Digamos que se trata de uma balada romântica alternativa, a começar pelo originalíssimo videoclipe.
“All is full of love” foi lançado em 1999, o quinto single a ser extraído do álbum “Homogenic” da islandesa Björk.
Nesta balada fundem-se sons aparentemente produzidos por máquinas, instrumentos de cordas e até uma harpa. Romantismo pós-moderníssimo, robots enamorados, que cantam a certeza de que o amor há-de encontrá-los, de que o amor está, afinal, à nossa volta, por toda o lado.
A canção foi incluída no filme de terror “Stigmata”, estranho destino para uma canção de amor, mas também é certo que esta o é de uma forma muito inconvencional.
O video, dirigido por Chris Cunningham, recebeu vários prémios e está em exibição permanente no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque.
O amor está por todo o lado.
Há um silêncio de sossego sentado nas mesas brancas que adornam o respirar da noite no planalto imenso e húmido a libertar o ameno aroma da natureza. Mesas brancas que embelezam o luar; Mesas, muitas mesas, enfeitam o luar, imensas mesas sólidas, firmes, limpas e imaculadas. Mesas redondas, quadradas, retangulares, redondas a representarem a confluência das forças telúricas e o conhecimento instintivo, quadradas a significarem a passagem deste à consciência e à iniciação intelectual, retangulares configurando a tábua mística da revelação.
O arco da lua enquadra a infância com o carinho das vozes pequeninas, cantantes, a soletrarem o pensamento solto pelo ritual dos gestos e vai, alegremente, conquistando a luz da consciência. Não é a idade de ouro dos alquimistas mas a da origem transportando consigo o segredo de vidas ancestrais guardado na estrela que atravessa o cosmos para aqui repousar com o seu brilho diamantino a iluminar os caminhos da existência. Na poeira levantada pelas charruas que rasgam sulcos na alma das gentes perdem-se recordações da beleza e do amor que foram o berço da serenidade inicial. Deixa-se para trás o bosque maravilhoso das brincadeiras participadas pelos anjos protetores de modo a navegarmos pelo rio da aventura de cujas águas surgirá a deusa mensageira, senhora do obscuro domínio dos sentidos, para anunciar o fim da divina harmonia e o começo da peregrinação cármica.
Sentado à única mesa onde cintila a chama vermelha de uma vela como se fora luz de sangue ou desejo de pecado a ferir a alma de incertezas, encontro-me só, imóvel, trespassado por indolência intemporal suspensa na rama da inquietação. Guardei-me de branco (camisa, sapatos e fato), cor imaculada e serena, para este encontro dominado pela imponderabilidade de um astronauta a rascunhar hipérboles na cápsula do amor onde colho os frutos que conferem razão ao sonho e regam utopias entre beijos sublimes. Em planura de neve aguardo o corpo amado sem a vileza dos pensamentos que desconcertam a mente com o viscoso arrebatamento do prazer.
Distante e difusa, pequena e etérea, recorta-se no espaço a silhueta feminina transportando consigo a lira de Orpheu cujos acordes têm o privilégio de provocar o encantamento dos astros. Aguardo a proximidade do seu corpo onírico incitando o poema que rompe o percurso iniciático da juventude na descoberta dos segredos do mundo. Há um tempo infinito espero esta mulher imaginada pelos poderes da mente e submersa por ocultas quanto inexplicáveis sensações anunciadas quando me encontrei pela primeira vez com a palavra amor e a procurei desvendar letra após letra até chegar a este lugar isolado dos excrementos do mundo.
Mais, a agregação não tem qualquer sentido. Os critérios utilizados são critérios de contagem e são globalmente relativos à capacidade que tem uma instituição em produzir uma grande quantidade de bons textos originais e de bons investigadores. A sua agregação é semanticamente coerente quanto aos indicadores 1, 2.1., 2.2., 3.1. e 3.2. dos critérios da classificação de Xangai acima referidos. Mas o critério 4, o dos resultados académicos relativamente à dimensão é de natureza totalmente diferente. Se os três primeiros critérios, com os seus cinco indicadores, representam a produção, o nosso “PIB” nas páginas acima, o último critério representa a “produtividade”, no mesmo exemplo, e o bom senso e a análise económica elementar diz-nos, senhor Ministro, que fazer uma soma ponderada do PIB e da produtividade conduz a um índice vazio de sentido. Isto basta-me, senhor Ministro, sem sequer ser necessário ir à substância de cada critério[1].
Sobre esta questão retome-se o relatório do Senado francês sobre ratings no ensino superior (Senado (França), 2008, p. 67 e s.) e que nesta parte segui de muito perto:
Os limites das classificações das universidades são inerentes à sua própria lógica, consistindo em medir a qualidade por indicadores que são quantitativos. A crítica das classificações internacionais incide sobre a legitimidade da medida e sobre a pertinência do método utilizado. Quanto à legitimidade, cada classificação tem os seus próprios limites: assentando sobre um número limitado de indicadores, uma classificação determinada só dá, naturalmente, um número limitado de objectivos.
Uma primeira questão é a de saber se os indicadores escolhidos estão claramente identificados com os que a sociedade considera prioritários. Deste ponto de vista, as classificações privilegiam os indicadores relativos à investigação e não ao ensino. Ora, em que medida é que será de facto interessante para os estudantes e futuros estudantes saber quem são os investigadores mais citados e aqueles que obtêm o prémio Nobel? Centrarmo-nos sobre estes indicadores não será desviar as universidades da sua missão de ensinar, em especial nos primeiros anos de estudos?
Uma outra questão é a de saber se os indicadores escolhidos têm em conta o valor acrescentado das instituições: não dependem eles mais das características dos estudantes, isto é, do seu nível académico à entrada e das suas origens geográficas e sociais? Ou pura e simplesmente não reflectem eles mais a dimensão das instituições do que a sua “produtividade”?
O mês de Fevereiro tem sido bem interessante para quem queira ter um olhar sobre o PS de José Sócrates (um Partido Socialista será outra coisa). Fiquemo-nos pelo Jornal i e atentemos:
No dia 8 de Fevereiro é publicada, naquele jornal, uma entrevista com Henrique Neto, sob o título «Seguro deve avançar contra Sócrates» e, como me parece óbvio, Seguro não avança, está à espera que o poder lhe caia nas mãos, o que significa que, caso isso viesse a acontecer, a democraticidade interna sofreria algumas alterações no início até que o aparelho, essa entidade que não consta nos Estatutos, recuperasse o espaço e tudo voltasse ao mesmo, apenas com a diferença das personalidades António José Seguro/José Sócrates. O mesmo poderia escrever-se sobre António Costa.
