Sábado, 1 de Janeiro de 2011

O Processo Educativo - nova obra do Professor Raúl Iturra a partir de dia 3 de Janeiro às 15 horas



«Todo o grupo social precisa de transmitir a sua experiência acumulada no tempo à geração seguinte, como condição da sua continuidade histórica. O facto de os membros individuais do grupo estarem sempre a renovar-se, seja pela morte, seja pelo nascimento, dinamiza a necessidade de que essa experiência acumulada, que se denomina saber e existe fora do tempo individual, fique organizada numa memória que permaneça no tempo histórico. A questão está em saber se é mais útil para a reprodução do grupo que os novos reproduzam o saber; ou que entendam a necessidade dele por meio de praticar a sua utilidade. O primeiro seria ensinar o que já se tem, subordinada à letra do que já se possui como explicação da natureza e das relações entre os homens; o segundo seria aprender o processo que dinamiza as operações pelas quais a mente humana resolve uma questão cada vez uma problemática se lhe coloca. »

Da Introdução

A partir da próxima segunda-feira às 15 horas

O PROCESSO EDUCATIVO
Por Raúl Iturra
____________________________
publicado por Carlos Loures às 15:00
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Quando Chegou o 1º. de Janeiro

Marcel Proust


Quando chegou o 1º. de Janeiro, fiz primeiro as visitas de família, com a mamã que, para não me cansar, as tinha de antemão (com a ajuda de um itinerário traçado pelo meu pai) classificado por bairro e não pelo grau exacto de parentesco. Mas, mal entrámos no salão de uma prima bastante afastada que passara à frente devido ao facto de a sua residência não ficar muito afastada da nossa, a minha mãe ficou apavorada ao avistar, as castanhas glacés ou decoradas na mão, o melhor amigo do mais susceptível dos meus tios a quem iria contar que não tínhamos começado a ronda por ele. Esse tio iria seguramente ficar magoado; teria achado muito natural que fossemos da Madalena ao Jardim das Plantas onde morava antes de pararmos em Saint-Augustin, para voltar a partir em direcção à Escola de Medicina.


Terminadas as visitas (a minha avó dispensava a sua, visto que jantávamos lá em casa nesse dia), corri aos Campos Elísios para entregar à nossa vendedora, que por sua vez a faria chegar às mãos da criada dos Swann que por ali passava várias vezes por semana para comprar o pão de cereais, a carta que desde o dia em que a minha amiga me causara tanta mágoa decidira enviar no Ano Novo, e na qual afirmava que a nossa antiga amizade desaparecia com o fim do ano, que esquecia as ofensas e as decepções e que a partir do 1º. de Janeiro era uma nova amizade que iríamos construir, tão sólida que nada poderia destruir, tão maravilhosa que esperava que Gilberte se dedicasse a preservar toda a sua beleza e a prevenir-me a tempo, como eu próprio prometia fazer, assim que surgisse algum perigo que pudesse estragá-la. Ao regressar, Françoise obrigou-me a parar, na esquina da Rue Royale, à frente de uma banca ao ar livre onde escolheu, como prenda de Ano Novo para si própria, fotografias de Pio IX e de Raspail, e onde eu próprio comprei uma de Berma. A admiração suscitada pela artista imprimiam algo de pobre àquele rosto único, imutável e precário como a roupa dessas pessoas que não têm outra para troca, que deixava apenas transparecer a pequena dobra por cima do lábio superior, o erguer das sobrancelhas, e umas quantas outras particularidades físicas, as mesmas que, em suma, estavam à mercê de uma queimadura ou de um choque. Esse rosto, aliás, não me teria parecido belo por si só, mas suscitava-me a ideia, e por conseguinte o desejo, de beijá-lo devido a todos os beijos que teria sofrido, e que do fundo do cartão-postal parecia convocar ainda através daquele olhar provocadoramente terno e daquele sorriso artificialmente ingénuo. Pois Berma devia sentir efectivamente para bem dos homens jovens esses desejos que ela confessava sob a capa da personagem de Fedra, e que tudo nela, mesmo o prestígio do seu nome que aumentava a sua beleza e prorrogava a sua juventude, devia tornar fácil o prazer. A noite caía, detive-me à frente de uma coluna de teatro onde estava anunciada a representação que Berma iria dar no 1º. de Janeiro. Um vento húmido e doce soprava. Era um tempo que eu conhecia; tive a sensação e o pressentimento de que o dia de Ano Novo não era um dia diferente dos outros, que não era o primeiro de um mundo novo em que teria podido, com a sorte ainda intacta, voltar a travar conhecimento com Gilberte como nos tempos da Criação, como se não existisse ainda passado, como se tivessem sido amenizadas, com os indícios que poderíamos ter retirado para o futuro, as decepções que alguma vez ela pudesse ter-me dado: um novo mundo onde nada subsistisse do velho…apenas uma coisa: o desejo que Gilberte me amasse. Compreendi que se o meu coração desejava essa renovação de um universo que não o satisfizera, era porque ele, o meu coração, não mudara, e disse a mim próprio que não havia motivo para que o de Gilberte tivesse mudado por seu turno; senti que essa nova amizade era a mesma do mesmo modo que não estão separados por um fosso os novos anos que o nosso desejo, sem poder alcançá-los ou modificá-los, cobre com um nome diferente. Fora em vão que a dedicara a Gilberte e, tal como submetemos uma religião às leis cegas da natureza, tentara imprimir ao dia de Ano Novo a ideia particular que fizera dele; sentia que ele não sabia que o chamávamos dia de Ano Novo, que acabava no crepúsculo de uma forma que para mim não era nova; no vento doce que soprava em torno da coluna de cartazes, reconhecera, sentira ressurgir a matéria eterna e comum, a humidade familiar, a ignorante fluidez dos dias antigos.


