Terça-feira, 5 de Outubro de 2010

O Mistério da camioneta fantasma, de Hélder Costa -16

(Continuação)



Cena 16

O golpe em marcha


(SLIDE ROTATIVA: Redacção “Imprensa da Manhã”)


Jorn. – está aqui o artigo, chefe.

Chefe – Muito bem, óptimo. É preciso publicar que o Machado dos Santos está riquíssimo, e que convinha saber onde arranjou o dinheiro. ( rasga o artigo)

Jorn. – Mas ele está rico?

Chefe - O que é que isso interessa? A gente tem de publicar isto, e mais nada. E poucas perguntas, faça favor.

Jorn. – mas eu não sei o que hei de escrever.

Chefe – não sabe? Se não sabe, invente. Olhe, que ele foi visto a comprar um fato novo nos armazéns do Chiado, que esteve na Brasileira a fumar charuto, que anda com putas e em festas de pederastas na Graça, sei lá...

Jorn. – Mas...

Chefe - E o senhor cala-se. Se não quer trabalhar, vá - se embora. Olhe que há muita gente à procura de um emprego destes...

(Vai ao escritório de Alfredo da Silva)

Alfredo da Silva – Bom dia, chefe. Tudo em ordem?

Chefe – Tudo em ordem, senhor Alfredo da Silva. As tiragens estão a subir, mas é preciso mais dinheiro para propaganda e para pagar a uns informadores.

Alfredo da Silva – Esta “Imprensa da Manhã” é a minha amante mais cara.

Chefe – Mas também vai ser a que lhe vai dar maiores prazeres. Espere, que logo vê.

Alfredo da Silva (dá notas) – chega?

Chefe – Chega e sobra. Abençoado seja o capital.

Alfredo da Silva – Abençoado seja o operariado do Barreiro! .. (ri-se) pelas conversas que tenho ouvido, as pessoas estão a gostar do jornal. Tem muitos escandalos. Muito bem, muito bem.

Chefe – Nós esforçamo-nos o máximo.

Alfredo da Silva – A ideia é não deixar os republicanos respirarem. Eles têm de perceber que não nos vencem com facilidade. Mesmo que estejam a fazer alguma coisa boa, é preciso atacá-la e destruí-la.

Chefe – pois claro. Se estes bolcheviques tomam asas, nunca mais conseguimos virar a situação. Mas dizer mal de uma coisa boa é mais difícil.

Alfredo da Silva – Puxe pela cabeça. É para isso que os revolucionários do Barreiro lhe estão a pagar... puxe pela cabeça... Deus o ajudará.

*

(Num cabaret. Padre Lima, Gastão Melo Matos, Alfredo da Silva)

Gastão Melo Matos – Finalmente, Alfredo! A hora da vingança aproxima-se.

Padre Lima – A revolta está marcada para daqui a dois dias, temos tempo de planificar a nossa acção. O golpe vai ser dado pelo Coronel Manuel Maria Coelho, tem o apoio da Guarda Republicana, da polícia...

Gastão Melo Matos – Esses ainda são piores que estes que estão no Governo.

Alfredo da Silva – Muito piores. O que quer dizer que este é que é o bom movimento para a gente empalmar... (ri)...oh padre, e há gente boa para usar do varapau e moer os ossos a estes bolcheviques?

Padre Lima – Gente do melhor... E até dentro da Guarda Republicana... e há o Dente de Ouro que anda cheio de raiva contra estes republicanos todos, por causa do que aprende com os marinheiros anarquistas... (ri)...é só atiçá-lo e ele aí vai arrastando os outros.

(Entra Augusto Gomes com 2 coristas que entram em dança e jogo com os homens enquanto falam)

Augusto Gomes – Os senhores dão licença? Há aqui umas senhoras que os querem cumprimentar. Artistas de teatro, a Piedade e a Maria Alves...

Alfredo da Silva – Grande Augusto Gomes, o grande empresário teatral da nossa praça! Sempre bem acompanhado

Alfredo da Silva – Muito bem, muito bem. Confirma-se a revolução para o dia 19? E quem é que vai dirigir as operações? Eu não vou , já estou a dar muito dinheiro, é para pagar a essa gente que gosta de brigas e pancadaria. A minha política foi sempre outra.

Gastão – Eu estou um bocado engripado. E se nos acontece alguma coisa? Quem é que dirigia o movimento?

Padre Lima – Com certeza. Os generais nunca vão para a guerra. A cabeça do movimento tem de ficar bem escondida. Não se preocupem, eu trato do assunto... com o sr. Augusto Gomes…

Augusto Gomes – Eu tenho que pertencer aos homens do terreno, até para orientar o que se deve fazer. E como sou um homem da noite, posso andar por todo o lado... vou falar com o Roque, o nosso banheiro de Pedrouços, é dos bons, pode dar uma ajuda.

Padre Lima – Depois combinamos as nossas zonas.

Augusto Gomes - Depois desta festa, padre...


(Padre é empurrado para o chão, coristas caiem em cima dele)

Irrompe dança ocupando toda a frente de cena)

CABARET

Festa.

Charleston

7º Slide / Filme - morte de A. Granjo(desenho)

Charleston

8º Slide - Corneteiro com espada, sangue e frase “Venham ver de que cor é o sangue do porco!”

Charleston

Dança c/ rasgar da bandeira Republicana

Charleston

CHUVA DE NOTAS, notas acendem charutos; faixas azul e branca percorrem o cenário



Charleston, faróis no ciclorama e som da camioneta acompanham os discursos

(Continua)
publicado por Carlos Loures às 22:30
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