Amanhã, segunda-feira, dia 31 de Janeiro, publicaremos uma segunda carta aberta do Professor Júlio Marques Mota, docente da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, dirigida ao Presidente da República. A crise do Ensino, e todos os problemas que a montante desta crise se acumulam, são serena e objectivamente analisados pelo signatário.
Amanhã, às 21:00 - Carta Aberta ao Presidente da República.
(Enviado por Júlio Marques Mota)
Como diria Calimero, “é realmente demasiado injusto”. De acordo com o Banco Central Europeu (BCE), a zona euro deverá registar este ano uma redução do seu produto interno bruto (PIB) de 4,6%. Os Estados Unidos, pelo seu lado, conhecerão uma redução limitada a 2,8%.
É realmente demasiado injusto: o país da crise de subprimes, o crédito à habitação de muito difícil recuperação, o país do excesso de endividamento e de todas as derivas da desregulamentação, o país de Lehman Brothers, de Freddie Mac e de Fannie Mae, de Bernard Madoff, de AIG e de General Motors, deverá conhecer uma recessão menos severa que o Velho Continente, conhecido como mais virtuoso e mais sábio.
Pior. Em 2010, a América deverá voltar a ter um crescimento, embora muito fraco, mas um crescimento mesmo assim, quando a Europa se irá continuar a enervar-se e a ver o seu PIB recuar (de 0,3%). É realmente demasiado injusto.
É certo, muitos tinham previsto pior, nomeadamente uma deslocação pura e simples da zona euro sob o efeito deste choque sem precedentes desde 1929, com a saída da zona Euro dos países mais fragilizados economica e financeiramente pela crise, como a Grécia, Irlanda ou a Espanha. De momento, tudo se mantém, e a probabilidade de ver estes países sair da zona Euro diminui à medida que, lentamente mas de forma segura, as tensões sobre os mercados de capitais se aliviam e que as suas condições de refinanciamento se melhoram.
Mas se a zona euro evitou o pior, também escapou ao melhor, mostrou-se incapaz de ganhar uma vantagem decisiva sobre uma América em pleno fracasso, de impor ao mundo “o seu” modelo económico. A crise dita de subprimes pôs em evidência os defeitos de estrutura da zona Euro, a sua heterogeneidade e as suas incapacidades, mostrou a incompetência do seu comando e as falhas da sua governança.
Não há realmente mistério. Se a economia americana sair, como é muito provável, mais rapidamente do buraco negro do que a Europa, não é porque tenha entrado mais cedo em recessão . É porque a resposta económica foi incomparavelmente mais forte e mais vigorosa. A Reserva Federal americana, o FED, baixou as suas taxas directoras a toda a velocidade, até a zero por cento, enquanto o BCE reduzia as nossas a passos muito lentos.
No plano orçamental, o montante acumulado das medidas de apoio decididas nos Estados Unidos representa, de acordo com os economistas de Natixis, 23,8 pontos de PIB para os anos 2008,2009 e 2010. Na Alemanha, a primeira potência económica da zona euro, os seus valores atingem 8,8 pontos de PIB, na França 7,8 pontos, como na Itália.
Esta timidez europeia é primeiro que tudo “ideológica”. A Alemanha, traumatizada pelo custo da reunificação e obcecada pelo saneamento das suas finanças públicas, tudo tem feito para impedir o relançamento intensivo sobre o Velho Continente. Berlim conseguiu mesmo convencer o Eliseu que, no entanto, estaria mais disposto a priori a aceitar as teorias keynesianas. Cada vez que o pode fazer , Ângela Merkel mostra o seu descontentamento face “à montanha de dívidas” que se estão a acumular. E esta semana, preocupou-se mesmo com as medidas não convencionais de criação monetária tomadas pelo BCE e com os riscos de se menosprezar o sacrossanto princípio, de além-Reno da independência do banco central.
Os Americanos, no mesmo momento, mostraram-se muito menos ideólogos, esquecendo os seus ideais liberais e não intervencionistas. Gastando sem estar a contar com os seus bancos, fazendo com que a Reserva Federal compre os empréstimos de Estado ou nacionalizando a General Motors.
Mas os receios dos Europeus são também o reflexo da sua incapacidade em superar os seus egoísmos. Cada país agiu, face à crise, a solo, de acordo com as suas próprias necessidades e os próprios interesses, que eram em-si contraditórios. Nada há de comum entre uma Espanha posta K.O pela crise enorme do seu sector imobiliário e uma Alemanha sobretudo afectada pela contracção do comércio mundial. O ideal, certamente, teria sido que Berlim apoiasse maciçamente a sua procura interna, mas isto teria custado ao contribuinte alemão e essencialmente teria trazido proveito aos outros países. O altruísmo tem os seus limites, sobretudo quando se está apenas a alguns meses das eleições. Falta de uma estrutura política superior capaz de impor o seu ponto de vista a todos, falta de um governo económico forte, a Europa por conseguinte foi reduzida a estratégias “não cooperativas”, para falar como os economistas. Por outras palavras, assistiu-se à estratégias do cada um para si mesmo e do crescimento para ninguém.
Na cauda da retoma, pela sua incapacidade em se coordenar, a Europa está também, e pelas mesmas razões, na cauda no domínio das reformas do sistema financeiro, onde tinha no entanto a pretensão de mostrar a via a seguir. Quer seja em matéria de supervisão bancária e vigilância macro prudencial, quer seja na regulamentação dos hedge funds, quer seja ainda na elaboração de normas contabilísticas, no enquadramento dos salários, na organização dos mercados derivados, na avaliação da solidez dos bancos - os famosos stress tests -, a Europa está ainda na fase dos projectos e das palavras, quando os Estados Unidos têm tudo isto mais ou menos já muito adiantado.
A história, certamente, dirá se os Americanos não forem demasiado rápido e demasiado a fundo. É possível. Esperando, e isto já deixou de ser somente “demasiado injusto”, para ser também matéria de humilhação, os europeus devem sobretudo contar com a eficácia das despesas decididas em Washington e com a recuperação financeira dos bancos americanos para poderem eles próprios respirar de novo.
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(l’Europe à la traine, Le Monde, 7 de Junho de 2009)
JULHO | |
? | - Ataque do PAIGC a Quirafo, no Leste da Guiné, durante três horas, com grande poder de fogo, de que resultou a destruição completa do aquartelamento. - Visita de uma comissão militar da OUA ao Leste de Angola, acompanhada por Agostinho Neto, com representantes da Argélia, Congo e Egipto. - Realização do I Festival Cultural Pan-Africano em Argel, em cujo manifesto se salienta que os Estados africanos têm todos a obrigação de responder a uma colonização total com uma luta total pela libertação. |
1 | Morre em combate em Moçambique um furriel do BCaç 14. |
2 | - Morrem em combate em Moçambique 2 militares. Um cabo do BCP 32 e um soldado da CCaç 2421. - O 9° Congresso Mundial da Confederação Internacional dos Sindicatos Livres, reunido em Bruxelas aprova uma “Resolução sobre Portugal” e uma “Resolução sobre a política colonial portuguesa”. |
3 | Morre em combate em Angola 1 militar da CCaç 2509. |
4 | O governo espanhol recusa a extradição de Palma Inácio. |
5 | Apelo dos líderes dos movimentos de libertação de Angola (MPLA), Guiné (PAIGC) e Moçambique (FRELIMO) à Conferência Episcopal Africana reunida em Kampala para a visita de Paulo VI. |
7 | O governo decreta a centralização em cada Comando-Chefe da condução das operações nos teatros de guerra. |
8 | Os Estados Unidos retiram do Vietname um primeiro contingente de tropas. |
9 | - Morre em combate na Guiné um fuzileiro especial do DFE 13. - Marcello Caetano inicia uma visita ao Brasil. |
12 | - Partem para Angola os BCaç 2877 e 2878. - Devido a acidente morrem na Guiné o major da Força Aérea António Figueiredo Rodrigues e o 1º cabo António Oliveira Machado. |
13 | Morre em combate na Guiné 1 militar da CCaç 2405. |
14 | Morre em combate na Guiné 1 militar da CCaç 3. |
15 | Na Livraria e Papelaria Beira-Mar, no Lobito, o agente da PIDE/DGS Mário Augusto Neves Rocha apreende 2 exemplares do livro Sem Piedade de Albertine Sarrazin. |
17 | - Morrem em combate em Angola 2 militares. Um da CCaç 204 e um da CCav 1775. - D. António Ferreira Gomes, bispo do Porto, é autorizado a regressar a Portugal. |
18 | - Morre em combate na Guiné um fuzileiro especial do DFE 13. - Morre em combate em Angola 1 militar da CCaç 2509. |
19 | Partem para a Guiné o BCaç 2879 e o BCav 2876. |
21 | Morre em combate em Angola 1 militar da CCav 2442. |
22 | Morre em combate na Guiné 1 militar do PelCaç 59. |
23 | Devido a acidente morrem na Guiné 4 militares. |
24 | Morrem em combate na Guiné 2 militares da CCav 2483. |
25 | Um numeroso grupo de cidadãos oposicionistas divulga um documento intitulado “Ao País”, na sequência de um outro, “A Nação”, elaborado em Dezembro de 1968, integralmente censurado. As condições enunciadas como mínimas para diálogo com o Governo nunca foram satisfeitas. |
27 | - Morre em combate na Guiné 1 militar da CCaç 2527. - Devido a acidente morrem em Moçambique um capitão e um tenente da Força Aérea. |
28 | O Conselho de Segurança da ONU aprova uma Resolução a respeito de uma queixa da Zâmbia de que fora bombardeada por forças portuguesas uma pequena aldeia, destruídos ou roubados bens e raptados alguns nacionais seus, determina que o governo de Lisboa devolva as pessoas e pague apropriadas compensações. |
30 | Morrem em combate em Moçambique 4 militares da CCav 2375. |
31 | Durante este mês as baixas nas forças portuguesas totalizaram 54 mortos. Em acções de combate morreram 21 militares. |
AGOSTO | |
? | - Importante operação das forças portuguesas no Sector de Moxico, Angola, na região entre os rios Cuemba e Cuando, de que resultou a destruição de seis acampamentos e captura de material de guerra. - O ministro do Interior, Gonçalves Rapazote, ilegaliza várias comissões eleitorais organizadas em alguns distritos pela Oposição. Ameaça também, elementos oposicionistas com a aplicação de medidas de segurança. - O Governo encerra a AAC (Associação Académica de Coimbra), demite os seus corpos gerentes e suspende todas as secções, excepto as desportivas. Os dirigentes da AAC são detidos pela Polícia Judiciária. |