Regressei a casa. Acabara de viver o 1º. de Janeiro dos homens velhos que ao contrário dos jovens diferenciam esse dia, não porque lhes dão mais prendas, mas porque já não acreditam no novo ano. Recebera muitas prendas, mas não a que me teria dado mais prazer e que seria um bilhete de Gilberte. Era contudo ainda muito jovem pois conseguira escrever-lhe um através do qual esperava, ao contar-lhe os sonhos solitários da minha ternura, despertar nela algo semelhante. A tristeza dos homens que envelhecem é a de nem sequer sonharem em escrever tais cartas das quais conhecem antecipadamente a ineficácia.


Quando fui deitar-me, os ruídos da rua, que se prolongavam pela noite fora neste dia festivo, mantiveram-me acordado. Pensava em todas as pessoas que acabariam esta noite com prazer , no amante, na trupe de debochados que talvez tivesse ido buscar Berma no final da representação anunciada para aquela noite. Não podia sequer, para acalmar a agitação que esta ideia provocava em mim naquela noite de insónia, acreditar que Berma não pensava no amor, visto que os versos que recitava , e que ela estudara longamente, lembravam como ele era delicioso, como ela demonstrava saber ao deixar transparecer as emoções bem conhecidas de todos – mas dotadas de uma violência nova e de uma doçura insuspeita – aos espectadores deslumbrados apesar de todos as terem já experimentado. Reacendi a minha vela apagada para voltar a admirar o seu rosto. Ao pensar que naquele momento ela estaria a ser acariciada por aqueles homens que não podia deixar de atribuir a Berma, e que dela recebiam alegrias sobre-humanas e vagas, sentia uma comoção mais cruel que voluptuosa, uma nostalgia que vinha agravar o som da trompa, que se escuta na noite de Quaresma, e por vezes de outras festas, e que, porque é então desprovido de poesia, é mais triste, saindo de uma taberna, que “a noite no fundo dos bosques”. Nesse momento, não teria sido uma palavra de Gilberte que me teria ajudado. Os nossos desejos interferem uns com os outros , e na confusão da existência é raro que a felicidade venha justamente instalar-se no desejo que a havia reclamado.


