéncia de 1979, que constituian para entón un código de expreson normativa mui satisfactório. [...] A ponéncia, pois, foi aprovada unanimemente [...] se introduzian unha série de recomendazóns, polo que se refere a morfoloxia, que supuñan un esforzo para restaurar determinadas formas do galego histórico que foran esquecidas ou adulteradas pola influéncia castellana. De xeito que agora, dunha maneira expresa, havia unha referéncia, unha remisón ao noso galego histórico; [...] Esta ponéncia pasou logo da Comisón ao pleno, e ali se manifestou, por parte dalguns membros da Comisón, unha tendéncia a manter a ortografia usual de tipo castellano [...] à maioria da Comisón pareceu-lle oportuno deixar abertas as duas posibilidades na maior parte dos casos, de xeito que as normas que entón se adoptaron e que no meu pensamento tiñan por obxecto resolver un problema de réxime interior da Consellaria e de nengun xeito impor-se ditatorialmente ao povo galego [...] Esta posizón que, finalmente, se adoptou, ainda que non era idealmente tan satisfactória como a da ponéncia, posibilitava unha concórdia que foi imposível cando despois que esta Comisón se disolveu [...] as persoas que tiñan influxo na Consellaria ou as instituizóns das que a Consellaria se asesorava, plantearon de novo o problema e o resolveron da forma actual, que, como sabemos, tende a ser unha forma que, no pensamento dos seus propugnadores, ten un carácter dogmático, de forma que quedan excomulgados os que non se ateñen a esta opzón” (1986: 218-220);
(continua)
Quinta-feira, 25 de Novembro de 2010
coordenação de Pedro Godinho
Síntese do reintegracionismo contemporâneo (18)
por Carlos Durão
(continuação)
Ricardo Carvalho Calero utiliza a expressão “iberorromânico occidental” (1975) e “reingresso” (1978.1980); também “galego-português, português ou galego” (1978.1981: 126-127); sobre a história do conflito, diz: “As Normas ortográficas foron aprobadas en xuntanza celebrada o 15 de febreiro de 1970. Dado ese primeiro paso na ordenación do idioma, semellóu chegado o momento de abordar os máis rechamantes problemas de morfoloxía, o que desembocou na aprobación, con data de 4 de xullo de 1971, de Algunhas normas para a unificación morfolóxica da lingua galega. A unha primeira edición das Normas ortográficas do idioma galego seguiu outra conxunta das ortográficas e morfolóxicas. Esgotadas estas edicións, agora aparece a segunda das normas conxuntas (Nota [de Carvalho]: Real Academia Galega, Normas ortográficas e morfolóxicas do idioma galego, segunda edición, A Cruña, 1977. Polo que se refire ás normas ortográficas, ésta é, realmente, a terceira edición) [...] desde que tais Normas foron redactadas [...] semella lóxico, de acordo co espírito e a letra das esposicións que preceden á parte dispositiva, preguntármonos en qué medida poden modificarse, qué dúbidas se nos plantean aínda e qué enmendas procedería seguramente introducir./ Comecemos pola ortografía./ E a primeira dúbida é ésta: ¿resulta tan incuestionábel como en 1970 basearse na ortografía castelá? Téndose estendido, anque insuficientemente, o ensino do galego, non estaremos xa en condicións de encetar a introducción dunha ortografía autónoma? Mais ¿tería de selo dobremente, é decir, con relación ao castelán e ao portugués, ou compriría aprosimala á escrita deste último idioma, entendendo a autonomía ortográfica como reintegración no complexo galego-português? Semella lóxico que algunha forma de coordinación no indumento gráfico dos idiomas xemeos se promova ao seu tempo, pois iso facilitaría á nosa literatura o ascenso dun estatuto de espresión dialectal a unha situación de homologación -sempre falando en termos de grafía- con respeito ás máis variantes do romance occidental. [...] Xa que non estamos sos, e o portugués mantén o x=ks, teríamos que ser consecuentes, e reducir os casos de confusión ou incongruencia adoptando unhas grafías máis etimolóxicas en que o g e o j non fosen escluidos polo x. Exigência sería unha forma admisíbel sobre a base dunha educación escolar que preparase o alumno. [...] a solución do castelán [...] é contraria ás leis fonéticas que rexen a historia do galego e debe escluirse [...] Habería que considerar Galiza como forma máis autorizada, e igualmente restrinxir todo o posíbel aos cultismos modernos e evidentes as formas sufixáis que se mencionan en que tivera de manterse a iode, o que é contrario ao desenvolvimento normal da lingua no seu período constituinte” (1978, 59: 99-102); “A qualificaçom de lusistas, que, com sentido pejorativo ou neutro, dam alguns aos que professam as ideias expostas, nom nos parece feliz, pois do que se trata é de restaurar o carácter puramente ocidental do nosso romance, libertando-o, na medida em que caiba, de contaminaçons centralistas” (1978.1979: 99); “Do mesmo jeito que os diferentes dialectos do castelhano se escrevem coa mesma ortografia, ainda que a pronúncia andaluza, por exemplo, difere consideravelmente da burgalesa, caberia umha ortografia unificada para o ámbito galego-português...” (1982); “Umha língua tam ameaçada como o galego nom pode sobreviver senom apoiando-se nas demais formas do sistema, quer dizer, reintegrando-se no complexo luso-galaico do qual geneticamente forma parte [...] O galego ou é