2 | 92 ex-militantes do PAIGC na Guiné e Cabo Verde são libertados da prisão da Ilha das Galinhas, prestando declarações públicas de arrependimento. |
3 | Morre em combate na Guiné 1 militar da CCaç 2446. |
4 | - Partem para Angola os BArt 2882 e 2883 e a 22ª CCmds. - Morre em combate na Guiné 1 militar da CCav 2483. |
6 | - Morre em combate em Angola 1 militar da CArt 1658. - Morre em combate na Guiné 1 militar da CArt 2414. - Emboscada da FRELIMO a uma coluna da CCaç 2422 na região de Mueda, na chamada «Curva da Morte», causa 9 mortos e 16 feridos. |
7 | Accionamento de uma mina A/C por uma coluna portuguesa nas proximidades de Fulacunda, Sector Sul, Guiné, de que resultaram 5 mortos e 10 feridos. |
9 | Ataque do PAIGC ao quartel de Jabadá, do outro lado do Geba, quase em frente a Bissau. |
10 | Morre em combate na Guiné um furriel da CCaç 2586. |
11 | Morre em combate em Angola 1 militar da CCav 2300. |
12 | - Durante um reconhecimento aéreo da FAP, foi detectada uma viatura de carga (FF556CN) pertencente ao PAIGC, na região de Faquina Mandinga, junto à fronteira norte. Na sequência da informação, tropas helitransportadas e militares da unidade militar da zona, recolheram cerca de vinte e quatro toneladas de material de guerra. - Morre em combate em Angola 1 militar do GAC 1. - Morre em combate na Guiné 1 militar do ERec 2454. - Morrem em combate em Moçambique 2 militares. Um cabo da CCaç 2357 e um pára-quedista do BCP 31. |
14 | - Morre em combate na Guiné 1 militar da CCav 2487. - Morrem em combate em Moçambique 3 militares da CCaç 2418. |
15 | - Morre em combate em Moçambique 1 militar pára-quedista do BCP 31. - Na Guiné é lançada a operação «Nebulosa», concebida para estrangular os fluxos logísticos do PAIGC no Sul. |
16 | - Partem para Moçambique os BCaç 2880 e 2881. - Morrem em combate na Guiné 2 militares. Um da CCaç 2584 e um do PelCanh 2054. |
18 | Apresentação feita por Amílcar Cabral, em Argel, de cinco desertores portugueses. |
19 | - Morre em combate na Guiné 1 militar da CCaç 2584. - Morre em combate em Moçambique 1 militar da CCaç 2304. |
21 | - No Olossato, na Guiné, um grupo de cerca de 20 guerrilheiros, quando estava a dirigir-se para as imediações do aquartelamento, com o objectivo de o atacar, caiu numa emboscada montada por um grupo de combate. Apanhados de surpresa, puseram-se em debandada, deixando no local dois mortos, 1 LGF RPG-2, 3 granadas de LGF RPG-2, 1 Pistola-metralhadora PPSH e munições. As tropas sofreram um ferido ligeiro. - Morre em combate em Angola 1 militar da CCaç 2432. |
22 | Morrem em combate na Guiné 2 militares do PelRec 2044. |
23 | Morrem em combate em Angola 2 militares da CCav 2308. |
26 | - Morre em combate na Guiné 1 militar da CCaç 2446. - Morre em combate em Moçambique 1 militar fuzileiro especial do DFE 4. |
27 | Parte para Moçambique a 21ª CCmds. |
28 | Início Operação "Banqueta" realizada pelas forças portuguesas na Guiné, tendo como objectivo Insumeté. |
29 | Morrem em combate na Guiné 2 militares da CCaç 2446. |
30 | Morrem em combate na Guiné 6 militares da 15ª Companhia de Comandos. |
31 | - Morrem em combate em Angola 2 militares. Um da CCaç 305 e um da CCaç 2457. - Morre em combate em Moçambique 1 militar da CArt 2326. - Durante este mês as baixas nas forças portuguesas totalizaram 80 mortos. Em acções de combate morreram 51 militares. |
SETEMBRO | |
? | - Declaração do MPLA em Brazzaville, assumindo a autoria do incêndio no poço de petróleo de Quinguela e da queda de um avião no Leste de Angola. - Confronto de duas tendências no seio da FRELIMO, entre Uria Simango, por um lado, e Samora Machel e Marcelino dos Santos, por outro, tendo estes o apoio de Janet Mondlane, viúva do dirigente da organização. |
1 | - Morre em combate em Angola 1 militar da CCaç 2433. - D. n.° 49217. Fixa o dia 26 de Outubro do ano corrente para a eleição geral dos deputados à AN – Assembleia Nacional. |
3 | - Despacho do Conselho Superior de Defesa Nacional. Decide conservar nas fileiras como convocados, quando necessários ao serviço, os militares não nomeados para o Ultramar que terminem o período normal de 2 anos de serviço efectivo e autorizar a convocação, nominalmente ou por classes, dos oficiais do quadro de complemento na disponibilidade e dos pertencentes às 4 classes mais recentes das tropas licenciadas, que sejam necessários para satisfazer as exigências do enquadramento das unidades em serviço no Ultramar. - O jornal francês Le Monde publica uma entrevista com Mário Soares, em que este considera que “Marcelo Caetano não é, pois, o homem da mudança. É sem tirar nem pôr, o homem da continuidade”. |
4 | Morre em combate em Moçambique 1 militar do BCaç 2848. |
5 | Início da operação "Barafunda" realizada pela tropa portuguesa, na Guiné, com o objectivo de destruição de moranças do Insumeté e recolha de habitantes, com o itinerário Tebedé-Dinul-Pojute-Lulú-Bolanha do Insumeté. |
6 | O jornal francês L ‘Aurore publica uma entrevista com Oliveira Salazar, conduzida por Edmond Faure. O Presidente do Conselho revela pensar ser ainda o Chefe do Governo ao descrever as visitas dos seus ministros, que simulam vir a despacho, e ao lamentar, por exemplo, que Marcelo Caetano continue a recusar-se a colaborar consigo e prefira ensinar na Universidade. Os serviços de censura impediram a divulgação das declarações em jornais portugueses. |
7 | Morre em combate em Angola 1 militar da 20ª CCmds. |
8 | - Morre em combate em Angola 1 militar do BCaç 2878. - Morre em combate na Guiné 1 militar da CCaç 2590. |
9 | Morrem em combate em Moçambique 3 militares. Um furriel do BCaç 16 e dois soldados da CCaç 2323 e 2513. |
14 | Morrem em combate em Angola 2 militares da CCaç 2459. |
11 | Marcelo Caetano faz mais uma “conversa em família” através da rádio e da RTP. |
16 | Apresentação do relatório anual do secretário-geral da ONU, em que U Thant lamenta a decepção sofrida por muitos que alimentaram a esperança de que o Governo português alterasse a política colonial e reconhecesse o direito à autodeterminação e independência dos seus territórios ultramarinos. |
19 | Assinatura do contrato de construção da barragem de Cahora Bassa com o consórcio Zamco, formado por empresas portuguesas, sul-africanas, alemãs, francesas e italianas. |
20 | - Morrem em combate em Moçambique 3 militares. Dois da CCaç 2551 e um do ECav 3. - As Forças portuguesas realizam a operação "Bastilha", na Guiné, cujo objectivo é o assalto a um acampamento IN na estrada de Binar. |
22 | Morre em combate na Guiné 1 militar da CCaç 2445. |
23 | Morre em combate em Moçambique 1 militar do BArt 2847. |
24 | Despacho. Define as normas para a execução da competência conferida aos comandantes-chefes, inteiramente responsáveis pela conduta das operações para suspender das suas funções de comando os militares que, no desempenho destas, não revelem as qualidades indispensáveis para a condução das tropas em operações ou para o cumprimento das missões que superiormente lhes forem cometidas. |
25 | - É proibida, com grande aparato policial, a realização de uma Assembleia Magna da Academia de Coimbra enquanto a manifestação que se segue e reprimida na Baixa coimbrã com a habitual brutalidade da PSP. - A greve aos exames de Outubro será levantada. Posteriormente, 49 dos estudantes que mais se salientaram durante o conflito serão incorporados nas Forças Armadas, de modo compulsivo. |
27 | - Morre em combate na Guiné 1 militar da 15ª CCmds. - No 1° aniversário da sua posse como Chefe do Governo, Marcelo Caetano discursa, no Palácio de S. Bento. Tal como já acontecera com a intervenção de 11 de Setembro é nítida a intenção de atribuir às eleições de Outubro um carácter de plebiscito nacional sobre dois pontos concretos: “a defesa do ultramar” e a “manutenção da ordem pública”. |
28 | Morre em combate em Moçambique um alferes da CCaç 2305. |
29 | - Morre em combate na Guiné 1 militar da CArt 2339. - D. L. n.° 49277. Regula o ingresso dos oficiais milicianos pára-quedistas no quadro permanente de oficiais do serviço geral pára-quedista. - É criada a Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (CEUD), em Lisboa, Porto e Braga, por iniciativa da ASP. - Morrem em combate em Moçambique 3 militares da CCaç 2449. |
30 | Durante este mês as baixas nas forças portuguesas totalizaram 63 mortos. Em acções de combate morreram 21 militares. |
OUTUBRO | |
? | - Preparação do alargamento das acções da FRELIMO para sul do rio Zambeze, junto à fronteira. |
1 | - É criado o Batalhão de Comandos de Moçambique, tendo como primeiro comandante o capitão de Artilharia Júlio Faria de Oliveira. - Anúncio, por OIof Palme, novo primeiro-ministro da Suécia, da criação de um programa de auxílio económico à FRELIMO e ao PAIGC, com desaprovação firme da política colonial portuguesa. |
2 | Morre em combate na Guiné 1 militar da CCaç 2588. |
3 | Morre em combate na Guiné 1 militar da CCaç 3. |
6 | Proibição do livro Escritos Políticos, de Mário Soares. |
7 | Morrem em combate na Guiné 5 militares. Quatro são da CArt 2439 e um da CArt 2479. |
10 | - Morre em combate em Angola 1 militar do GAC 2. - Morre em combate na Guiné 1 militar da CCaç 3. - Ataque do PAIGC ao quartel de Buba (Guiné), com colocação de canhões sem recuo e morteiros na foz e margem direita do rio Mancamã. |
11 | Morrem em combate em Moçambique 3 militares. Dois da CCav 2376 e um da CCav 2415. |
15 | - Morre em combate em Moçambique 1 militar do BEng 2. - Na abertura do ano lectivo do IAEM, o general Arnaldo Schultz adverte que Portugal deve preparar-se para as «guerras subversivas» não apenas nas colónias. - A PIDE apreende a totalidade (4 mil exemplares) da edição de Polícia e Justiça, da autoria de Francisco Salgado Zenha e Duarte Vidal, que ia ser colocada à venda ao público. |
16 | - Morre em combate na Guiné 1 militar do BCaç 2852. - Morrem em combate em Moçambique 2 militares da 3ª/BCaç 20. - Franco Nogueira demite-se do governo, alegadamente para se preparar para a campanha eleitoral. |
18 | - Partem para Angola os BCaç 2886 e 2887. - Morre em combate em Angola 1 militar da CCav 1774. - Morrem em combate na Guiné 2 militares da CCav 2487. |
20 | - Partem para Angola os BCaç 2888 e 2889. - Morre em combate em Moçambique 1 militar da CArt 2453. - Uma delegação da Internacional Socialista, chefiada pelo seu secretário-geral, Hans Janitschek, chega a Lisboa para observar o decurso da campanha eleitoral e o sufrágio, para o que informou as autoridades portuguesas. |