(Trad. de Sandra Silva, À l’Ombre des Jeunes Filles en Fleurs, in 101 Noites de Natal, 101 Noites)

publicado por Carlos Loures às 14:00
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Henrique Raposo responde a Jorge Coelho

Luis Moreira

Caro Dr. Jorge Coelho, como sabe, V. Exa. enviou-me uma carta, com
conhecimento para a direcção deste jornal. Aqui fica a minha resposta.
Em 'O Governo e a Mota-Engil' (crónica do sítio do Expresso), eu apontei para um facto que estava no Orçamento do Estado (OE): a Ascendi, empresa da Mota-Engil, iria receber 587 milhões de euros. Olhando para este pornográfico número, e seguindo o economista Álvaro Santos Pereira, constatei o óbvio: no mínimo, esta transferência de 587 milhões seria escandalosa (este valor representa mais de metade da receita que resultará do aumento do IVA). Eu escrevi este texto às nove da manhã. À tarde, quando o meu texto já circulava pela internet, a Ascendi apontou para um "lapso" do OE: afinal, a empresa só tem direito a 150 milhões, e não a 587 milhões.
Durante a tarde, o sítio do Expresso fez uma notícia sobre esse lapso, à qual foi anexada o meu texto. À noite, a SIC falou sobre o assunto. Ora, perante isto, V. Exa. fez uma carta a pedir que eu me retractasse. Mas, meu caro amigo, o lapso não é meu. O lapso é de Teixeira dos Santos e de Sócrates. A sua carta parece que parte do pressuposto de que os 587 milhões saíram da minha pérfida imaginação. Meu caro, quando eu escrevi o texto, o 'lapso' era um 'facto' consagrado no OE. V. Exa. quer explicações? Peça-as ao ministro das Finanças. Mas não deixo de registar o seguinte: V. Exa. quer que um Zé Ninguém peça desculpas por um erro cometido pelos dois homens mais poderosos do país.
Isto até parece brincadeirinha.
Depois, V. Exa. não gostou de ler este meu desejo utópico: "quando é que Jorge Coelho e a Mota-Engil desaparecem do centro da nossa vida política?".
A isto, V. Exa. respondeu com um excelso "servi a Causa Pública durante mais de 20 anos". Bravo. Mas eu também sirvo a causa pública. Além de registar os "lapsos" de 500 milhões, o meu serviço à causa pública passa por dizer aquilo que penso e sinto. E, neste momento, estou farto das PPP de betão, estou farto das estradas que ninguém usa, e estou farto das construtoras que fizeram esse mar de betão e alcatrão. No fundo, eu estou farto do actual modelo económico assente numa espécie de new deal entre políticos e as construtoras. Porque este modelo fez muito mal a Portugal, meu caro Jorge Coelho. O modelo económico que enriqueceu a sua empresa é o modelo económico que empobreceu Portugal.
Não, não comece a abanar a cabeça, porque eu não estou a falar em teorias da conspiração.
Não estou a dizer que Sócrates governou com o objectivo de enriquecer as construtoras.
Nunca lhe faria esse favor, meu caro. Estou apenas a dizer que esse modelo foi uma escolha política desastrosa para o país.
A culpa não é sua, mas sim dos partidos, sobretudo do PS.
Mas, se não se importa, eu tenho o direito a estar farto de ver os construtores no centro da vida colectiva do meu país.
Foi este excesso de construção que arruinou Portugal, foi este excesso de investimento em bens não - transaccionáveis que destruiu o meu futuro próximo.
No dia em que V. Exa. inventar a obra pública exportável, venho aqui retractar-me com uma simples frase: "eu estava errado, o dr. Jorge Coelho é um visionário e as construtoras civis devem ser o Alfa e o Ómega da nossa economia". Até lá, se não se importa, tenho direito a estar farto deste new deal entre políticos e construtores.


publicado por Luis Moreira às 13:00
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As duas independências de Cuba

Carlos Loures

1 de Janeiro é o dia em que os cubanos comemoram a independência relativamente à tutela de Espanha. O primeiro governo nacional, o de José María Gálvez Alonso, foi empossado em 1 de janeiro de 1898. Faz hoje 113 anos. No entanto, este governo que culminava uma guerra de dez anos contra a potência colonial, não significava uma verdadeira independência - Cuba fora ajudada pelos Estados Unidos e, na verdade, o que se passara com a derrota espanhola fora uma mudança de tutela. Agora, os donos de Cuba eram os Estados Unidos.

