Terça-feira, 11 de Janeiro de 2011

Uma tragédia portuguesa em NY

Por dirigir , ao tempo, uma empresa que financiava eventos de "fashion", moda, passagem de modelos, fui convidado para um "bar livre" numa das discotecas mais conhecidas de Lisboa. E, lá fui, com alguma curiosidade, para tentar perceber o que alimenta aquilo.

 

As pessoas são as que conhecemos das revistas, jornais e televisões, as habituais que vivem das fotos "casuais", da entrevista mil vezes repetida, entrevistam-se umas às outras, é chamado o "operador da televisão" para filmar "um grupo expontâneo", esconde-se o e quem não interessa ou não é conhecido, e assim por diante, uma vida virtual, sem ponta de vida e alegria.

 

Lembro-me de dois casos que acompanhei durante a noite já que não podia segui-los todos. Um era um rapaz ao tempo muito conhecido por haver ganho um concurso popular e profundamente estúpido. O pobre do rapaz que depois da efémera fama, andou por hospitais psiqiátricos e que agora voltou a tratar das galinhas era, físicamente, pequeno e magríssimo, tímido, não falava com ninguém nem ninguém lhe dava qualquer importância. Uma tragédia anunciada, via-se claramente que o rapaz não aguentaria a pressão da vida a que aspirava e que o melhor mesmo seria voltar para a sua terra natal.

 

Outro caso, era de uma miúda que não teria mais de vinte anos, líndissima, cheia de poses de quem tirou cursos de modelo, pé à frente, braços caídos, ombros descaídos "à Angelina Jolie", mostando sempre o melhor perfil. Procurava febrilmente fotógrafos, enfim, andava ali como um passarinho para a primeira "pitão" que reparasse nela. E, foi certinho, lá apareceu um figurão, com um fotógrafo a tiracolo e logo ali arranjou uma sessão fotográfica, com a miúda a ter os seus quinze minutos de fama. Lá para as 2/3 horas da manhã, com os copos e amparada pelo "figurão"  vi -a sair  para entrar numa grande bomba e o resto adivinha-se.

 

Há quem ofereça o céu e a terra para ir para a cama com um(a) jovenzinho(a) destes,  lindo(a)s e ingénuo(a)s, cegos pela ambição, vão muito além do que suportam, e depois não são capazes de viverem com o que foram obrigados a fazer. A seguir vem o alcool, as drogas e, com  muito azar à mistura, a revolta num quarto de hotel longe da terrinha. A tragédia anunciada que desta vez tomou dimensão inusitada, concretizou-se no pior lugar. Longe da família, num país onde há prisão perpétua, onde é necessário muito dinheiro (muito mais do que cá) para ter um advogado decente, o pobre do rapaz desgraçou a vida dele atrás de um sonho que só se anuncia para muito poucos.

 

O assassinado é um ser humano e, como tal, lamento muito sinceramente, a sua morte brutal. Também a ele aconteceu o que normalmente acontece a quem vive "no fio da navalha", mas não posso deixar de dizer que lamento muito mais a desgraça do rapaz. Também cada um de nós em certa faze da nossa vida, nos vinte anos, as circunstâncias nos empurraram para situações que a família ou os amigos, ou a escola, nos ajudaram a evitar.

publicado por Luis Moreira às 13:00
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21 comentários:
De Luis Moreira a 11 de Janeiro de 2011
Escrevi um texto onde tive o cuidado de mostrar como é fácil acontecer coisas destas naqueles meios. Não é preconceito, sempre que há um assunto que envolva um gay tudo se varre para debaixo do tapete do preconceito. Um psiquiatra, na SIC, Dr. Luis Gameiro, explicou que os contornos deste crime são todos conhecidos. Um jovem pressionado psiquica/sexualmente atrás de um sonho, dá o que não é da natureza dele, não aguenta a culpa e a vergonha, tem um "ataque de fúria prolongada", está tudo nos livros. A maioria dos gays da idade de Carlos Castro têm relações estáveis, como Guilherme Leite afirmou na SIC "cuidado Carlos" disse-lhe ele. Naquele meio atirar gente jovem e burra para a valeta é muito fácil.
De Luis Moreira a 11 de Janeiro de 2011
Claro que sim, Adão. Uma sociedade autofágica que "come" os menos preparados, foi isso que descrevi no meu texto, jovens que ficam marcados para sempre, porque lhes é vendida uma vida que não existe. Fui uma vez e nunca mais voltei tão repugnante achei aquilo tudo. Prefiro mil vezes ir a um night clube onde todos sabem ao que vão.
De ethel feldman a 11 de Janeiro de 2011
pois eu não me fiz entender! acho que nem vale a pena tentar, pois o foco é outro e ninguém se detem nele. devo andar impregnada da minha experiência laboral!
De Paulo Rato a 12 de Janeiro de 2011
Luís,
Contorno os outros comentários (sem os ignorar).
Deve ser a primeira vez que concordo inteiramente contigo.
Esclareço: tenho amigos e amigas homossexuais (incluindo alguns casais); nenhum tinha qualquer simpatia pelo defunto.
Por si só, a morte não me enternece, nem amolece. É preciso saber quem morre e o que valeu (como pessoa, não como títere mediático), enquanto viveu.
Carlos Castro, como a pseudo-imprensa para que trabalhava, são inexistências.
E como não me chamo John Donne, nem este é o contexto em que criou o seu verso: "qualquer morte de homem me diminui",... a sorte do jovem é que me entristece, pelas razões que muito bem expuseste.
Deu para reparar numa coisa: as mortes de Carlos Pinto Coelho e de Vítor Alves não abriram telejornais, nem fizeram correr tanta tinta, gastar tantos televisivos e preciosos minutos.
E isto é que é grave, além de uma jovem vida destroçada.
Paulo Rato
De Luis Moreira a 12 de Janeiro de 2011
Paulo, claramente de acordo contigo! Abraço
De José de Brito Guerreiro a 12 de Janeiro de 2011
Meus caros, concordo convosco, embora não hierarquize o meu lamento.
Lamento a morte do defunto, lamento a "morte" do rapaz. Poder-se-á chamar de vida, ao futuro que lhe está destinado?

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