Sábado, 30 de Abril de 2011

2 - Primeiro de Maio - DIA INTERNACIONAL DOS TRABALHADORES

 

 

Breve história de A Internacional

 

A Internacional é o hino dos trabalhadores de todo o mundo.

 

Ao contrário do que se possa pensar, não é um hino comunista - tem havido, isso sim, uma apropriação indevida do hino por parte dos partidos comunistas e de partidos ditos socialistas que, inclusive, se arrogam o direito de alterar a letra original de modo a que ela se ajuste às sua linhas ideológicas. O poema foi, aliás, escrito antes de existir a música e pensado como variante à letra Marselhesa, embora destinado a ser cantado com a música que Claude Joseph Rouget de Lisle compôs em 1792 e que viria a ser adoptada como hino nacional francês.

 

A letra de A Internacional foi escrita em francês por Eugène Pottier (1816-1887) em 1871. Pottier fora um dos comunnards e concebeu o poema como uma homenagem aos que se bateram pelo ideais da Comuna de 1870.

Em 1888, Pierre De Geyter (1848-1932) musicou o poema de Pottier. Nascera A Internacional. De registar que o operário francês Pottier e  o operário belga De Geyter, que nunca se conheceram, eram ambos anarquistas.

 

Em 1896 realizou-se em Lille o Congresso do Partido Operário Francês a que assistiram delegados de todo o mundo. Foi a partir desse congresso em que o hino foi cantado, que a música se universalizou

 e foram escritas versões em quase todos os idiomas. O autor da letra em português foi o anarco-sindicalista Neno Vasco (1878-1923), um escritor, jornalista e advogado português que viveu no Brasil e teve actividade política em ambos os países.

 

A sua versão foi escrita em 1909 e é assim:

 

De pé, ó vitimas da fome
De pé, famélicos da terra
Da ideia a chama já consome
A crosta bruta que a soterra

Cortai o mal bem pelo fundo
De pé, de pé, não mais senhores
Se nada somos em tal mundo
Sejamos tudo, ó produtores

Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional

Senhores, Patrões, chefes supremos
Nada esperamos de nenhum
Sejamos nós que conquistamos
A terra mãe livre e comum

Para não ter protestos vãos
Para sair desse antro estreito
Façamos nós por nossas mãos
Tudo o que a nós nos diz respeito

Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional

O crime de rico, a lei o cobre
O Estado esmaga o oprimido
Não há direitos para o pobre
Ao rico tudo é permitido

À opressão não mais sujeitos
Somos iguais todos os seres
Não mais deveres sem direitos
Não mais direitos sem deveres

Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional

Abomináveis na grandeza
Os reis da mina e da fornalha
Edificaram a riqueza
Sobre o suor de quem trabalha

Todo o produto de quem sua
A corja rica o recolheu
Querendo que ela o restitua
O povo só quer o que é seu

Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional

Nós fomos de fumo embriagados
Paz entre nós, guerra aos senhores
Façamos greve de soldados
Somos irmãos, trabalhadores

Se a raça vil, cheia de galas
Nos quer à força canibais
Logo verás que as nossas balas
São para os nossos generais

Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional

Pois somos do povo os ativos
Trabalhador forte e fecundo
Pertence a Terra aos produtivos
Ó parasitas deixai o mundo

Ó parasitas que te nutres
Do nosso sangue a gotejar
Se nos faltarem os abutres
Não deixa o sol de fulgurar

Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional

 

Sabemos haver uma versão interpretada pelo coro do Teatro Nacional de São Carlos, mas a ela não tivemos acesso. Esta versão do Partido Comunista Português, musicalmente bem interpretada e apenas com, salvo erro, dois versos alterados (além dos que são cortados para não tornar o hino demasiado extenso) foi o unico que encontrámos disponível. As imagens que acompanham o hino, essas sim, são abertamente manipuladoras. Fechemos os olhos e ouçamos:

 

 

 

publicado por Carlos Loures às 23:59
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1-Primeiro de Maio - DIA INTERNACIONAL DOS TRABALHADORES

Dentro de uma hora, iniciaremos as comemorações do Dia Mundial do Trabalhador. O texto de José Brandão que a seguir apresentamos recorda-nos por que motivo o Primeiro de Maio é celebrado pelos trabalhadores de todo o mundo. 

 

 

 

 

Chicago, Maio de 1886

 

- por José Brandão 

 

Em 1886, Chicago foi palco de uma intensa greve operária. À época, Chicago não era apenas o centro da máfia e do crime organizado era também o centro do anarquismo na América do Norte, com importantes jornais operários como o Arbeiter Zeitung e o Verboten, dirigidos respectivamente por August Spies e Michel Schwab.

 

Como já se tornou praxe, os jornais patronais chamavam os líderes operários de preguiçosos e canalhas que buscavam criar desordens. Uma passeata pacífica, composta de trabalhadores, desempregados e familiares silenciou momentaneamente tais críticas, embora com resultados trágicos no pequeno prazo. No alto dos edifícios e nas esquinas estava posicionada a repressão policial. A manifestação terminou com um ardente comício.

No dia 3, a greve continuava em muitos estabelecimentos. Diante da fábrica McCormick Harvester, a policia disparou contra um grupo de operários, matando seis, deixando 50 feridos e centenas presos, Spies convocou os trabalhadores para uma concentração na tarde do dia 4. O ambiente era de revolta apesar dos líderes pedirem calma.

 

Os oradores alternavam-se; Spies, Parsons e Sam Fieldem, pediram a união e a continuidade do movimento. No final da manifestação um grupo de 180 policiais atacou os manifestantes, espancando-os brutalmente. Uma bomba estourou no meio dos guardas, uns 60 foram feridos e vários morreram. Entretanto, chegaram reforços e começaram a atirar em todas as direcções. Dezenas de pessoas de todas as idades morreram.

A repressão foi aumentando num crescendo sem fim: decretou-se “Estado de Sítio” e proibição de sair às ruas. Milhares de trabalhadores foram presos, muitas sedes de sindicatos incendiadas, criminosos e gangsters pagos pelos patrões invadiram casas de trabalhadores, espancando-os e destruindo os seus haveres.

 

A justiça burguesa levou a julgamento os líderes do movimento, August Spies, Sam Fieldem, Oscar Neeb, Adolph Fischer, Michel Shwab, Louis Lingg e Georg Engel. O julgamento começou dia 21 de Junho e desenrolou-se rapidamente. Provas e testemunhas foram inventadas. A sentença foi lida dia 9 de Outubro, no qual Parsons, Engel, Fischer, Lingg, Spies foram condenados à morte na forca; Fieldem e Schwab, à prisão perpétua e Neeb a quinze anos de prisão.

 

Spies fez a sua última defesa:

 

"Se com o nosso enforcamento vocês pensam em destruir o movimento operário - este movimento de milhões de seres humilhados, que sofrem na pobreza e na miséria, esperam a redenção – se esta é sua opinião, enforquem-nos. Aqui terão apagado uma faísca, mas lá e acolá, atrás e na frente de vocês, em todas as partes, as chamas crescerão. É um fogo subterrâneo e vocês não poderão apagá-lo!"

