Quinta-feira, 28 de Outubro de 2010

Dia de Lisboa - Percy Grainger e Pablo Neruda

Muitos estrangeiros escreveram sobre Lisboa. Cervantes, Voltaire. Lord Byron... É matéria de que se ocupou o João Machado. Aqui, registamos dois desses olhares sobre a cidade - a do compositor australiano Percy Grainger (1882.1961) e a do chileno Pablo Neruda (1904-1973).

Não abunda a música sinfónica sobre Lisboa. Tentámos encontrar uma gravação de "Lisboa em Camisa" op.53", do maestro António Victorino d'Almeida, inspirada na obra homónima de Gervásio Lobato, mas não a encontrámos disponível. Ouçamos Lisbon, o primeiro andamento da sinfonia Lincolnshire Posy , de Percy Grainger, dedicado a Lisboa, interpretado pela Bay Brass Ensemble:






Pablo Neruda, o grande poeta chileno, Prémio Nobel da Literatura de 1971, dedicou este seu longo poema,  La Lámpara Marina, a Álvaro Cunhal. Foi escrito em 1953 quando o dirigente do PCP estava preso e se temia pela sua vida. Sobre uma Lisboa  prisioneira da ditadura salazarista, disse o poeta:

La Lámpara Marina



I

El puerto
Color de cielo


Cuando tú desembarcas
en Lisboa,
cielo celeste y rosa rosa,
estuco blanco y oro,
pétalos de ladrillo,
las casas,
las puertas,
los techos,
las ventanas,
salpicadas del oro limonero,
del azul ultramar de los navíos.

Cuando tú desembarcas
no conoces,
no sabes que detrás de las ventanas
escuchan,
rondan
carceleros de luto,
retóricos, correctos,
arreando presos a las islas,
condenando al silencio,
pululando
como escuadras de sombras
bajo ventanas verdes,
entre montes azules,
la policía
bajo las otoñales cornucopias
buscando portugueses,
rascando el suelo,
destinando los hombres a la sombra.

(in Poemas de Obras, 3 ª ed.., Buenos Aires, Editorial Losada, 1967)

Podemos agora ouvir o poema completo, excelentemente declamado pelo actor Tavares Marques, numa tradução eivada de castelhanismos e de erros, mas que, dada a beleza do original,  resiste a esses equívocos linguísticos. A gravação foi feita durante uma homenagem prestada pelo PCP à memória de Álvaro Cunhal e realizou-se no claustro do Tribunal da Boa-Hora, onde funcionou o sinistro "Plenário".


publicado por Carlos Loures às 18:00
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