Na guerra, várias tendências se haviam consolidado – os autónomos, de Rafael Montoro, os reformistas, de José Antonio Saco, e os separatistas de José Martí, os únicos que aspiravam a uma verdadeira independência. Foi nesse sentido que Martí organizou o Partido Revolucionário Cubano. Porém, Martí morreu em 19 de Maio de 1895 na luta contra as tropas espanholas. Com a entrada dos Estados Unidos no conflito, as coisas mudaram – Espanha não tinha poder bélico para opor aos modernos couraçados que destruíam os navios que da Europa seguiam para as Caraíbas, com uma logística complicada e dispendiosa. Em 1898, Espanha rendeu-se.

O desapontamento dos cubanos pela simples troca de potência colonizadora foi imediato.  Porto Rico e as Filipinas que os americanos tinham «libertado» ao mesmo tempo que Cuba, foram assumidas como colónias norte-americanas por mais tempo, em Cuba as pressão por uma independência verdadeira, levou os Estados Unidos a retirar, mas deixando aberta a possibilidade de uma nova intervenção como forma de "garantir a independência", conforme expresso na emenda constitucional de 12 de junho de 1901, a Emenda Platt. Embora sem ocupação militar (com excepção de Guantánamo. onde instalaram uma base) os norte-americanos continurama ser os donos de Cuba, colocando no poder políticos corruptos e traidores. Até que...


Na madrugada de 1 de Janeiro de 1959, Fidel Castro e as suas forças revolucionárias entraram em Havana e proclamaram a segunda e, desta vez, autêntica independencia de Cuba. Porque, podemos concordar ou não com o Governo cubano, podemos aceitar ou não, as medidas que têm sido assumidas e com a política que tem sido seguida nos 52 anos que hoje se completam, mas do que ninguém terá dúvidas é de que Cuba é uma nação independente, pese embora o preço que os cubanos estão a pagar por essa independência.

Estive em Cuba, pude ver como o povo sofre, fustigado pelo desumano bloqueio económico a
que a ilha está sujeita. Não concordo com a linha política do Governo. Mas, apesar disso, não posso deixar de admirar a dignidade com que um pequeno país resiste há tantas décadas ao cerco que a única superpotência mundial lhes move.

Tantas esperanças que tínhamos em que Obama mudasse as coisas! Os fascistas que ocupam o Pentágono, como sempre, levam a melhor.

Deixo-vos com um poema de José Martí

Cultivo una Rosa Blanca

Cultivo una rosa blanca
En Junio como en Enero,
Para el amigo sincero,
Que me da su mano franca.
Y para el cruel que me arranca
El corazón con que vivo,
Cardo ni ortiga cultivo
cultivo una rosa blanca.

publicado por Carlos Loures às 12:00
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Coisas do futebol - por Carlos Godinho

Sem palavras (portuguesas)

E' Mourinho l'uomo del 2010

(http://www.gazzetta.it)/



MILANO, 31 dicembre 2010 - La redazione della Gazzetta vota Mourinho come sportivo dell'anno nel Mondo. Bella forza, ci direte: è la gratitudine per chi vi ha regalato 143 titoli di prima pagina nel 2010 (contati: quasi un giorno su due, ferie, scioperi e chiusure escluse, record inavvicinabile), con riflessioni e celebrazioni di ogni genere. Ok, conta pure questo. Del resto, se è professionista lui, lo siamo anche noi. Ma credeteci: c'è molto di più in questa designazione. C'è, soprattutto, il riconoscimento di una stagione storica semmai ce n'è stata una: l'Inter campione di tutto. E l'Inter era soprattutto lui, come Leonardo ha cantato nel giorno del suo insediamento: Mou è dovunque.

(in Todos Somos Portugal)
publicado por Carlos Loures às 10:00
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...






Voam em bando mil sonhos

Adão Cruz

Pormenor


Voam em bando mil sonhos e ao longe morre o cantar.

Por cima das areias verdes farei meus versos despertar.

Não beijei o céu nem o mar...

Ao longe morre o cristal do amor estilhaçado
perdida a boca ferida de um beijo que não foi dado.