Voltemos à entrevista. Diz H. Neto: «A partir de António Guterres começou um processo muito forte de centralização e os grupos que tomam conta do partido são cada vez mais pequenos. É sabido que José Sócrates foi escolhido numa reunião entre oito ou nove pessoas.» Temos outras afirmações importantes de HN, como, comparando com os clubes de futebol: «…, há mais reacções populares do que nos partidos políticos».
Há, de facto, uma maioria de militantes, como refere HN, que vota pela manutenção do actual Secretário-Geral com receio de perder o poder. Que poder e de quem, pergunto eu? É também por isso que o entrevistado defende eleições primárias dentro do PS, de acordo, aliás, com o que defende a Esquerda Socialista, de que faço parte, assim como HN.
Em toda a entrevista houve algo que incomodou sobremaneira Almeida Santos, quando HN diz: «… nas reuniões da comissão nacional, por exemplo, o presidente do partido, Almeida Santos, controla tudo. Só dá a palavra verdadeiramente a quem quer, corta a palavra, diz que não há tempo…» e, mais à frente: «Sim, o Almeida Santos tem culpas enormes na falta de democraticidade interna do partido». HN faz estas afirmações com base, nomeadamente, no que diz um membro da comissão nacional, eleito pela Esquerda Socialista, o qual, na edição do mesmo jornal do dia seguinte, 9 de Fevereiro, sob o título «Dirigente do PS acusa partido de apagar críticos das actas», confirma as afirmações de HN. Pode ler-se naquela edição: «Rómulo Machado escreveu recentemente ao secretariado do PS a queixar-se da forma como são elaboradas as actas e já informou o presidente do partido, Almeida Santos, sobre o mesmo assunto. “Uma coisa é as actas não reflectirem exactamente o que se diz. Outra coisa é verificar que as intervenções críticas estão a ser completamente manipuladas”, diz.»
Almeida Santos não resiste e responde com «Carta aberta ao militante do meu partido Henrique Neto», na edição do mesmo jornal de 10 de Fevereiro, onde, e é o mais importante da carta, escreve a dado momento: «Desta vez, porém, o Henrique Neto, para discordar mentiu. E isso é que é grave!»
Não resisto a registar que Almeida Santos escreve «Desta vez, …», o que nos pode levar a concluir que Henrique Neto das outras vezes falou verdade e, então, caro leitor, leia a entrevista que, não há muito tempo, HN concedeu ao Jornal de Negócios. Mas a troca de palavras continua, agora com uma carta aberta de resposta de HN, onde mostra claramente quem é o mentiroso, razão por que, é a minha leitura, Almeida Santos não responde aos desafios lançados por Henrique Neto.
Isto faz-nos perguntar: que faz correr Almeida Santos? Que interesses está ele a defender? Os do povo português não são, com toda a certeza; os do PS também não. Fica a pergunta.
Ou será que o interesse de Almeida San
tos se limita a ser coerente com o seu Secretário-Geral? Ser número 3 de um partido que tem Mário Soares e Salgado Zenha é algo de prestigiante, ser número 2 de um partido que tem José Sócrates como número 1 é bem pouco de louvar, para alguém como Almeida Santos. Ou será que Almeida Santos, afinal, não é quem eu pensava que era?
Então, impõe-se uma outra questão: será que Almeida Santos não pode deixar de ser coerente com José Sócrates? Contrariamente ao que eu pensava, Almeida Santos, profissional da política, faz jus ao que Alfredo Barroso no mesmo Jornal i, apoiando-se em «Robert Michels, um dos maiores autores clássicos especializados no estudo dos partidos políticos em democracia», escreve na edição de 15 de Fevereiro: «Graças ao conhecimento das questões essenciais e à sua experiência política, essa classe profissional acaba por se tornar indispensável. A sua “ciência” dos mecanismos internos (o chamado “aparelho”) e a habilidade para utilizar as regras do jogo (que conhece e manipula como ninguém) preservam-na de ser derrubada por súbitas inversões de maioria.» Ou seja, Almeida Santos é uma outra espécie de José Lello, muito mais inteligente e culto, claro!
O carácter de José Sócrates pode avaliar-se pelas palavras que utilizou quando exultou com o défice orçamental de Janeiro próximo passado, claramente demonstrativas do que é o seu conceito de falar verdade ao país. A «boa» notícia de que o défice caiu 100 milhões de euros, esquece que a receita, à custa da maior carga fiscal da Europa, subiu 367 milhões de euros. Leia-se o que escreveu Camilo Lourenço na 4.ª feira, 23 de Fevereiro, na sua habitual coluna no Jornal de Negócios. Ou, então, o que Paulo Trigo Pereira escreve no seu Comentário no Jornal Público do mesmo dia, intitulado “A procissão ainda vai no adro”: «Assim, pode-se concluir que o objectivo da consolidação para 2011 é reduzir o défice em 3135 milhões de euros, que o contributo do subsector Estado para esta redução é de 2732,5 milhões e que 94,2 por cento dela provirá de um aumento das receitas (ou seja, apenas 5,8 por cento deriva de diminuição da despesa). Isto significa que o OE 2011 considerou a incapacidade de o Governo reduzir a despesa do Estado, pelo que a melhoria do seu saldo provém essencialmente do aumento da receita, sobretudo fiscal.», o que confirma que, de facto, como escreve este Professor, «No Estado, o esforço de consolidação está a ser feito, sobretudo, e de forma clara, pela receita fiscal que aumentou 15,1 por cento, mas a despesa do Estado não diminuiu.»
Para concluir, diremos que no Partido Socialista é o momento de reflexão para os seus militantes. Aproxima-se o momento de escolher entre um futuro com valores socialistas e, portanto, de esperança e um futuro negro, com a direita liberal, liderada por José Sócrates, a fazer-se passar por socialista e defensor do estado social, com o ultra-liberal PSD a governar por muitos anos, mas não com os dinheiros de que beneficiou Cavaco Silva e com os quais não soube construir um país com futuro.