galego-português ou é galego-castelam [...] Umha concórdia ortográfica, quando menos, e umha inteligência na opçom das formas lingüísticas que integrariam, sem prejuízo das peculiaridades do galego, o veículo geral de comunicaçom, seriam indispensáveis./ Deste jeito, seríamos o que somos, voltaríamos a ser o que fomos: o romance mais ocidental, nom esnaquizado em dous anacos isolados, senom reintegrado numha unidade sistemática que nom exclui a autonomia normativa” [...] “Demostrado que o esplêndido isolamento do galego é um suicídio ou um assassinato por asfixia, o sonho anacrónico e utópico dum glego arquidiocesano, cismático, provincial, ou, se calhar, parroquial e agreste, está sendo abandonado polos galegos que se decatam do tempo e do lugar em que vivemos. Da dependência oficial em que nos movíamos lingüisticamente, temos de avançar cara formas mais autóctonas, reintegrando-nos no nosso mundo próprio [...] Alguns demagogos querem manter este estado de alienaçom, e rejeitam como artificiosas as formas restauradas. Comovedora homenagem de ignorância ou fanatismo ao mito do galego popular, se nom se trata de uma maquiavélica manobra encaminhada a fazer impossível a supervivência do galego” (1979.1981: 19-21); “Com diversos matizes, o reintegracionismo propugna a rectificaçom da deriva anómala do galego para o iberorrománico central, cujo arquetipo é o castelhano, e a recuperaçom da órbita natural do sistema [...] Entre os “lusismos” que condenam, figuram estudar, estudante, nervoso [...] e formas léxicas como jornal, ar, termo, janela, só, rédea, rosto, liberdade, até, paixom, começar, sem, estrada, próprio, mas, conhecer, cidade” (1983.1984: 24-25); “Algumas pessoas desinformadas tendem a apresentar-me como um inovador, como um revolucionário polo que se refere ao conceito da nossa língua, mas as minhas opiniões, expressadas naturalmente conforme aos meus próprios parâmetros pessoais, são sem embargo aquelas opiniões, aqueles critérios que tradicionalmente se professam dentro do galeguismo. Uma doutrina revolucionária é, por exemplo, a de que o Galego é uma língua que deve ser considerada absolutamente independente dentro das Línguas da Românica. Isso sim pode ser considerado inovador, ainda que com um tipo de revolução completamente contrário à realidade da experiência histórica [...] eu realmente não creio que se me pode considerar um dos pais do reintegracionismo. Mais bem sou um dos filhos, por que o reintegracionismo nasce cientificamente com o Romanismo, e politicamente com o Galeguismo. [...] a mim correspondeu-me, como a outros colegas e correligionários, precisar consoante as circunstâncias do meu tempo, uma doutrina que explicita ou implicitamente era a doutrina geral do Romanismo e os propugnadores do Galeguismo professavam desde que surgiram à luz. [...]
(continua)
Quarta-feira, 24 de Novembro de 2010
coordenação de Pedro Godinho
Síntese do reintegracionismo contemporâneo (17)
por Carlos Durão
(continuação)
Testemunhos
Sobre os níveis de representação fonológica, precisa o prof. Domingos Prieto: “várias variantes pertencem a uma mesma língua, do ponto de vista fonológico, quando estas variantes compartem a mesma representação morfemática. Pelo demais, as regras fonológicas que projetam o nível morfemático no nível fonemático e fonético, assim como estes dous últimos níveis, podem ser mais ou menos diferentes para cada variante./ Este é o caso das variantes oralmente autónomas do galego-português: todas compartem a mesma representação morfemática do ponto de vista fonológico e se queremos ser coerentes temos que respeitar esta mesma representação graficamente. Pouco importa que cada variante em particular tenha níveis fonemáticos e fonéticos diferentes das outras variantes; as regras próprias a cada uma delas permitem-lhes passar sistematicamente do nível morfemático ao nível fonemático e fonético, e estas regras e estes níveis não têm porque figurar no sistema ortográfico” (1985, 4/5: 82-83); “O rendimento dum sistema de comunicação mede-se pela sua capacidade em representar sistematicamente todas as palavras (e não as variantes das palavras) com um número limitado de símbolos gráficos. Para consegui-lo o sistema representa unicamente os traços idiossincráticos de cada palavra (os traços que não podem ser derivados por meio de regras fonológicas [...]). Os traços que não são idiossincráticos (que podem ser derivados por regras) não têm porque ser representados./ Em concreto, as palavras podem mudar de forma segundo a sua posição na oração (por exemplo a preposição a contrai-se com outras palavras dando lugar a formas muito diferentes [...]) mas todas estas formas podem ser derivadas pelas regras inerentes ao galego e não têm porque ser representadas graficamente (assim representar as palavras ao como ó ou ò, não somente é uma redundância [...] mas também deformação gráfica inútil da nossa língua” (1987, 11-12: 46-47); “A hegemonia do Sul sobre o Norte depois da separaçom da actual Galiza e de Portugal, traduziu-se logo na hegemonia lingüística do dialecto colonial sobre o dialecto metropolitano, como actualmente se poderia traduzir, seguindo esta mesma lógica, na hegemonia lingüística do brasileiro sobre o português comum europeu, sobre o galego, etc.” (1989, II: 292).
