Sábado, 9 de Outubro de 2010
Pedro GodinhoEi-los de volta, na rua. É o regresso das praxes.
Grupos de estudantes, rua abaixo rua acima, ululantes, gritam e uivam frases sem nexo ou, simplesmente, obscenidades. Muitos com cartazes, que os apoucam, pendurados ao pescoço, como na revolução cultural da china maoísta.
Comandados por trajados de doutores, de megafone e peito cheio a ditar ordens, tanto mais excitados quando aquelas mais alcoolizam e humilham as bestas, nome dado aos caloiros pelosauto-intitulados veteranos.
As comissões de praxe atraem os pequenos ditadores, primatas, ansiosos por usarem e abusarem do poder que aquelas lhes dão. Não raro são veteranos do chumbo e notas baixas.
Sem inteligência nem criatividade, repetem de ano para ano uma praxe baseada em acções de humilhação e violência, frequentemente resultando em acidentes graves (inclusive mortes, paraplegias) sem que apesar disso se abstenham de reincidirem.
Não é aceitável o argumento que só participa quem quer e quem não quer pode recusar a praxe. Primeiro, pela manipulação dos jovens estudantes que se querem integrar na nova instituição – e a quem chega a ser dito que quem não é praxado não pode depois participar nas actividades promovidas pela academia. Segundo, ninguém tem que ter de se declarar anti-praxe ou o que quer que seja para não ser alvo e vítima de acções indesejadas. Terceiro, porque o argumento é falso, a coacção, violência e brutalidade imperam nas praxes, também dentro das instalações universitárias.
Perante a omissãoe indiferença, complacente e conivente, de reitores da universidade e directores de faculdade, de sindicatos e de professores, de associações de estudantes, das jotinhas dos partidos, de polícias, do ministério da educação e do ministério público. Todo, convenientemente, alheados como se não fosse nada com eles, reagindo apenas, quantas vezes com enfado e procurando desculpas, se obrigados por queixa judicial.
A violência e humilhação não podem ser desculpadas a pretexto de se tratar apenas duma brincadeira etradição.
As tradições não valem por o ser. Até porque antes de o ser não eram. Não é, simplesmente, por ser tradição que algo tem valor e deve continuar. Há-as boas e infames. Há tradições a extinguir, logo.
Parafraseando o Almada, a praxe cheira mal da boca, morra a praxe, morra, Pim!
A praxe é uma "tradição" execrável. Em Coimbra, onde faria algum sentido falar de "tradição académica", talvez se pudesse tolerar, mediante alguma contenção - alguns turistas acham graça a essas tontices. Em universidades criadas há meia dúzia de anos, deveria constituir casos de polícia.
A generalização do traje (antes circunstrito a Coimbra e mesmo aí, a partir de certa altura, sendo conotado com posições de direita), com laivos de palhaçada em Braga, onde foram buscar figurinos do século XVIII, não tem também qualquer sentido válido. Cambridge e Oxford (um pouco mais antigas do que a Moderna ou a Lusófona..., têm uniformes. blasers com um emblema no bolso superior.
Uma cretinice pirosa, com expressão eloquente nas canções ordinárias cantadas pelas tunas e nos cantores pimba convidados para os festejos académicos, invadiu as nossas universidades.
Isto dá-me vómitos. Ver estes ditadores/doutores em potência apoiados por toda uma pleiade de falsos democratas que acham que vale tudo. Agradeço-te, Pedro, que tenhas trazido este assunto à discussão.
De Carlos Mesquita a 9 de Outubro de 2010
A batina não aumenta os recursos cerebrais, como demonstra a matemática.
Xunga igual a imbecil, xunga escolarizado igual a imbecil ao quadrado.
A prova dos nove são as praxes.