Parsons também fez um discurso:

 

"Arrebenta a tua necessidade e o teu medo de ser escravo, o pão é a liberdade, a liberdade é o pão". Fez um relato da acção dos trabalhadores, desmascarando a farsa dos patrões com minúcias e falou de seus ideais:

 

"A propriedade das máquinas como privilégio de uns poucos é o que combatemos, o monopólio das mesmas, eis aquilo contra o que lutamos. Nós desejamos que todas as forças da natureza, que todas as forças sociais, que essa força gigantesca, produto do trabalho e da inteligência das gerações passadas, sejam postas à disposição do homem, submetidas ao homem para sempre. Este e não outro é o objectivo do socialismo".

 

Em baixo: mártires de Chicago: Parsons, Engel, Spies e Fischer

 foram enforcados, Lingg (ao centro)suicidou-se na prisão.

 

 

 

 

 

No dia 11 de Novembro, Spies, Engel, Fischer e Parsons foram levados para o pátio da prisão e executados. Lingg não estava entre eles, pois suicidou-se. Seis anos depois, o governo de Illinois, pressionado pelas ondas de protesto contra a iniquidade do processo, anulou a sentença e libertou os três sobreviventes.

 

Em 1888 quando a AFL realizou o seu congresso, surgiu a proposta para realizar nova greve geral em 1º de Maio de 1890, a fim de se estender a jornada de 8 horas às zonas que ainda não haviam conquistado.

 

Como nos Estados Unidos já havia sido marcada para o dia 1º de Maio de 1890 uma manifestação similar, manteve-se o dia para todos os países.

No segundo Congresso da Segunda Internacional em Bruxelas, de 16 a 23 de Setembro de 1891, foi feito um balanço do movimento de 1890 e no final desse encontro foi aprovada a resolução histórica: tornar o 1º de Maio como "um dia de festa dos trabalhadores de todos os países, durante o qual os trabalhadores devem manifestar os objectivos comuns de suas reivindicações, bem como sua solidariedade".

 

Como vemos, a greve de 1º de Maio de 1886 em Chicago, nos Estados Unidos, não foi um facto histórico isolado na luta dos trabalhadores, ela representou o desenrolar de um longo processo de luta em várias partes do mundo.

 

O incipiente movimento operário que nascera com a revolução industrial, começava a atentar para a importância da internacionalização da luta dos trabalhadores. O próprio massacre ao movimento grevista de Chicago não foi o primeiro, mas passou a simbolizar a luta pela igualdade, pelo fim da exploração e das injustiças.

 

Muitos foram os que tombaram na luta por mundo melhor, do massacre de Chicago aos dias de hoje, um longo caminho de lutas históricas foi percorrido. Os tempos actuais são difíceis para os trabalhadores, a nova revolução tecnológica criou uma instabilidade maior, jornadas mais longas com salários mais baixos, cresceu o número de seres humanos capazes de trabalhar, porém para a nova ordem eles são descartáveis.

 

Neste sentido, naturalmente, a reflexão das lutas históricas passadas torna-se essencialmente importante, como aprendizagem para as lutas actuais.

 

Ouçamos, na voz de Luísa Basto, com música do Maestro Fernado Lopes-Graça e com poema de José Gomes Ferreira, a canção Jornada (mais conhecida como "Vozes ao Alto").

 

Jornada

Não fiques para trás oh companheiro
É de aço esta fúria que nos leva
Para não te perderes no nevoeiro
Segue os nossos corações na treva.

Vozes ao alto, vozes ao alto
Unidos como os dedos da mão
Havemos de chegar ao fim da estrada
Ao sol desta canção.

Aqueles que se percam no caminho
Que importa? Chegarão no nosso brado
Porque nenhum de nós anda sózinho
E até mortos vão a nosso lado.

 

 

 

 

 

 

publicado por Carlos Loures às 23:00
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30 Belcanto - Teresa Stratas - por Carla Romualdo e Carlos Loures

Teresa Stratas, soprano nascida no Canadá, em 1938, e de origem grega, estreou-se em Toronto, aos 20 anos, no papel de Mimi, de La Bohème.


Dotada de uma grande intensidade dramática, e de um magnetismo pessoal que a fez receber o epíteto de “Baby Callas”, Stratas construiu uma carreira assente numa versatilidade surpreendente. Para além do repertório habitual de soprano (Mozart, Puccini, Verdi), estreou The Last Savage, de Menotti, The Ghosts of Versailles, de Corigliano, e foi a estrela da primeira apresentação integral da Lulu, de Alban Berg.

 


No final da década de 1970, conheceu Lotte Lenya, a viúva do compositor alemão Kurt Weil (Dessau, 1900 – Nova Iorque, 1950), que lhe cedeu as partituras de várias canções inéditas do marido. Lenya haveria de dizer que Stratas cantava as canções de Weil como se estas tivessem sido escritas para ela.


Já nos anos 80, Stratas viajou para Calcutá, onde trabalhou com a Madre Teresa no orfanato e no hospital de Kalighat, experiência que haveria de repetir num hospital da Roménia, na década seguinte.  


Composta por Weil em 1934, Youkali: Tango Habanera começou por ser um instrumental para Marie Galante, um musical escrito em parceria com o  francês Jacques Deval. Em 1946, Roger Farnay escreveu a letra e a canção tornou-se uma das mais conhecidas do ciclo de canções de cabaret de Weil.

 

 

 

 

publicado por Carlos Loures às 22:00
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Morreu Ernesto Sábato.

 

Morreu hoje o grande escritor argentino Ernesto Sábato. Nasceu em 1911, em Rojas, província de Buenos Aires. Destacam-se entre a sua obra El Túnel (1948), Sobre Heróes y Tumbas (1961) e Abaddón el  exterminador (1974). Venceu o Prémio Cervantes em 1984). Grande resistente à ditadura militar, foi Presidente da Comissão Nacional sobre a Desaparição de Pessoas, e liderou a preparação do relatório Nunca Mais, também conhecido por Relatório Sábato. Em sua honra, voltamos a apresentar este texto do Carlos Loures, seu tradutor. Ernesto Sábato foi um grande homem, escritor de excepção e cientista. Era também adepto de futebol e fã do Boca Juniors. Honremos a sua memória.

 

 

 

 

 

Cultura, democracia e futebol

 

Carlos Loures

 

Estas três palavras andam por vezes tão separadas que mais parecem pertencer a três diferentes idiomas. Quando ouvimos as claques insultar os adversários em linguagem rasteira ou quando tomamos conhecimento de actos de corrupção ou de deturpação da verdade desportiva, é difícil associar ao futebol os conceitos de cultura e de democracia. No entanto, ao longo da minha vida profissional, grande parte dela passada no mundo da edição, por diversas vezes me cruzei com o futebol. Vou referir dois desses fortuitos encontros.

 

 

 

 

 

Anos atrás, traduzi um livro de Ernesto Sábato, o grande escritor argentino, um dos indigitados crónicos para o Prémio Nobel da Literatura. Foi o romance «Sobre héroes y tumbas» que na edição portuguesa, com o acordo do autor, ficou «Heróis e Túmulos». Não foi trabalho fácil, pois tendo estudado o castelhano europeu, deparei com um texto cheio de argot porteño que só vim a decifrar com a ajuda de Sábato. - tendo-lhe confiado os problemas, mandou-me um glossário com termos que os dicionários de que dispunha  não registavam.

 

Contudo, o que me surpreendeu num intelectual de tamanha dimensão foi o rigor com que as suas personagens discorriam sobre futebol, descrevendo jogadas de confrontos históricos entre o Boca e o River Plate, evocando grandes jogadores... Vim depois a saber que Sábato, hoje quase centenário, pois nasceu em Junho de 1911, é um fervoroso adepto do Boca Juniors, o clube do mítico Diego Maradona. Hei-de voltar a falar de Ernesto Sábato e oxalá que seja a propósito da atribuição do Nobel – poucos escritores houve e há que tanto justifiquem esse galardão.

