Texto de Pedro Godinho eFotografia de José Magalhães
I
Pedras.
Pedras cinza e encantadas, que ladeiam caminhos e abrem alas que percorro, atento, espada alerta, porque podem esconder a emboscada ou surpresa, para a qual um Cavaleiro, como ambiciono ser, tem de estar preparado.
Pedras, algumas, quese transformam em temidos adversários, que se erguem à minha passagem, com que cruzo o aço e ultrapasso feito herói.
Pedras duras e brutas, que os homens empilham e formam casas ou, melhor ainda, castelos, como o que o meu olhar alcança no horizonte e a minha coragem quer conquistar.
Pedras que formam muralhas e ameias, e do alto da torre, espada erguida, lanço másculo grito – Viva a Liberdade – com que saúdo a libertação dos prisioneiros salvos do malvado senhor que acabo de derrotar.
Pedras dos jogos de infância.
II
Pedras.
Pedras negras e gastas, abandonadas e sem utilidade, sem riqueza nem rendimento.
Pedras que de nada me servem, que nem vender as consigo e por elas ninguém consigo interessar.
Pedras em ruína, ganhas em testamento, má fortuna a minha que mas deixaram em vez de terreno urbanizável e transaccionável.
Pedras que nem sequer posso derrubar, classificadas que foram em património não sei de quê, e substituir por moderno condomínio, esse sim do qual podia desfrutar.
Pedras dum raio.
III
Pedras.
Pedras sépia e fartas, que guardo em foto encastrada, que me acompanha faz anos em todas as viagens e residências.
Pedras que me ligam à terra onde nasci, à infância que me foi fazendo homem, terra que abandonei em busca do ouro dos tempos modernos.
Pedras do castelo que me fez Cavaleiro, do terreno em que batalhei imaginárias guerras contra as forças do mal e encarnei, com glória, o bem e a energia vital.
Pedras minhas, quanto eu não dava para rever e andarilhar aquelas pedras, cinza, encantadas, negras, brutas, pedras belas. As minhas pedras.
Pedras da memória.
De Manuela a 25 de Outubro de 2010
Que inveja de na minha infância não ter podido ser, também eu, Cavaleira das Pedras.
Bela foto, muita boa mesmo, e um texto inusitado envolto em nevoeiro. Bem bonito!Estão feitos um com o outro...
Um belíssimo texto, Pedro Godinho. Obrigado
De
carla a 25 de Outubro de 2010
Parabéns aos dois, excelente.
De Pedro a 25 de Outubro de 2010
A leitura deixou-me pedrado.
Há ideias que não funcionam - esta, está a ser uma maravilha - uma boa fotografia desencadeia a imaginação de quem escreve. Está a dar lugar a uma galeria impressionante. Pedro e José, que belo trabalho está aqui. Parabéns.
De Raul Santos a 25 de Outubro de 2010
Saiu na lista do Google quando procurava entradas para olhares sobre olhares. Tive curiosidade, vim ver e gostei. Voltarei.
De Silvia a 25 de Outubro de 2010
É assim que se vê que a prosa também pode ser poesia.
Silvia e Raul Santos, voltem sempre e participem. Obrigado.
De João a 26 de Outubro de 2010
A Sílvia mensajou o pessoal para vir ler.
É como diz esse Pedro dos comentários.
Grande moca de texto.
Tá-se.
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