Sábado, 29 de Janeiro de 2011

Artexto - texto de Josep Anton Vidal, quadro de Adão Cruz

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Què ens en queda, del món, si ens falta la mirada...?

 

Sense mirada, no existiria el món. Vull dir, allò que en diem món, espai, natura, temps... No hi ha paisatge fora de la mirada. La mirada copsa, compon, uneix, separa, integra i desintegra, aterra i construeix... Tot allò que és real s’engendra amb la mirada.

 

La mirada és la força creadora. Copsa fragments d'espai i temps i construeix el món –vull dir que el crea–, el paisatge concret de la vida dels homes... Incapaç de copsar globalment el tot indivisible, mai no calma la set de l’afany impossible, i en va copsant fragments, instants, com pinzellades, com taques de color... I així, a cops d’afany, de set, de neguit, d’obstinació tossuda, aferrant-se al que veu, es va inventant un tot –vull dir que el crea–, i un altre tot, i un altre tot encara...

 

Tot existeix pels ulls. No hi ha realitat fora de la mirada. No existeix el paisatge fora dels nostres ulls. Allò que és exterior, passat per la mirada, és paisatge interior, i parla de nosaltres. Paisatge síntesi. Fora i endins. Espai i temps. Llum i foscor.

 

El paisatge s’ajusta a la mirada, en pren les dimensions, i ens retorna una imatge formada amb els ulls clucs: cases, silenci; vida i absència; camí i frontera; claror i foscor... La immensitat del cel, l’espai transparent, roent de sol, es tanca entre muntanyes. La immensitat del blau, espai opac i fred, ens parla de l’abisme ocult sota les aigües.

 

Al mig, les parets blanques s’agombolen en un rengle desigual i compacte... Mudes, aclaparades entre la immensitat roent del sol i la immensitat freda de l’abisme... Les teulades, de sang.

 

Potser la vida s’amaga entre parets, sota teulada? Vides ocultes, i tanmateix presents, vora el camí/frontera que es dreça com un repte.

 

El camí, d’un cap a l’altre, des d’una immensitat desconeguda a una altra igualment ignorada.

 

En quin sentit s’ha de seguir el camí? Des de les pregoneses fredes del blau cap a les plenituds càlides del groc i del taronja? Del no res a la vida...? O des del foc original, que escalfa i dóna vida, cap a les pregoneses ignotes i fredes de l’abisme?

 

De la mort a la vida...? De la vida a la mort...?

 

Però, la vida, on és...?

 

El temps resta aturat en un instant precís... Hi ha un silenci expectant... Reverbera la llum, s’estremeixen les cases... Hi ha un respir contingut... Silenci dens, angoixant...

 

El camí és l’únic crit.

 

Josep A. Vidal

 

 

Que nos queda, do mundo, sem o olhar ...?

 

Sem o olhar, o mundo não seria. Quer dizer, o que chamamos mundo, espaço, natureza, tempo ... Não há paisagem fora do olhar. O olhar percebe, junta, separa, integra e desintegra, derriba e constroi ... Tudo o que é real engendra-se com o olhar.

 

O olhar é a força criativa. Capta fragmentos de espaço e tempo e constroi o mundo - quero dizer que o cria -, o paisagem concreto da vida dos homens ... Incapaz de compreender globalmente o todo indivisível, nunca acalma a sede da vontade impossível, e va capturando fragmentos, instantes, como pinceladas, como manchas de cor ... E assim, a golpes de desejo, de sede, de ansiedade, d'obstinação teimosa, agarrando-se ao que vê, va inventando-se un todo - quero dizer que o cria -, e outro todo, e outro todo ainda ...

 

Tudo existe por os olhos. Não há nenhuma realidade fora do olhar. Não existe a paisagem fora de nossos olhos. O que está fora, passado polo olhar, é paisagem interior, e fala de nós. Paisagem síntese. Fora e dentro. Espaço e tempo. Luz e escuridão.

 

A paisagem ajusta-se ao olhar, adopta as mesmas dimensões, e devolve-nos uma imagem formada com os olhos fechados: casas, silêncio; vida e ausência; caminho e fronteira; luz e escuridão ... A imensidade do céu, o espaço transparente, ardente de sol, fecha-se entre montanhas. A imensidade do azul, espaço opaco e frio, fala-nos do abismo escondido sob as águas.

 

No meio, as paredes brancas apertam-se numa linha desigual e compacta ... Mudas, esmagadas entre a imensidade do sol avermelhado e ardente, e a fria imensidade do abismo ... Os telhados, de sangue.

 

Talvez a vida esconde-se entre as paredes, sob o teto? Vidas ocultas, e não obstante presentes, à beira do caminho/fronteira que se ergue como um desafio.

 

O caminho de um extremo ao outro, de uma imensidade desconhecida a outra igualmente ignorada.

 

En que sentido deve-se seguir o caminho? Das profundezas do azul frio para as plenitudes cálidas do amarelo e o laranja? Do nada para a vida ...? Ou des do fogo original, que aquece e dá vida, para às profundezas desconhecidas e frias do abismo?

 

Da morte para a vida ...? Da vida para a morte ...?

 

Mais, a vida, onde está?

 

O tempo está parado em um instante preciso ... Há um silêncio expectante ... Reverbera a luz, tremen as casas ... Há um respiro conteúdo ... Silêncio denso, angustiante ...

 

O caminho é o único grito.

 

Josep A. Vidal

 

publicado por João Machado às 08:00
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10 comentários:
De Josep Anton Vidal a 29 de Janeiro de 2011
Os elfos mudaram a imagem. O comentário assume, com esta associação inesperada, uma nova dimensão. Mas não é a original.
De Josep Anton Vidal a 29 de Janeiro de 2011
Graças ao Carlos Loures, que restaurou a imagem original, tudo volta a estar em ordem.
De adão ctuz a 29 de Janeiro de 2011
Magnífico texto, Josep Anton Vidal, que muito me orgulha por ser inspirado em algo que saiu de mim.