 

Num almoço que, há muitos anos tive com o grande musicólogo João de Freitas Branco e com o maestro Ivo Cruz no restaurante Belcanto, no Largo de São Carlos, Freitas Branco contou-me um episódio muito curioso ocorrido durante a vinda a Lisboa do grande violinista ucraniano David Oistrakh, que na altura era considerado o maior executante do mundo, sobretudo de compositores do repertório russo contemporâneo.

 

 

Logo após a chegada e a recepção protocolar, Oistrakh chamou Freitas Branco de parte e pediu-lhe para lhe arranjar maneira de ir ver o Eusébio jogar. Embora surpreendido pelo inusitado pedido, o maestro contactou o presidente do Benfica e logo foi disponibilizado um camarote para Oistrakh e Freitas Branco. Diz-se que, no final do concerto, o grande violinista não agradeceu pela segunda vez os aplausos do público do São Carlos, para poder chegar rapidamente ao estádio. No final do jogo, em que Eusébio marcou um golo magnífico, David Oistrakh foi ao balneário cumprimentar o jogador.

 

Sobre o concerto em São Carlos, o grande escritor José Gomes Ferreira escreveu um interessante poema, que vem publicado no 2º volume de Poeta Militante (Não, não deixes secar/este fio de água de violino/que nas manhãs de ouro/completa as nossas sombras com flores -/ enquanto os pássaros de sementes nos olhos/procuram na espiral dos voos/outro cárcere de recomeço.). A leitura deste belo poema de Gomes Ferreira, leva-nos até a Fernando Namora e a Manuel Alegre. O primeiro, no seu poema «Marketing», alude aos 5-3 do Eusébio à Coreia. Manuel Alegre, sobre o «Pantera Negra» diz:

 

Havia nele a máxima tensão

Como um clássico ordenava a própria força

Sabia a contenção e era explosão

Não era só instinto era ciência

Magia e teoria já só prática

Havia nele a arte e a inteligência

Do puro e sua matemática

Buscava o golo mais que golo – só palavra

Abstracção ponto no espaço teorema

Despido do supérfluo rematava

E então não era golo – era poema.

 

 

Futebol, democracia e cultura – palavras de idiomas diferentes e de distintos mundos conceptuais? Não necessariamente. Figuras míticas como Pinga, Pepe, Peyroteo, Eusébio fazem parte da face luminosa do futebol. Bem sei que há a face oculta, aquela a que a resplandecente luz solar da verdade nunca chega – claques, subornos, tráficos diversos… Hoje quis falar da sua face positiva, luminosamente inspiradora.

 

Aquela em que o futebol nos reconcilia com a beleza da vida, dela fazendo parte. O futebol não tem de estar sempre nos antípodas da cultura e da democracia.

 

Nota: Publiquei este texto no "Todos Somos Portugal", um blogue do nosso colaborador Carlos Godinho. É um blogue ligado às coisas do futebol em particular, nomeadamente da actividade das selecções, e do desporto em geral. Por serem estes dias dominados pelo futebol, pareceu-me oportuno publicá.lo aqui também.

publicado por João Machado às 21:00
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Crise, Falência e Incumprimento : economia e política da reestruturação da dívida da Islândia. PARTE III

Júlio Marques Mota (continuação daqui )

 

5) A entrada em confronto do povo islandês e o referendo de 6 de Março de 2010

 

Sob a pressão da população que multiplica as manifestações, o governo conservador demite-se no início do ano 2009, depois de dezoito anos passados no poder[30]. Uma união entre sociais-democratas e Verdes assumem então as rédeas do poder com a pretensão de entrarem o mais depressa possível na União Europeia e de adoptarem o euro[31]. A 17 de Julho de 2009, a candidatura à entrada é apresentada oficialmente. (Alguns meses mais tarde, a 24 de Fevereiro de 2010, a Comissão Europeia recomendará a abertura de negociações[32]).

 


[30] Todos os Sábados, os islandeses manifestavam-se com tambores, caçarolas e bidons em frente ao Parlamento. Era a “revolução das caçarolas”.

[31] A questão europeia sempre dividiu profundamente a coligação.

[32] Para uma apresentação da atitude geral e das iniciativas  tomadas  pela União Europeia  no decorrer da  crise das dívidas soberanas na Europa, veja-se a nota de. Sterdyniak disponível em : http://atterres.org.

 

O conflito Icesave e a sua resolução

 

Nada no entanto podia ser feito, enquanto não se encontrasse uma solução para o conflito Icesave. De facto foi necessário esperar vários meses que o reputado “acordo de princípio” assinado a 14 de Novembro de 2008 seja posto em prática, a fim de se lhe dar um conteúdo. Finalmente, a partir de Fevereiro de 2009, a Islândia, o Reino Unido e os Países Baixos comprometem-se em negociações formais. Durarão, por seu lado, vários meses. Concluir-se-ão por um protocolo de acordo estabelecido a 5 de Junho de 2009[33]. A roupagem jurídica encontrada consiste em postular que a Grã-Bretanha e a Holanda, que indemnizaram os seus depositantes no caso Icesave, efectuaram de facto um “empréstimo” à Islândia. O protocolo intitulado “Loan Agreement” visa então fixar as condições do reembolso deste empréstimo. As suas principais modalidades são as seguintes:

 

- Face à Grã-Bretanha, a Islândia compromete-se a reembolsar um capital de 2,35 mil milhões de libras. Contudo, durante sete anos a Islândia não terá que efectuar nenhum reembolso. Este reembolso efectuar-se-á entre 2016 e 2024, ou seja, com 32 pagamentos trimestrais, com uma taxa de juro fixada em 5,55% (extremamente elevada, portanto).

 

- O acordo com os Países Baixos no valor de 1,33 mil milhões de euros reproduz os mesmos termos que o acordo inglês.

 

Além disso ao abrigo deste acordo, o Reino Unido e os Países Baixos obtêm, por um lado, que o Parlamento islandês dê a sua garantia à boa execução do reembolso da dívida (capital e juros) assim como um compromisso - redigido em termos ambíguos - de tratar os credores de Landsbanki de acordo com “os princípios internacionais ou europeus dos credores no âmbito de uma liquidação internacional” (Waibel, 2010)[34].

 

Apresentado no Parlamento, a fim de o dotar de uma base legal necessária para confirmar a garantia de Estado prevista, o texto, nomeadamente

 sobre este ponto, foi objecto de um debate altamente agitado. Foram inúmeras as vozes que se fizeram ouvir para lembrar que se trata neste problema de uma dívida privada do Landsbanki no que diz respeito a alguns dos seus depositantes britânicos ou holandeses, e que o Estado não tem que ser o seu fiador. As críticas incidiram também sobre o facto de que o reembolso constitui uma ameaça para a retoma da actividade económica e que representa uma carga insuportável para as gerações futuras. No dia 28 de Agosto, o Parlamento assume finalmente um texto modificado[35].

