Luis MoreiraEm entrevista ao
DN, José Sócrates vem dizer que "Tenho muita esperança que o Manuel Alegre ganhe as eleições presidenciais." Ora, foi por não pensar assim que Alegre não ganhou as últimas eleições Presidenciais e que deram a vitória a Cavaco Silva. Nessa altura Sócrates, fez tudo para evitar a vitória de Alegre lançando na corrida um octogenário, Mário Soares.
A que se deve a reviravolta, sabendo nós que as sondagens dão a vitória à primeira volta a Cavaco Silva? Se tivesse a certeza ou pelo menos a esperança de continuar a governar, Sócrates não faria tal afirmação, outros no PS a fariam por ele. A razão é que Sócrates sabe, que o eleitorado ao dar a vitória a Cavaco Silva espera uma decisão. A demissão do governo e novas eleições de onde sairá um novo arranjo democrático.
Se assim for, Sócrates verá a sua liderança, mesmo dentro do PS, contestada o que enfraquecerá a sua posição perante o eleitorado, já por si muito enfraquecida pelas medidas que tomou e cujos desastres sociais serão evidentes em 2011.
Encontrará ,Cavaco, razões substantivas e constituicionais para avançar para a demissão do governo ? Constituicionais tem com fartura desde logo porque num ambiente social tão dificil, um governo minoritário não tem condições de o enfrentar com a legitimidade necessária. Substantivas porque por muito menos e numa situação muito menos dificil Sampaio demitiu um governo.
É então certo que Cavaco demitirá o governo? Tenho-o como certo, não só porque tudo indica que o PS verá a sua base de apoio muito reduzida (o que vai dar outra razão a Cavaco) mas porque e, tal como já o afirmei aqui no estrolabio, o cavalo do poder raramente passa duas vezes à mesma porta. E, com Cavaco Silva em Presidente e com uma maioria PSD+CDS, a influência de Cavaco Silva crescerá exponencialmente.
A eleição de Cavaco só terá razão de ser se avançar para eleições antecipadas, e mesmo quando afirma que é preciso estabilidade e que a chave está no Parlamento, ao contrário do que se poderá ler, prepara as razões que utilizará para tomar a decisão "bomba atómica" dos seus poderes. Um Parlamento com um PS diminuído e uma maioria aritmética do PSD e do CDS. A estabilidade e o Parlamento estão, então, conformes à coerência do que afirma agora e afirmará depois.
Estamos no reino da previsão e das leituras antecipadas e, valem o que valem, em Democracia são as eleições que ditam as regras, mas esta afirmação de Sócrates de apoio a Alegre, mostra um político sem saída, um político avesso a recuos e a consensos, mesmo com os seus, a aceitar o inevitável depois de ter esticado a corda até ao limite para vir a apoiar Alegre, declaradamente e ele próprio.
Veja-se que em termos de políticas, Sócrates já veio encostar-se ao que Cavaco preconizou quando veio afirmar que a sua agenda passou a ser o aumento das exportações, requalificação urbana e inovação, abandonando assim a prioridade dada aos megainvestimentos, os quais tiveram sempre em Cavaco um opositor.
Duas visões opostas do país, duas soluções, duas prioridades vão estar em confronto nas Presidenciais . Uma na figura de Cavaco Silva, outra na figura de Alegre preenchendo o vazio que o impedimento de Sócrates determina. A política é extraordinariamente rica em cenários que ultrapassam a imaginação de qualquer um. Quem diria que a sorte de Sócrates estaria agora nas mãos de Manuel Alegre?
O que dirá Sócrates aos assessores que o aconselharam a apoiar Mário Soares, travando Alegre e, assim, terminar com a sombra tutelar de Soares? Uma vitória de Pirro. A vingança de Alegre, está longe de ser " o vento que passa"!