Praia de Santa Cruz (Boavista), 2011/02/26
Sandokan, o tigre da Malásia, extraordinário personagem que animou a fantasia de algumas gerações, completa no próximo ano 150 anos. E Verona, cidade que viu nascer Emilio Salgari em 1862, recordou-se dele pela primeira vez ao dedicar-lhe uma grande mostra, por altura do centenário do seu nascimento, mostra que tive a sorte de visitar no já longínquo ano de 1984. Além disso, pude frequentar outras iniciativas, entre as quais um congresso de estudos sobre a sua obra, que a cultura oficial sempre menosprezou. Mas, como frequentemente acontece, estes eventos constituiram uma ocasião perdida para reler um escritor tiranizado pelos editores, que exploraram com eficácia as suas dificuldades económicas ao ponto de o transformarem numa máquina de produção de aventuras em folhetins, que os leitores de Verona seguiam com paixão através das páginas do jornal local “La Nuova Arena”, precisamente a partir de 1884. A mostra de Salgari - a propósito, deve ler-se Salgári, mas quase todos os italianos pronunciaram sempre Sálgari, seguindo a tendência acentual da língua – abria com as fotografias que constituem o álbum de família e que restituem a conhecida imagem onde sobressai o bigode exuberante e risonho à maneira do rei Umberto I. Por vezes chegam a confundir-se personagem e autor, como se podia ver na legenda duma ilustração da época em que aparece Sandokan, na ponte da embarcação, abraçado a uma “princesa” da Malásia. Gostava que o retratassem assim, assumindo a posição dos seus heróis preferidos, ou a de lobo do mar percorrendo exóticas paragens e vivendo aventuras marítimas, levando a fantasia ao ponto de se autodefinir capitão da marinha de longo curso. Tudo isto não passava de ficção, de fingimento, embora tivesse frequentado uma escola náutica, sem concluir o curso, e defendesse acerrimamente o seu grau de “capitão” até ao limite de se bater em duelo com um cronista que tinha ousado duvidar desse estatuto. Da exposição faziam ainda parte os seus primeiros desenhos, os jornais que dirigiu, documentos, cartas e a fotografia da sua mesa de trabalho onde arquitectava as viagens pelo mundo desconhecido, imaginando as fabulosas aventuras sem sair de casa, ele que parece ter efectuado apenas uma viagem por mar, descendo o mar Adriático, de Veneza até Bríndisi. Mas esta circunstância não o impediu de criar uma atmosfera convincente, desde a integração dos seus heróis na paisagem exótica até ao pormenor dos instrumentos de defesa e ornamento, verdadeira colecção de objectos kitsch: das pistolas aos arcabuzes, das cimitarras aos punhais malaios. De resto, não poucos autores de narrativas de viagem construíram as suas obras através dum universo elaborado à mesa de trabalho, a partir, portanto, duma base fictícia. Bastaria lembrar, entre muitos casos, as “Viagens ou Tratado das coisas mais maravilhosas e mais notáveis que se encontram no mundo”, de John Mandeville, que se apresenta como relato da viagem à Palestina e ao Extremo Oriente na primeira metade do século XIV, com bem maiores responsabilidades de aparato “científico”, sem que o inglês tivesse saído da sua ilha. Tal como as narrativas de Salgari, são obras que se impuseram por terem sabido colher os aspectos excepcionais ou até grotescos de mundos impensavelmente longínquos (o realismo grotesco de que fala Bachtin) para os pôr em confronto com a nossa dita normalidade e racionalidade. O percurso salgariano pode dividir-se em três ciclos: o dos corsários, o da Malásia e o do Far-West (os mais frequentados), embora se possa falar igualmente dos ciclos menores, como o de África, o da Ásia ou do Polo. Um conjunto de 82 livros mais uma centena de contos, tendo como pano de fundo (e não raro como protagonista) o mar imaginário da sua fantasia e sonho, elemento privilegiado por um autor que, como vimos, se identificava como capitão da marinha. Decerto que é um corpo textual demasiado vasto para ser avaliado uniformemente em termos de qualidade; mas não deixa de ter razão um crítico como Piero Sanotto, num convite à releitura do criador de Sandokan: “Nas suas obras há também o desejo de justiça contra a prepotência , há a defesa das minorias, sem qualquer justificação para o colonialismo. E, neste aspecto, são muito mais educativas do que muitos textos escolares”. Com a sua linguagem colorida, por vezes feita de palavras inventadas, com os seus animais e lugares fabulosos e imaginários, a obra de Emilio Salgari apresenta-se ainda hoje com a frescura e o encanto capazes de interessar os jovens (e os menos jovens) leitores de livros de aventuras, como válida alternativa à violência gratuita de tantos subprodutos impostos pelos meios de comunicação.Deste modo, creio que se justificaria plenamente, mesmo em termos de estratégia editorial, a reedição da tradução portuguesa dos livros do criador da fascinante figura, como continua a ser Sandokan.
coordenação de Augusta Clara de Matos
Homenagem a João Villaret no cinquentenário da sua morte
No dia 21 de Janeiro completaram-se 50 anos sobre o falecimento de João Villaret, grande actor e declamador português. Emboracom atraso, associamo-nos às homenagens prestadas a esta figura do nosso teatro, cinema e televisão. Eis alguns dados biográficos:
João Henrique Pereira Villaret nasceu em Lisboa no dia 10 de Maio de 1913, morrendo também em Lisboa, no dia 21 de Janeiro de 1961. Frequentou o Conservatório Nacional de Teatro, após o que passou a fazer parte da companhia do Teatro Nacional de D. Maria II, em Lisboa, dirigida pelo casal Amélia Rey Colaço - Robles Monteiro. Integrou depois a companhia Os Comediantes de Lisboa, fundada em 1944 por António Lopes Ribeiro e por seu irmão Francisco Ribeiro (Ribeirinho). A sua actuação em Esta Noite Choveu Prata, do dramaturgo brasileiro Pedro Bloch, peça escrita para um só actor, constituiu em 1954, no Teatro Avenida, um dos maiores êxitos da sua carreira.
No cinema participou em O Pai Tirano, de António Lopes Ribeiro (1941); Inês de Castro, de Leitão de Barros (1945); Camões, de Leitão de Barros (1946); Três Espelhos, de Ladislao Vadja (1947); Frei Luís de Sousa, de António Lopes Ribeiro (1950); O Primo Basílio, de António Lopes Ribeiro (1959).
