Quinta-feira, 23 de Dezembro de 2010

Coimbra, Portugal

Raúl Iturra



Bem sabemos que visitar Coimbra, é visitar um monumento. Não apenas o túmulo de primeiro rei de Portugal, proclamado como tal em 5 de Dezembro de 1143 após derrotar os mouros na Batalha de Ourique. O sítio em que nasceu, é incerto. Há duas hipóteses: teria nascido em Viseu em dia incerto, no ano 1109; outros defendem que nasceu em Guimarães, memos ano, mesma data incerta. Mas o túmulo que guarda os seus restos é digno de uma pessoa desse tamanho, que criou o Reino de Portugal. Curiosos, os que não temos reis para nos governar, o primeiro que chama a nossa atenção é visitar todos os sítios por onde se diz que o Rei Fundador de Portugal com reino, apagando a ideia de Condado Portucalense esse pequeno troço de terra de Guimarães, estreito para si, começou as batalhas para expulsar mouros e judeus das suas terras que passaram a ser o que hoje é a República de Portugal, faz 100 anos a esta data.

Percorrer a cidade realiza-se ser todo um monumento. Há a parte antiga dos Conventos e Mosteiros, e a parte nova, a Baixa de Portugal, para escritórios e comércio. Mal apareci em Portugal, corri a conhecer a cidade universitária, na que fui durante cinco anos Catedrático Visitante para proferir aulas todos as segundas férias. Hospedava-me numa casa de mais de trezentos anos, convertida num húmido e frio hotel, mas que ficava ao começo da rua que subia até a faculdade em que ensinava.


Não eram apenas os monumentos que, pela sua antiguidade e história estavam sempre a ser percorridas por turistas. O que mais curiosidade prestava, eram a reitoria e a sala capitular, em que se realizavam os júris de doutoramento bem como as imensas ruas e avenidas que faziam de Coimbra um caminho aos Alpes ou aos Andes. Parece-me que Coimbra é como uma cidade estado dos anos 500 da nossa era: um aglomerado de casas que se foram construindo ao pé dos mosteiros. Esta imagem mostra o refúgio que as pessoas procuravam nos mosteiros.


Cidade de ruas estreitas, pátios, escadinhas e arcos medievais, Coimbra foi berço de nascimento de seis reis de Portugal, da Primeira Dinastia, assim como da primeira Universidade do País e uma das mais antigas da Europa. Aliás, pelas minhas contas, é a quinta Universidade da Europa: Bolonha e Pádua primeiro, na Itália, La Sorbonne em Paris, a seguir, Cambridge e Oxford na Grã-Bretanha, todas nos anos 1200, Salamanca mais tarde e Edimburgo. Era a maneira de ensinar os frades direito canónico, economia, latim, mais tarde, direito civil


Tive a grande alegria de orientar, junto com Pierre Bourdieu, a tese da hoje doutora Maria Eduarda do Cruzeiro, exactamente sobre a Faculdade de direito e a sua transformação, faculdade fundada em 1290, l de Março por Bula Papal: Faculdade de Direito, ainda a funcionar na Reitoria da Universidade.


Foi um prazer para mim ser Catedrático da Universidade, a 5ª mais antiga do mundo. Não consegui deixar de andar pelas ruas antigas, pavimentadas com pequenas pedras retiradas do rio Mondego, que banha a cidade, após abandonar essa terceira mais antiga, a de Cambridge, UK.


Como é natural, uma cidade com uma Universidade de mais de mil anos, era toda ela um grupo de arte, música e sabedoria bem guardada entre os docentes e os estudantes, que viviam, praticamente na Biblioteca, a mais rica da Europa, a seguir à de Cambridge.


Deve ser para os turistas um regalo percorrer ruas por onde a sabedoria se desliza, os debates nos cafés são sobre teoria com prova e hipótese retirada dos livros e da investigação. Coimbra sempre foi famosa pelo seu saber em Direito e pela museologia africanista que começara ser cultivada mais de 500 anos antes, no tempo das Descobertas e da exibição, para comparar culturas, dos tesouros trazidos da África, da Índia, Japão e a China.


É isso que os turistas vem e é isso os que coimbrões são. É assim a cidade de Coimbra, uma universidade com rituais, escrita, música e saber acumulado ao longo dos séculos, melhorado pelas investigações dos seus docente e equipa e famosa, hoje em dia, por ter descoberto como combater o cancro da mama.


É assim como vejo, entendo e ensino numa cidade com Universidade, que me obriga a saber mais…



publicado por Carlos Loures às 03:00
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