Carlos LouresO Luís Moreira publicou aqui um artigo em que procura provar que Cristóvão Colombo era português. Não cita as fontes onde colheu as informações e faz mal, pois assim compromete-se pessoalmente com uma tese que não faz qualquer sentido defender. “Lá vem Cristóvão Colombo, que tem muito que contar” - foi este título que o Professor Luís de Albuquerque (1917-1992), no seu livro “Dúvidas e Certezas na História dos Descobrimentos Portugueses” (Lisboa, 1990), deu ao capítulo onde abordava a questão da nacionalidade de Cristóvão Colombo. Em 1987, Mascarenhas Barreto lançara “O Português Cristóvão Colombo, agente secreto de D. João II”.

Antes de me adentrar na polémica que a afirmação de Mascarenhas Barreto provocou, devo lembrar que a nacionalidade do descobridor tem sido disputada por diversas nações. Por Itália, desde logo, embora o estado italiano não existisse à época, que lhe chama Cristoforo Colombo, por Espanha que lhe atribui o nome de Cristóbal Colón, pelos portugueses, que o designam por Cristóvão Colombo, pelos catalães que afirmam ser Cristòfor Colom o nome do almirante dos reis católicos. Esta última candidatura, digamos, surgiu em 1988, pela voz de um conhecido livreiro de Barcelona – Josep Porter e que em entrevista de 28 de Junho desse ano dada ao La Vanguardia, afirmava “Cristòfor Colom foi catalão e nasceu em Barcelona». E apresentava documentos e argumentação, contando toda a história de Colombo, desde que nasceu em 1376 na cidade condal. Um dia destes, falarei desses argumentos. Convincentes, pelo menos para quem queira ser convencido.
É uma especulação (há quem lhe chame fraude científica) que ciclicamente é posta em circulação. A última avançada desta fantasia apareceu nas vésperas do centenário colombino e foi a de Mascarenhas Barreto. Luís de Albuquerque saiu à liça e desfez os ténues argumentos, se assim se pode chamar às especulações esotéricas, cabalísticas, moedas que na ciência histórica nada valem. A lenda da naturalidade portuguesa de Colombo tem precedentes.
Em 1927, Patrocínio Ribeiro editou em Lisboa (edição bilingue, português -inglês) –
A Nacionalidade Portuguesa de Cristóvão Colombo. Solução do Debatidíssimo Problema da sua Naturalidade pela Decifração Definitiva da Cifra Hieroglífica; em 1928, nova arremetida –
D. Cristóbal Colón ou Syman Palha, na História e na Cabala, obra de Pestana Júnior; em 1930 foi a vez do major Santos Ferreira, com
Salvador Gonsalves Zarco (Cristóbal Cólon). Os Livros de D. Tivisco; Alexandre Gaspar da Naia publicou em 1950 e 1951 dois livros –
Cristóbal Colón. Instrumento da Política Portuguesa da Expansão Ultramarina Portuguesa e
D. João II e Cristóbal Colón.
Factores Complementares na Consecução de Usar o Mesmo Objectivo. Há ainda um opúsculo de Manuel Luciano da Silva –
O português Cristóbal Colón. Como se vê, Mascarenhas Barreto, trinta e tal anos depois da última tentativa, avançou com a sua.
Ofereceu o livro ao Professor Luís de Albuquerque onde exaltava a sua honestidade e erudição, manifestando a sua profunda admiração. Porém, quando o Professor desmontou peça por peça o seu tosco artefacto de ilusionismo circense, passou a ser qualificado como «escumalha», «comunista», «marxista-leninista», «internacionalista». Alguns jornais exultaram, pondo em pé de igualdade mistificador e cientista, ofensor e insultado. Jornalistas pouco escrupulosos (há alguns) aproveitaram a polémica para compor artigos sensacionalistas, apelando ao nacionalismo, como se para ser patriotas tivéssemos que acreditar em fantasias.
Não vou aqui esmiuçar a questão – remeto-vos para o livro citado de Luís de Albuquerque.. Porque a questão resume-se a isto – não há questão - existem provas documentais insofismáveis de que Colombo nasceu em Génova e perante essas provas o que são «explicações» esotéricas ou que vem fazer a história dos Templários (que tem sido pau para toda a obra)? Que José Rodrigues dos Santos defenda a mesma tese no romance “
Codex 632” (Lisboa, 2005), compreende-se – é um romancista. Que um historiador queira falsificar a história, é coisa que não se aceita.
E depois porquê tanta discussão por causa de um navegador que, mesmo com estrolabio, estava num continente que os mapas da época não registavam, supondo estar nas Índias e que morreu sem saber que estava enganado? Temos o Vasco da Gama que quis ir à Índia e foi; o Pedro Álvares Cabral que queria achar um Novo Mundo e achou! Para que queremos nós o Colombo? Nasceu em Génova - é genovês.
O amor à pátria é uma virtude, o chauvinismo é peçonha. Queremos o que é nosso – Olivença, por exemplo – Itália tem direito a Cristoforo Colombo – apesar de estar mais ligado à nossa história (e sobretudo à de Castela) do que à de Génova. O mesmo aconteceu com Fernando Bulhões - nasceu em Lisboa, mas foi em Pádua que foi Santo António – é português. Colombo é genovês. E isto parecendo um conselho ao nosso Luís Moreira para não defender teses fantasiosas e desacreditadas, tem sobretudo a ver com uma troca de impressões que vou ter com o nosso Professor Sílvio Castro a propósito da Literatura Brasileira. Mas isso fica para amanhã.