Sílabas claras e sonoras hão-de ter os versos que eu disser
firmes de pedra
não os leve o vento que o vento é uma mulher.
publicado por João Machado às 08:00
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Noctívagos, insones & afins: Eduardo Guerra Carneiro

Hoje, presto homenagem a um noctívago que, faz sete anos, mergulhou na noite eterna. Transcrevo parte de um texto sobre Eduardo Guerra Carneiro.Carlos Loures








A frase “Isto anda tudo ligado” já é antiga, mas quem lhe deu vida nova e foros de expressão erudita foi o escritor e jornalista Eduardo Guerra Carneiro, que a usou como título num seu livro de poemas «Isto Anda Tudo Ligado». E este título, como disse Jorge Listopad, numa nota publicada na «Colóquio-Letras», que aparentemente é um «slogan banal», tem sido centenas de vezes utilizado, por escritores, jornalistas, por músicos (como Sérgio Godinho) e não só. Creio que muitos que o utilizam já nem o relacionam com o grande poeta e a maravilhosa pessoa que foi o Guerra Carneiro.


Não é o meu caso. Fui muito amigo e companheiro de luta do autor destas palavras.


Na fotografia abaixo, tirada em Novembro de 1962, em Coimbra, da esquerda para a direita podemos ver o Egito Gonçalves, eu, o Eduardo e o António Cabral, ainda sacerdote católico na altura. O Eduardo, de perfil, parece ausente, alheado, coisa que lhe acontecia com frequência.


Fomos ali reunir-nos por questões políticas e culturais – a expansão do Centro de Cultura Ibero Americana, que pretendíamos alargar editando um boletim periódico multilingue (nos idiomas da Península a que juntaríamos resumos em francês e inglês). Mas voltemos ao Guerra Carneiro e ao seu livro.




Não era em globalização, na famosa globalização de que hoje tanto se fala, que, quando em 1970, publicou o livro, por acaso numa colecção onde eu também publiquei uma colectânea de poemas, que o Eduardo pensava. Era na dimensão dialéctica do Universo na qual, de facto, tudo se relaciona e interage. Música, literatura, desporto, política, vida quotidiana, são fragmentos indissociáveis de uma mesma realidade que por comodidade e hábito de classificar, dividimos em compartimentos.


Fui passar esse fim do ano 2003 a Vilamoura (onde só consigo ir sem ser no Verão) e, no dia três de Janeiro de 2004, um sábado, estava na esplanada do Paulo China a ler o Expresso quando me saltou aos olhos o nome do Eduardo numa pequena notícia – Fora encontrado morto na madrugada do dia um num pátio subjacente ao seu terceiro andar. Presumivelmente suicidara-se, adiantava a notícia. Às primeira horas do novo ano. Quando regressei a Lisboa, logo telefonei a um amigo comum, o José Quitério. Sim, confirmou, o Eduardo suicidara-se. Poucos dias antes ao telefone tinha dito ao Quitério isso mesmo, que estava farto, que a vida não lhe interessava. O Zé pensou que fosse apenas um dia mau e que aquilo passasse. Não passou.


A última vez que estive com ele, pouco tempo antes, almoçámos juntos num restaurante perto do meu escritório. Trouxera-me alguns dos seus livros que eu não tinha ainda lido e combinámos que iria colaborar num projecto editorial da empresa. Estava bem disposto, recordámos os velhos tempos. Mas acabou por não fazer o tal trabalho - foi-me telefonando e adiando. Até àquele dia.


As coisas não lhe tinham nunca corrido bem. Interrompera os estudos universitários por lhe parecer inútil o curso que frequentava. Profissionalmente, jornalista, um bom jornalista, diga-se, tinha de fazer muita coisa de que não gostava. Na vida privada, casamentos falhados, o refúgio no alcoolismo e, sobretudo, o suicídio inexplicável da sua filha, a Catarina, destruiu a sua capacidade de resistência, provocaram-lhe o cansaço da vida que confidenciou ao Quitério. A soma de tudo isto resultou numa rápida viagem de três andares até ao cimento do pátio.


