Manuel María foi uma das vozes mais emblemáticas do ressurgimento do galego como língua literária. Grande poeta, escreveu obras como Mar maior (1963), Os sonhos na gaiola (1968), Remol (1970), Cantos rodados para alheados e colonizados (1973), O livro das badaladas (1977), O caminho é uma nostalgia (1985), As lúcidas luas do Outono (1988), Os longes do solpor (1993) e tantos outros – cerca de três dezenas de obras.
Nasceu em Outeiro de Rei, em 6 de Outubro de 1929 e faleceu na Corunha, em 8 de Setembro de 2004. Filho de camponeses, exaltou na sua obra o labor dos trabalhadores do campo, dos labregos. Foi um homem que não fugiu ao compromisso político, mas sem esquecer a dimensão humana no seu todo, incluindo o amor e a fraterna amizade. Da obra 99 Poemas de Manuel María (Razão Actual, Porto, 1972), seleccionei «O labrego». De notar que a palavra «labrego», que para os portugueses pode ter uma conotação levemente pejorativa, para os galegos é o vocábulo usado para «camponês»:
O Labrego
Un labrego tan só é unha cousa que case non repousa.
Da sementeira a seitura, pasando pela cava, a súa vida é moi dura e moi escrava.
Sempre trafegando, arando, sachando, malhando, gadanhando, percurando o gando.
Sempre a olhar pró ceo com medo e com receo. Sempre a sementar ilusión ponhendo na semente o corazón pra colheitar probeza e mais tristura.
Dilhe ao labrego da beleza da campía, da súa fermosura e poesia.
Dírache que sí, que a beleza pra tí.
Pró labrego é o trabalho o andar tocado do caralho, o pan mouro i o toucinho.
(Múdanse de calzado ou de traxe cando van de viaxe, de feira ou de romaxe e xantan, eses días, pulpo e vinho); os eidos ciscados, minifundiados que quér decir atomizados); o matarse sachar de sol a sol pra lograr seis patacas com furacas, catro grãos de centeo i unha col; o dobregarse sobor dos sucos pra pagar gabelas e trabucos; o vivir entre esterco i animales en chouzas case inhabitabeles.
I aguantar, aguanta e aguantar, Agardando morrer pra descansar .