A partir de 1957 participou em programas na televisão. O mais famoso foi o das noites de domingo, o programa de memórias, episódios e, sobretudo, declamação de poemas. Introduzido pela canção With a Song in My Heart, celebrizada porJane Froman,programa em que recitava textos de grandes poetas de língua portuguesa, Fernando Pessoa, Manuel Bandeira, António Botto… Vamos ouvir alguns desses poemas
Liberdade, de Fernando Pessoa Adivinha, do poeta brasileiro Martins D'Alvarez Recado a Lisboa, letra de João Villaret, música de Armando da Câmara Rodrigues e João Henrique
Lisboa e João Villaret
Enviado por joujouxf. - Explore locais exóticos através dos vídeos.
Na Segunda 28/2 : Exibe-se às 19h no Institut Français du Portugal um dos últimos filmes do ciclo "Jacques Demy", Les Demoiselles de Rochefort (1967), com Catherine Deneuve e Françoise Dorléac nas principais protagonistas e ainda o concurso de Michel Piccoli, Jacques Perrin, Danielle Darrieux e mesmo Gene Kelly. Também com música de Michel Legrand, o filme teve o Prémio Max-Ophuls 1967 e o Oscar da Melhor Música de filme em 1969.
http://www.youtube.com/watch?annotation_id=annotation_777849&v=81DytitpOZY&feature=iv
Ainda neste Instituto, às 22h, um concerto do Rodrigo Amado Motion Trio comemora os 45 anos do programa de rádio Cinco Minutos de Jazz de José Duarte, com quem haverá uma entrevista prévia. (entrada livre)
Na Culturgest, às 21h 30m há o segundo espectáculo do Daniel Levin Quartet (D.Levin violoncelo, Nate Wooley trompete, Matt Moran vibrafone e Peter Bitenc contrabaixo) onde se ouvirá, a avaliar pelo seu recente disco Live at Roulette, "um jazz de câmara moderno onde a improvisação abstracta dá origem a um lirismo profundamente comovente". (ver agenda anterior)
Numa semana menos fértil em eventos musicais de qualquer tipo, lembramos a visita a exposições cujo encerramento se aproxima. Assim a Fundação EDP / Museu da Electricidade inaugurou a 27 de Janeiro (prolongando-se até 20 de Março) a exposição Opera que reúne um conjunto de trabalhos fotográficos de Augusto Alves da Silva, que têm como tema central o exterior do Teatro Nacional de São Carlos (TNSC), em Lisboa, edifício classificado como monumento nacional. (entrada livre de Terça a Domingo das 10 às 18h)
Na Sala de Conferências da Universidade de Lisboa, as palestras (das 18-20h) comemorativas serão de João Pinharanda e Fernando Catarino.
Na Terça 1/3 : Inicia-se na Biblioteca-Museu República e Resistência - Espaço Grandella o ciclo de conferências "República das Mulheres I" (às 19h) com uma mesa redonda intitulada "Perfis de Mulheres" onde estarão presentes Isabel Lousada, Lídia Jorge, Alice Samara, Maria Antónia Palla e Cândida Proença. O ciclo prossegue todas as Quartas-feiras de 9 a 23 de Março. (ver cartaz)
Conclui-se às 18h 30m na Culturgest (Pequeno Auditório) o ciclo de palestras "O Fascínio da Economia" proferidas por João Ferreira do Amaral, professor catedrático do ISEG, desta vez sobre o tema "A Economia Normativa (II): O Estado, a Propriedade e o Futuro da Economia". Destinadas a quem não é economista, elas têm fornecido os meios de compreensão necessários para lhe permitir formular uma opinião não só sobre a real importância das questões, como sobre os motivos pelos quais a ciência económica não encontra respostas satisfatórias para inúmeros problemas actuais.
No Teatro Municipal de Almada, às 16h (terminando a temporada a 2/3, tb às 16h!), representa-se a peça de Almeida Garrett Falar Verdade a Mentir com encenação de Rodrigo Francisco e interpretação de Alberto Quaresma, Celestino Silva, João Farraia, Maria Frade, Miguel Martins e Sofia Correia.
No Ondajazz, como todas as Terças, às 22h 30m, toca a Bigband Loureiro.
Isabel Alçada e João Barroso Soares são os palestrantes no ciclo das "100 Lições" comemorativo do centenário da UL.
Na Quarta 2/3 : No Teatro Maria Matos TM (sala principal), às 21h 30m, Rui Catalão (jornalista, escritor, argumentista), no seu primeiro solo, representa o seu texto Dentro das Palavras onde "constroi uma teia de narrativas, uma Casa de Espelhos onde deixa de ser claro o que é personalidade e personagem, biografia e ficção, privado e público". Repete a 3/3 à mesma hora.
No CCB estreia (com duração até 6/3) o espectáculo multidisciplinar (a partir dos 8 anos) Sopa Nuvem, um thriller gastronómico, concebido por António Pedro e Caroline Bergeron e produzido pela Companhia Caótica.
A visita (gratuita) Uma obra de Arte à hora de Almoço é a Tapete tipo Combate de Animais no Museu Calouste Gulbenkian (às 13h 15m).
Na Sala de Conferências da Universidade de Lisboa, as palestras (das 18-20h) comemorativas serão de Francisco Pinto Balsemão e Miguel Real.
Na Quinta 3/3 : No Teatro Experimental de Cascais a estreia recente de "Comboio da Madrugada" de Tennessee Williams, continuada no Teatro Municipal Mirita Casimiro, marca o regresso de Eunice Muñoz aos palcos, sob a direcção de Carlos Avilez, com Anna Paula, Pedro Caeiro e Lídia Muñoz (de Quarta a Sábado às 21h 30m, Domingo às 16h). Permanece até 3/4.
Também até essa data de 3 de Março, na COMUNA Teatro de pesquisa exibe-se a peça de Alicia Guerra "E não se pode Matá-los?" em versão cénica, dramaturgia e encenação de João Mota com Carlos Paulo, Tânia Alves, Álvaro Correia, Maria Ana Filipe, entre outros (de Quarta a Sábado às 21h 30m, Domingo às 16h).
No CCB , às 22h, na recepção do Centro de Reuniões, o guitarrista português Bruno Santos e o também guitarrrista Virxilio da Silva (da Galiza) actuarão juntos noutro concerto de jazz "Dose Dupla" (entrada livre).
No Ondajazz, às 22h 30m, actua Luanda Jones (voz e guitarra), acompanhada de Lucio Vieira (baixo) e Milton Batera (bateria).