Quando estas coisas acontecem, ficamos sempre com uma sensação de culpa, com a ideia que poderíamos tê-las evitado conversando, acompanhando, ajudando. Porque, no fundo, quando estas coisas acontecem, todos temos, de facto, culpa por ajudarmos a manter um mundo em que tudo anda ligado, mas no qual não sabemos conservar entre nós pessoas como o Eduardo que, depois de desaparecerem, verificamos tanta falta nos fazerem.
publicado por Carlos Loures às 03:00
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Os dez mais - Os professores são joguetes nas mãos do ME e dos Sindicatos...





Luis Moreira

Maria Nazaré Oliveira, Professora do Ensino Secundário, diz algumas evidências que muitos não querem ver a par de muitas ideias feitas que afloram sempre no discurso dos professores.

"Desde a anterior Ministra da Educação, apesar de compreender algumas das suas medidas, tudo acabou por ser imposto!Sem diálogo.Quer do ME quer dos sindicatos.Falou-se do que não se sabia ou do que se sabia pouco. Legislou-se despoticamente." Os Sindicatos não são poupados, como é óbvio.

Antes disto vem o habitual, onde há muito a ideia de que os professores são as vítimas do regime, muito cansados, estoirados, asfixiados, desanimados...mais ou menos o que me diz a minha mulher a dias e todos os que têm que trabalhar todos os dias. Cheios de trabalho e de papéis, que têm que ler, regulamentos a esmo, nunca se viu tanta reunião e tanta papelada, tantas directrizes do Ministério e tantas orientações institucionais.

Há uma resposta como há muito defendo e que muitos professores defendem: a autonomia da escola! Lutem por uma escola autónoma, retirem a escola das garras dos burocratas do Ministério e dos burocratas dos Sindicatos. Quer uns quer outros precisam, uns dos outros, e da escola para terem a importância que têm.

"O Ministério e os Sindicatos foram irredutíveis nas suas posições e os professores foram uns joguetes nas suas mãos. Concordo com uma avaliação mais rigorosa e há muito que a aguardava, mas o modelo foi o melhor?"

Há muito que defendo o que aqui está escrito, parece que no país há medo de falar na escola autónoma, mas ela fará o seu caminho, apesar dos que acham que é com a carreira, as progressões automáticas e chegarem todos ao topo, que ganham à credibilidade e o respeito do país.

Cada vez mais há professores a perceberem que não passam de joguetes nas mãos de burocratas, que os afastam da população, que lhes cravam nas costas o corporativismo dos mesmos de sempre, os que querem o igualitarismo, não querem ser avaliados, não querem ser pagos segundo o mérito.

Os melhores saem prejudicados , os que ficam sentados à espera da promoção são os que fazem o barulho, e os resultados são a miséria que são.
publicado por Carlos Loures às 02:00
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Música romântica do Século XX - 44

Chitarra Romana  é uma composição de 1934 da autoria, a letra e a música,  de Eldo di Lazzaro (1902-1968). Os tangos de Gardel corriam o mundo e esta cançoneta tem um ritmo de tango, com o acordeón a imitar as sonoridades do bandoneón. 

Quase oitenta anos depois de ter sido composta,  Chitarra Romana continua a fazer parte do repertório de numerosos cantores - há versões de Luciano Pavarotti, Claudio Villa, Gabriella Ferri, Josep Carreras, Connie Francis, Matt Morgan, Giuseppe Di Stefano, Vlad Mirita, Lando Fiorini, Gino Bechi, Carlo Buti, Dominic Chianese, Enrico Musiani, Nilla Pizzi, Luciano Tajoli, Giorgio Consolini e de muito outros.

Escolhemos a de Lando Fiorini:


publicado por Carlos Loures às 01:00
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Nestas primeiras horas de 2011,

Vamos ter um belo tango (italiano) à uma hora; às duas mais um dos dez textos mais lidos e às três uma homenagem a um noctívago que já não está entre nós.

Agora vejamos Mr.Bean  e a sua entrada num ano novo:

publicado por Carlos Loures às 00:30
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A primeira canção de 2011

Com os nossos votos de um bom ano


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publicado por Carlos Loures às 00:01
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