Testemunho do Presidente de Honra das Irmandades da Fala da Galiza e Portugal, e derradeiro das IF históricas, Jenaro Marinhas del Valhe: “ouvi-lhe comentar ao querido e admirado Filgueira Valverde que os galegos soemos topar mais dificuldades em aprender a falar bem o português que os próprios castelhanos. Isto é certo: nom aprendemos a falá-lo bem porque já o falamos; mal, pero já o falamos; igualmente que andaluzes e estremenhos que podem pronunciar correctamente inglês ou francês, nom conseguem aprender a falar bem o castelhano: é porque já o falam; mal, pero já o falam” (1985, 1: 38); “Já não se trata, portanto, de irmanarmo-nos numa fala, trata-se melhor de irmanar diversas falas, as diversas falas que têm por padrão a língua portuguesa” (1993, 29-34: 16).
(continua)
Terça-feira, 23 de Novembro de 2010
coordenação de Pedro Godinho
Síntese do reintegracionismo contemporâneo (16)
por Carlos Durão
(continuação)
Entre os comunicados das delegações no Rio estava este: “As delegações de Angola, Cabo Verde, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, e Brasil ao Encontro de Unificação Ortográfica da Língua Portuguesa, realizado no Rio de Janeiro, na Academia Brasileira de Letras, de 6 a 12 de maio de 1986, agradecem o assíduo comparecimento às suas sessões dos observadores da Galiza, escritor José Luís Fontenla, professora Adela Figueroa e professor Isaac Alonso Estravís, em representação do professor Ernesto Guerra da Cal, bem como do observador da União Latina, professora Rogéria Cruz./ Rio de Janeiro, 12 de maio de 1986”; assinavam, por Angola, a professora Maria Luísa Dolbeth Costa, por Cabo Verde o embaixador Corsino Fortes, por Moçambique o professor Luís Filipe Pereira, por Portugal o professor Manuel Jacinto Nunes, por São Tomé e Príncipe o professor Albertino Homem dos Santos Sequeira Bragança, e pelo Brasil o acadêmico Austregésilo de Athayde. (Pode ver-se a reprodução facsimilar na p. 127 de “O Acordo Ortográfico e a Lusofonia”, Volume III de Linguistica, Sociolinguistica e Literatura Galaicolusobrasileira e Africana de Expressão Portuguesa, Fundação Europeia Viqueira, Instituto de Estudos Lusogalaicos, Temas de O Ensino, nos 11-13, Ponte Vedra-Braga, 1987. Foi, em parte, a instâncias dos “observadores da Galiza” que se incluiu a participação dos PALOP nas negociações do Acordo). E no “Protocolo do Encontro de Unificação Ortográfica da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro, de 6 a 12 de maio de 1986”, há ainda esta referência implícita à Galiza: “sem referir em particular outras comunidades que têm na lingua portuguesa seu vernaculo” (ponto 4.4, p. 108, op. cit.). As IF decidiram a partir de então empregar a ortografia desse Acordo nas suas publicações.
Cria-se no 1989 (27 maio) em Ponte Vedra a Fundação Europeia Viqueira, Instituto Internacional da Lusofonia, um de cujos fins é defender “a unidade estrutural da lingua e a sua unificação grafica numa norma padrão” (art. 6o dos Estatutos), ligada às IFGP.