 

As mudanças principais agora aprovadas pelos deputados ao texto que lhes tinha sido apresentado incidem sobre as condições nas quais se exerce a garantia do Estado. Os deputados limitam estas garantias fixando um tecto. A garantia de Estado, que não pode exceder 6% (dos quais 4% irão para a Grã-Bretanha e 2% para a Holanda) da progressão do produto interno bruto expresso em libras e em euros é aprovada de modo

a que a carga do reembolso não possa, em nenhuma situação, dificultar o exercício das suas funções soberanas.



 

 

publicado por siuljeronimo às 20:00

editado por Luis Moreira às 17:19
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Hodiernidade - Maria Inês Aguiar

 

(ilustração de Adão Cruz)

 

 



Maria Inês de Aguiar  Hodiernidade

 

caminhas a hodiernidade
o despotismo do compadre
caminhas antálgico o cataclismo
a arruaça e a bruega
caminhas caminheiro, uma tourada
sem pega

caminhas o ostracismo de uma geração
fardo pesado da exclusão
e, és incorpóreo, abstracto
quiçá!?
a consequência de um acto
ou só uma versão da nova civilização
e irás caminhar caminheiro...
até quando meu amigo, companheiro?

 

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publicado por Augusta Clara às 19:00
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A Nossa Encantadora Natureza 24 – Cipote, esponja-de-malta ou piça-de-mouro Cynomorium coccineum - Andreia Dias

 

 

 

 

Passamos tantas vezes pelos mesmos locais e nem sempre vemos o que nos rodeia. Há anos que conheço as falésias algarvias, mas normalmente faço caminhadas com os olhos postos no ar em busca de seres alados, apenas observo o chão para ver o que piso…

Certo dia, deparei-me com este estranho ser de forma fálica, nas arribas das pequenas praias de Albufeira. Mostrei-a à família curiosa, e também eles, clientes assíduos daquelas paragens, jamais haviam visado semelhante ser, que mais parecia um híbrido de fungo e planta. A hipótese de ser fungo, logo ficou de parte após uma análise mais detalhada, onde reparámos que tinha minúsculas flores. Mas a sua forma e textura, deixava acesa a curiosidade. Uma vez mais, fotografei a planta e enviei às minhas queridas amigas botânicas…

Revelou-se ser uma planta parasita que se encontra nas zonas costeiras mediterrânicas. Há quem defenda que é uma das plantas mais raras da flora de Portugal. Apresenta aspecto fungóide (semelhante a cogumelos do género Phallus) e como parasita, vive ligado às raízes de algumas plantas costeiras. Como noutras plantas parasitas sem clorofila, a única parte que emerge são as inflorescências, tendo a planta uma vida completamente subterrânea. Durante o Inverno, possui um período de repouso vegetativo em que a parte aérea desaparece. Após este período, cresce lentamente até à floração na Primavera.

 

Curiosidades: Durante a idade média, foram-lhe atribuídos poderes mágicos e curativos. Eram muito apreciadas pelos Cavaleiros de Ordem de Malta que a usavam para combater disfunções sexuais, disenteria e outras doenças. Actualmente, alguns povos africanos utilizam as suas raízes como condimento. Na Líbia é utilizada para fabricar tintas; algumas tribos nómadas do Iraque utilizam-na com fins culinários e curativos; em algumas zonas de Espanha era utilizada para combater as hemorróidas. Possui das flores mais pequenas das angiospérmicas.

publicado por atributosestrolabio às 18:00
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A República nos livros de ontem nos livros de hoje - LXXXVI e LXXXVII, por José Brandão

A Hora da Justiça

 

 

 

Alberto Margaride

 

Vila Nova de Famalicão, 1934

 

A Verdade nunca pode incomodar as pessoas briosas e dignas e é sempre desejada por todas as que tiverem pelo seu nome e pela sua honra a devida consideração.

 

Mas tem necessariamente de ser odiada pelos criminosos, pelos que desconhecerem as noções de honra, de brio, de dignidade, pelos que tenham facilidade em praticar incorrecções, visto ela os não poupar, os prejudicar e comprometer.

 

Para a poderem abafar têm esses criminosos e trapalhões laboratórios especiais onde a cobrem de tudo o que a ela se não liga (a mentira, a intriga, a difamação); mas, por meio de uma agitação constante, sempre conseguem, por algum tempo, misturá-la, embrulhá-la, ocultá-la.

 

Como, porém, é impossível conservar indefinidamente aquela massa em agitação, deixam-na mais tarde ou mais cedo, em repouso.

 

_________________________

 

A Ideia Republicana em Portugal 

 

 

Amadeu Carvalho Homem

 

  Coimbra, 1989

 

O trabalho que agora apresentamos à consideração dos leitores não enferma da estulta pretensão de estudar a obra teofiliana no conjunto dos seus aspectos. Os interesses mentais de Teófilo Braga, largamente espraiados pelos terrenos da literatura, da história e da crítica literárias, da historiografia, da etnografia, da filosofia e da sociologia, da política, da psicologia e da própria fisiologia, impõem desde logo ao estudioso a consciência dos seus limites, obrigando-o a definir com todo o rigor o âmbito das suas análises e a encurtar o campo de enfoque em função da natureza da sua especialização. Animou-nos a intenção mais modesta, mas também muito mais realista, de traçar um perfil biográfico de Teófilo Braga e de explanar as coordenadas gerais do seu pensamento filosófico e político-social.

publicado por João Machado às 17:00
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PEDIDO DE EMPRÉSTIMO BANCÁRIO por Barack Hussein Obama II

 

 

 

 

 

 

 

Um advogado de nome Barack Hussein Obama II, na época, 1995,líder comunitário, membro fundador da mesa diretora da organização
sem fins lucrativos Public Allies, membro da mesa diretora da fundação filantrópica Woods Fund of Chicago, advogado na defesa de direitos
civis e professor de direito constitucional na escola de direito da Universidade de Chicago, Estado de Illinois (e atual presidente dos
Estados Unidos da América) numa certa ocasião pediu um empréstimo em nome de um cliente que perdera sua casa num furacão e queria
reconstruí-la.

 

Foi-lhe comunicado que o empréstimo seria concedido logo que ele pudesse apresentar o título de propriedade original da parcela da
propriedade que estava a ser oferecida como garantia. O advogado Obama levou três meses para seguir a pista do título de
propriedade datado de 1803.

 

Depois de enviar as informações para o Banco, recebeu a seguinte resposta:

 

"Após a análise do seu pedido de empréstimo, notamos que foi apresentada uma certidão do registro predial.Cumpre-nos elogiar a forma minuciosa do pedido, mas é preciso salientar que o senhor tem apenas o título de propriedade desde 1803.

 

Para que a solicitação seja aprovada, será necessário apresentá-lo com o registro anterior a essa data."

 

Irritado, o advogado Obama respondeu da seguinte forma: "Recebemos a vossa carta respeitante ao processo nº.189156.
Verificamos que os senhores desejam que seja apresentado o título de propriedade para além dos 194 anos abrangidos pelo presente registro.

 

De fato, desconhecíamos que qualquer pessoa que fez a escolaridade neste país, particularmente aqueles que trabalham na área da
propriedade, não soubesse que a Luisiana foi comprada, pelos EUA à França, em 1803.

 

Para esclarecimento dos desinformados burocratas desse Banco,informamos que o título da terra da Luisiana, antes dos EUA terem a
sua propriedade, foi obtido a partir da França, que a tinha adquirido por direito de conquista da Espanha.

 

A terra entrou na posse da Espanha por direito de descoberta feita no ano 1492 por um navegador e explorador dos mares chamado
Cristóvão Colombo, casado com dona Filipa, filha de um navegador de nome Perestrelo.