21 | Morre em combate na Guiné 1 militar da CCaç 2367. |
22 | Parte para a Guiné o BCaç 2892. |
23 | Morre em combate em Angola um furriel da CArt 2475. |
24 | - Morre em combate em Moçambique 1 militar ECav 3. - Refúgio de Marcelo Caetano no Posto de Comando da Força Aérea em Monsanto, por causa de rumores sobre um golpe de Estado. - A delegação da Internacional Socialista é expulsa do País, sob a justificação de se tratar de delegados de “uma associação política internacional, propondo-se exercer uma tutela sobre o povo português”. A Oposição protesta. |
25 | - Na véspera das eleições, Marcello Caetano declara que, com o voto, os portugueses «decidirão a paz ou chamarão a guerra civil a mais curto ou a mais longo prazo». - Proibição do livro Horizontes Fechados, de Raul Rego. |
26 | - Morre em combate em Angola 1 militar da CCaç 2455. - Morre em combate em Moçambique 1 militar da CCav 2400. - Realizam-se as eleições para a AN. A UN (União Nacional) elege todos os seus candidatos e, segundo os números oficiais, obtém 88% dos votos expressos, com um nível de abstenção de cerca de 38,5%. A Oposição contesta, em bloco, os resultados. - No que se refere ao recenseamento eleitoral, elaborado sob exclusivo controlo do Governo, incluiu nos cadernos eleitorais cerca de 1 800 000 pessoas, isto é, cerca de 20% da população do Continente e Ilhas. Quanto aos territórios ultramarinos os números são desconhecidos, quer no caso do recenseamento, quer no dos resultados. Contudo, crê-se que para uma população de cerca de 13 milhões de pessoas, não haverá mais de 500 mil eleitores. |
27 | - Morre em combate na Guiné 1 militar da CArt 2410. - D. L. n.° 49324. Cria o Quadro Especial de Oficiais (Q.E.O.), destinado à instrução e enquadramento de unidades do Exército na Metrópole e no Ultramar. - Segundo os jornais, entregam-se às autoridades portuguesas quatro dirigentes da FRELIMO. - Morrem em combate em Moçambique 7 militares. Quatro são da 2ª/BCaç 17. |
28 | - Morre em combate em Angola 1 militar da CArt 2481. - Morre em combate em Moçambique 1 militar da CCav 2389. |
29 | Morrem em combate em Moçambique 1 soldado dos comandos e 1 soldado pára-quedista. |
30 | - Proibição do livro Falar Claro, de José Magalhães Godinho. - Morrem em combate em Moçambique 3 militares. Dois da CCav 2415 e um do BArt 2847. |
31 | - Parte para Angola a 24ª CCmds. - Partem para Moçambique os BCaç 2894 e 2895 e os BArt 2897 e 2898. - Morre em combate em Angola 1 militar da 19ª CCmds. - Durante este mês as baixas nas forças portuguesas totalizaram 82 mortos. Em acções de combate morreram 41 militares. |
NOVEMBRO | |
? | - Utilização pelo PAIGC, dos foguetões de 122 mm, contra Bolama. - Campanha «Um Dia de Trabalho» a favor do Instituto de Moçambique, com sede em Dar-es-Salam, promovido em Estocolmo pela Organização Central dos Alunos das Escolas Suecas. |
1 | Morre em combate em Angola 1 militar da 19ª CCmds. |
2 | Morre em combate em Moçambique um furriel do PelInt 2020. |
3 | Morre em combate em Moçambique 1 militar do BCaç 2881. |
4 | - Morre em combate em Angola 1 militar da CCaç 2311. - Morre em combate na Guiné 1 militar da CCaç 3. |
5 | Morrem em combate na Guiné 2 militares. Um da CCaç 3 e um da CCaç 2404. |
6 | Morre em combate em Moçambique 1 militar da CCav 2415. |
7 | O subsecretário americano para os Assuntos Africanos visita Angola, Moçambique e a África do Sul. |
8 | O Ministério do Interior, uma vez que passaram as eleições, declara terminadas as actividades da oposição. |
9 | - Morrem em combate na Guiné 2 militares da CCaç 2589. - Morre em combate em Moçambique 1 militar do BCaç 20. |
10 | Morrem em combate em Angola 2 militares. Um da CCav 1774 e um da CCaç 2545. |
11 | Morre em combate em Moçambique um furriel da CCav 2389. |
12 | - Morrem em combate na Guiné 2 militares da CCaç 6 e da CCaç 2446. - Morrem em combate em Moçambique 5 militares. Dois furriéis da CCav 2377 e da CCaç 2469 e três soldados. |
14 | - Morrem em combate na Guiné 2 militares da CCaç 2381 e da CCaç 2591. - Início da Operação "Forte Rasteira", pelas forças portuguesas, que consistiu numa batida na zona de Insantaque, na Guiné. |
15 | - Parte para a Guiné o BCaç 2893. - Morre em combate em Moçambique 1 militar da CCav 2417. - O governo da Nigéria anuncia a captura de um piloto português, forçado a aterrar de emergência quando procedia a bombardeamentos no Norte do País por conta dos separatistas do Biafra. |
16 | Início da Operação "Jove", no Sul da Guiné, «corredor de Guilege», por forças pára-quedistas, em resposta a informações sobre a passagem de uma coluna militar do PAIGC onde seguiria Nino Vieira. |
17 | - Uma força militar do BCav 2867, comandada pelo capitão Sentieiro, acompanhada por uma equipa da televisão francesa e de jornalistas do Paris-Match, caiu numa emboscada da qual resultou a morte, filmada em directo, de dois soldados e de vários feridos. As cenas da guerra na Guiné passam nas televisões de quase todo o mundo com a excepção da portuguesa. A operação com o nome de “Ostra Amarga” ficou mais conhecida por operação Paris-Match. - Morrem em combate na Guiné 2 militares da CCav 2483. - Morre em combate em Moçambique 1 militar do BCaç 20. |
18 | - Captura do capitão cubano Pedro Peralta por forças pára-quedistas durante a Operação “Jove”, a quem foram apreendidos documentos que descrevem os ataques do PAIGC aos quartéis de Buba, Bedanda e Jabadá. - Morrem em combate em Moçambique 4 militares da CCaç 2472. |
20 | - Morre em combate na Guiné 1 militar da CCaç 2437. - Morre em combate em Moçambique 1 militar da CCaç 2551. |
23 | Morre em combate em Moçambique 1 militar da 21ª CCmds. |
24 | - Morre em combate em Angola 1 militar da CCaç 2460. - Em 24 de Novembro de 1969, procede-se à reorganização e reestruturação da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), criando-se em sua substituição um serviço nacional com a designação de Direcção-Geral de Segurança (DGS). |
25 | Abertura da nova legislatura, com a formação de uma «Ala Liberal» nas bancadas da União Nacional. |
26 | - Partem para Angola os BCaç 2890 e 2891. - Os adidos militares em Lisboa dos Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Alemanha e Brasil visitam Angola e Moçambique. |
27 | Morrem em combate em Moçambique 3 militares da 1ª/BCaç 16. |
28 | Morrem em combate na Guiné 2 militares. Um cabo da CCaç 2548 e um soldado da CCaç 2571. |
29 | Morrem em combate em Angola 2 militares. Um da CCaç 113 e um da CCaç 2503. |
30 | Durante este mês as baixas nas forças portuguesas totalizaram 78 mortos. Em acções de combate morreram 45 militares. |
DEZEMBRO | |
? | - Tentativa de o MPLA abrir a 5ª Região Militar, a partir do Bié. - O Congo Brazzaville torna-se uma República Popular. |
1 | - Criação do Comando Operacional das Forças de Intervenção (COFI), em Moçambique, com a missão de preparar e conduzir operações com forças de intervenção e apoio da Força Aérea e Marinha, quando necessário, em todo o território de Moçambique. - Parte para Angola a 25ª CCmds |
3 | - Partem para Angola o BArt 2896 e o BCav 2899. - Morre em combate em Angola 1 militar da CCaç 2570. |
6 | Morre em combate na Guiné 1 militar fuzileiro especial do DFE 8. |
7 | - Morre em combate em Angola 1 militar da CArt 2480. - Morre em combate na Guiné 1 militar da CCav 2525. - Morrem em combate em Moçambique 2 militares. Um da CCaç 2472 e um da CCaç 2550. |
8 | - Morre em combate na Guiné 1 militar da CCav 2525. - Morre em combate em Moçambique 1 militar da CCaç V. Gouveia. |
9 | Condenação de Portugal no Conselho de Segurança da ONU por violação do território do Senegal, ao ter atingido com tiros de obus a aldeia de Samine. |
12 | Parte para Moçambique a 23ª CCmds. |
13 | Morrem em combate em Moçambique 2 militares da CCav 2417. |
15 | - Morre em combate em Moçambique 1 militar pára-quedista do BCP 31. - A Assembleia Nacional exorta, por unanimidade, Marcelo Caetano a prosseguir a «política nacional de manutenção e defesa da unidade e integridade de todos os territórios portugueses». |
16 | Morre em combate em Angola 1 militar da CCaç 2509. |
17 | - Constitui-se a Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos (CNSPP), com o objectivo de contribuir para a solução de alguns dos problemas dos presos políticos. - O deputado Sá Carneiro chama a atenção da opinião pública para um aspecto da instrução criminal ligado aos direitos e liberdades essenciais. - Greve dos aprendizes nas fábricas Manuel Pereira Roldão e Central, da Marinha Grande. - É criado um novo Socorro Vermelho Português, da iniciativa de militantes da extrema-esquerda. |
19 | Morre em combate em Moçambique um alferes pára-quedista do BCP 31. |
20 | Morre em combate em Moçambique 1 militar da CCaç 2555. |
21 | - Morre em combate na Guiné 1 militar pára-quedista do BCP 12. - Morrem em combate em Moçambique 3 militares da CCaç 2555. |
22 | Uma resolução do Conselho de Segurança da ONU condena Portugal por violações do território da República da Guiné. |
24 | Morre em combate em Moçambique um furriel da CCaç 2469. |
27 | As forças portuguesas realizam a operação "Balança" de reconhecimento à Cambança de Contuba, na Guiné, com patrulhamento até Insumeté e emboscada em Dinul, com outra força a patrulhar o Chile. |
29 | Morre em combate na Guiné 1 militar pára-quedista do BCP 12. |
30 | - Morre em combate na Guiné 1 militar do PelCaç 65. - Na Faculdade de Direito de Lisboa actua uma organização chamada Esquerda Democrática Estudantil, que publica Ousar Lutar, Ousar Vencer, e estará na origem do MRPP - Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado. |
31 | - Durante este mês as baixas nas forças portuguesas totalizaram 65 mortos. Em acções de combate morreram 21 militares. - O total dos efectivos portugueses nas colónias atinge os 55 574 militares em Angola, 26 581 na Guiné e 39 096 em Moçambique. As tropas portuguesas sofrem durante o ano 970 mortos nos três teatros de guerra sendo 397 em combate. A percentagem das despesas militares no conjunto das despesas públicas atinge os 54,7 por cento, a maior percentagem dos treze anos de guerra. |
O confronto de ideias através de personagens marcantes da História da Humanidade.
