Artigos
1. O cabo, novo terreno de rivalidades entre a China e a Europa
A empresa chinesa Tianjin Xinmao quer adquirir a empresa holandesa Draka Holding. Os industriais do Velho Continente estão preocupados
Amanhã, uma parte do "knowhow" europeu nos cabos de alta tecnologia, e em especial a fibra óptica, será transferida para a China e o Velho Continente ficará sob a dependência do império do Meio… É o espectro que agitam os industriais franceses e italianos, ainda dominantes neste sector, desde que o grupo Tianjin Xinmao anunciou, a 22 de Novembro, a sua intenção de adquirir a empresa neerlandesa Draka Holding. A ameaça parece-lhes tão grave que alertaram a Comissão Europeia e os ministros da investigação e da indústria, reunidos em Bruxelas, na sexta-feira, 10 de Dezembro no âmbito de um conselho sobre a “ competitividade”.
Trata-se de uma curiosa oferta pública de compra a que foi feita por Tianjin Xinmao. No dia em que o italiano Prysmian, número dois mundial do sector, concluía a aquisição de Draka para 840 milhões de euros, o grupo chinês anunciava por um simples comunicado de imprensa uma contra oferta que valoriza “Draka” em 1,2 mil milhões de euros. Foi pago muito caro, consideram os especialistas. Nomeadamente os dirigentes do grupo francês Nexans, que propunham 730 milhões de euros e se recusaram a subir o valor da oferta da sua oferta de compra sobre o seu rival italiano.
Tianjin Xinmao pode pagar este valor, sozinho? Duvida-se, na empresa Prysmian, onde se recorda que se este grupo agrega uma quarentena de actividades, a do cabo representa apenas 88 milhões de euros de volume de negócios, muito longe do grupo Nexans (5 mil milhões de euros), Prysmian (3,7 mil milhões) e Draka (mil milhões). “A sua oferta de aquisição surpreendeu todo o mundo. Não se consegue entender de um ponto de vista financeiro. E nós, apresentámos um plano industrial muito sólido, enquanto que saibamos, os chineses não o fizeram”, sublinha Laurent Tardif Presidente de Prysmian -França. E acrescenta: “O que é que há por detrás desta oferta? »
Para o Presidente de Nexans, não há nenhuma dúvida: o poder público chinês, que está muito menos preocupada que a Europa sobre a concorrência. Frédéric Vincent acaba de escrever ao presidente da Comissão Europeia, Jose Manuel Barroso, para denunciar as sanções - excessivas, segundo a sua opinião - que as autoridades europeias da concorrência infligem aos que não respeitam rigorosamente as regras do mercado livre, da concorrência. “ Desejo tocar o sinal de alarme perante uma política de sanções que, in fine, prejudica as empresas europeias e enfraquece-as na concorrência internacional”, escreve. A resposta de Bruxelas, lapidar, aparece, repentinamente, na quarta-feira, pela voz de Joachim Almunia, Comissário da Concorrência: “ Não partilho destes argumentos. »
Distorção da concorrência
Vincent considera que “ o processo Xinmao” ilustra efectivamente esta distorção da concorrência. A oferta chinesa sobre Draka é, segundo a sua opinião, apenas “uma manobra iniciada por uma empresa que beneficia do apoio activo do seu Estado e de um mercado interno muito protegido”. Esta ofensiva “não pode deixar as autoridades políticas europeias sem reacções”.
O patrão de Prysmian recorda que desde o início de 2010, quando a empresa milanesa tentou adquirir Tongguang, grupo de Shanghai especializado na fibra óptica, as autoridades chinesas vetaram a operação. A isto se acresce, de acordo com os industriais europeus, a política de “preferência nacional” de Pequim nos domínios das tecnologias da informação e da comunicação.
O sector do cabo é importante, se não mesmo estratégico. Nexans, Prysmian e Draka fornecem, com efeito, as maiores empresas de telecomunicações e da Internet (de débito elevado e muito elevado), da energia (linhas de alta tensão, plataformas off-shore…), da aeronáutica (Airbus, Boeing, Dassault…), da defesa ou da construção. Os industriais põem também na primeira linha a defesa do emprego. Em França, Prysmian (ex-Pirelli departamento de cabos) emprega 1.500 pessoas em 8 fábricas e Draka (ex-Philips) cerca de 700 em duas unidades.
Para além da transferência da actividade industrial para a China, que tem enormes necessidades, está também o risco de ver partir também milhares de patentes, unidades de investigação e centros de decisão, preocupam-se os dirigentes de Prysmian e de Nexans. “ No norte, as fábricas de cabos ex-Alcatels têm patentes chave que lhes dão uma posição de líder a nível mundial”, afirma Tardif, para que o problema não é por conseguinte “ apenas industrial, é também político ”.