Vasco Vieira de Almeida e Maria Filomena Mónica são os palestrantes no ciclo das "100 Lições" comemorativo do centenário da UL.
Na Sexta 4/3 : O Grande Auditório da Fundação Gulbenkian (às 19h) acolhe Peer Gynt, um espectáculo que junta a música de Edvard Grieg e o teatro de Henrik Ibsen, numa versão encenada por José Wallenstein. Segundo o encenador, o resultado será “um concerto cénico, próximo de um espectáculo musical”, em que três actores (David Almeida, Wagner Borges e Tânia Alves) e uma cantora (Patrycja Gabrel, soprano do Coro Gulbenkian) vão representar cenas escolhidas de Peer Gynt, acompanhados pela música que a Orquestra Gulbenkian irá tocar, dirigida pelo maestro Osvaldo Ferreira. O concerto repete-se no Sábado 5/3 às 16h.
No Museu do Oriente, às 21h 30m, o colectivo Danças Ocultas, onde Artur Fernandes, Filipe Cal, Filipe Ricardo e Francisco Miguel utilizam o acordeão diatónico (vulgo concertina), apresenta o seu novo disco Alento.
No "Ciclo de Teatro do Porto?" a decorrer no São Luiz Teatro Municipal exibe-se às 22h no Teatro-Estúdio Mário Viegas e apresentada pela Assédio a peça de Mark O'Rowe Ossário com encenação de João Cardoso e interpretação de Constança Carvalho Homem, Isabel Queiroz e Rosa Quiroga. Três personagens, três mulheres, três monólogos, três narrativas que se cruzam para nos contar uma história passada algures num território entre o pesadelo e a realidade, um lugar ficcional na Irlanda, uma pequena cidade abandonada por qualquer espécie de bondade. Repete a 5/3 às 23 h.
A Cinemateca Portuguesa (em colaboração com a Midas Filmes) decidiu promover o "Elogio de Jean-Luc Godard" começando por exibir na Sala Dr. Félix Ribeiro (às 21h 3om) Deux de la Vague (Os Dois da (Nova) Vaga) de Emmanuel Laurent (2009) com Jean-Luc Godard, François Truffaut, Jean-Pierre Léaud, Isild Le Besco, documentário assente em imagens de arquivo que narra a mítica amizade entre Jean Luc Godard e François Truffaut, e a sua posterior separação. Realizado no ano em que a Nouvelle Vague celebrou os seus cinquenta anos, contados a partir da exibição de Les 400 Coups no Festival de Cannes em 1959, este filme de Emmanuel Laurent traça o retrato de um movimento que mudou a forma de fazer cinema e revelou ao mundo dois dos maiores cineastas de todos os tempos.
A visita (gratuita) Uma obra de Arte à hora de Almoço é à Série Habitar de Pedro Gomes no Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian (às 13h 15m).
No ciclo de palestras "Ciência em Português" (CIÊNCIA na UL), "Como respondem as plantas ao stress?" a oradora será Susana Serrazina, do Centro de Biodiversidade, Genómica Integrativa e Funcional da FCUL na Sala de Conferências da Reitoria da UL (às 18h).
No Sábado 5/3 : No Grande Auditório do CCB, às 21h, ouvir-se-á de Johann Sebastian Bach, além da Cantata nº106 Gottes Zeit ist die allerbeste Zeit (Actus Tragicus), Gleichwie der Regen und Schnee vom Himmel fällt (BWV18) e Nach dir, Herr, verlanget mich (BWV150), interpretado pelo Divino Sospiro sob a direcção musical do cravista Kenneth Weiss.
Na última sessão do ciclo “Do Barroco ao Clássico” no Salão Nobre do Teatro Nacional de São Carlos (às 18h) a Orquestra Sinfónica Portuguesa (sob a direcção musical de Julia Jones), acompanhada por Petio Kalomenski (contrabaixo) interpretará obras de Jiri Antonin Benda (Sinfonia nº10,em Sol), Carl Philipp Emanuel Bach (Sinfonia nº6 para cordas,em Mi Maior), Johann Baptist Vanhal (Concerto para contrabaixo e orquesta de cordas, em Mi Maior) e Ludwig van Beethoven (Sinfonia nº8,em Fá Maior).
Na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, às 21h30, a Orquestra Metropolitana de Lisboa sob a direcção musical de Michael Zilm dará um concerto para a União Europeia de Radiodifusão "Stravinski: a celebração de um centenário" onde, com a participação de Markus Eiche (barítono), se ouvirá Valsas nobres e sentimentais (versão orquestral) de Maurice Ravel, Seis monólogos de "Jedermann" (Hoffmansthal) de Frank Martin, Paraísos artificiais de Luís de Freitas Branco e Suite do bailado O pássaro de fogo [versão de 1919] de Igor Stravinski.
Na Culturgest, em exibição especial (às 18h30 e 21h30), vai ser possível ver a última obra do cineasta Jean-Luc Godard, "Film Socialisme", uma melancólica meditação sobre o destino da Europa, do cinema, do mundo, onde há bem mais do que só duas ou três verdades políticas e/ou poéticas sobre os nossos tempos.
No Teatro São Luiz (Sala Principal), às 21h e integrado no "Ciclo de Teatro do Porto?", o Ensemble apresenta a peça Dueto para Um de Tom Kempinsky, com encenação de Carlos Pimenta e interpretação de Emília Silvestre e Jorge Pinto. Inspirada na vida da famosa violoncelista inglesa Jacqueline du Pré, é a história de uma mulher, Stephanie Abrahams, conceituada violinista que contrai esclerose múltipla no auge da sua carreira. Repete Domingo 6/3 às 17h 30m.
No Teatro da Trindade, às 16h, representa-se o texto de Fernando Pessoa que o poeta escreveu para brincar com os seus sobrinhos intitulado "Havia um Menino que Era Pessoa". A ideia do espectáculo (adaptação de Cucha Carvalheiro e José Figueiredo Martins) partiu desta colectânea de textos, mas não se limita a eles, incluindo outros poemas dos vários heterónimos do poeta que, pela sua simplicidade, podem ser compreendidos por crianças. É um espectáculo multimédia encenado por Lucinda Loureiro, em cena até 26/3.
No Ondajazz, às 22h 30m, Jean Pierre Como (piano), com Diego Imbert (contrabaixo) e Stephane Huchart (bateria) tocará o seu novo disco Repertoire.