As IF enviaram uma delegação observadora às sessões de debate do Acordo Ortográfico em Lisboa, em outubro de 1990, na Academia das Ciências de Lisboa, no Salão de reuniões internacionais. J.L. Fontenla e A. Gil Hernández formavam parte da Comissão para a Integração da Língua da Galiza no Acordo da Ortografia Unificada; A. Houaiss assinou (com Nélida Piñon) pelo Brasil, como Secretário da Academia Brasileira de Letras, o comunicado que, em nome dos Estados lusófonos, anunciava o Acordo da Ortografia Unificada de 1990, que rezava: “As delegações de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, S. Tomé e Príncipe e Portugal com a participação de uma delegação de observadores da Galiza, reunidas em Lisboa…” (em I Congresso Internacional de Literaturas Lusófonas, NÓS, Revista da Lusofonia, Ponte Vedra-Braga, 1990/91, nos 19-28, entre pp. 470 e 473; e no Diário da República – I Série-A, no 193, 23-8-1991, p. 4370, publica-se a Resolução da Assembleia da República no 26/91, aprovando o Acordo para ratificação, e mais uma vez mencionando: “com a adesão da delegação de observadores da Galiza”, ibid. Na Rede: http://www.priberam.pt/docs/Acortog90.pdf); na sua Base XI 2o a), o Acordo inclui as palavras galegas “brêtema” e “lôstrego” entre 19 exemplos de proparoxítonas com vogal tónica fechada, introduzidas em sessão de manhã do 11, redigindo o secretário da Academia Brasileira prof. A. Houaiss, e intervindo Malaca Casteleiro, Albertino Bragança, Lindley Cintra, H. Pereira da Rocha, J.L. Fontenla, Costa Ramalho, Tiago Oliveira, Gil Hernández e M. Veiga (“O Acordo Ortográfico 1990 - Crónica de uma semana de 5 dias”, J.L. Fontenla, II Congresso Internacional de Literaturas Lusófonas, revista NÓS, nos 35-40, 1994, pp. 130-131). As IF decidiram a partir de então empregar a ortografia desse Acordo nas suas publicações.
O diretor do Instituto da Lingua Galega, A. Santamarina, declarou a La Voz de Galicia (em 17 janeiro 1991) que o Acordo assinado em Lisboa não tinha interesse para a Galiza.
Em 17 de maio de 2001, em reunião em Braga, as IFGP decidiram que a sua norma ortoépica fosse a do português “nortenho”; na terminologia de C. Cunha e L. Cintra: “dialectos galegos e dialectos portugueses setentrionais” (na "Nova proposta de classificação dos dialectos galego-portugueses", Boletim de Filologia, Centro de Estudos Filológicos, Lisboa, XXII, 1971, pp. 81-116), donde provêm os textos mais antigos do galego-português; marcando bem os ditongos “ou” e “ei”, com "-l" alveolar e não velar, e/o tónicos abertos diante de nasal, pronúncia de a/e/o pretónicos, conservando o e fechado diante de palatal,“r” forte, vibrante múltiplo alveolar e não uvular, e mais palavras ou grafias patrimoniais: ou seja uma norma culta interdialetal e transtópica não ligada a Lisboa.
(continua)
Segunda-feira, 22 de Novembro de 2010
coordenação de Pedro Godinho
Síntese do reintegracionismo contemporâneo (15)
por Carlos Durão
(continuação)
No 17 de agosto de 1985, aniversário da sua fundação, tiveram lugar em Ponte Vedra sessões de trabalho da Assembleia das IF, nas que o principal tema debatido foi a postura a respeito da terminação –ão, havendo total acordo no seu emprego quando derivado do lat. –anum: irmão, -ã, -ãos, -ãs, postura “maximalista” na altura, defendida por C. Durão e I.A. Estraviz para todos os casos, como também no sistema verbal etc. (como já vinham praticando em público nos derradeiros meses, e nalguma correspondência privada antes (1977, 1978, 1983; “Para nós o urgente é a unificação ortográfica definitiva...” [carta de C. Durão a J.L. Fontenla, 15 maio 1984]; “[...] Martinho [...] concorda que de dar os passos ao máximo, o qual nos parece muito bem, haveria que empregar til...” [J.L. Fontenla a C. Durão, 15 outubro 1984]; “Se nos criticam por informaçom, polo menos que nos critiquem por informação” [C. Durão a J.L. Fontenla, 23 outubro 1984]; “A Galécia não pode ter dous sistemas ortográficos, por próximos que sejam. Pode, isso sim, ter, e de feito tem, várias falas ou falares, a uma e outra beira [...] O único “sacrifício” para nós é aceitar ão para om, am. Mas podemo-lo incluir em dicionários, etc., entre parênteses, e fazer notar que a pronúncia om é quando o plural é ões, e am quando ães” (id., 31 outubro 85; sublinhados do autor); de facto, já desde o princípio (começo dos anos 70) das comunicações entre os que mais tarde fundariam as IF, para eles era alvo definitivo a reintegração total, mas atinham-se, por disciplina, às decisões dos coletivos a que pertenciam).
Houve uma solução de compromisso quanto a –anem: pão, -am, -ães, e –onem: ladrão, -om, -ões, segundo a zona de quem redigir, p.ex. -ães, -ões, como típicas do galego oriental; para os títulos de publicações, etc., recomendava-se já prescindir do –om: p.ex. em “Associação”. Constatou-se a importância do chamado “sesseio” (ausência de thetacismo), concordando-se em aceitar a pronúncia de cada quem segundo a sua zona, embora tratando de evitar o chamado “ceceio” (thetacismo), por suspeito de castelhanismo. Em todo o caso concordou-se em grafar com “s” palavras como “sapato”, “Leres” e afins, como propugnava o Seminário de Estudos Galegos. A respeito do nome da língua concordou-se em ser galego-português, sem menoscabo das formas singulares galego ou português quando referidas às variedades comarcais ou à língua comum universal, respetivamente. Nos casos não tratados, ou duvidosos, aceitou-se provisoriamente a solução do Prontuário das IF, deixando uma maior precisão para uma próxima edição, seguindo o critério dos níveis de representação fonológica do professor Domingos Prieto. Finalmente acordou-se que seria do maior interesse para a Galiza a presença nas deliberações do próximo Acordo ortográfico luso-brasileiro (apontamentos do “Acordo de unificação ortográfica galego-portuguesa”, tirados do livro das Atas das IF e de notas dos assistentes àquelas sessões; vide Fontenla, 1986, p. 68, notas 35 e 36).