O percurso irregular do Conhecimento e da Cultura, na Politica, na Arte, na Economia, nas Religiões e na Ciência.
Uma demonstração pública que a aprendizagem pode ser lúdica, agradável e de dimensão popular.
Ser culto sem ser elitista e popular sem ser populista.
Sessões quinzenais no Bar de A BARRACA, 2ª feira, 21, 30
Reservas : 213965360 ;213965275 - 5 Imaginários
Início no dia 7 de Fevereiro 2011
Autor e moderador - Hélder Costa
1 Humberto Delgado – João d’Avila 7 Fevereiro
Salazar- Sérgio Moura Afonso
Soror Mariana - Vânia Naia
2 Mao-Tse- Toung – Adérito Lopes 21 Fevereiro
eNCONTROS Jesus Cristo – Sérgio Moras
Goebbels – Ruben Garcia
Coordenação de Augusta Clara de Matos
Na Segunda 31/1, às 21h tem lugar no Grande Auditório da Gulbenkian a intervenção do Al-Kindi Ensemble na série de concertos Músicas do Mundo (infelizmente já esgotado). O conjunto sírio, composto por um quinteto instrumental (oud, qanun, nay e riqq) com um coro bizantino e outro derviche e dirigido por Julien Jâlal Eddine Weiss, tocará Stabat Mater Dolorosa, homenagem ecuménica à Virgem Maria.
Na Culturgest continua o ciclo "Hootenanny" (aquela música popular norte-americana informal cultivada desde os anos 30) com o guitarrista Guy Davis às 21h 30m tocando blues no Pequeno Auditório.
Nessa tarde, das 18 às 20h prosseguem as "100 lições" comemorativas do centenário da Universidade de Lisboa (UL) com palestras de Fernando Mascarenhas e Maria Filomena Guerra.
Na Terça 1/2, na Culturgest é agora a blues harp (harmónica) do Phil Wiggins Duo (com o reverendo John Wilkins à guitarra) que soa música hootenanny no Pequeno Auditório às 21h 30m.
No Museu Gulbenkian, das 15 às 16h é possível, numa visita guiada especial (5 Eur.) chamada "A Arte do Retrato", observar nas múltiplas obras dessa colecção a variação da técnica retratística conforme as culturas, as situações, as modas.
Na sala da Reitoria da UL (18-20h) as palestras diárias serão desta vez de André Gonçalves Pereira e Jorge Braga de Macedo.
Na Quarta 2/2, na Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) ocorre a última conferência do ciclo "Image in Science and Art" às 18h (Aud.2) com o título "Functional Images of the Brain: Beauty, Bounty and Beyond". Será oradora Judy Illes, directora do Programa de Neuroética no Stanford Center for Biomedical Ethics, que incidirá sobre as possibilidades (cada vez maiores) de se adquirirem assinaturas do “self” – dos genes ao cérebro – através do uso da ressonância magnética funcional bem como de outras neurotecnologias modernas.
Lídia Jorge e Rui Sanches são os palestrantes das 18 às 20h no ciclo comemorativo da UL.
Quem buscar entretenimento musical terá, nesse dia, de ir p.ex. ao Porto ao Clube Jazz Ao Norte (rua Gen. Norton de Matos, nº448) onde o Quarteto Sandro Norton apresenta (e em todas as subsequentes primeiras Quartas do mês) "O Jazz Bem Disposto" às 21h 30m (entrada livre). No mesmo espaço, no Sábado 5/2, Sandro Norton tocará à guitarra obras de Sandro Norton, Eric Roche, Preston Reed e Bill Evans, às 22h.
Na ausência de eventos musicais significativos na capital, sugere-se a recente estreia do filme de Mike Leigh Um Ano Mais (Another Year) com Jim Broadbent, Ruth Sheen e Lesley Manville (esta, segundo a crítica, numa grande interpretação), filme dum "olhar desencantado sobre a solidão", retrato incisivo da Inglaterra contemporânea, "o melhor Leigh desde o magistral Segredos e Mentiras".
Na Quinta 3/2, às 21h no Grande Auditório da Gulbenkian a pianista Sa Chen, a meio-soprano Larissa Savchenko e a violoncelista Maria José Falcão acompanhando o Coro e a Orquestra Gulbenkian (sob a direcção do maestro Lawrence Foster) interpretarão o Concerto para Violoncelo nº 1 de Dmitri Kabalevsky, o Concerto para Piano de Edvard Grieg e Alexander Nevsky de Sergei Prokofiev (programa que se repete na Sexta às 19h).
No Centro Cultural de Belém (CCB) (Pequeno Auditório), às 21h o Coro da Rádio da Letónia sob a direcção de Sigvards Klava interpreta as Vésperas de Sergei Rachmaninoff, uma das obras corais mais empolgantes do repertório ortodoxo.
No mesmo CCB, às 22h (na recepção do Centro de Reuniões) ocorre o primeiro dos "Dose Dupla" deste ano, concerto de jazz (de entrada livre) com o pianista holandês Peter Schon e o acordeonista algarvio João Frade.
Na Pequeno Auditório da Culturgest, às 21h 30m, o pianista Bernardo Sassetti "comentará (ao microfone e ao piano) trechos por ele seleccionados da... série The Blues de Martin Scorsese" (do programa).
Ao São Luiz Teatro Municipal, às 21h (e até 6/2) regressa o fadista Camané por ocasião da candidatura do Fado a património cultural imaterial da Humanidade.
O ciclo das "100 lições" comemorativas tem como oradores na Reitoria da UL Pedro M.Soares Martinez e João Seabra.
Numa galeria da Rua do Século, nº 171 inaugura às 19h a exposição "A voz do Crocodilo" de João de Azevedo, contendo a obra recente do pintor português com trajecto por Moçambique e Timor. Permanece até 7 de Março 2011.
Na Sexta 4/2, continua o ciclo hootenanny da Culturgest com o pianista Davell Crawford ("the Prince of New Orleans" na imprensa local) cantando gospel e tocando o lendário órgão Hammond B-3 (no Pequeno Auditório, às 21h 30m). Acompanham-no a bateria de Joseph Dyson e o saxofone de Thaddeus Richard.
No Maria Matos Teatro Municipal (sala principal às 22h) inicia-se um "Fim-de-Semana Especial" visando "provocar no público uma subliminar teia de ligações entre géneros, músicos..." escolhendo neste caso o piano. Actuarão John Tilbury ("intérprete aveludado da contemporaneidade") e Dustin O'Halloran (compositor pop).
Gastão Cruz e Maria Isabel Barreno darão das 18 às 20h palestras integradas na comemoração centenária da UL.
Na Casa da Música (Porto) e no ciclo Sinfónica à Sexta, a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música (direcção Christopher Seaman) interpretará Edward Elgar (In the South), Samuel Barber (Knoxville: Summer of 1915) e Felix Mendelssohn (Hear ye,Israel e Sinfonia nº5 Reforma) com a participação da soprano Emma Bell. O concerto será na Sala Suggia às 21h.
No Sábado 5/2, o CCB abre o Ciclo Sofia Gubaldulina A Hora da Alma com a presença da própria compositora tártara, "reconhecida como uma criadora essencial neste começo do século XXI". Actua no Pequeno Auditório (às 21h) o Coro da Rádio da Letónia (dirigido por Sigvards Klava) com o violoncelista David Geringas, tocando uma cantata de J.S.Bach e duas obras de Sofia Gubaldulina em estreia em Portugal.
No Maria Matos TM, às 22h, encerra o festival de piano (órgão de cordas? representante das percussões?) com a "improvisação livre e libertária" de Alexander von Schlippenbach e a "pop brilhantemente dissimulada" de Andrew Poppy.
No São Luiz TM (sala principal) às 21h, o projecto Ensemble encena Dueto para Um de Tom Kempinsky, peça sobre artistas e o papel da arte na vida das pessoas. Repete a 6/2.
Na Casa da Música às 22h (na Sala Suggia) a Orquestra Jazz de Matosinhos & João Paulo Esteves da Silva darão um (jantar-)concerto, onde aquela formação já internacionalmente reconhecida tocará com o original improvisador pianista e compositor obras do próprio e de Pedro Guedes e Carlos Azevedo.
No Domingo 6/2, o CCB prossegue o Ciclo Sofia Gubaldulina com a Orquestra de Câmara Portuguesa sob a direcção de Pedro Carneiro actuando no Grande Auditório às 17h. Interpretará o Concerto Brandeburguês nº3 de J.S.Bach, a Sinfonia nº5 de Beethoven e o concerto para bayan e orquestra Fachwerk de S.Gubaldulina com a presença do acordeonista Geir Draugsvoll.
No Centro de Arte Moderna (CAM) da FCG, a visita (gratuita) à Exposição Casa Comum no âmbito dos "Domingos com Arte" promete um apelo " a libertarmo-nos do nosso bem-estar intelectual e a tentar abrir novas portas e janelas no nosso corpo ilimitado".
Na Casa da Música às 12h (na Sala Suggia), a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música (direcção Christopher Seaman) interpretará em concerto comentado a Sinfonia nº5 "Reforma" de Felix Mendelssohn.
Caro leitor, boas escolhas !
João Machado
Parabéns ao El País. Babelia, o seu suplemento cultural atingiu o número 1000, no passado dia 22 de Janeiro. Publica-se todos os sábados, desde 19 de Outubro de 1991. Trata-se de um anexo daquele grande jornal, talvez o melhor de Espanha, mas de um anexo que em muito contribui para o prestígio do El País pelo mundo fora. Na minha opinião, este jornal já conheceu melhores dias, mas o Babelia tem-se mantido a um nível excelente. Este número Mil é prova evidente desse nível. É Mil com M grande. Inclui variados trabalhos que vão desde o prólogo do novo livro de Vargas Llosa e de análises sobre o pensamento actual, o estado da literatura espanhola, selecções de livros publicados em Espanha nos últimos vinte anos, de filmes e de músicas, escolhas de editores em relação a obras marcantes no seu trabalho, passando por dois magníficos artigos sobre arquitectura e urbanismo (um, El Futuro de la Arquitectura, de Norman Foster, e outro, Edificios Adaptables, da iraquiana Zaha Hadid e de Patrik Schumacher, que me parecem de grande interesse), até um "diálogo politeísta", entre Umberto Eco e Javier Marías. Remata com uma deambulação de Manuel Vincent, Y los orígenes de Babelia, ligando o Babelia, suplemento do El País, à lenda da torre de Babel.