No Domingo 6/3 : O "Concerto de Domingo" no átrio da Biblioteca de Arte do Museu Gulbenkian (às 12h) terá como intérprete João Bettencourt da Câmara ao piano, tocando obras de Franz Liszt e Richard Wagner.
No Teatro Municipal de Almada, às 16h, a Orquestra Metropolitana de Lisboa (direcção musical: Michael Zilm) interpretará de Luis de Freitas Branco Paraísos artificiais, de Maurice Ravel Valsas nobres e sentimentais (versão orquestral) e de Igor Stravinski Suite do bailado "O pássaro de fogo" [versão de 1919].
coordenação de Augusta Clara de Matos
Boas e Más Memórias
Jean-Arthur Rimbaud Cartas da Abissínia
(Trad. de Célia Henriques e Vitor Silva Tavares)
Aden, 6 de Janeiro de 1883
Minha querida Mamã, Minha querida irmã,
(...) Volto a partir no fim do mês de Março para Harar. A referida bagagem fotográfica vai chegar dentro de quinze dias, e eu tenho em vista utilizá-la rapidamente e repor os respectivos encargos, o que não será muito difícil, uma vez que em França se devem vender as reproduções destas regiões ignotas e dos tipos singulares que as habitam; além do que, mesmo lá, poderei obter um lucro imediato de toda esta maçada. (...)
Aden, 15 de Janeiro de 1883
(...) Isabelle não tem razão quando deseja ver-me aqui neste país. É um fundo de vulcão, sem erva. A única vantagem é que o clima é muito saudável e se fazem negócios bastante bons. Mas, de Março a Outubro, o calor é excessivo. Agora estamos no inverno, o termómetro só atinge 30° à sombra; nunca chove. Há um ano que durmo sempre ao relento. Pessoalmente, gosto muito deste clima, pois tive sempre horror à chuva, à lama e ao frio. No entanto, é provável que no fim de Março volte a partir para Harar. Lá, é montanhoso e muito alto; de Março a Outubro, chove sem parar e o termómetro situa-se nos 10°. A vegetação é magnífica e há febres. Se partir, provavelmente ficarei durante um ano. Tudo será decidido em breve. De Harar, enviar-vos-ei vistas, paisagens e tipos humanos. (...)
Aden, 28 de Janeiro de 1883
Senhor de Gaspary
Vice-Cônsul da França em Aden
Senhor,
Perdoe-me submeter a presente ocorrência à sua consideração.
Hoje, às 11 horas da manhã, o chamado Ali Chemmak, fiel de armazém da casa onde estou empregado, mostrou-se insolente comigo, tendo-me eu permitido dar-lhe uma bofetada sem violência.
Os coolies l e diversas testemunhas árabes agarraram-me, deixando-o livre para ripostar; o dito Ali Chemmak acertou-me na cara, rasgou-me a roupa e seguidamente pegou num pau com que me ameaçou.
As pessoas presentes intervieram, Ali recuou e pouco depois saiu para apresentar na polícia municipal queixa contra mim, por murros e ferimentos, e apresentou várias testemunhas falsas para declararem que eu ameaçara espetar-lhe um punhal, etc., etc. e outras mentiras destinadas a envenenar o caso em meu desfavor e a excitar o ódio dos indígenas contra mim.
Tendo comparecido por este motivo perante a polícia municipal em Aden, permiti-me informar o Senhor Cônsul da França em Aden sobre as violências e ameaças de que fui alvo por parte dos indígenas, solicitando a sua protecção no caso de o desfecho do acontecimento parecer aconselhá-la.
Ao vosso inteiro dispor, Senhor Cônsul,
Subscrevo-me,
RIMBAUD
Empregado da Casa
Mazeran, Vianney & Bardey,
em Aden
Aden, 19 de Março de 1883
Recebi a vossa última carta e o caixote dos livros chegou-me ontem à tarde. Agradeço-vos.
A máquina fotográfica e tudo o resto estão em excelente estado.
Quanto aos livros, vão ser-me muito úteis num país onde não há informação e onde ficamos estúpidos que nem asnos se não rememorarmos um pouco o que estudámos. Sobretudo os dias e as noites são muito longos em Harar, e estes velhos livros vão-me fazer passar o tempo agradavelmente. Pois é preciso dizer que, não havendo nenhum lugar público de reunião em Harar, somos constantemente obrigados a ficar em casa. Aliás, conto fazer um curioso álbum sobre isto tudo.
Envio-vos um cheque de cem francos para que o descontem e me adquiram os livros da lista que segue. O gasto com livros é útil.
Dizeis que restam cerca de cem francos do meu antigo dinheiro. Quando vos facturarem o grafómetro (instrumento de nivelamento) que encomendei em Lyon, paguem-no com o que resta. Renunciei a toda esse quantia. (...
Harar, 6 de Maio de 1883
(...) Aqui, toda a gente quer ser fotografada; até oferecem um guinéu por fotografia. Ainda não estou bem instalado, nem ao corrente dos assuntos; mas em breve estarei, e enviar-vos-ei coisas curiosas.
Junto duas fotografias minhas tiradas por mim. Sempre estou melhor aqui do que em Aden. Há menos trabalho e muito mais ar, verdura, etc....
Renovei o meu contrato por três anos, mas suponho que o estabelecimento vai fechar em breve, pois os benefícios não cobrem as despesas. Enfim, está assente que no dia em que for despedido me darão três meses de vencimento como indemnização. No fim do ano corrente completarei três anos nesta casa.
Isabelle faz mal em não se casar se aparecer alguém sério e instruído, alguém com futuro. A vida é assim, e a solidão é uma coisa má nestas paragens. Pelo que me diz respeito, lamento não ter casado e não ter família própria. Mas agora estou condenado à errância, ligado a uma empresa longínqua, e todos os dias perco o gosto pelo clima e pelas maneiras de viver, e mesmo pela língua da Europa. Helásl Para que servem estas idas e vindas, estas fadigas e aventuras junto de raças estrangeiras, e estas línguas com que se atafulha a memória, e estes sofrimentos inomináveis, se um dia, após vários anos, não puder repousar num lugar que me agrade mais ou menos e ter uma família, e ter pelo menos um filho a quem passe o resto da vida a educar segundo as minhas ideias, a ilustrar e a dotar com a instrução mais completa que se pode adquirir nesta época, e que eu veja tornar-se num engenheiro de renome, um homem poderoso e rico através da ciência? Mas quem sabe quanto poderão durar os meus dias aqui nestas montanhas? E posso desaparecer no meio destas tribos, sem que a notícia alguma vez seja divulgada.