As IF enviaram, por convite, uma delegação observadora às sessões de debate do Acordo Ortográfico da Ortografia Simplificada no Rio de Janeiro na Academia Brasileira de Letras, em maio de 1986. Formavam parte da delegação J.L. Fontenla, Adela Figueroa e I.A. Estraviz; a “Comissão para a Integração da Língua da Galiza no Acordo da Ortografia Simplificada” fora constituída em 1985 em Ponte Vedra, no IV Encontro Internacional da Língua Galaico-Portuguesa, de 6 a 7 de dezembro de 1985, sob a presidência do prof. Dr Fernando Alves Cristóvão, o prof. Dr Carvalho Calero e o prof. Dr Luís Polanah, do que saiu um acordo pelo que se decidia “que fiquem autorizados os representantes das entidades convocantes do IV Encontro Internacional da Língua Galaico-Portuguesa para promover a constituição de uma Comissão, cuja finalidade seja a de iniciar relações com a Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras de Rio de Janeiro, para a intervenção na revisão do Acordo Ortográfico” (Fontenla, 1986, p. 68, nota 36). Foi Presidente de Honra Ernesto Guerra da Cal (que já participara, como galego, no I Simpósio Lusobrasileiro sobre a Língua Portuguesa Contemporânea na Universidade de Coimbra em 1967, como antes no IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros na Baía em 1959), e vice-presidentes J. Marinhas e V. Paz-Andrade; secretários Â. Brea e A. Gil Hernández; vice-secretários J.L. Fontenla e I.A. Estraviz; membros C. Durão, T. Feliz, A. Figueroa, J.M. Montero Santalha, J. Paz, J.J. Santamaria, X. Vilhar Trilho; assessores Herculano de Carvalho, Amadeu Torres, Rosa Sil Monteiro, Orlanda Marina Correia, F. Soares, Pires Laranjeira, Cristina Mello; foi depois “Comissão para a Integração da Língua da Galiza no Acordo da Ortografia Unificada” (1990), e posteriormente “Comissão Galega do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa”, com pessoalidade jurídica.
(continua)
Domingo, 21 de Novembro de 2010
Síntese do reintegracionismo contemporâneo (14)
por Carlos Durão
(continuação)
No 1982, no 17 de agosto, Dia da Galiza Mártir, são (re)fundadas as Irmandades da Fala (na Rede: http://www.lusografia.org/ifgp/), continuação das IF históricas (de 1916), inclusive do ponto de vista jurídico, pois herdaram o seu nome registado (Ministério do Interior, Direção Geral de Política Interior, Associações, Madrid, Ofício de 20 julho 1983, registo de saída no 3430, pelo que se legaliza) e com elas entroncaram por meio de Jenaro Marinhas del Valhe, “por ser eu o último representante vivo da primeira Irmandade da Fala fundada na Galiza” (1993, 29-34: 15). “As Irmandades da Fala estabelecem como fins: ‘A recuperação etimológica e reintegracionista da língua galega como variante em pé de igualdade com as restantes variantes do mesmo sistema linguístico [...] Combater por todos os meios a contaminação linguística do idioma galego, a nível ortográfico, fonológico, morfológico, sintáctico, semântico e léxico para desterrar o castrapo ou patois da língua galega e conseguir a sua plena normalização cultural, política e social [...]” (1986, 6/10: 66). Foi eleito Presidente J.M. Montero Santalha. Editam as revistas Cadernos do Povo, NÓS, O Ensino, Temas de O Ensino, e obra literária. Publicam um Prontuário (1984, 2/3) que perfilou as suas linhas ortográficas gerais “avançadas”, p.ex. grafar “Castelão” com til, e em geral o emprego do til onde correspondia segundo o critério então adotado, que incluía as terminações em -ões. Daquele prontuário foram tiradas as palavras “brêtema” e “lôstrego” incluidas na Base XI 2° a) do Acordo da Ortografia Unificada. As IF realizam vários congressos e simpósios internacionais de linguística e sociolinguística, como o I Simpósio de Lingüística e Sócio-Lingüística sobre aculturaçom, normalizaçom e normativizaçom das IF, nas VIII Jornadas do Ensino de Galiza, Ourense, agosto 1984; Jornadas do Ensino, Escolas de Verão de Galiza e Portugal, Viana do Castelo, setembro 1985; II Encontro Lusogalaico de Escritores, Melgaço, agosto 1986; V Encontro Internacional da Língua