 

Este Colombo era pessoa respeitada por reis e papas e até ouso aconselhar-vos a ler sua biografia para avaliar a seriedade de seus
feitos e intenções. Esse homem parece ter nascido em 1451 em Gênova, uma cidade que naquela época era governada por
mercadores e banqueiros, conquistada por Napoleão Bonaparte em 1797 e atualmente parte da Região da Ligúria, República Italiana.

 

A ele, Colombo, havia sido concedido o privilégio de procurar uma nova rota para a Índia pela rainha Isabel de Espanha.

 

A boa rainha Isabel, sendo uma mulher piedosa e quase tão cautelosa com os títulos de propriedade como o vosso Banco, tomou a precaução
de garantir a bênção do Papa, ao mesmo tempo em que vendia as suas jóias para financiar a expedição de Colombo.

 

Presentemente, o Papa – isso, temos a certeza de que os senhores sabem - é o emissário de Jesus Cristo, o Filho de Deus, e Deus - é
comumente aceito - criou este mundo a partir do nada com as palavras Divinas: Fiat lux que significa "Faça-se a luz", em língua latina.
Portanto, creio que é seguro presumir que Deus também foi possuidor da região chamada Luisiana por que antes, nada havia.

 

Deus, portanto, seria o primitivo proprietário e as suas origens remontam a antes do início dos tempos, tanto quanto sabemos e o
Banco também.

 

Esperamos que, para vossa inteira satisfação, os senhores consigam encontrar o pedido de crédito original feito por Deus.

 

Senhores, se perdurar algumas dúvidas quanto a origem e feitos do descobridor destas terras, posso adiantar-lhes que desta dúvida,
certeza mesmo, só Deus a terá por que Inúmeros historiadores e investigadores, concluíram baseados em documentos que, Cristóvão
Colombo, nasceu em Cuba (Portugal) e, não em Gênova (Itália), como está oficializado:

 

Segundo eles, em primeiro lugar, Christovam Colon, foi o nome que Salvador Gonçalves Zarco, escolheu para persuadir os Reis Católicos de
Espanha, a financiar-lhe a viagem à Rota das Índias, pelo Ocidente,escondendo assim a sua verdadeira identidade.

 

Segundo, este pseudônimo não aparece por acaso, porque Cristóvão está associado a São Cristóvão, que é o protetor dos Viajantes (existe
inclusive uma ilha batizada de São Cristóvão).

 

Cristóvão, que também deriva de Cristo, que propaga a fé, por onde anda, acresce que Cristo, está associado a Salvador (1º nome
verdadeiro do ilustre navegador).

 

Colon, porque é a abreviatura de colono e derivado do símbolo das suas assinaturas"." ( Duas aspas, com dois pontos no meio).
Terceiro, Salvador Gonçalves Zarco, está devidamente comprovado,nasceu em Cuba ( Portugal) e, é filho ilegítimo do Duque de Beja e de
Isabel Gonçalves Zarco.

 

Quarto, era prática usual na época, os navegadores darem às primeiras terras descobertas, nomes religiosos, no caso dele, foi São
Salvador (Bahamas), por coincidência ou talvez não, deriva do seu primeiro nome verdadeiro, a segunda batizou de Cuba (Terra Natal) e,
seguidamente Hispaniola (Haiti e República Dominicana), porque estava ao serviço da Coroa Espanhola.

 

Quinto, a "paixão" pelos mares, estava no sangue da família Zarco,nomeadamente em, João Gonçalves Zarco, descobridor de Porto
Santo (1418), com Tristão Vaz Teixeira e da Ilha da Madeira (1419),com o sogro de "Christovam Colon", Bartolomeu Perestrelo.

 

Por fim, em sexto, existem ilhas nas Caraíbas, com referência a Cuba (além da mencionada Cuba; São Vicente, na época existia a Capela de
São Vicente, da então aldeia de Cuba).

 

Posteriormente (Sec-XVI), foi edificada a atual Igreja Matriz de São Vicente.

 

São coincidências (pseudônimo, nome das ilhas, família nobre e ligada ao mar, habitou e casou em Porto Santo, ilha que fica na Rota das
Índias pelo Ocidente), mais do que suficientes, para estarmos em presença de Salvador Gonçalves Zarco e, consequentemente, do
português Christovam Colon.

 

Christovam Colon, morreu em Valladolid (Espanha) em 1506, tendo os seus ossos sido transladados, para Sevilha em 1509, contudo em
1544, foram para a Catedral de São Domingos, na época colônia
espanhola, satisfazendo a pretensão testamental do prestigiado navegador.

 

A odisséia das ossadas não ficaria por aqui, porque em 1795, os espanhóis tiveram de deixar São Domingos, tendo os ossos sido
transferidos para Cuba (Havana), para em 1898, depois da independência daquela ilha, sido depositados na Catedral de Sevilha.

 

Coincidência ou não, em 1877, os dominicanos, ao reconstruírem a Catedral de São Domingos, encontraram um pequeno túmulo, com
ossos e intitulado “Almirante Christovam Colon".

 

Existem na Ilha da Madeira e nos Açores, pessoas da famílias Zarco,descendentes diretos de João Gonçalves Zarco e, conseqüentemente
da mãe (Isabel Gonçalves Zarco) de Christovam Colon, disponíveis para darem uma amostra do seu cabelo aos cientistas, para analisar o
seu DNA e, para comparar os seus resultados nas ossadas do navegador, se, efetivamente forem as pretensões deste Banco para
certificar-se da origem do navegador.

 

Quanto a Deus, ainda não tenho sua biografia, somente sei que caso a conseguisse, até o maior e mais potente computador do planeta não
seria suficiente para comportar um resumo do resumo da mesma, por isso sugiro-vos educadamente e após muito pensar, que, por serem
banqueiros e, portanto poderosos, tentem por vossos meios.

 

Agora, que está tudo esclarecido, será que podemos ter o nosso empréstimo? "

 

Barack Hussein Obama II

 

Advogado

 

*O empréstimo, claro, foi concedido.*

 

PS : foi concedido o empréstimo e divulgada a teoria segundo a qual Colombo seria português contra as evidências apresentadas pelo Prof Luis Albuquerque, que defende que Cristóvão Colombo é mesmo natural de Génova ( actual Itália)

publicado por Luis Moreira às 16:00
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A EDIFICAÇÃO DOS SONS E A ARTE SÓLIDA PARA PAUL VALÉRY, por José de Brito Guerreiro

 

 

 

 

 

 


 

 

Paul Valéry (1871-1945), filósofo, poeta, ensaísta e escritor francês, na obra Eupalinos ou l’Architecte, publicada em 1921, desenvolve uma teoria sobre a Arquitectura como a forma artística mais próxima da Música. O autor reflecte sobre as correspondências que existem entre ambas as artes. Ao aplicar conceitos estabelecidos e reconhecidos a nível musical à teoria arquitectónica, observa-se que o que é evidente num campo pode ser uma grande descoberta no outro. A Arquitectura e a Música são descritas como artes capazes de produzirem espaços.

 

Valéry imagina um diálogo entre o filósofo Sócrates (c. 469-399 a. C.) e um dos seus discípulos, o fabulista Fedro (c. 15 a. C. - c. 50 d. C.). Este último conta que o arquitecto grego Eupalinos de Mégara (séc. VI a. C.), seu amigo, divide os edifícios entre aqueles que são “mudos”, aqueles que “falam” e aqueles que “cantam”, e assim discerne a sua arte das outras vulgares construções. 