Todo o homem se relaciona mais ou menos activamente com os inúmeros fenómenos que o rodeiam e com tudo o que vê e não vê, com tudo o que entende e não entende. O diálogo do Homem com o homem e do Homem com o mundo no seio da natureza e da Humanidade é permanente, profundo e inevitável. Assim vai ele construindo, dia após dia, o seu emaranhado mundo relacional.
O Homem tem caminhado ao longo do tempo em profunda relação dialéctica com o meio, confrontando-se com as difíceis questões da sobrevivência, do pensamento e da razão. Mas o Homem, em constante relação com o tempo e o espaço, ainda mantém uma profunda ligação com a complexa evolução da descoberta de si próprio.

Este texto mostra-o de forma sublime. Um grande e amigo abraço.
De Josep Anton Vidal a 29 de Janeiro de 2011
Parabéns, Adão, por a sua obra, tão expressiva e intensa. Agradeço também a Estrolabio a oportunidade que me deu de a descobrir e, de alguma forma, de a possuir. Obrigado também pelo seu comentário, tão gentil.
De augusta clara a 29 de Janeiro de 2011
Quer um quer outro me impressionam muito neste post porque o quadro é lindíssimo e o comentário do Josep também, embora me canse ler o catalão. Mas fiz um esforço por rejeitar o assassinato que a tradução representa.
De Paulo Rato a 31 de Janeiro de 2011
Augusta,
Claro que o original catalão é "toute une autre chose", mas o Josep fez um esforço para ajudar aqueles para quem a sua língua natal é mais estranha (e o catalão tem os seus espinhos...) a compreender o conteúdo do texto, enquanto usufruem da forma. Não merece que lhe chamem "assassino"!

Enquanto o Carlos Loures não toma a seu cargo uma tradução a sério, proponho esta minha modesta versão, por gratidão para com o Josep e a qualidade da sua escrita:


"Que nos fica do mundo, se nos falta o olhar...?

Sem o olhar, não haveria mundo. Quero dizer, o que chamamos mundo, espaço, natureza, tempo... Não há paisagem fora do olhar. O olhar capta, compõe, une, separa, integra e desintegra, arrasa e constrói... Tudo o que é real se engendra com o olhar.

O olhar é a força criadora. Capta fragmentos de espaço e tempo e constrói o mundo - quero dizer, cria-o -, a paisagem concreta da vida dos homens... Incapaz de captar globalmente o todo indivisível, jamais acalma a sede do afã impossível, e vai captando fragmentos, instantes, como pinceladas, como manchas de cor... E assim, a golpes de afã, de sede, de inquietação, de teimosa obstinação, aferrando-se ao que vê, vai inventando um todo – quero dizer que o cria -, e um outro todo, e um outro todo ainda...

Tudo existe pelos olhos. Não há realidade fora do olhar. A paisagem não existe fora dos nossos olhos. O que é exterior, coado pelos olhos, é paisagem interior, e fala de nós. Paisagem síntese. Fora e dentro. Espaço e tempo. Lume e negror.

A paisagem ajusta-se ao olhar, toma as suas dimensões, e devolve-nos uma imagem moldada com os olhos fechados: casas, silêncio; vida e ausência; caminho e fronteira; clarão e negror...
A imensidão do céu, o espaço transparente, incandescente de sol, fecha-se entre montanhas. A imensidão do azul, espaço opaco e frio, fala-nos do abismo oculto sob as águas.

No meio, as paredes brancas aglomeram-se numa fileira desigual e compacta. Mudas, esmagadas entre a imensidão do sol incandescente e a imensidão fria do abismo... Os telhados, de sangue.

Talvez a vida se esconda entre paredes, sob o telhado? Vidas ocultas, e ainda assim presentes,
bordejam o caminho/fronteira que se ergue como um repto.

O caminho, de um lado ao outro, vai de uma imensidão desconhecida a uma outra igualmente ignorada.

Em que sentido devemos seguir o caminho? Das profundezas frias do azul às plenitudes cálidas do amarelo e do laranja? Do nada à vida? Ou do fogo original, que aquece e dá vida, às profundezas ignotas e frias do abismo?

Da morte à vida...? Da vida à morte...?

Porém, a vida, onde está...?

O tempo permanece parado num instante preciso... Há um silêncio expectante... Reverbera a luz, estremecem as casas... Há uma respiração contida... Silêncio denso, angustiante...

O caminho é o único grito."
De Josep Anton Vidal a 5 de Fevereiro de 2011
Paulo, li agraeixo profundament la seva traducció. És perfecta en tots els sentits. Li demano disculpes per no haver-la-hi agraït abans, però no he descobert el seu comentari i el seu text fins ara mateix. Gràcies, de tot cor.
De Paulo Rato a 6 de Fevereiro de 2011
Josep,

Agradeço as suas boas palavras que, apesar de julgar não inteiramente merecidas (creio que o Carlos Loures, como os seus mais profundos conhecimentos de catalão, faria melhor), me enchem de satisfação. De resto, o grande mérito, impulsionador do meu entusiasmo na tradução, continua a ser do original. Um abraço amigo.
De Luis Moreira a 5 de Fevereiro de 2011
Belo texto e uma tradução que mostra a beleza e a força do original. Um abraço amigo
De augusta clara a 5 de Fevereiro de 2011
Josep , as minhas desculpas porque eu não percebi que a tradução era sua. Ainda bem que o Paulo me chamou a atenção. E muito obrigada.

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