Galegoportuguesa, Vigo, março 1987; I Simpósio Internacional de Linguística e Sociolinguística Galaico-Portuguesa das IF, 1988; II Simpósio Internacional de Linguística e Sociolinguística Galaico-Portuguesa das IF; Congresso Internacional de Língua, Cultura e Literaturas Lusófonas (Homenagem a Ernesto Guerra da Cal), Santiago, 15-17 setembro 1994; I Congresso Internacional de Literaturas Lusófonas em Homenagem a Rodrigues Lapa, Celso Cunha e Carvalho Calero, setembro 1991, Santiago (NÓS, Revista da Lusofonia, Ponte Vedra-Braga, 1990/91, nos 19-28); II Congresso Internacional de Literaturas Lusófonas, setembro 1993, Santiago (NÓS, 1994, nos 35-40); III Congresso Internacional de Literaturas Lusófonas, setembro 1995, Santiago (NÓS, Revista Internacional da Lusofonia, Ponte Vedra-Braga, 1995, nos 45-50); Congresso Internacional ‘A Língua Portuguesa no Mundo’[...], setembro 1992, Santiago (NÓS, Revista da Lusofonia, Ponte Vedra-Braga, nos 29-34, 1993); IV Congresso Internacional de Língua, Cultura e Literaturas Lusófonas: Galiza, Portugal, Brasil, Palop-Timor, 13-15 setembro 2000, Santiago de Compostela, junto com as IF da Galiza e Portugal e a Associação Galega de Escritores (AGE); I Encontro Internacional da Lusofonia, Casa do Brasil, Madrid, setembro 1988, organizado pelas IF da Galiza e Portugal, com presença do embaixador da República Federativa e vários adidos culturais de embaixadas de países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Entre as Conclusões: “Deve definir-se quanto antes uma politica lusofona em defesa da lingua que é oficial ou cooficial na Galiza, Portugal, Brasil e 5 paises africanos lusofonos” (“Conclusões do I Encontro Internacional da Lusofonia, p. 169, revista Temas de O Ensino, nos 14-20, A lusofonia, unificação ortografica e politica linguisticocultural, Vol IV-V, 1989; a ortografia das Conclusões é a do Acordo de 1986, não vigorado). A partir daí as IF começaram a utilizar sistematicamente as expressões "lusofonia" e "lusófono" nas suas publicações, embora já utilizaram antes o termo “lusofonia”.
Participam em colóquios internacionais, encontros internacionais da língua, de escritores, etc. Posteriormente foram inscritas em Portugal como Irmandades da Fala da Galiza e Portugal (8 julho 1991, Cartório Notarial de Braga, sendo o seu presidente J.L. Fontenla; tinha uma Seção de Escritores em Língua Galegoportuguesa). Dirigiram, participaram ou colaboraram nos seus congressos e publicações Mª Rosa da Rocha Valente Sil Monteiro, J.L. Pires Laranjeira, Cristina de Mello, Salvato Trigo, Américo Diogo, Inocência Mata, Evanildo Bechara, Herculano de Carvalho, Mário Soares, C. Reis, L.A. de Azevedo Filho, L. Lindley Cintra, Malaca Casteleiro, M. Vilela, E. Estrela, M. Rodrigues Lapa, J. Coromines, A.A. Lindeza Diogo, F. Mendonça, Lopito Feijóo, Arsénio Mota, G. Chaves de Melo, A. Margarido, R. Jakobson, C. Ferreira da Cunha, Filomena Cabral, Beatriz Weigert, Amadeu Torres, L. Polanah, J.J. Letria, N. Freire, J. de Montezuma de Carvalho, E. Guerra da Cal, A.G. Vessada, J.L. Valinha Reguera, Jenaro Marinhas, R. Carvalho Calero, Mário J. Herrero Valeiro, C.Á. Cáccamo, Á.J. Vidal Boução, Ll. Aracil, A. Gil Hernández, D. Prieto, J.C. Rábade Castinheira, V. Paz-Andrade, M. Cupeiro Frade, I.A. Estraviz, A. Figueroa Panisse, A. Marco, A.S. Porto Ucha, T. Feliz Murias, J. Torres Santomé, J. Paz Rodrigues, J.M. Montero Santalha, J.J. Santamaria Conde, J.L. Iglésias, C. Vidal Bouzón, J.R. Rodrigues Fernandes, J.L. Franco Grande, H.M. Rabunhal Corgo, Iolanda R. Aldrei, P. Palomo Branco, J.Â. Cristóvão Angueira, Â.J. Brea Hernández, X. Vilhar Trilho, C. Durão.
Em colaboração com as IF, a AS-PG organiza as "Jornadas do Ensino" (antes "Xornadas do Ensino"); as IF estiveram ligadas à "Associaçom Sócio-Pedagógica Galega" (que publicou “Orientaçóns para a escrita do noso idioma” (agosto 1982, reelaboradas sobre as “Orientacións para a escrita do noso idioma” de 1979-1980) e várias Unidades Didáticas); depois de uma cisão, esta passou a ser "Associação Sócio-Pedagógica Galaico-Portuguesa".