Falais-me de notícias políticas. Se soubessem como isso me é indiferente! Há mais de dois anos que não toco num jornal. Presentemente, todos esses debates são incompreensíveis para mim. Como os muçulmanos, sei que o que acontece, acontece, e é tudo. (...),
Luis Moreira
As organizações vão mudando conforme os objectivos pretendidos, os meios de que dispõem, a concorrência das suas congéneres.Uns aceitam estas mudanças como inevitáveis outros , resistem à mudança. Sempre foi assim e sempre será.
A propósito da re-eleição do reitor prof Ramôa Ribeiro na UTL, este começa por lamentar que em Portgal não existam rankings que comparem universidades e que considera este assunto tão importante que vai nomear um pró-reitor só para o efeito. Isto, num país onde toda uma corporação de interesses instalada nos quer fazer crer que não há condições objectivas para avaliar escolas e que os rankings que nos últimos dez anos vieram a público não têm qualquer interesse.
Preservar a autonomia de gestão, ganhar dimensão, poupar nas superestruturas, complementar cursos e curriculos, ter maior envolvimento nos ambientes científico e empresarial são outras ideias que o re-eleito Reitor quer tornar realidades. Em portugal não há rankings de universidades ao contrário de Inglaterra onde, todos os anos a universidade que esteja classificada em primeiro lugar pode passar para o quarto lugar, sem que disso resulte qualquer drama.Só ficam com a vontade de voltar ao primeiro lugar.
A A3ES, com o prof Alberto Amaral a líder tem acesso a todas as informações necessárias sobre a investigação, os cursos e as licenciaturas e é uma instituição a quem todos dão crédito para fazer esse trabalho. Até porque se as universidades não forem classificadas ficarão afastadas dos grandes projectos de investigação europeus.
Há rankings internacionais que irão determinar se as nossas universidades serão ou não competentes e capazes de acompanharem os grandes projectos científicos. Não há volta a dar.
Não vale a pena pois, continuar a perder tempo, lutando contra a avaliação das escolas e dos professores...
Neste vídeo, apreciámos uma tentativa de fusão de tango e de fado, interpretada por Beatriz Ayas e pelos Portubayres. É um tema curioso, este o da similitude entre dois tipos de música urbana – a portuguesa e argentino-uruguaia. Aqui há tempos referi-me numa destas crónicas a um texto de Jorge Luis Borges sobre o assunto. Não o consegui encontrar, embora saiba que foi publicado num suplemento do DN num domingo de há muitos anos. Gostava de o ter consultado.
Em Abril de 1982, assisti na Gulbenkian à exibição de «Cinco Tangos», executada pelo grupo de Ballet da Fundação. A música era do Astor Piazzolla, o grande compositor argentino, mago do bandoneón. Várias vozes se fizeram na altura ouvir, chamando a atenção das afinidades entre o tango e o fado. Agora que se fala em candidatar a chamada canção nacional ao estatuto de «Património Imaterial da Humanidade», justifica-se avaliar até que ponto esse desiderato faz sentido. Avaliação que, estejam descansados, não vou fazer. Aliás o assunto está muito bem entregue – o Professor Ruy Vieira Nery, director do Programa da Educação para a Cultura da Fundação Gulbenkian e membro da comissão da candidatura diz que agora a decisão já só compete ao Ministério da Cultura. Em fins de Setembro passado, a UNESCO declarou o tango como Património Cultural Imaterial da Humanidade. Mais jovem do que o fado, o tango antecipou-se – é caso para dizer que «passou a perna» ao fado.
Quanto às origens do fado, não me vou pronunciar, apenas referir o que se diz. Há a tese mais vulgarizada de que, quando a Corte de D.João VI regressou, trouxe consigo uma dança em voga no Rio de Janeiro a que se chamava «Fado», inspirada no lundum, e que podia ser acompanhada por canto. Na realidade, os primeiros registos escritos sobre o tema começaram a surgir no século XIX, mais na segunda metade. Mas foi uma inovação que depressa se converteu em tradição. Encontramos referências aos fado e aos fadistas, por exemplo, nos romances de Eça de Queirós. No «Cancioneiro Alegre de Poetas Portugueses e Brasileiros», organizado por Camilo Castelo Branco, inclui-se um poema de Alexandre da Conceição – sobre um tal Marialva que «dançava o fado à noite em tabernas» - referência que acentua a tese da dança vinda do Brasil.
Outra referência cultural, o famoso quadro de José Malhoa, data de 1910. Nestes primeiros tempos, o fado surgia como fenómeno tipicamente lisboeta. As grandes fadistas do século XIX, a lendária Maria Severa (1820-1846), nasceu e morreu em Lisboa, e Maria Vitória (1891-1915), creio que também. Esta última cantava nas revistas e celebrizou o «Fado do 31», mais tarde interpretado por Estevão Amarante. Todos estes dados apontam para uma tradição, se assim se pode chamar, que se instalou rapidamente e que, como planta trepadeira, se enroscou no fatalismo da alma portuguesa e no miserabilismo inerente à pobreza citadina, com ele se confundiu, e às vezes pareceu mesmo estar na sua origem, ser causa e não efeito. Não esqueçamos que «fado» vem do latim «fatum», ou seja, «destino». Em menos de cem anos o fado (cantado) se espalhou pelo país e se transformou em canção nacional. Para além destas e doutras raízes mais remotas, o fenómeno Amália Rodrigues ajudou a enquistar o fado no tecido da alma popular, elevando-o à categoria de tradição. Mas, além desta tese, há outras – teria vindo de reminiscências das melopeias árabes ou, como já ouvi dizer, seria uma herança dos celtas. Estas duas últimas parecem-me teorias rebuscadas. Como seria possível o fado vir de tempos tão remotos e não existir, nas baixas e tordiões, por exemplo, ou noutro tipo de canção popular dos séculos que mediaram entre a herança céltica ou árabe e o século XIX, um fio condutor, um elo, que ligue esses vestígios?