A Europa, pode ela depender dos Chineses para aos seus cabos de alto valor acrescentado - como ela o é já para o fornecimento de painéis solares foto voltaicos ? A questão surge no momento em que a União Europeia e a França pretendem alcançar ambiciosos objectivos de desenvolvimento da fibra óptica, que no caso de França constitui uma linha de crédito do grande empréstimo.
Jean-Michel Bezat, Le Monde, 11.12.10
2. Questões a Jean-Luc Gréau, Le Monde, de 16 de Dezembro
Sentida qual é a posição da União Europeia cujos resultados estão bem à vista e que o texto bem ilustra, vejamos agora um outro ponto de referência dado por Jean-Luc Gréau, conselheiro durante muitos anos da Confederação do Patronato francês, hoje MEDEF, numa pequena entrevista ao jornal Le Monde:
P. No seu último livro, “ La trahison des Economistes " (Gallimard, 2008), defende um “proteccionismo bem concebido " adequado, às fronteiras da Europa. Quais as razões ?
R.O comércio livre não caiu do céu. Foi criado no pós-guerra porque os Estados Unidos, depois de dois séculos de protecção do seu mercado interno, tornaram-se uma super-potência económica, financeira e comercial. Quiseram favorecer a expansão das suas empresas que entretanto se tinham tornado multinacionais. Hoje, estamos numa situação de crise que não é cíclica mas sim sistémica. Atingiu duramente os Estados Unidos mas também a Europa, provocando uma recessão sem precedentes.
Devido aos planos de retoma da economia e aos bancos e devido à forte redução das receitas fiscais, os nossos Estados estão pesadamente endividados e fortemente supervisionados pelas agências de notação. E tanto é assim que nós não temos nem perspectivas de regresso ao crescimento nem esperança de melhoria das receitas fiscais. É impossível que os países da União Europeia se libertem desta situação de prisioneiros no interior de uma rede de malha apertada enquanto se mantiverem numa situação de livre-troca incondicional. Nestas condições, a questão do proteccionismo comercial põem-se com mais acuidade do que nunca.
Quais poderiam ser os meios desta protecção?
O proteccionismo não é o encerramento das fronteiras mas sim um instrumento de negociação com as novas grandes potências em que se tornaram a China, a Índia e o Brasil. Na Europa, os investimentos directos são totalmente livres, o que não é o caso nestes países. A China entrou para a Organização Mundial do Comércio em 2001 sem que se lhe tenham exigido qualquer contrapartida. É por isso que a China faz o que muito bem quer com o valor da sua moeda, exige transferências de tecnologia, pilha, é este o termo, os nossos direitos intelectuais e copia os produtos do resto do mundo protegendo ao mesmo tempo os seus.
Pode-se muito dizer bem à China e aos outros emergentes que iremos regular as nossas trocas comerciais durante dez ou quinze anos, o tempo para que eles possam aceitar que possamos investir no seu país como eles investem nos nossos, o tempo para eles aumentarem os seus níveis de salários e de protecção social. Depois deste período, será necessário verificar se as condições de um regresso ao livre-comércio estarão reunidas.
P. Alguns, como Domínique Strauss-Kahn, Director Geral do Fundo Monetário Internacional, pensam que as medidas proteccionistas não resolverão nada. Outros defendem que podem ser o prelúdio de conflitos mais graves…
Dominique Strauss-Kahn é um ministro da mundialização. Foi nomeado, com o aval dos Estados Unidos, graças a ela e para ela. Dizer do proteccionismo que este pode gerar guerras, é um discurso ideológico, um deslocação completa do debate económico para um debate diplomático. O proteccionismo acompanha e evolui no mesmo sentido que a atractividade e a competitividade de uma zona económica.
Respostas recolhidos por Olivier Schmitt, “Le proteccionisme est un outil de negociation”, questões a Jean-Luc Gréau, Le Monde, de 16 de Dezembro.
. Ligações
. A Mesa pola Normalización Lingüística
. Biblioteca do IES Xoán Montes
. encyclo
. cnrtl dictionnaires modernes
. Le Monde
. sullarte
. Jornal de Letras, Artes e Ideias
. Ricardo Carvalho Calero - Página web comemorações do centenário
. Portal de cultura contemporânea africana
. rae
. treccani
. unesco
. Resistir
. BLOGUES
. Aventar
. DÁ FALA
. hoje há conquilhas, amanhã não sabemos
. ProfBlog
. Sararau