(continua)
Sábado, 20 de Novembro de 2010
Síntese do reintegracionismo contemporâneo (13)
por Carlos Durão
(continuação)
A AGAL realizou vários congressos internacionais, o primeiro em Ourense, em setembro de 1984: I Congresso Internacional da Língua Galego-Portuguesa na Galiza. A presidência de honra estava integrada por Ricardo Carvalho Calero, Ernesto Guerra da Cal, Manuel Rodrigues Lapa, Óscar Lopes, Leodegário A. de Azevedo Filho e Celso Ferreira da Cunha. Entre as pessoalidades não galegas que contribuíram figuravam Salvato Trigo e Luciana Stegagno Picchio. Também Sílvio Elia, Mª Helena Mira Mateus e Pires Laranjeira. O oficialismo tentou impedir a realização do evento, dirigindo-se ao Presidente da Câmara de Ourense, mas sem consegui-lo. Contudo, em certa altura X. Alonso Montero conseguiu entrar na sala e falar com Stegagno Picchio. A seguir, ela fez a sua intervenção num bom português padrão, mas iniciou-a com umas palavras propositadamente “em galego”, melhor dito: em português acastrapado, com muitos -ción, thetacismo, etc., e ainda se permitiu fazer algumas referências pouco nobres às ideias linguísticas de Carvalho Calero (que não estava presente). Coincidência?
Nas Conclusões, “O Congresso reafirma que as duas formas do galego e do português constituem um mesmo sistema lingüístico, umha mesma língua” (“Conclusons”, I Congresso Internacional da Língua Galego-Portuguesa na Galiza, Actas, p. 815, AGAL, 1986). O II Congresso Internacional da Língua Galego-Portuguesa na Galiza teve lugar em Compostela, em setembro de 1987. A presidência de honra estava integrada por Ricardo Carvalho Calero, Ernesto Guerra da Cal, Manuel Rodrigues Lapa, Óscar Lopes, Leodegário A. de Azevedo Filho, Celso F. da Cunha, Sílvio Elia, Joan Coromines, Fernando Cristóvão, Gladstone Chaves de Melo e Jenaro Marinhas, com comunicações de E. Coseriu, Fátima Mendonça, J.L. Álvarez Enparantza (Txillardegi), J.Mª Sánchez Carrión (Txepetx), Luciana Stegagno Picchio e José Saramago. Atas publicadas no 1989.
O IV Congresso Internacional da Língua Galego-Portuguesa na Galiza realizou-se em Vigo em outubro-novembro de 1993. Teve contributos, entre outros, de Stegagno Picchio, Evanildo Bechara, Sílvio Elia, Leodegário A. de Azevedo Filho, Gladstone Chaves de Melo, e E. Coseriu. Atas publicadas no 1996.
(continua)
Sexta-feira, 19 de Novembro de 2010
Síntese do reintegracionismo contemporâneo (12)
por Carlos Durão
(continuação)
Em 1981 funda-se a Associaçom Galega da Língua (no do registo de saída do serviço de associações no 3962; na Rede http://www.agal-gz.org/), em 9 junho 1981, legalizada em 2 outubro no Ministério do Interior; assembleia fundacional em Santiago, 31 outubro; dela foi primeiro presidente Xavier Alcalá, depois Mª do Carmo Henriques Salido (6 novembro 1982; depois Bernardo Penabade, Alexandre Banhos e Valentim R. Fagim); “tem por objectivo fundamental conseguir uma substancial reintegraçom idiomática e cultural do galego (nomeadamente nas suas manifestaçons escritas), na área lingüística e cultural que lhe é própria: a galego-luso-africano-brasileira” (artigo 4 dos Estatutos; revista Agália, no 1, 1985, pp. 91-95); a sua “Comissom Lingüística é um órgao de carácter técnico [...] que tem como missom: a) propor as medidas de normativa idiomática reintegracionista que ham de ser submetidas à sançom do Conselho [...]” (artigos 24 e 25 dos Estatutos). No entanto, em toda a sua trajetória linguística manteve sempre uma opção diferencialista (nomeadamente a terminação -om nos derivados de -onem, e -am nos de –anem, algumas formas verbais, etc.). Foi convidada às sessões de debate do Acordo Ortográfico no Rio, 1986 (vide carta da Comissão para a Integração da Língua da Galiza no Acordo da Ortografia Simplificada, 12 dezembro 1985, pp. 80-81, revista NÓS, nos 2/3, 1986), e em Lisboa (1990), mas nas duas ocasiões manteve-se à margem (numa assembleia de Rianjo, em janeiro de 1985, decidiu não participar). A sua Comissom Lingüística apresenta um longo arrazoado para justificar a sua posição de ficar à espera: “a sua adopçom por parte dos galegos poderia acarretar na actualidade bastantes dificuldades” (“Sobre o acordo ortográfico”, revista Agália, no 