Quinta-feira, 6 de Janeiro de 2011

Os Sindicatos e as providências cautelares

Luis Moreira

 

Parece que a razão principal para os sindicatos avançarem para os tribunais, é que o corte de salários não tem caracter provisório é para sempre e, esse pormenor, tornará  a Lei inconstitucional. Uns dizem que sim, outros dizem que não, conforme a entidade que encomendou os pareceres jurídicos. Sendo que , no caso de terem razão, os trabalhadores sempre poderão ver devolvido o dinheiro correspondente aos cortes, pelo que, dificilmente, os tribunais  darão razão aos sindicatos.

 

Para além destas questões jurídicas, sobra o factor de governação que se vê cada vez mais apertada com a judicialização da política. Os tribunais não são eleitos, não se percebe como poderão revogar  decisões governamentais, embora caiba sempre ao cidadão optar se sim ou não deve recorrer perante a prepotência de quem nos governa. Já tenho dúvidas que se possa dizer o mesmo de organizações que estão na disputa política. Para estas deveriam sobrar a Assembleia da República, o Presidente da República e o Tribunal Constitucional. Adiante, e vamos ao que aqui me trouxe.

 

Os sindicatos da função pública representam os trabalhadores que gozam de privilégios que a outra metade dos trabalhadores não tem. Desde logo nos vencimentos, carreiras, promoções, segurança no emprego, a que há a juntar esta capacidade de se fazerem representar por sindicatos poderosos, com acesso a apoio jurídico, acesso à comunicação social e a promoverem acções nos tribunais.

 

E , os outros, os que não têm emprego porque a fábrica fechou? E, os outros, que não arranjam emprego?

 

Se os trabalhadores da função pública se acham prejudicados por verem os seus vencimentos baixarem 5%, que dizer dos trabalhadores que, pelas mesmas razões ( a crise) vêm o seu posto de trabalho extinto e a sua remuneração baixar para o salário mínimo, ou mesmo para pensões de miséria ou para subsídios de desemprego muito abaixo dos seus habituais vencimentos?

 

Então quem vê o seu salário baixar em 5% ou 10%, mantendo o emprego, pode  recorrer para a justiça e quem vê o seu salário ser reduzido em 80%, ou mesmo desaparecer, não pode recorrer para os mesmos tribunais? Que país é este? Que lógica é esta?

 

Se os sindicatos defendem que é inconstitucional a redução dos salários mantendo o emprego, por maioria de razões quem fica desempregado tem o direito de exigir do estado um emprego ou um subsídio igual ao salário que auferia!

 

Seria justo mas não há capacidade financeira para manter uma situação em que os cidadãos seriam tratados por igual, dir-me-ão.

 

É por isso mesmo que os sindicatos não têm razão em recorrerem para os tribunais. Defender quem não tem emprego, quem vive na miséria, essa sim, é uma causa meritória.