 

 

 

 

 

Os edifícios que nada “falam” ou “cantam” merecem desdém: «São coisas mortas, inferiores, na hierarquia, aos montões de pedra vomitados pelas carroças dos empreiteiros».

 

Os edifícios que “falam” são dignos de estima e representam as instituições humanas, como os mercados, os tribunais, as prisões, as praças, os pórticos ou os portos e diques: «Aqueles portos, dizia o meu amigo, aqueles vastos portos, que claridade propõem ao espírito! Como desenvolvem as sua partes! Como descendem para a sua tarefa!»

 

Paul Valéry | Auto-retrato

 

Quanto aos edifícios que “cantam”, os mais raros, são concebidos como sonho mais do que como ciência, ­ pois da análise não se passa ao êxtase:

 

«E quando falaste (o primeiro, e involuntariamente) de música a propósito do meu templo, divina foi a analogia que te visitou. (...) monumentos, cuja figura venerável e graciosa participe directamente da pureza do som musical, ou devesse comunicar à alma a emoção de um acorde inesgotável...»

 

Sócrates interessa-se pelos edifícios que "cantam" e compara a Arquitectura com a Música: «quero escutar o canto das colunas, e figurar-me no céu puro o monumento de uma melodia. Esta imaginação conduz-me muito facilmente a pôr de um lado, a Música e a Arquitectura; e do outro, as outras artes.» Diz que as duas artes criam espaços de puro envolvimento emocional sem intermediações, ao contrário da pintura, que «não cobre mais do que uma superfície» e precisa da imagem para criar este espaço: «E esses momentos e os seus ornamentos; e essas danças sem dançarinas, e essas estátuas sem corpo nem rosto (contudo tão delicadamente desenhados), não pareciam rodear-te, tu, escravo da geral presença da Música?» Continua Sócrates: «Há, pois, duas artes que encerram o homem dentro do homem, ou melhor, que encerram o ser na sua própria obra. (...) Por duas artes, é o homem de dois modos envolvido por leis e vontades interiores, figuradas numa ou noutra matéria, a pedra ou o ar.»

 

Fedro observa: «Bem vejo que a Música e a Arquitectura têm ambas para nós este profundo parentesco.»

 

Sócrates desenvolve: «Um corpo belo faz-se contemplar por si mesmo, e oferece-nos um momento admirável: é um detalhe da natureza, que o artista deteve por milagre. Mas a Música e a Arquitectura fazem-nos pensar em qualquer outra coisa que não elas mesmas; estão no meio deste mundo, como monumentos de um outro mundo; ou bem como os exemplos, aqui e ali disseminados, de uma estrutura e de uma duração que não são as dos seres, mas das formas e das leis. Parecem dedicadas a recordar-nos directamente, uma, a formação do universo, a outra, a sua ordem e estabilidade; invocam as construções do espírito, e a sua liberdade, que busca esta ordem e a reconstitui de mil modos; negligenciam pois as aparências particulares de que o mundo e o espírito se ocupam ordinariamente: plantas, animais e pessoas... Até, observei, às vezes, ao escutar a música, com uma atenção igual à sua complexidade, que já não percebia, de certo modo, os sons dos instrumentos como sensações do meu ouvido. A própria sinfonia fazia-me esquecer o sentido auditivo. Alterava-se tão prontamente, tão exactamente, em verdades animadas e em universais aventuras, ou ainda em abstractas combinações, que eu já não tinha conhecimento do intermediário sensível, o som.»

 

Sócrates conclui: «Impor à pedra, comunicar ao ar, formas inteligíveis; não pedir emprestado senão pouca coisa aos objectos naturais, não imitar senão o menos possível, eis o que é comum às duas artes.»

 

Eupalinos ou l’Architecte, este belo diálogo imaginário entre Sócrates e Fedro, é hoje uma das mais importantes reflexões sobre o processo de criação artística.

 

Trinta anos antes de escrever Eupalinos, Valéry desenvolveu o mesmo leitmotiv, em Paradoxe sur l’Architecte:

 

«Esta tarde quero, nestas vãs linhas que dita, junto ao sonho, o capricho, prever a estrela invisível – essa alma longínqua e desejada pela minha alma.

 

Adivinho-a musical e longo tempo enclausurada na pura solidão de seu sonho.

 

Primeiro, terá recolhido a harmonia exacta e os infinitos mágicos onde desembocam os ritmos, nas ondas trémulas e profundas desdobradas pelos grandes sinfonistas, Beethoven ou Wagner. Pois subtis analogias unem a irreal e fugitiva edificação dos sons, à arte sólida, por que formas imaginárias se imobilizam ao sol, no pórfiro. O “herói”, combine oitavas ou perspectivas, “concebe fora do mundo”... Reúne e fecunda o que não existe nem em outra parte, nem antes que ele, e com frequência compraz-se recusando a recordação precisa da natureza. Na noite imortal, a ideia que brota como água viva abandonar-se-á virgem ao arquitecto do futuro quando, livre das coisas visíveis e dos tipos expressados, tenha encontrado o símbolo e a síntese do Universo interior que confusamente lhe inquietava; então esta vontade e este pensamento de música engrandecida “comporão” a sua criação original como uma elevada sinfonia,» – prossegue o autor, expressando a natureza abstracta da arquitectura e da música – «tão independente das aparências, tão abstraído da realidade directa, tão afastado do pensamento e dos fenómenos próximos e das ataduras da sua memória material».

 

Valéry compara a catedral Notre-Dame de Reims (séc. XIII), obra dos arquitectos franceses Jean d'Orbais, Jean le Loup, Gaucher de Reims e Bernard de Soissons (restauros de 1861-1873 e 1919-1938 pelos arquitectos franceses Eugène Viollet-le-Duc [1814-1879] e Henri Deneux [1874-1969], respectivamente), à ópera Tannhäuser (1845), do compositor alemão Richard Wagner (1813-1883): «Assim se manifestará a inexprimível correspondência, a íntima afinidade que é necessário discernir, sob os véus habituais e enganosos, entre duas “encarnações” da arte, entre a fachada real de Reims e uma certa página de Tannhäuser, entre a antiga magnificência de um grande templo heróico e um certo supremo andante ardente em gloriosas chamas.»

 

Valéry diz que «as cordas em tensão nos violinos derramam, com uma ternura sagrada, a inefável luz do vitral (...) pois os órgãos litúrgicos construem para os sonhos cúpulas em safiras e enormes abóbadas cheias de estrondo; mas as flautas lançam-se como gráceis colunas, tão altas que as coroa uma vertigem, e outros instrumentos e as vozes humanas parecem cintilar, a fim de iluminar o coro balsâmico e nocturno».

 

O autor refere que para se percepcionar a relação entre a arquitectura e a música é importante uma cuidada observação: «Tais são as magnificências latentes sob as formas melódicas, tais são as riquezas abertas para quem tenha a inteligência matemática das relações mais longínquas, para quem saiba liberar as linhas, discernir as curvas, evocar as cores significativas que uma sinfonia contém e expressam os instrumentos, dóceis aos grandes artistas. Enfim, por esta vontade sairá da terra o monumento tangível e visível, projectado na matéria depois de ter deslumbrado o misterioso país onde os anjos o construíram com santas harmonias.»