8, inverno 1986, p. 460). Mais adiante especifica “que as propostas das ‘Bases de 1988’ da Academia das Ciências permitem a unificação [sic] gráfica da nossa língua numa [sic] só norma padrão [sic] e reforçam a sua unidade estrutural, atendendo tanto à história, quanto aos estados atuais [sic] da língua, evitando assim [sic] a sua desagregação [sic]” (“Acordo ortográfico para a lusofonia: Mais umha vez”, revista Agália, no 17, 1989, p. 104; do “Parecer” enviado pela Comissom à Academia das Ciências de Lisboa em 30 janeiro 1989). Noutro parecer (em 29 junho, acerca do Anteprojecto do Acordo Ortográfico) diz: “todos aqueles intentos que visem conseguir umha ortografia comum, pondo de parte as variantes inerentes a todo sistema lingüístico, som valorizados de forma muito positiva por esta comissom” (“Acordo ortográfico para a lusofonia”, revista Agália, no 18, 1989, p. 261, com facsímile). No “Relatório da Comissom Lingüística” diz-se: “só é defendível a inclusom do til de nasalidade nos casos em que se representaria a grafia tradicional (irmão, irmã, irmãos, capitães, corações) e nom nos restantes” (“Relatório da Comissom Lingüística”, revista Agália, no 19, 1989, p. 369); e mais adiante limita-se a fornecer infomação sobre o Projecto da Ortografia Unificada de 1990 (“Acordo ortográfico para a lusofonia (e II)”, revista Agália, no 24, 1990, pp. 492-512; por gralha diz “lousofonia”...), e inclui facsímile de um artigo onde diz: “La Agal argumenta que no lo asumirá mientras no sea realidad y funcione con normalidad en los 7 países soberanos” (1991) (onde também: “Antón Santamariña, director del Instituto da Lingua Galega (ILG), cree que lo firmado en Lisboa no tiene interés para Galicia”). Finalmente, o ditame da Comissom Lingüística é: “a prudência que aconselha a particular situaçom linguística [sic] da nossa comunidade na Galiza, leva-nos a adiar as repercussons do Acordo na nossa praxe ortográfica até o momento em que este for unanimemente efectivizado” (“Relatório da Comissom Lingüística a respeito do ‘Acordo Ortográfico’”, revista Agália, no 31, 1992, p. 411; negrito no original). Posteriormente acordou assumir o Acordo quando Portugal o ratificasse, mas não o fez. A Comissom Linguística continuou a prometer novidades e, no 2010, numa “Atualizaçom” (http://www.pglingua.org/index.php?option=com_content&view=article&id=2324:a-proposta-reintegracionista-actualiza-se-conforme-o-acordo-ortografico-da-lingua-portuguesa-de-1990&catid=20:info-agal&Itemid=59), decidiu afinal adotar o AO, porém mantendo a sua peculiar norma ortográfica.
A AGAL editou primeiro um Boletim e depois a revista Agália (1o no no 1985), que teve um suplemento: O máximo. Ao longo dos anos teve prestigiosos contributos de fora da Galiza: E. Guerra da Cal, E. Coseriu, E. Bechara, G. Chaves de Melo, J. Coromines, L.A. de Azevedo Filho, M. Rodrigues Lapa, Sílvio Elia, Amadeu Torres, Lluís Aracil, Yvo J.D. Peeters, V. Pitarch, Dónall O’Riagain, J.L. Pires Laranjeira, J.M. Sánchez Carrión; e de dentro: J. Marinhas, R. Carvalho Calero, I.A. Estraviz, C.Á. Cáccamo, M.J. Herrero Valeiro, A. Banhos, J.M. Beiras, A. Brea, A. Cristóvão, M. Cupeiro, C. Durão, C. Garrido, J. Nogueira Gil, A. Gil Hernández, Fuco Gomes, Joel Gomes, L. Gonçales Blasco, J. Guisam Seixas, Mª do C. Henriques Salido, C. Garrido, C. Lopes Garrido, R. Lopes-Suevos, M. Maria, H. Martins Esteves, J.M. Montero Santalha, J.M. Monterroso Devesa, Camilo Nogueira, I. Padim Cortegoso, B. Penabade, J.H. Peres Rodrigues, D. Prieto, J.C. Quiroga, J.C. Rábade, H. Rabunhal, V. Rodrigues Fagim, J.R. Rodrigues Fernandes, J.L. Rodrigues, J.J. Santamaria Conde, J.A. Souto Cabo, E. Souto Presedo, R. Varela Punhal, F. Vasques Corredoira, J. Vilhar Trilho, X. Alcalá e outros.
Publicou um Prontuário ortográfico (1985), um Guia de verbos (1989), e um Estudo Crítico (vide supra), além de outras obras académicas e literárias. Membros da AGAL participaram em encontros com representantes do oficialismo (por exemplo os Encontros Labaca, em 1983; vide: “Que galego na escola?”, Eds. do Castro, 1984). De um “Encontro Nacional sobre a normalización lingüística”, no 1986, surgiu a “Mesa pola Normalización Lingüística”.
(continua)