De clara castilho a 10 de Outubro de 2010
Certo! Já agora acrescento outra preocupação: a dos estudantes marrões que se vão tornar profissionais que não sabem relacionar-se com pessoas. Quem tem internos de medicina conta-me o receio de ver aqueles futuros doutores a tratar pacientes: nem nos olhos sabem olhar, recitam de cor partes do corpo e situações sem olharem para o conjunto total, o paciente não é um ser humano que tem que ser olhado e senmtido como tal, com a sua história pessoal e social... Isto tem a ver com a situação que o Pedro nos colocou? Acho que sim...
De Anónimo a 23 de Janeiro de 2011
Eu enquanto caloiro de Coimbra, defendo a praxe, ou pelo menos aquela a que fui sujeito, a praxe ajuda-nos a integrar, ajuda-nos a ser mais fortes psicologicamente, a saber lidar com situações adversas, a saber respeitar quem está num estatuto a cima do nosso. Ensina-nos a praxar, para depois sabermos praxar como deve ser os futuros caloiros.
Faz com que sejamos mais unidos (apesar de isso dps ñ se revelar no futuro, e só se vê isso no ano de caloiros). A praxe é uma tradição a manter, com regras claro, mas é para manter.
Pedro, a sua opinião não sei se é uma opinião por experiência, se por ver ou ouvir falar, se for por experiência, de certeza que encontra pontos positivos na praxe, se for baseada em relatos ou ter visto alguma praxe, certifique-se de que sabe a historia toda, ou se está a avaliar bem aquilo que viu ou ouviu.
Eu sou contra as "praxes" violentas, mas isso ñ é praxe é outra coisa qualquer-crime talvez
Há muitas pessoas que querem praxar, usar traje, participar nas festas académicas (latada e queima das fitas), isto é usufruir de todos os direitos académicos, sem ter de passar pela fase mais penosa, a praxe. qual a vossa ideia disto? acham correcto? qual o valor que essas pessoas vão dar ao traje? com que direito essas pessoas vão praxar os caloiros? que conhecimentos sobre praxe é que esses "doutores" tem? como é que eles vão praxar? qual o sentido de entrar em todas as festas académicas seguir todas as tradições menos a tradição da praxe? em que profissionais se tornarão esses indivíduos? pensem nisto!
Esta minha ultima parte vem responder ao porque de declarar caloiros anti-praxe (para perder o direito de usufruir de todas ou pelo menos alguns direitos académicos), e também o pq de quase obrigar os caloiros a serem praxados!
A vida em sociedade, a vida adulta, ñ é para flores de estufa! os pais muitas vezes estragam os seus filhos, por os protegerem em demasia, pq se lhes tocarem partem... muito do que se fala contra a praxe é por este motivo!
Quanto ao traje, meus amigos, só os universitários sabem dar o devido valor, sabem a distinção em o usar. e eu falo dos universitários e não daqueles que estudam na universidade! saibam distinguir! não criem juízos de valor sem saber daquilo q estão a falar, não cometam esse crasso erro!
Anónimo, por alma das santinhas, esta gente aqui foi toda estudante universitária e metade são professores universitários. Nunca praxei e nunca fui praxado, e gozei de todos os direitos de estudante, incluindo chumbar várias vezes. Sabe que o traje académico servia porque não havia roupa para mudar todos os dias e, já agora, o banho diário era "ao sábado" por semana?? Era sair da bebedeira e ir directamente para as aulas, não tem nada a ver com tradição, agora toda a gente tem jeanes (pode mudar todos os dias).
De augusta clara a 24 de Janeiro de 2011
A minha resposta é só uma: não te preocupes que a vida, por si própria, cura as flores de estufa todas. Não são precisas praxes.
De Anónimo a 24 de Janeiro de 2011
O traje transformou-se numa tradição, num dos símbolos académicos. Tudo aquilo que hoje é tradição, teve um inicio teve uma razão, uma história...
Não vamos estragar a vida académica tradicionalmente de Coimbra!
As tradições têm que ter uma razão de ser. O trajo académico, hoje, não serve para nada, a não ser para distinguir quem anda a estudar, como se fosse um estatuto de escalão superior. E, as praxes, são uma vergonha.
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