Com a devida vénia ao El País, reproduzimos abaixo a capa do número um do Babelia, e a seguir um conjunto de capas que apareceu no número Mil. Por este conjunto ficam com uma ideia da enorme variedade de matérias que tem abordado, ao longo dos seus quase vinte anos de vida. A literatura, a música, arquitectura, fotografia, teatro, desenho, cinema, arte, pensamento, moda, são matérias que trata regularmente. Encontramos ali, como diz numa nota Ángel S. Harguindey, de tudo como na botica. E eu, leitor regular, acrescento, também a sociedade e a vida em geral.
(Continuação)
MEMÓRIAS DE PADRES INTERESADOS - ENSAIO DE ETNOPSICOLOGIA DE LA INFANCIA
Con todas estas personas aprendimos que no era difícil criar niños. Había que entenderlos antes y la comprensión venía sola desde esa mente cultural. Estoy seguro que la jovialidad de mi suegra Amanda, fue la que más nos enseñó a tratar a los niños, las niñas nuestras y a los otros: cariño, saber decir no en el momento cierto si hay un riesgo de caer o hacer una yaya[78], nunca corregir la forma de hablar, porque los niños adquieren vergüenza de hablar. Me hace recordar mi propia infancia, cuando mi padre un día me preguntara: "¿Para donde va, joven?. Distraído en mis cinco años de edad, respondí de forma muy chilena, en cuanto leía un libro: "P"allá" ¡Bueno! Mi padre me llamó y dijo: "¿Joven no sabe que se dice para allá? Para que no se olvide nunca, diga cien veces: para allá, para acá, y para que la lección no se olvide, cada palabra las debe decir moviendo la cabeza de derecha a izquierda". Rápidamente lo hice, estaba más interesado en acabar el libro que en castigos. Y, por hacerlo rápido, él, que contaba las veces que yo decía las palabras, al acabar, me dijo: "Bueno, bueno, ¿el niño es mañoso no?. Hágalo todo otra vez, pero con lentitud y calma. Perdí una hora de lectura de mi libro especial. Lección que no he olvidado en toda mi vida porque me enseñó cómo y por qué no se debe castigar a un niño de forma tan estúpida. Nunca lo hicimos con nuestras hijas. Era más una manera de saber criar.
Bueno, el desgarro del texto ha sido grande. Quería relatar de forma breve, lo que aconteció con Eugenia en Vilatuxe y nuestra fama de no ser padres que supieran cuidar a sus hijos. Nuestro médico estaba en Lalín, el Médico Jesús Tancredo, al que llevábamos a las niñas porque sí o porque no. El no se quejaba, recibía dinero... Pero un día dijo que ya estaba cansado de atender a nuestras hijas, no estaban enfermas y nosotros temíamos mucho. Ya con mi hermana en casa, llegó el día en que debía dar una conferencia en la escuela, en Noviembre de 1975, con ese frío terrible de las llamadas en Gallego Rías Altas, o la parte de la cordillera de Pontevedra, en dónde estaban Vilatuxe Parroquia y Lalín, Consejo. Eugenia tenía dolor de cabeza y de cuello y comenzó a subir su temperatura. Fui informado de este estado cuando estaba a dar mi conferencia, que cerré de inmediato. Solicité a mi amigo Maestro, como llaman allí a los Profesores Primarios, para llevarme a Lalín, ese elegante y lindo y muy señor, Manuel Pichel González, casado con una linda muñeca, una de las varias niñas de ojos celtas, azules, pero muy deprimida Maria de la Flor González, o Mariflor, como ella gustaba de ser llamada, de la casa de Barrosos, como son conocidas las persona por allí, por el nombre de la casa y no por el nombre de las familias propietarias o que las habitan. En otro texto, refiero la llegada de amigos míos a Vilatuxe, preguntaran dónde era la casa del Dr. Raúl Iturra, nadie sabía, la casa del Señor Iturra, también nadie sabía, exasperado ya, preguntó el jefe da la familia que nos visitaba, Milan Stuchlick, la casa de Don Raúl, también no funcionaba, hasta decir él, que era un señor con su mujer y dos hijas y que usaba pelo largo, amarrado como cola de caballo. ¡Ah!, Habrían exclamado todos, ¡la casa del Chileno! Y fue así que me ellos dieron con nuestro paradero, yo quedé a saber el sobrenombre por el cual éramos conocidos, ellos encontraran nuestra casa y también recuperé mi nombre. Supe así también que las casas no son conocidas por el nombre de los propietarios o de sus habitantes, bien como por una característica diferente, que destaque al individuo de ese conglomerado sitio llamado aldea, donde todos hacen las mismas cosas, al mismo tiempo. Los grupos precisan de saber las características individuales para diferenciar el día de la noche, el cielo del infierno, para desorganizar la rutina que los hace un colectivo de personas y no un grupo de individuos, como acontece o en las ciudades o en los medios donde el capital identifica rápidamente: quién tiene, quién nada posee.
Esta forma de estructurar la identidad colectiva, había sido explicada a nosotros por varios, pero cuando se vive el hecho, es que, finalmente, se entiende. Así fue en nuestra primera visita de los años setenta, bien como en el reestudio que hice en los años 90, mas exactamente en 1997[79]. Así conocí a los Medela, que en el reestudio me dieran albergue, y a ese mi amigo Manuel o Manolo, como se llama en España a los que poseen el nombre de Manuel, Manolo, esa metáfora de esquivar, como en la plaza de toros, una manolada, cuando se pasa el paño rojo en frente de los ojos del toro. Ese mi amigo, a quién siempre preguntaba yo si querían hijos o no, porque ya estaban casados hace muchos años. Su respuesta fue rápida: que querer tener niños, él adoraba, pero después, tomando mis manos, casi a llorar, me explicó que el horno de hacer niños estaba muy frío, motivo por el cual su semilla no cuajaba, una forma elegante de decir problemas íntimos que nunca hasta hoy, he revelado. Esa intimidad inexistente, era aliviada por mi amigo en otras relaciones en su Parroquia original de Anseán, limite de la nuestra de Vilatuxe e de sus familias. Eran primos directos y él pensaba ser ese el motivo para no tener hijos. Fue necesario que yo le explicara que el matrimonio entre primos no estaba prohibido, que el Derecho Canónico había cambiado, como explico especialmente en un texto mío, editado en Gran Bretaña y traducido al francés, citación que hago para no dar tantas vueltas al asunto del casamiento y los hornos fríos[80]. La explicación hecha para ahorrar que no era ese el motivo, sino más bien el otro, ese de la frialdad de su mujer. Me parecía también que andaban otros amores por el medio, pero, como la historia ano es mía, nada más digo.
Las emociones pueden ser muy frágiles y muy poco culturales, eventualmente. En una parroquia pequeña, devota de la Iglesia Católica, acontecen relaciones conocidas por todos, pero nunca dichas o comentadas, o, entonces, comentadas en silencio con un picar de ojo y entre personas de confianza. Era el problema de mi amigo, quién normalmente desparecía un día entero y volvía a casa feliz y sonriente. Más de una vez lo acompañé a su aldea de nacimiento, y pude observar sus reacciones frente a otras persona, el fuego de su mujer se había apagado, llegué a la conclusión, porque el fuego de mi amigo ardía de otra manera, de una forma que él entendía y su mujer, no, ni quería saber. Del asunto nunca más hablamos, hasta encontrarlos otra vez en mi citado reestudio de la Parroquia de Vilatuxe, que a nada llevó, excepto a saber que Mariflor tenía una casa de lujo. Su madre había muerto, su padre estaba viejo y con la mente perdida. Mariflor usó su nuevo poder adquirido para realizar las obras que ella deseaba hacer en su casa. Bien me recuerdo del día en que nos enseñó, a Gloria y a mí, su casa por fuera, ella no aceptaba la realidad de ser de la vida rural y tener una casa de piedra. Gloria y yo nunca fuimos convidados a entrar, Mariflor admiraba la forma en que Gloria había arreglado nuestra casa rural, para nosotros una casa pobre, pero para ella, con el ansia de tener todo nuevo, todo pintado de blanco dentro de casa, paredes, techo, puertas color chocolate, rascuñadas con un instrumento de metal, los manteles de mesa en batic", era una novedad para nuestra amiga. En mi reestudio, observé que había convertido la casa de piedra antigua, en una fortaleza preciosa y muy bien decorada, toda pintada de blanco mate, con cortinas de velo, sobre cortinas de blanco amarillo y el piso todo alfombrado con tejido de lana con pelos blancos. Era como entrar en una casa japonesa: yo me reía por dentro, estaba todo copiado de los gustos de mi mujer, de los que ella había anotado todo y así rehizo su casa. Me reía, decía yo, porque cuando llegué a almorzar, antes de saludarme, corrió y me dijo: "espera, espera, espera", agitando las manos, pensaba yo de alegría por ver, 24 años después, a un amigo íntimo. Pero, ¡ay de mí!, No, era para pararme en la puerta, descalzarme los zapatos, sucios como estaban con el natural barro de greda de la calle siempre mojada por la eterna lluvia gallega, calzarme unas pantuflas, tirar mi poncho chileno, y, ¡señor lector, no puedo dejar de reír cuando escribo esto!, Sentí que era condicionalmente bienvenido. Mariflor había invertido su ardor en... arreglos de casa aprendidos de mi mujer y sus elegantes amigas de Santiago de Compostela, que tenían casas de palacio... Cuando Manolo llegó a almorzar, saludó con respeto pero con un ojear distante: había problemas en la escuela al quejarse los padres de los niños, estudiantes de Manolo, de no estar muy atento a su crecimiento, o que interfería mucho en el crecimiento de los jóvenes, quejas que causaban problemas para él y para los vecinos, que los habían aislado, porque el Maestro no sabía enseñar o sabía mucho y decía lo que no era conveniente y adecuado a esos jóvenes, y por el llamado nariz respigado de Mariflor, que no hablaba con sus vecinos. Después de una hora de almuerzo, dónde todo me era preguntado, volví a casa para descansar, mis hospedes Medela me contaron historias de esa pareja que, por simpatía para ellos, no cuento, para que el papel no se rasgue de tanta vergüenza. Fue esa historia que me llevó a diseñar mi propia pedagogía y mi relación con nuestras, como se dice en lengua luso-galaica, catraias o hijas.
Fue lo que me hizo pensar que debe haber una cierta distancia entre las intimidades de los más jóvenes y las nuestras, aunque sean nuestros hijos.. Nos vimos dos horas, con un hombre muy envejecido, el padre de Mariflor, José Gonzáles, con el apodo de El Barrocal, que nos regalaba leña en los años setenta para calentar nuestra fría casa, visité la habitación del segundo piso, donde Manolo había sido segregado a una habitación solitaria, y nunca mas los vi. Esos amigos que, prácticamente, vivían en nuestra casa en los años 70, que nuestras mujeres salían juntas para Compostela e nosotros, para las aldeas que Manolo me explicara siempre. Talvez, era conveniente e adecuado decir que aprendí no apenas esas ideas de intimidad y distancia, bien como pensé que debía evitar amigos de conveniencia.
