MemóriasMarechal Gomes da CostaClássica Editora, 1930Sempre que eu apanhava meia dúzia de avos, ali corria eu a ver o auto. Nesses teatros chinas, as representações duram dia e noite sem interrupção: há sujeitinho que ali come e ali dorme, e que torna a acordar para continuar vendo a peça e voltar a adormecer, e isto durante dias.
Lembro-me ainda de ouvir falar muito em ataques de piratas às ilhas próximas de Macau, e duma expedição .contra eles, em que meu Pai tomou parte também e vejo-o de regresso a casa, cheio de lodo e encharcado, seguido por 10 ou 12 piratas solidamente amarrados.
Enfim, em 1873 meu Pai fez as malas e embarcamos, - e então já com duas irmãzitas mais, - a galera «Viajante» com destino a Lisboa. Viagem de 6 meses, pelo cabo da Boa Esperança.
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Memórias3 Volumes Raul BrandãoPerspectivas & Realidades, s. d.Artur de Melo, que conheço do Porto, diz num espanto, ainda transtornado: – Acabam de matar agora o rei! – O quê?! – Eu vi, ouvi os tiros, deitei a fugir...
Fecham-se à pressa os taipais das lojas. Uma mulher do povo exclama: – Mataram agora o rei. Vi os que o mataram. Eram três. Dois lá estão estendidos. Passou um agora por mim, a rasto, com a cabeça despedaçada!... Há palmas para o lado Figueira. Anoitece. Um esquadrão desemboca da Rua da Mouraria... Mais tarde, no comboio, um empregado do Jorge O´Neill confirma: – Vi do escritório um polícia correr atrás dum dos assassinos. A certa altura caiu-lhe o chapéu: era calvo. O polícia varou-o com um tiro.
E, pela narração do Melo, do Armando Navarro e de outros que assistiram, reconstituo assim a tragédia:
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