Quinta-feira, 6 de Janeiro de 2011

Porque escrevo? (um desafio que vos faço)

 

 

João Machado

 

Porque me sento todos os dias, ou em muitos dias, ou em alguns dias, à frente de uma folha de papel, de um computador, ou de uma máquina de escrever, e neles  tento inscrever uns caracteres? Esta questão, com estas palavras, ou com outras semelhantes, com certeza que muitos escritores opõem a si próprios. E os aspirantes a escritores, talvez ainda mais.

 

No El País Semanal de domingo passado, 2 de Janeiro, vem um trabalho intitulado precisamente Por Qué Escribo?. Jesús Ruiz Mantilla é o responsável do trabalho, que é acompanhado por ilustrações de Eduardo Arroyo. A pergunta foi colocada a cinquenta escritores, na sua maioria espanhóis ou latino-americanos de língua espanhola.

 

As respostas são variadas, de interesse variável, e em sentidos muito diferentes. Por exemplo, John Banville respondeu que escreve por que não sabe escrever. E cita Henry James,  que disse que a arte cria a vida. Ken Follet, em sentido contrário, diz que é fantástico uma pessoa dedicar-se a uma coisa que sabe fazer bem, para além de outras frases muito valorativas. Carlos Fuentes respondeu com uma pergunta: “Porque respiro?” Mas Eduardo Mendoza disse que nunca ninguém lhe tinha feito a pergunta, e que não acredita que tenha o menor interesse.

 

O prémio Nobel Mário Vargas Llosa respondeu (estou a resumir as suas palavras) que supõe que a sua vocação literária foi uma transpiração (transpirácion), um resultado directo da enorme felicidade que dava a leitura. Fernando Iwasaki que escreve porque lê, e graças à leitura nascem riachos e afluentes da torrente dos livros lidos. Alberto Manguel responde que escreve porque não sabe dançar o tango, e também mais uma série de coisas que não sabe (que eu aqui não ponho e que vocês podem ir ler ao El País Semanal, que é giro), das quais a última é “dizer porque escrevo”. Amélie Nothomb diz-nos para ela que escrever é igual a enamorar-se. Umberto Eco respondeu: “Porque gosto”.

 

Use Lahoz acha que a pergunta é uma armadilha, e que na resposta se misturam o prazer e a necessidade. Javier Marías informa-nos que já disse mais vezes que escreve para não ter chefe nem ser obrigado a levantar-se cedo. Rosa Montero diz que escreve porque não consegue deter o torvelinho constante de imagens que lhe atravessa a cabeça. Antonio Tabucchi cita Beckett e Baudelaire para concluir que não tem outra possibilidade. Arturo Pérez-Reverte escreve, diz-nos, porque há 25 anos que é novelista (em português o mais correcto talvez seja romancista) profissional, e vive disso.

 

Ler estas repostas é muito interessante, acho que mais ainda do que as respostas em si mesmas, pois umas são melhores, outras piores. Isto na minha opinião, claro. Desafio-vos a irem ler o El País Semanal, e dizerem o que acharam. Ao fim e ao cabo, vocês também querem escrever, não é verdade?

publicado por João Machado às 16:00

editado por Carlos Loures às 15:51
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1 comentário:
De Ethel Feldman a 6 de Janeiro de 2011
Sempre me irritaram este tipo de perguntas e confesso-te, João que interessa-me mais o que escrevem do que o que motiva o escritor ao acto. Interessa-me o abraço mais que a intenção do mesmo. Além disso corro o risco de ficar mesmo desiludida com algumas respostas e trazer ao real o homem que vive no meu imaginário de uma forma difusa, através da sua escrita. A arte acontece - isso me basta.
De qualquer forma acho interessante o teu post, João. Obrigada pelo espaço que me proporcionas ao desabafo!
Beijo

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