Bien, el desgarro del texto ha sido grande. Aún no he llegado al relato final de la meningitis de Eugenia. O, talvez, quiera evitarlo. Me siento... culpable... El trabajo era mío y quién estaba a pagar por la investigación, era nuestra hija mayor, porque Gloria ya estaba habituada a nuestra forma de vida en la aldea y no quería irse de vuelta al Reino Unido, en el día en que debíamos partir. Es evidente que la enfermedad de Eugenia atrasó la partida. Pero no causó alegría en ninguno de nosotros el hecho de demorarla, por causa del motivo de la tardanza. Aún más, debíamos partir porque, como he narrado en otro libro mío, tenía un pasaporte temporal, de corta duración, dado por el ciudadano Español, Cónsul de Chile en el Puerto de Vigo, por simpatía para nosotros, perseguidos como estábamos en todo el mundo, por la Dictadura de Chile. El Cónsul que había sido Republicano en sus tiempos, otorgó una visa de dos meses, en Noviembre de 1975, que expiraba a finales de Enero de 1976. Y la enfermedad de Eugenia fue en Noviembre. Nos sentíamos acosados por todos los sitios. Cuando reparé en la enfermedad de Eugenia, fui de inmediato a nuestro pedíatra de Lalín, quien nos dijo que no debía ser nada. Yo insistí mucho, relaté con el mismo fervor que había hablado en el Hospital de Edimburgo sobre el envenenamiento alimentar de Eugenia, pero un tuve éxito, el médico ya estaba habituado que por todo o por nada, estábamos en su consultorio. Me dijo que me fuera a casa o llevara a la niña, a las dos, porque si era lo que yo decía que parecía ser, una meningitis, había peligro de contagio para nuestra hija más pequeña. Repliqué de inmediato que por causa del frío, no las podía llevar a la calle, él, irónico, dijo que si era como yo decía, mucha fiebre, la nieve haría bajar la temperatura. Como no tenía alternativa e era un Viernes y los médicos no trabajan durante el fin de semana, me sentí desesperado y las fui a buscar. El médico las revisó, dio su diagnóstico y decidió, en su médica sabiduría, que la niña tenía solo un catarro con otitis.
Nada contento, volví con ellas a nuestra casa de la aldea. Esa noche fue en vela. Eugenia paseaba sonámbula por la casa, con nosotros sin saber qué hacer. Después, comenzó a dormir y tenía el cuello tieso. De madrugada, ese Sábado que nunca olvidaré, fui a correr al médico, ya estaba a preparar todo para volver a su casa de Compostela, pero al oír mi relato, dijo: "Bueno amigo, yo lo llevo, su casa, me queda en el camino a Santiago". No abrí la boca para que no se fuera a arrepentir. En vista de mi silencio, él fue cantando y yo, muy herido con todo, ni lo miraba. Bajamos en casa, entró, mal vio a la niña en la cama, la auscultó y dijo: "Joder, Ud. tenía toda la razón, parece ser meningitis, el problema es saber el tipo, si es de bacteria o de virus y sólo será posible saber si vamos a la Clínica y es allí analizada. Hay dos tipos, la que mata y la que lesiona, es decir, de batería o de vírus". Yo tenía todo, excepto dinero. Pero nuestra hija, como hace cantare Mozart en su Ópera Cosi fan tutte[81] que las personas amadas por nosotros, valen un Perú, es decir, una referencia a la estimada riqueza de oro de la hoy República del Perú. No pensé ni un minuto, pregunté cuál era la mejor Clínica de Compostela. Era, por supuesto, La Rosaleda, la mejor y la más cara. Pero los padres no nos fijamos en gastos en estos casos, por la que a La Rosaleda, nos dirigimos de inmediato. Para no quedar solos, llamamos a nuestros amigos Xosé Manuel Beiras y, en ese tiempo, su mujer, Teresa García Sabell.
Corrieron a la clínica. Xosé Manuel decía: "Es que no es posible, no puede ser. La meningitis es endémica en Galicia y justo tenía que acontecer a la familia más sacrificada, mas entregada a la investigación de campo, eso que nosotros nunca hemos podido hacer", y, con desesperación, se paseaba por los corredores en cuanto la niña era examinada, agarrando la cabeza con dos manos. De padre sufriente y acongojado, tuve que pasar a ser amigo que apoyaba, marido que apoyaba, paciente que apoyaba a un médico arrepentido por no haberme creído a tiempo, por haber desconfiado de nosotros. Ese apoyo me salvara de perder la cabeza y de entregarme, yo mismo, a la desesperación, porque, desesperado, eso estaba yo. Sabía también que un padre que pierde la cabeza nada puede hacer, ni salvar a su hija, que era lo que pretendíamos. La meningitis había sido adquirida por Eugenia en sus costumbres de jugar con sus amigas entre las vacas de los establos, o cortes, como se dice en luso galaico, y que los gallegos republicanos y contra Franco, aún vivo y dictador, hacían bromas: "Las cortes de Franco tienen...vacas y están llena de bostas". Tenía la esperanza de que fuera una meningitis bacteriana e no viral. La bacteriana es curable, la viral deja secuelas o mata.[82]. ¡Nunca en nuestra vida habíamos estado pendientes del color,excepto en el batic´ de Gloria, como esta vez, de una enfermedad! Si el líquido raquídeo era negro, entonces era viral y mata; si el líquido fuera blanco, era de bacteria, posible de curar de inmediato. Cuando Angel Pensado el médico salió del quirófano, donde estaba Eugenia, ese sitio que, en la infame práctica de los médicos no nos dejan entrar para estar con las personas que más amamos, dijo por suerte el líquido es de color blanco... Como en el nacimiento de Eugenia, que no me fue permitido entrar al quirófano de dar a luz, como he referido en otros libros míos. Cuando Ángel salió, decía, venía aliviado: el líquido era blanco, era bacteria que, con penicilina sódica, podía ser curada. ¡Bueno, bueno, bueno! La niña estaba a ser salvada. Como es posible imaginar, no abandoné ni un momento a nuestra hija. Nuestra suerte era que mi hermana Blanquita, mi cuñado Miguel y la hija de ellos, Alejandra, de tres meses, estaban en nuestra casa de la aldea, para cuidar a nuestra Camila, que no podía entender en sus cortos año y medio de edad, lo que pasaba en casa, por qué los papás no estaban, especialmente su Daddy, o así lo quiero recordar yo y así quiero pensarlo. Gloria dormía en casa de los Beira, ese nuestro hogar en Compostela, y yo, en el Hospital. Cuando Eugenia estaba mejor, fui de inmediato a Vilatuxe para traer a la más nueva, Camila... quién... no quería ir. ¡Ella adoraba estar con sus recién conocidos tíos! Tuve que dejarla en su santa libertad, lo que era menos un peso para nosotros. No sabía lo famosos que éramos, pero, como siempre se dice, los amigos se conocen en la cárcel y en las deudas, agrego, y también en la enfermedad.
Fue lo que pasó con nosotros, era un desfile de gallegos de Compostela y de Vilatuxe, para saber como estaban Eugenia y sus papás. Hasta dinero nos querían ofrecer... Especialmente nuestra amiga monja, Carmen Cervera, esa monja madrileña que, como relato en otro libro mío, me dijo que había dejado su Convento sin monjas, porque había hablado allí sobre nuestro internacional movimiento de Cristianos para el Socialismo. Agradecí el dinero, pero no lo acepté, antes pedí que, como era una persona creyente y de fe, que fuera a orar por nuestra hija, por causa de las posibles secuelas de la enfermedad[83].
(Continua)
coordenação de Augusta Clara de Matos
Hoje Falamos de ... Poesia e Pintura
Adão Cruz Albano Martins
Como toda a gente sabe, Albano Martins é um grande poeta, reconhecido nacional e internacionalmente, tendo realizado também magníficas traduções de poesia grega, italiana, sul-americana e espanhola. Licenciado em Filologia Clássica, é professor na Universidade Fernando Pessoa. Tem poemas seus traduzidos em espanhol, francês, inglês, italiano, chinês e japonês.
Foi galardoado pela República Chilena com o prémio “Diploma da Ordem de Mérito Docente e Cultural Gabriela Mistral ”, no grau de Grande Oficial. Este galardão chileno, considerado o Nobel da América Latina, foi entregue pelo Embaixador do Chile em cerimónia realizada na Universidade Fernando Pessoa, cerimónia organizada pelo Centro de Estudos latino-americanos, a que tive a honra de assistir.
Albano Martins é uma voz maior da nossa poesia, sobretudo pela sua rara qualidade e pela sua coerência estético-literária. Uma poesia discreta, que absorve da vida a sua luminosidade, uma poesia em que o autor se empenha na valorização da palavra, depurando-a e procurando dela extrair a sua essencialidade rítmica e significante.
Pertenço a esta
geografia, ao lume branco
da resina, ao gume
do arado. A minha casa
é esta: um leito
de estevas e uma rosa
de caruma abrindo
no tecto do orvalho.
No livro de José Fernando Castro Branco, cuja capa em baixo se mostra, há um capítulo intitulado “A Pintura dos Poetas e A Poesia dos Pintores”, capítulo que sobremaneira me agrada, pois, como diz o autor, se nota que em Albano Martins, a direcção do movimento metamórfico está bem determinada numa poesia visualizante, em que ele procura dar-nos a visão e não o retrato.
Também os olhos
são de calcário e a pomba
dos lábios a que apenas
falta um sorriso
para se erguerem em voo
rasgado sobre as têmporas.
E de calcário
é a luz
aprisionada
no ouro
das pupilas, o secreto
verniz das pálpebras.
Encimam-lhe
a cabeça duas luas
estreladas e, no rosto
e na cinta
que lhe modela os cabelos, quem pensa
é o próprio pensamento. O da beleza
que de si mesma
nasce, a si mesma
se contempla ou de si mesma
se enamora e a si pertence
unicamente. Ou ao tempo que,
discretamente,
a possui.
Foi este título “A Pintura dos Poetas e A Poesia dos Pintores”, que me fez lembrar este grande poeta, e trazer aqui, sobre ele, estas minhas singelas palavras. Mas esta lembrança aflorou em mim, sobretudo por haver duas coisas que a ele me ligam particularmente. Sem qualquer tipo de presunção, mas com muita honra e orgulho, permitam-me que aqui as transcreva.
A primeira foi a escolha de um quadro meu para a capa deste livro sobre Albano Martins:
A segunda é um belo texto que Albano Martins escreveu sobre a minha pintura e poesia, texto de que muito me orgulho, vindo de quem vem:
Albano Martins Adão Cruz - O Canto da Arte e da Vida
Das pinturas de Adão Cruz se poderá dizer com propriedade o que dos desenhos de Federico Garcia Lorca disse um dia Miró: que eles parecem obra de um poeta, sendo esse, nas palavras do pintor catalão, o melhor elogio que pode fazer-se a toda a expressão plástica. No caso de Adão Cruz (como, de resto, no de Garcia Lorca), o dito encerra o seu quê de redundante, uma vez que, além de pintor, ele é também autor de alguns livros de poemas, em prosa e verso.