 

Para o grande pensador Paul Valéry, o verdadeiro valor da poesia pura reside na harmonia arquitectónica e musical da forma e na precisão do estilo.

 

Da atenção de Valéry a qualquer forma, do estudo das obras dos arquitectos Vitruvius (séc. I a. C.) e Viollet-le-Duc (1814-1879), cujos flamejantes impulsos góticos e detalhes de ornamentos exercitava-se em copiar, sendo adolescente, nasceu e se afirmou uma particular atracção pela arquitectura, que lhe conduziu à busca das suas relações de semelhança com a música, «Pois subtis analogias unem a irreal e fugitiva edificação dos sons, à arte sólida».

 

 

publicado por João Machado às 15:00
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My Descendents, por Raúl Iturra

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

        May’s Diary

 

MY DESCENDENTS

 

Grand-Pa must be crazy. First, he wants I call him Abuelo, an impossible word to pronounce. He has now changed to Lelo, as he thinks it is easier to say.  What a big mistake! Grand-Pa does not seem to know that I am very little to learn and know a good number of languages, as he seems to know.  He writes in different idioms, so I can see when Mum has the funny idea, very rarely, to open her machine and read her mail or write her papers, that she call essays. 

 

 

Gran-Pa seems to have a great affection for me:There is not letter that he writes to me, to fill it up with my pictures. I must confess that I do not remember the way he is. I saw him only once, more than a year ago. I do expect he does not start filling me with kisses and embraces: I am British and we do not touch people!

 

 I must confess, anyway, that I look forward to seeing him again for kissing him, embrace him, and, probably, go for strays by the sea.

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 Mum

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

These are me as a baby, Mum after three days delivery, and Dad, having Italian ice creams in winter…

 

 

     

 Abuelo says that he has more descendants, and it is true :

 

There is Auntie Paula  

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

and her birds, and her children, Maira Rose who will be 8 on the 9th of May, and Tomas, to be 11 on June 20th. In addition, my becoming brother, Lucas as Abuelo says, he should be named... He wanted me to be called Elisa, two months elapsed I was called carrot, until Dad and Mum decided to call me May Malen. 

 

 

 

 

 

 

 

 and cousin 

Maira Rose and aunt Paula, once more

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 and, finally, me on my arm chair  

 

 

 

Where is Uncle Cristan?

Here I have Uncle Cristan ad cousin Tomas:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

The story ends here. Having found the picture of my little family, apportioned all over the world. Grand Ma Gloria is not here, but she is in others memories I have written before

Bye!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

May Malen , April 16th,Cambridge,UK

I´m grateful to Abuelo or Avô or Grand Pa for lending me his computer and his abilities to write, to send this letter three days before my visit to Portugal, to see Abuelo!

And finally, with Grand Mum: 

 Where is Abuelo? 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

There he is!

 

publicado por João Machado às 14:00

editado por Luis Moreira às 12:44
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Suicídios na France Télecom - os cavalos também se abatem por Luis Moreira

 

 

 

 

 

Vamos ter uma série de artigos do Prof. Júlio Marques Mota sobre esta problemática que se arrasta há anos e que acompanha a reorganização da France Telecom. Trabalhadores que se suicidam por verem os seus postos de trabalho em perigo ou porque a empresa os coloca noutras funções ou, mesmo, noutros locais de trabalho.

 

O último foi um trabalhador com 58 anos, pai de quatro filhos, imolou-se pelo fogo na garagem da empresa, não sem antes deixar um documento .

 

A empresa lamentou o sucedido.

 

A polícia e os bombeiros limitaram-se a verificar que a vítima já era cadáver. Vejamos parte do que escreveu o empregado:

 

“continuamos todos, empregador, Estado accionista e decisor, sindicatos, assalariados, a ignorar as verdadeiras causas profundas: daqui a dez anos, estaremos ainda  do mesmo assunto…enfim não… uma certa categoria de pessoal terá desaparecido quer por ter ido para a reforma quer pelo suicídio: e o problema será resolvido!

 

Na carta sublinha  o facto de ser colocado no caixote do lixo, referenciando que “ aqueles  que são abandonados  e obrigados a enfrentar o seu falhanço no quotidiano estão muito mal! Eles estão preocupados com a qualidade da sua prestação, tornada impossível, sem via de saída. “ Eu estou nesse segmento. Ratio de gestão da situação nacional: estou mais que farto”.

  Em 26 de Abril, mostrou-o da forma trágica que todos sabemos.

 

Basta de palavras."

 

Como trata a empresa de todos estes casos de suicídios dos seus trabalhadores?

 

"Perante cada grande problema que se nos é colocado - quer se trate de desregulação climática, da ameaça de uma nova forma de gripe ou do suicídio de assalariados - tudo se passa como se o que importa é, sobretudo, identificar uma causa, simples e única, a fim de obter ,o mais depressa possível, um suposto remédio para tudo resolver. Infelizmente, como assim efectivamente o deu a perceber René Girard, a sociedade prefere sacrificar um bode expiatório para canalizar, através dele, a violência social."

 

Por outras palavras, a empresa não está interessada em reconhecer que os 37 suicídios têm causas comuns que nascem da relação da gestão da empresa com os seus trabalhadores, na relação com o ambiente de exigência e de insegurança sociais, antes, aponta os casos como se tratassem de casos individuais de pessoas que não têm capacidade para corresponder às exigências (normais!) da função que lhes foi distribuída !

 

O ser humano está assim , definitivamente, deslocado do centro das actividades económicas, é mais um meio instrumental para a obtenção de resultados, tal como os factores financeiro ou  técnico, tudo se compra ou tudo se vende, no altar do lucro a todo o custo.

 

PS: Este assunto será tratado em vários textos , a partir do dia 2 de Maio, às 20 horas, pelo Professor Júlio Marques Mota

 

 

 

 

publicado por Luis Moreira às 13:00
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Amanhã é o Primeiro de Maio - DIA INTERANCIONAL DOS TRABALHADORES

 

 

 

 

Estas imagens ficaram para sempre gravadas na memória de quem as viveu. O poeta Casimiro de Brito diz-nos

 

 

Memória do Primeiro de Maio

 

Um país iluminado por ruínas nunca repousadas

Em teus olhos cegos subitamente

Rasgados / um país distendido

Entre velhas colónias emancipadas

No ardor da guerra / um povo libertando-se

Do seu ovo de silêncio amor cifrado & usura –

Tubérculo apodrecido

D’onde foi banido

O dente cariado da ditadura.

 

O mar foi o mar na praça pública a luxuriante

Vegetação / a festa solar / a luz crua

Do exílio e da morte / o espectáculo

De um povo (águas

D’abril) a quem foi devolvido

O dom da fala / a mística

Da revolução. Ouve-se

Por toda a cidade

grande coral da liberdade ...

 

 

(in Labyrinthus, Lisboa, 1981 e Poemabril, 2ª edição , Coimbra, 1994)

 

A partir de HOJE, dia 30 de Abril, às 23:00 até à meia noite de AMANHÃ, 1 de Maio, a edição de Estrolabio será inteiramente dedicada ao DIA INTERNACIONAL DOS TRABALHADORES: poemas, canções, textos diversos, pinturas...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

publicado por Carlos Loures às 12:30
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POEMABRIL - MEMÓRIA E DESENCANTO DA «REVOLUÇÃO DOS CRAVOS» - 1 - por Manuel Simões

 

 

Continuo, como prometi, a publicar testemunhos e memórias da Revolução de Abril. Hoje dou-vos a conhecer um texto de Manuel Simões sobre os reflexos do 25 de Abril na literatura, nomeadamente na poesia portuguesa. Devido à sua extensão, será publicado em três dias.

