E assim, 24 horas depois, chegamos ao final deste "Dia de Lisboa". Agradecemos todas as ajudas que nos foram dadas neste trabalho. Saudamos em particular o blogue "Lisboa no Guiness" onde recolhemos a canção do Alberto Ribeiro e desejamos que a campanha de Vítor Marceneiro seja coroada de êxito. Todo o material que aqui apresentamos, está ao seu dispor. Por agora, chegamos ao fim.
Três despedidas e um bilhete postal - António Gedeão, o grande poeta que vivia dentro do corpo do cientista Rómulo de Carvalho, oferece-nos um poema - "Adeus a Lisboa", cujo manuscrito podemos ver abaixo, á direita. Carlos Mendes, com música sua e poema de Joaquim Pessoa, sob o mesmo título, brinda-nos com uma bonita canção, Alberto Ribeiro, o eterno cantor de "Coimbra", sela a despedida com o seu adeus. Tudo escrito nas costas de um lindo postal de Maluda que, nascida em Goa, não podia ser mais lisboeta.
António Gedeão (1906-1997)
- ao lado: manuscrito do poema
Adeus, Lisboa
Vou-me até à Outra Banda no barquinho da carreira. Faz que anda mas não anda; parece de brincadeira. Planta-se o homem no leme. Tudo ginga, range e treme.
Bufa o vapor na caldeira.
Um menino solta um grito;
assustou-se com o apito
do barquinho da carreira.
Todo ancho, tremelica como um boneco de corda. Nem sei se vai ou se fica. Só se vê que tremelica e oscila de borda a borda.
Chapas de sol, coruscantes como lâminas de espadas, fendem as águas rolantes esparrinhando flamejantes lantejoulas nacaradas. Sob o dourado chuveiro, o barquinho terno e mole, vai-se afastando, ronceiro, na peugada do Sol.
A cada volta das pás moendo as águas vizinhas, nos remoinhos que faz, nos salpicos que me traz e me enchem de camarinhas, há fagulhas rutilantes, esquírolas de marcassites, polimentos de pirites, clivagens de diamantes,
Numa hipnose colectiva, como um friso de embruxados, ao longe os olhos cravados em transe de expectativa, todos juntos, na amurada, numa sonolência de ópio, vemos, na tarde pasmada, Lisboa televisada num vasto cinemascópio. O sol e a água conspiram num conluio de beleza, de elixires que se evadiram de feiticeira represa. Fulva, no céu incendido, em compostura de pose, a cidade é colorido cenário de apoteose. Há lencinhos agitados nos olhos de todos nós, engulhos de namorados, embargamentos na voz. Nesta quermesse do ar, neste festival de tons, quem se atreve a acreditar que os homens não sejam bons?
Adeus, adeus, ribeirinha cidade dos calafates, rosicler de água-marinha, pedra de muitos quilates. Iça as velas, marinheiro, com destino a Calecu. Oh que ventinho rasteiro! Que mar tão cheio e tão nu! Ó da gávea! Põe-te alerta! Tem tento nos areais. Cá vou eu à descoberta das índias Orientais. Não tenho medo de nada, receio de coisa nenhuma.
A vida é leve e arrendada como esta réstea de espuma. Toda a gente é séria e é boa! Não existem homens maus! Adeus, Tejo! Adeus Lisboa! Adeus, Ribeira das Naus! Adeus! Adeus! Adeus! Adeus!
Uma canção com o mesmo título, com poema de José Fanha e música de Carlos Mendes. Canta o Carlos Mendes.
Olá, Desculpe, só uma correcção a letra da Canção " Adeus Lisboa" é do José Fanha e não do Joaquim Pessoa, a música sim é do Carlos Mendes. Peço que façam essa correcção. Obrigado Helena Corado Mendes