Quinta-feira, 28 de Outubro de 2010

Dia de Lisboa - Lisboa, a Poesia, a Música & etc.



Lemos algures que Lisboa é a cidade do mundo à qual mais poemas foram dedicados. Não sabemos se é verdade, nem isso nos interessa. Imaginem que contaram nessa lista de centenas ou milhares de composições com letras de fados - algumas magníficas, como as do David Mourão-Ferreira, por exemplo, outras de uma banalidade atroz?

Imaginem que contaram com as letras das marchas da cidade? Bem, achamos que uma cidade como Lisboa merece ser cantada pelos poetas. Porém, não podemos impedir os poetastros e os versejadores de a cantarem também .Até porque  Lisboa é uma cidade que faz de cada um dos lisboetas um poeta. E lisboetas são todos os que vivem em Lisboa e nela não vivendo, todos os que a amam.

Estamos desde o primeiro minuto deste dia a publicar poesia, música, pintura, cijo tema é Lisboa. Agora vêm também aí alguns textos. Mas para já, aqui temos mais um poema de Fernando Pessoa:

Lisbon Revisited (1926)



Nada me prende a nada.
Quero cinqüenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja -
Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.

Fecharam-me todas as portas abstratas e necessárias.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.
Não há na travessa achada o número da porta que me deram.

Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta - até essa vida...

Compreendo a intervalos desconexos;
Escrevo por lapsos de cansaço;
E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia.
Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme;
Não sei que ilhas do sul impossível aguardam-me naufrago;
ou que palmares de literatura me darão ao menos um verso.

Não, não sei isto, nem outra coisa, nem coisa nenhuma...
E, no fundo do meu espírito, onde sonho o que sonhei,
Nos campos últimos da alma, onde memoro sem causa
(E o passado é uma névoa natural de lágrimas falsas),
Nas estradas e atalhos das florestas longínquas
Onde supus o meu ser,
Fogem desmantelados, últimos restos
Da ilusão final,
Os meus exércitos sonhados, derrotados sem ter sido,
As minhas cortes por existir, esfaceladas em Deus.

Outra vez te revejo,
Cidade da minha infância pavorosamente perdida...
Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui...
Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui vivi, e aqui voltei,
E aqui tornei a voltar, e a voltar.
E aqui de novo tornei a voltar?
Ou somos todos os Eu que estive aqui ou estiveram,
Uma série de contas-entes ligados por um fio-memória,
Uma série de sonhos de mim de alguém de fora de mim?

Outra vez te revejo,
Com o coração mais longínquo, a alma menos minha.

Outra vez te revejo - Lisboa e Tejo e tudo -,
Transeunte inútil de ti e de mim,
Estrangeiro aqui como em toda a parte,
Casual na vida como na alma,
Fantasma a errar em salas de recordações,
Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem
No castelo maldito de ter que viver...

Outra vez te revejo,
Sombra que passa através das sombras, e brilha
Um momento a uma luz fúnebre desconhecida,
E entra na noite como um rastro de barco se perde
Na água que deixa de se ouvir...

Outra vez te revejo,
Mas, ai, a mim não me revejo!
Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico,
E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim -
Um bocado de ti e de mim!...

( Álvaro de Campos, in "Poemas")


Informamos que estes dias temáticos são para continuar - o próximo será sobre  a cidade portuguesa, romãntica por excelência - o Porto. E não ficaremos por aí...

A figura de um desses lisboetas, o Fernando pintado pelo grande Almada Negreiros abre esta primeira crónica matinal. Encerramo-la com outro lisboeta, João Villaret, dizendo o seu "Recado a Lisboa":

publicado por Carlos Loures às 09:00
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