De um poema seu, precisamente “Dedicatória”, é este verso: “Continuo a pintar o vento”. Eis uma declaração que soa como profissão de fé do pintor, mas se serve dos instrumentos do poeta: a linguagem das metáforas. Pintar o vento é acordar “o sonho adormecido”, é dar vida e movimento ao papagaio triste ancorado no chão, à espera do impulso – do vento – que o solte, lhe dê asas e o transforme em pássaro azul. É pôr na boca de um “deus caído” o grito de revolta contra os “sonhos desfeitos” e sacrificar no “altar da utopia” as últimas reses dum carnaval de sombras e de luzes.
A história que invariavelmente as telas de Adão Cruz contam é esta: a da caminhada do homem em direcção à “utopia do real absoluto”. E se este, como queria Novalis, é a poesia, então é a poesia, isto é, a essência do real, que Adão Cruz busca através das suas criações pictóricas.
Entre a “luz e a sombra”, “a morte da razão” e a “ditadura do tempo”, há uma lua ao alcance da mão. Caída, espera a luz que a restitua ao espaço de onde veio e a que pertence. Tarefa do pintor, essa de, com os instrumentos da arte, resgatar do luto e do vazio os “sonhos perdidos”. Consciente do seu destino, mas também da sua força, por reduzida que seja comparada com a grandeza do universo de que é parte integrante, ao artista cabe (sempre coube, ao que supomos) reencontrar – reinventar – os elos perdidos da cadeia, a decifração dos enigmas que sustentam a casa dos homens e interpretar os sinais que todos os dias nos chegam do cosmos onde, afinal, “risível partícula de poeira”, nos situamos e movemos. Como para Jorge Pinheiro, também para Adão Cruz “não se trata já (…) de procurar um sentido no seio da pintura, mas de, através da pintura, tentar compreender o sentido da vida”. Ou talvez – quem sabe? – inventar “o caminho do sol” com a ajuda de algumas tintas e umas gotas de sangue retiradas do coração ferido do real.
O Miguel e a Clara continuam a sua viagem a 26 países, dizem eles que a ideia é estar um ano em movimento, à aventura, podem ser os países que constam do programa inicial como outros, vai-se "fazendo o caminho". As suas crónicas de viagem pode encontrá-las aqui bem como maravilhosas fotografias:
No próximo poste sobre o Miguel e a Clara( 1/02) daremos a conhecer os projectos de caracter social e pedagógico que a Clara desenvolve em Moçambique.
Nas fotos o Panamá original e o moderno.
A situação no Egipto agrava-se a cada momento. O número de mortos nos confrontos ocorridos principalmente no Cairo, Suez e Alexandria, quase atinge a centena. Os feridos, segundo a Al-Jazira (que entretanto foi proibida de operar no país) cifra-se em dois milhares e meio. De acordo com a Reuters a polícia abriu fogo sobre os manifestantes fazendo-o com projécteis reais e não com balas de borracha. O que querem os manifestantes?
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Quando falamos de integrismo, lembramo-nos logo do integrismo islâmico. No entanto há outros integrismos - Roger Garaudy, no seu livro Religiões em Guerra – O debate do século (1994), afirma «O islamismo é uma doença do Islão, tal como o integrismo é uma doença de todas as religiões.» «O integrismo é a pretensão de se possuir a verdade absoluta e, por conseguinte, de possuir não só o direito mas também o dever de a impor a todos, sem olhar a meios. O primeiro integrismo é o colonialismo ocidental.» Esta afirmação assenta como uma luva à atitude colonialista das potências europeias que pretenderam à outrance implantar em África e na Ásia as suas estruturas sociais – considerando essa prepotência um acto meritório, civilizador. Os Estados Unidos cometem o mesmo erro quando vão ao Iraque impor a democracia. Digo erro, embora o termo «erro» branqueie a verdade – não se trata de um erro, mas de uma deliberada violência.
O que está a acontecer no Egipto não me parece que seja, como expressão da vontade popular, estabelecer um regime democrático, como aconteceu em Portugal em 1974. Há dias, um tunisino, um berbere, salvo erro, homem rude, sem cultura formal, mas sabendo muito bem o que dizia, definia os acontecimentos de Tunes como uma «revolução popular». Mas a vontade popular naquele caso (e no do Egipto) é o de cortar com os vícios ocidentalistas, repondo a sharia como fonte única de jurisprudência e o Corão como paradigma social e político.
Desde 1789, nós europeus, identificamos a vontade popular com a democracia. Mas já antes, Jean-Jacques Rousseau, no seu Contrato Social, nos advertia contra a veleidade de querer repor um ideal criado na Grécia antiga em época tão diversa e com um formato sociológico tão distinto. Dois séculos e meio depois, por maioria de razão, as suas reticências contra essa transposição ainda mais se justificam. Mais grave do que esse salto no tempo, transpor os princípios da democracia para sociedades cuja tradição cultural, religiosa, social e jurídica, pouco ou nada tem a ver com a Grécia, é o assomo de um integrismo europeu, ocidental – achamo-nos possuidores da verdade absoluta e queremos impô-la a outros, como se lhes estivéssemos a fazer um favor. A civilizá-los, dizemos. E para os civilizarmos, destruímos a civilização deles, a cultura deles. E destruída a civilização, apagada a cultura, arrasados os templos – aparecemos a oferecer-lhes os nossos idiomas, as nossas tradições, religiões – tudo coisas que eles já tinham antes de os termos ido civilizar.
Analisar acontecimentos de outras esferas socioculturais à luz de princípios que só a nós, ocidentais, dizem respeito, conduz a conclusões distorcidas. É o que vejo acontecer relativamente ao que se está a passar no Egipto. Os Irmãos Muçulmanos, organização que está poir detra´s do movimento popular, vistos pelas lentes ocidentais, não poderão deixar de ser considerados anti-democráticos, fundamentalistas - errados, numa palavra. Vejamos então, muito sucintamente, quem são estes Irmãos Muçulmanos.
Em 1928, um professor egípcio, al-Banna, ergueu a sua voz contra a presença britânica e afirmou que só numa dupla perspectiva, política e espiritual, se poderia organizar uma oposição eficaz contra o colonialismo. Organizou então, em Ismaília, alguns fiéis islamitas. Defendiam o panarabismo, uma unidade entre os países árabes que deveria ir ao ponto de constituir uma só nação. Não esqueçamos que poucos anos antes a revolução laica de Ataturk extinguira o califado, depondo o sultão e proclamando a República. Al-Banna e os seus adeptos, propunham a reconstituição do califado e da grandeza otomana. Uma unidade baseada na religião, no islamismo. Terá sido o substrato desta ideia que levou Gamal Abdal Nasser em 1958 a apadrinhar a criação da República Árabe Unida (RAU), que uniu o Egipto e a Síria. A RAU foi desmantelada em 1961.
Talvez o fracasso deste projecto adviesse da circunstância de a componente religiosa não ter sido contemplada. Porque os Irmãos Muçulmanos entendem que o Islão se debe sobrepor a tudo e estar presente em todos os aspectos da vidara. A sharia, a lei islâmica regulando-se pelo Corão. O movimento foi sendo divulgado nas mesquitas e expandiu-se por toda a região ganhando seguidores em todos os países muçulmanos. Defendem o regresso à pureza do Islão que o contacto com as civilizações ocidentais fez perder. Segundo eles, a religião tem de estar presente em todos os aspectos das vidas dos crentes.
A revolta popular no Egipto é animada por este espírito. Os soldados estão a aderir à sedição porque são muçulmanos e pensam como o povo. Estabelecer analogias com a Revolução portuguesa de 1974 é criar equívocos. A recusa do modelo democrático ocidental está implícita neste movimento. Mubarak é acusado de estar demasiado influenciado pelo chamado Ocidente. O simulacro de democracia existente no Egipto desaparecerá se o movimento triunfar. As cedências às pressões norte-americanas e o tácito convívio com a política sionista de Israel, terão os dias contados.
Porém, como ontem Josep Vidal dizia num comentário, na medida em que exprime a vontade popular, em que é a expressão do desiderato das maiorias, podemos considerar esta revolta como democrática.
Embora pretenda acabar de vez com a democracia.
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“Entrei em casa, e lá estava “uma” a olhar para mim em posição… pronta a atacar-me, a saltar e morder-me! Agarrei na vassoura e zás! Mas parecia de borracha e tive que lhe fazer uma perseguição… mas depois de uns valentes açoites, … matei-a!”
Quantas vezes já ouvimos isto? E haverá certamente quem esteja a ler este texto e já o tenha feito…
Estas pobres coitadas, que parecem uns crocodilos em miniatura ou um parente próximo de um dinossáurio, não fazem mal a ninguém. Mais uma vez, perduram os mitos sobre este tipo de animais, que não têm culpa nenhuma de terem nascido em corpos menos apelativos aos humanos. As osgas não são venenosas, não provocam doenças de pele e não são peçonhentas. Não são, não são, não são! São sim, um maravilhoso insecticida, chegando a comer 20 mosquitos por hora.
Desde que nasci que me habituei a vê-las nas férias de Verão, do Algarve. Fazia a viagem desde o Norte a pensar “será que este ano estão lá?”. Todas as noites as contabilizava e tentava perceber os seus laços familiares. Todas tinham um nome e sempre sonhava conseguir ver uma a comer um insecto. Num Verão, alguém passou no corredor exterior da casa e chacinou umas quantas…, encontrei cabeças e patas… senti-me tão impotente… resolvi fazer uns cartazes de sensibilização e espalhar pelo corredor. Quando reproduzi os cartazes numa gráfica, a senhora que os imprimiu, entregou-me o trabalho sustentando-o por uma pontinha do papel e com ar de nojo… a partir daí, fiquei conhecida como a “menina das osgas” e nunca mais necessitei deixar o meu nome nos trabalhos que solicitava.
Com ou sem ajuda dos meus cartazes, a “minha” comunidade de osguinhas sobreviveu e continua por lá.
Em Portugal, existem 2 espécies de osgas: a osga-comum (Tarentola mauritanica) e a osga-turca (Hemidactylus turcicus). Não é fácil distingui-las e além de outras características, em grosso modo, a osga-comum é maior e mais clara. A osga-turca ocorre apenas no Algarve (zona litoral e vale do rio Guadiana, região interior do Alentejo e pequenos núcleos isolados na região de Èvora. A osga-comum, habita o Sul da Europa, várias ilhas mediterrânicas e o Norte de África (de Marrocos ao Egipto). Em Portugal, é mais abundante do que a osga-turca.
Reproduz-se em duas épocas (Março a Abril e Junho a Julho), sendo cada postura constituída em média, por 2 ovos, depositados em fendas ou debaixo de pedras. Por vezes, várias fêmeas colocam os ovos no mesmo local e a incubação dura entre 40 dias a 3 meses.