Este ensaio integra o livro de Manuel Simões "Tempo com Espectador - Ensaios de Literatura Portuguesa".

 

 

 

 

Abril ficou a acção por excelência, a

transmudação das coisas mais  importantes.

Algo que se fez. E quando eu pronuncio a

palavra Abril, essa nomeação fala-me da

acção desencadeada, faz-se palavra-motor;

condensa toda uma narrativa.

 

Maria Alzira Seixo, Reflexão sobre a

 escrita

 

1.

Como era inevitável, e desde que cultura e literatura se pensaram como instrumento de transformação do mundo, a madrugada inesperada do 25 de Abril de 1974, que abalou indiscutivelmente o país, determinou um imediato processo de autocrítica por parte dos intelectuais portugueses. E como sempre acontece nos momentos em que a sociedade é colocada perante uma forte conflitualidade entre "novo" e "velho" e entre "classes" em vias de formação, as ideologias que até então determinavam a prática literária foram objecto de análise mais ou menos profunda, isto é, passaram por uma reflexão que tendia a testar, a verificar ou a julgar problematicamente os textos produzidos a partir duma estética que, à partida, se previa envolvida num processo dinâmico de transformação.

 

Tal reflexão, que historicamente não pode excluir o modo de ser social, pondo em evidência o problema da relação entre cultura e sociedade, também não pode deixar de empreender uma análise crítica à natureza prática e social da palavra, ao modo de representação a partir das virtualidades do signo. Durante algum tempo, de certo modo porque a luta política mobilizava a atenção de todas as forças disponíveis,[1] os possíveis criadores literários ensaiavam um novo discurso à procura de "outra" palavra, legitimando a concepção de que o texto é uma síntese de matéria e forma, de conteúdo e "expressão", de estrutura e linguagem, componentes que envolvem substância e comunicação como interrelação entre problemática histórica e produção artística.[2]

 

Isto significa que os criadores do produto literário - incluindo artistas e críticos em geral - perderam a convicção ingénua do critério "inspiracionista". No caso específico, assiste-se a um processo complexo mas em que prevalecia a intenção de contrastar o domínio do idealismo estético mediante técnicas e procedimentos diversos mas convergentes, pelo menos no empenho de justificar os critérios de criação artística. Se a sociedade tinha alcançado um estatuto de emancipação no sentido da liberdade de expressão; se tal estatuto conduzia à necessidade de propor novos conteúdos para exprimir a nova situação, é em todo o caso evidente que tais conteúdos não poderiam prescindir das formas precedentes, ao mesmo tempo que a nova produção artística não poderia obedecer aos ditames da burocracia, a "leis" impostas do alto, e que, pelo contrário, seria o resultado de coordenadas teórico-estéticas elaboradas pelo trabalho de reflexão,[3] tendo em consideração todos os aspectos ou "níveis" do texto literário, sem excluir o chamado "nível material", o nível dos "grupos semânticos".[4]

 

 



                *Publicado anteriormente in Rivista di Studi Portoghesi e Brasiliani, Pisa-Roma, Istituti Editoriali e Poligrafici Internazionali, VI – 2004, pp. 73-77.

 

[1] Deve dizer-se, no entanto, que os operadores culturais ficaram demasiado silenciosos, se excluirmos o florescente e vivíssimo debate sobre a "canção de intervenção", o sector que mais de perto acompanhou o processo revolucionário, e a actividade torrencial do poeta José Carlos Ary dos Santos. Mas seria injusto esquecer a função das artes visuais, com a enorme produção de murais, de posters e de autocolantes, por exemplo.

 

[2] A este respeito é pertinente quanto afirma Mario Rossi: «che la legittimità d'una poetica dipenda oggi dal suo costituirsi e riconoscersi come problematica storica della produzione artistica, sembra questo il risultato inevitabile di tutta la storia del pensiero e della riflessione critica su quelle che la tradizione ci ha tramandato come 'opera d'arte'» (Cultura e Rivoluzione, Roma, Ed. Riuniti, 1974, p. 565).

 

[3] “Anche la società borghese ha sostituito una nuova arte e una nuova scienza a quelle medievali, e però l’ha fatto non seguendo, ma precisamente disobbedendo a qualsiasi imposizione, e non restringendo, ma ampliando la cerchia dei produttori culturali” (ibidem, p, 600).

 

[4] Cfr. Ignazio Ambrogio, Ideologie e tecniche letterarie, Roma, Ed, Riuniti, 2ª, ed., 1974, p. 15.

 

(Continua)

 

 

 

publicado por Carlos Loures às 12:00
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Chernobyl - por Carlos Godinho

 

 

Em 1996, mais ou menos por esta altura do ano, desloquei-me a Kiev, acompanhado pelo meu amigo Sr. José Carlos Esteves, actual médico do FC Porto, a fim de preparar o jogo Ucrânia/Portugal que teria lugar em 5 de Outubro desse ano. Fomos visitar os hotéis, estádio e possíveis campos de treino.                                                                                                                                                                                                 A

 

Ucrânia era na altura uma sociedade com imensos problemas a sair ainda do poder soviético de que fez parte integrante, mas cujos dirigentes eram ainda praticamente os mesmos do passado. Fomos extremamente bem recebidos dado que era a primeira vez que uma delegação da FPF visitava aquele país e aquela federação. Depois de cumprido o trabalho fomos convidados para uma refeição pelo Presidente e Secretário Geral da Federação de Futebol da Ucrânia.                                                                                                                                                                               

 

O jantar começou com brindes, sempre acompanhados de vodka, servidos em pequenos copos. Ao fim de alguns brindes e já com alguns deles a serem despejados por nós, não pelos anfitriões, discretamente, num vaso com plantas, o Presidente fez um brinde à vida. Perguntei-lhe o significado mais exacto do brinde e rapidamente explicou-me  que a sua/deles esperança de vida era um mistério em função do desastre de Chernobyl, ocorrido dez anos atrás e pelo facto de se sentirem quase sempre doentes sem explicação plausível a não ser o facto de terem estado muito próximos do local onde ocorreu a explosão e portanto sujeitos a uma enorme exposição.                                                                   

 

Nunca mais os vi e nada mais soube deles e como recordação desse ainda tenho duas garrafas de vodka produzida localmente na propriedade rural do Presidente. Hoje passam 25 anos do desastre, sem se conhecer solução para aquela central, e ainda há quem sugira a energia nuclear como futuro.

 

O Mestre e o Disciplo - Cruyf e Pep Guardiola

 Curiosa esta imagem já com alguns anos onde se pode ver Cruyff e o seu discípulo Pep Guardiola o actual técnico do FC Barcelona. Cruyff tem sido protagonista habitual de bastantes críticas a José Mourinho censurando-o por ser treinador de títulos e não treinador de futebol.                                                                                            
Pensava eu que ser treinador é essencialmente algo que tem a ver com ganhar, jogos e títulos. Claro que alguns não o conseguem, neste caso a maioria, mas uma minoria, como Guardiola e Mourinho têm estado sempre na primeira linha dos vencedores. Quando se ganha um grande estatuto pode-se dizer as maiores baboseiras com a maior dos à vontade.
   
                                                
publicado por Luis Moreira às 11:00
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