publicado por Luis Moreira às 13:00
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11 comentários:
De João Machado a 7 de Janeiro de 2011
Luís, estás a ser injusto com os sindicatos quando dizes que "os sindicatos da função pública representam os trabalhadores que gozam de privilégios que a outra metade não tem". Isso não corresponde minimamente à verdade. Qualquer trabalhador pode ser sócio do sindicato da função pública. E o sindicato defende-os a todos, mesmo os não sindicalizados, quando apresenta as reivindicações. Os sindicatos são a única organização que os trabalhadores têm para se defenderem. São mal vistos sobretudo pelas chefias (nem todas ...) e pelos defensores das grandes diferenças sociais predominantes no nosso país. Se um dia quiseres ir visitar o meu sindicato, conta comigo.
De Luis Moreira a 7 de Janeiro de 2011
João, aquilo à entrada dos tribunais é só para televisão ver, não serve para nada. E, sendo, que quem devia pagar a conta, são os que roubaram o dinheiro, a pagar têm que ser os que têm emprego, ou não? Meu caro, só tem sindicato quem tem dinheiro para pagar as quotas. Nunca vi nenhuma manifestação a favor dos desempregados e dos pobres.
De João Machado a 7 de Janeiro de 2011
Luís, quem é que roubou o dinheiro? É claro que quem está são os que trabalham. A maioria nunca roubou nada, de certeza. Não digo todos porque há sempre uns melhores outros piores. E essa de só ter sindicato quem tem dinheiro para pagar as quotas, é forte, desculpa lá. Tens mesmo de ir conhecer melhor os sindicatos. E já te disse uma vez que a maioria das manifestações são a favor dos desempregados e dos pobres. É só prestares atenção.
De João Machado a 7 de Janeiro de 2011
Saltei palavras. Devia ter escrito "É claro está a ser prejudicado são ...".
De Paulo Rato a 7 de Janeiro de 2011
Sobre trabalhadores e sindicatos, o Luís não tem opiniões: tem embirrações. O Luís embirra com sindicatos. O Luís acha que os sindicatos não devem existir e que os sindicalistas devem ser todos amadores inexperientes, substituídos em alta rotação, para não se afastarem do trabalho, "instalando-se" nos cargos sindicais para que são eleitos; para assim, ignorantes e ingénuos, serem facilmente baralhados por profissionais de "gestão de recursos humanos". O Luís acha que os sindicatos não devem defender os empregados, porque quem está empregado (sobretudo se for da função pública, pois o nosso Luís parece ter, sobre o Estado e suas funções, a mesma noção dos frequentadores de "teaparties") é um privilegiado!
Será que acha que os empregados devem desempregar-se para dar lugar aos empregados? Será que aplaude as teorias económicas e as medidas políticas que construíram a chamada "crise"? E os "economistas" que nem se querem lembrar das que Roosevelt tomou, nos próprios USA, abrenúncio!?
Em geral, não parece: excepto quando, paradoxalmente, parece...
Enquanto houver criaturas com fome, eu (e o Luís, claro) não devo comer? Se um Governo decidir reduzir a ração de todos os portugueses que não sejam banqueiros, empresários, accionistas da PT ou outros infelizes desprovidos de privilégios, eu devo calar-me, em vez de reivindicar (quiçá manifestando-me com outros malandros, como eu, empregados ou pensionistas...) comida para todos?
Os trabalhadores empregados devem colaborar com os criminosos e corruptos, enquanto houver desempregados, mantendo-se quietos e calados, aceitando que lhes vão ao bolso, em nome do que lhes vendem como "sacrifícios inevitáveis que todos (ah! ah! AH!) temos de suportar em nome da recuperação económica e das gerações futuras", deixando-se morrer, heróica e silenciosamente, por falta de dinheiro para se tratarem quando estão doentes? E será que o Luís acha que não há desempregados que colaboram com as acções dos sindicatos e as apoiam?
Quem trabalha não se deve organizar? Ou, se organizado (em Sindicatos, diria...), deve suspender a organização, quando o número de desempregados aumenta? Os culpados de tal aumento são os trabalhadores empregados? Tal como das suas consequências? Será que todas as desgraças que o Luís refere para caracterizar quem ainda está pior que os tais trabalhadores da função pública e afins (como eu seria, se não estivesse aposentado) se devem aos misteriosos desígnios de Deusnossenhor e não a políticas governamentais e a decisões de empresários privados que, apesar de tanto fecho de fábrica, com desvios de material, deslocalizações e outras malfeitorias, contribuíram à brava para o desenvolvimento económico e a recuperação da dívida, com o incremento das vendas de tudo o que é artigo de luxo? Será que o Luís aprova que haja empregados do sector privado que temam manifestar-se, fazer greve, sindicalizar-se, porque os princípios da "gestão" fascista regressaram à generalidade das empresas, disfarçados de neo-liberalismo e "novas teorias de gestão" que nada devem ao que de pior existia no séc. XIX? Será que me vai felicitar por isto acontecer com uma jovem da minha família, que não pode faltar ao emprego para dar assistência a uma filha de 4 anos que adoece (a empresa não pode ser prejudicada por questões familiares) e é "repreendida" por se rir durante o trabalho (com ritmos desumanos que a Lei "ainda" condena, mas o Estado não fiscaliza)? Numa das maiores empresas do País?
Creio que nunca saberemos os fundamentos destas confusões luisianas... Talvez lendo "O Banqueiro Anarquista", alcancemos uma vaga ideia?
Paulo Rato
De Luis Moreira a 7 de Janeiro de 2011
O Luís acha que os sindicatos, no geral, têm tanta culpa na situação do estado que temos quanto os políticos. são as faces da mesma moeda. Não procuram o interesse geral. Têm co-governado o país. É. claro, que quem devia pagar isto tudo são os que roubaram e não foram os sindicatos nem os trabalhadores, mas não é com a visão corporativa dos sindicatos que isto melhora.
De Luis Moreira a 7 de Janeiro de 2011
João, pois se discutem o corte de 5% que dizer de todos os outros que ficaram sem emprego? Claro que quem devia pagar são os que roubaram.
De João Machado a 7 de Janeiro de 2011
Luís, o corte de 5% nada tem a ver com os despedimentos noutros lados. Melhor dito, são ambos a mesma face da moeda: fazer pagar a quem tem menos força. Isto vale para o chamado sector público, como para o chamado sector privado. Diz-me porque é que os bancos não pagam mais impostos?
De Luis Moreira a 7 de Janeiro de 2011
João, completamente de acordo e só há off shores porque as Assembleias nacionais dos Estados legislaram a favor da sua existência e da sua manutenção. A questão que eu levanto é que se há alguém que se acha prejudicado por levar com um corte de 5% que dizer dos que ficam sem o emprego? Também metem providências cautelares?
De João Machado a 7 de Janeiro de 2011
Luís, achas mal portanto que metam providências cautelares? Por eu ver ao meu lado um pobre que não consegue reagir, também não posso reagir? Quem se fica a rir é o malfeitor.
De Luis Moreira a 7 de Janeiro de 2011
João, acho mal, porque aquilo não passa de foguetório, para funcionário ver, como também achei mal que entre Jan e Junho de 2010 os professores à conta dos sindicatos mamassem mais uns 475 milhões, quando já se sabia que o país estava neste estado. Isto já é um circo, a ver quem melhor se equilibra na corda bamba e quem chega mais depressa ao pote de mel...

Tu dizes-me "mas eles comem tudo..." e eu dou-te razão, se o exemplo não vem de cima...mas isto é já o vale tudo, alguém tem que chamar a atenção para este estado de coisas. Antes do 25 de Abril, chamava-se a isto o " quanto pior , melhor..." slogan do Durão que está agora amantizado com o inimigo desses tempos...

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