Já o fado de Coimbra, com uma genealogia diferente, parece estar mais ligado às baladas tradicionais e, mais especificamente, à música beirã. Embora também seja um fenómeno relativamente recente. Os cantores Augusto Hilário, António Menano e Edmundo Bettencourt, bem como o grande guitarrista Artur Paredes, pai de Carlos Paredes, nomes maiores da canção coimbrã, são tudo gente do século XX. O tango é mais recente do que o fado. Foi buscar as suas origens à «habanera» (de La Habana). Desta dança terão surgido o maxixe brasileiro e o tango argentino e uruguaio.
A dança começou por se chamar «tango criollo» simplificando-se depois para tango. É já no século XX que se instala nos dois lados do rio La Plata, em Buenos Aires e em Montevideu. Como canção encontra em Carlos Gardel o seu mais emblemático intérprete. A relação fado/tango era evidente – canções nostálgicas, fatalistas. Amália disse ter encontrado a sua voz, cantando os tangos de Gardel. Agora é uma argentina, María Lavalle, que, inspirando-se em Amália, volta a acentuar a relação entre as duas formas musicais. Apresentou, há meses atrás, no Teatro Calderón de Madrid o seu espectáculo «Tú que puedes, vuélvete», fundindo o tango puro com o fado puro, misturando músicos argentinos e portugueses. Coisa que a nossa Mísia já tinha feito, para não falar nos fado tango de Amália, «Cansaço», agora interpretado por Camané. O mestre da guitarra António Chaínho, acompanhado pela cantora Marta Dias e pelo coreógrafo Alejandro Laguna, apresentou há anos um espectáculo em que fundia os dois géneros. Parece-me ser a primeira tentativa de fusão. Diziam que tendo o fado e o tango nascido em ambientes portuários e marginais, tinham trajectórias, história e sentimentos similares e, de certo modo, complementares. O que faz sentido.
Justifica-se integrar o fado no património imaterial da humanidade? Sempre vou dar a minha opinião: entendido como canção nacional, acho que sim. Recuso a ideia de que o fado «reflecte a alma do povo português», reflecte-a tanto como a chula do Minho, como o cantar alentejano ou qualquer outra forma musical popular do nosso povo. Naturalmente que o vira minhoto ou algarvio ou o bailinho madeirense, não se coadunam com o sentir de bastante mais de metade da população do país que habita as áreas metropolitanas de Lisboa, Porto e Setúbal. Parece-me ser esse o espaço do fado – reflexo fatalista da vida descarnada, afastada da natureza, que se vive nas cidades grandes. Não terá um historial muito antigo, mas se formos a ver, toda a canção urbana nasce no século XIX ou mesmo no século XX– a valse musette de Paris, os cuplés madrilenos, o tango de Buenos Aires e de Montevideu. Os blues saltam das plantações de escravos para as cidades, eclodem nos anos 40 do século XX em Chicago…Como diria Mr. de La Palisse, a canção urbana nasce, ou instala-se, com as e nas concentrações urbanas.
Ora vamos lá ouvir a María Lavalle. Silêncio, que se vai cantar o tango.
O Bacanal, Goya
Quero beber! Cantar
asneiras
No esto brutal das bebedeiras
Que tudo emborca e faz em caco…
Evoé Baco!
Lá se me parte a alma levada
No torvelim da mascarada,
A gargalhar em doudo assomo…
Evoé Momo!
Lacem-na toda, multicores,
As serpentinas dos amores,
Cobras de lívidos venenos…
Evoé Vênus!
Se perguntarem: que mais queres,
Além de versos e mulheres?...
- Vinhos!... o vinho que é meu fraco!...
Evoé Baco!
O alfange rútilo da lua,
Por degolar a nuca nua
Que me alucina e que eu não domo!...
Evoé Momo!
A Lira etérea, a grande Lira!...
Por que eu extático desfira
Em seu louvor versos obscenos,
Evoé Vênus!
Manuel Bandeira, 1918
Como nos relacionamos com a sua existência? Umas vezes bem, outras vezes mal!
E lá dizem os ditados:
“Afoga-se mais gente em vinho do que em água”.
“Quando o vinho desce, as palavras sobem”.
“Bom vinho não precisa de rolha”.
“Vinho madurão faz o homem brigão”.
“Quem bebe muito vinho, perde o tino”.
“Quando o vinho entra, sai a inteligência”.
“Quando o vinho entra, os segredos saem”. |
O jogo
GRANDE PRÉMIO DE POESIA
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Abertura de Concurso
Está aberto o concurso literário, em epígrafe, para as obras publicadas em 2010, até ao dia 18 de Março de 2011.
Para o efeito, consulte o nosso site: www.apescritores.pt.
Agradecemos que, no exterior das embalagens, venha a designação do Prémio.
Bom fim-de-semana.
Saudações cordiais.
Paula Trindade Duarte
Duke Ellington (1899-1974) - músico norte-americano. O seu nome era Edward Kennedy Ellington. Foi maestro, director de orquestra, compositor, com uma considerável diversidade nos seus interesses musicais. Os seus arranjos musicais mais famosos, de música para dançar, baseavam-se no swing e no hot jazz, e eram elaborados com a participação dos elementos da sua orquestra. Duke compôs música sacra, sinfónica e até uma versão da Ópera do Mendigo. Em 1970 foi eleito para o Instituto Nacional de Artes e Letras, dos EUA.
Antes de mais, poucos conhecem esta balada pelo título “Against All Odds”, que é também o título do filme para cuja banda sonora foi composta. Quem conhece esta balada do britânico Phil Collins conhece-a seguramente por “Take a look at me now”, a frase chave da canção, o momento dramático em que quem canta implora a um(a) amante do passado que olhe bem para o seu triste estado, depois da ruptura amorosa, e lhe dê outra oportunidade.
A canção teve um primeiro título – “How Can You Just Site There” – ainda mais infeliz, e que prova que Collins teve dificuldades em nomear a balada. O video inclui imagens do filme, com um Jeff Bridges novíssimo, e um Phil Collins ainda com cabelo, prova de que 1984 já vai há muito tempo.
“Against All Odds (Take a Look At Me Now)” foi um grande sucesso de vendas e ainda toca insistentemente nas muitas estações de rádio dedicadas às décadas de 1980 e 1990.
Uma curiosidade: em 2009, uma crítica musical americana resolveu fazer uma experiência com a canção e contá-la no seu blogue. Comprometeu-se a ouvir esta balada uma vez por cada hora que passasse acordada durante uma semana inteira. O resultado, se a alguém interessar, está aqui.
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