Consoante o local, hibernam de Novembro/Dezembro a Março. Apresentam actividade crepuscular e nocturna. São muito conspícuas, podendo ser facilmente observadas nas paredes de casas ou em muros. Procuram lâmpadas acesas, pelo facto das luzes atraírem muitos insectos dos quais se alimentam. A sua alimentação é baseada essencialmente em insectos e aranhas.
A sua capacidade de se manterem em superfícies verticais e andarem no tecto de cabeça para baixo, não se deve a ventosas ou a superfícies pegajosas, mas a imensas micropilosidades (nanoestruturas) que possuem nas lamelas das patas que funcionam como um velcro. Inspirada nestas estruturas, uma equipa de cientistas norte-americanos (incluindo um português), criou um adesivo biodegradável e biocompatível, que poderá ser utilizado em intervenções cirúrgicas. O adesivo continua a ser desenvolvido, mas espera-se que esteja disponível no mercado dentro de 2-3 anos.
Curiosidades: Quando se sente em perigo perde a cauda, mas tem a capacidade de a regenerar. Porém, a cauda regenerada é mais lisa e curta e nunca recupera a cor original. Quando capturadas, emitem sons bem audíveis, os mesmos que utilizam para comunicarem entre si.
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Prometi um texto todos os dias. Dou a volta à vida e lá estou atenta ao pormenor. As pequeninas coisas que de tão pequenas, mal damos por elas. Interessam-me as conversas de café, a malta sempre a reclamar dos outros. A vizinha de cima que colocou a roupa molhada no estendal, sem atenção com a vizinha de baixo. As pequenas iras que se resolvem com um sorriso. Gestos que se repetem, construindo padrões. E de repente, aparece um sujeito diferente, que não encaixa nas normas sociais.
António é um deles. Quando se interessa por um assunto lê exaustivamente. Não entende as regras sociais. Outro dia aproximou-se de mim e disse:
- Hoje tenho uma boa notícia para te dar, Ethel...
- Então, António?
- Fiz um amigo
- Como assim?
- Então, ele deu-me uma carteira e o numero de telefone dele...
António tem 20 anos, gosta de musica clássica. Devora o que ouve. Não para de ler sobre o assunto. Todas as quinta-feiras acompanha um grupo e dá comida aos sem abrigo. Tem Síndrome de Asperger.
Kenzaburo Oé, fabuloso escritor japonês, autor de Dias Tranquilos, tem um filho com problemas mentais, Hikari. Lidar e aceitar a diferença. Encontrar nela a beleza que desatentos, nunca damos conta. Como a migalha de pão que fica distraída na mesa.
Partilho convosco um pequeno trecho do discurso de Kenzaburo Oé ao receber o Premio Nobel.
UM ESTRANHO PODER DE CURA
"Meu filho deficiente mental, Hikari, foi despertado pela voz dos pássaros para a música de Bach e Mozart e acabou produzindo suas próprias obras. As pequenas peças que ele inicialmente compôs eram cheias de frescor e prazer. Pareciam gotas de orvalho brilhando sobre a relva. A palavra inocência é composta do prefixo "in", que significa "não", e de "nocere", "ferir". Ou seja, ela quer dizer "aquele que não fere". A música de Hikari era uma manifestação natural de sua própria inocência. Conforme ele passou a criar mais obras, no entanto, não pude deixar de ouvir nelas também a voz de uma alma escura e atormentada. Apesar de deficiente, seus esforços extenuantes permitiram que ele melhorasse suas técnicas de composição e aprofundasse suas concepções. E isso fez com que ele descobrisse no fundo de seu coração uma massa de tristeza que até então ele fora incapaz de expressar com palavras. O fato de expressá-la em música cura Hikari de sua tristeza, é um ato de recuperação. Mais ainda, seus ouvintes aceitaram essa música como algo que também os fortalece e restaura. Nesses fenômenos, eu encontro as razões para acreditar no estranho poder curativo da arte."
Trecho do discurso de aceitação do
Prêmio Nobel de Kenzaburo Oe
As personagens que o Adão pinta são abstractas, mas apresentadas sempre em posições e expressões muito fortes, que denotam conflito e angústia. A angústia e o conflito que são a nossa vida diária. Estão em luta, que a vida é uma luta. E assim sentimos as personagens tão abstractas, mas tão perto de nós. O Adão envolve-as com cores fortes, quentes. É o calor que ele lhes quer transmitir, a essas personagens que vivem e sofrem. As cores são o sangue que corre entre o pintor e os personagens, contêm o fogo que anima os seres pensantes. O fogo que Prometeu foi tirar ao céu. Mas descansa Adão, que nós estamos cá, e lutaremos com os deuses ao teu lado.
O Adão lembra-se dos meninos da Guiné, dos doentes no hospital, de todos nós, e pinta, pinta ... Quer levar-lhes (trazer-nos) o calor que os possa manter vivos ... vivos para sempre! Neste quadro, três mulheres tocam uma música em honra de um homem que apenas está presente pelo chapéu. Será que, em vez de fiarem o seu destino, tocam uma melodia para melhor o conduzirem? Aonde? Cloto fiava, Láquesis separava os fios, e Átropos cortava-os. E estas? Como combinam entre elas o trabalho de composição da música com que conduzem o nosso destino?
Luis Moreira
Mobarak na estação televisa "Al Jazeera" promete que vai demitir o governo e nomear outro, avisa que a diferença entre o seu governo e o caos é uma "pele" finíssima, enfim, o estertor de todos os ditadores é igual. Mas o Egipto não é uma qualquer nação árabe, é a maior (84 milhões de habitantes) e representa um papel importantíssimo na "estabilidade" da região que os US não querem ver perturbada.
O incêndio está a propagar-se rapidamente no Mundo Árabe, até o mais miserável de todos está a protestar, o Iémene, há uma juventude sedenta de liberdade que veio para a rua, quer a democracia, um futuro, uma vida melhor. Da mesma forma na Argélia o primeiro ministro tenta controlar a situação prometendo eleições dentro de seis meses, enquanto notícias dão como certas a prisão de várias pessoas familiares do ditador que fugiu.
A miséria é muita, o petróleo está a acabar, os jovens querem ter um futuro, uma vida digna. Na sombra espreitam os extremistas de um e outro lado, inimigos da democracia e que os US temem por não conseguirem controlar como não controlam o Irão.
Os Últimos Anos de Infortúnio
(continuação)
O caso Martinez, a doença e o internato, têm o seu quê rocambolesco. Segundo o próprio Botto explica pelo seu punho (BNL,espólio A.B.-cota E12/175) num apontamento a lápis tomado numa toalha de mesa em papel, da Casa Atlântica da Avenida Copacabana. Foi internado na enfermaria (sublinhado meu) 268 da Real Benemérita Sociedade de Beneficência Portuguesa que viria mais tarde a público explicar tratar-se não de enfermaria mas do quarto particular nº 268. O certo é que Botto tece fortes queixas à assistência na instituição pelo que no dia 6 de Novembro passam-no para o quarto particular nº 254. Mas o poeta afirma que em todo este tempo em vez de melhorar piora e troca os cuidados do Dr. Paulo Brás pelos do cirurgião Renato Machado. Afinal, que doença, ou doenças, atacam António Botto a um ponto de tal gravidade?
A garganta e os ouvidos sabemos serem órgãos frágeis neste homem que sempre os tratou mal. Os exames radiológicos mostraram opacidade nos seios da face e do crânio e a última análise deu maus resultados mas desconhece-se a origem. Nada é possível garantir e a polémica da assistência prestada pela Beneficência Portuguesa arrastou-se pelos jornais ao ponto daquele hospital prestar esclarecimentos públicos, informando que não sendo António Botto sócio da instituição ali foi internado gratuitamente. Acusações aparte, Botto acabou pedindo ao ministro Lafayette de Andrade, simultaneamente provedor da Santa Casa da Misericórdia, transferência para esta instituição, que lhe foi concedida e concretizada no dia 29 de Dezembro daquele malfadado ano de 1955. Cabe ao médico Luciano Rossi assisti-lo e logo no dia 10 de Janeiro de 1956 uma análise ao sangue não vaticina nada de bom, mas desconhece-se a doença.
Na Misericórdia o poeta é instalado no quarto nº 18, da 14ª enfermaria, aquele onde viria a ocorrer a célebre entrevista de José Alberto Teixeira Leite, com fotos de Alberto Ferreira, publicada em 19 de Maio de 1956, no nº 20 da Revista da Semana, do Rio de Janeiro, entrevista onde afirma que aos sete anos partira para Inglaterra e com dezoito incompletos principiava «a publicar no Suplemento Literário do jornal The Times Square os [seus] primeiros ensaios sobre escritores daquele tempo». Confesso, António, que fiquei perplexo com esta colaboração desconhecida, certamente por ignorância minha e de muitos outros que escreveram sobre a tua obra e a tua pessoa. Penitencio-me, até porque não fui confirmar tal colaboração ao Times Square, assim como a história de teres sido matriculado numa «escola de comprovada categoria», a fim de tirares um curso de arquitectura, são efabulações para brasileiro ler.
Eras assim, um contumaz esbanjador de grandezas pois nem sequer reconheceste, perante o jornalista, as tuas dificuldades económicas: «Não estou na indigência, de modo algum. Tenho ainda as minhas propriedades em Portugal e meus livros publicados em várias editoras (…) rendem-me direitos autorais». Uma parte era verdade, outra ficção. Não estarias na indigência, é facto, mas o teu senhorio, Manuel Vitorino, preparava-se para te fazer as malas com uma acção de despejo. Quanto aos estudos, frequentaste em Lisboa a escola primária e pouco mais visto o resto ter sido resultado do autodidatismo o que não é nenhuma desonra.
A leitura da entrevista traduz um tom ameno e até uma certa boa disposição, o que não invalida a exigência de cuidados com a saúde do poeta, sendo operado, em Outubro de 1956, no Hospital da Gambôa (Cais do Maná), por qualquer razão que se desconhece. D. Carminda, mulher fidelíssima e de indiscutível solidariedade para com o seu marido, por essa ocasião rondando os setenta anos, é assaltada dentro do hospital pelo método do esticão, ficando sem a mala, dinheiro e documentos. António Botto, após a operação regressa à Santa Casa da Misericórdia sendo surpreendido por um carta do ministro Lafayette de Andrade, que o transfere para o Hospital de Nossa Senhora do Socorro no dia 23 de Novembro de 1956, no desejo de proporcionar maior conforto ao doente.
No fim desta infeliz trajectória hospitalar o autor de Baionetas da Morte regressa a casa, na Almirante Alexandrino, onde o espera o senhorio com um rol de rendas em atraso, aliás, contestadas pelo inquilino, num processo que ser-lhe-á desfavorável obrigando-o a abandonar a casa em Abril de 1958. Tinham corrido no Brasil onze anos de malfadada sina, agora faltavam-lhe apenas onze meses para a chegada da malfadada morte.
(continua)
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Escolhemos hoje mais um poema de António Botto, desta vez cantado por Teresa Silva Carvalho, "Choram meus olhos" .
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