Segunda-feira, 31 de Janeiro de 2011

ANTÓNIO BOTTO NO BRASIL – 14– por António Sales

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os Últimos Anos de Infortúnio

(continuação)

 

Após ser obrigado a abandonar a residência da Almirante Alexandrino o casal aloja-se numa casa má na Rua Joaquim Murtinho, nº 549, ainda no bairro de Santa Teresa. Este terá sido um tempo negro como se depreende pela carta endereçada ao seu grande amigo e advogado Paulo Rabello a quem confessa que se tem privado de tudo: «Vendi tudo de valor quanto tinha. A última derradeira jóia que vendi foi um relógio de pulso Patek, todo em ouro». Data deste período o único desabafo que encontramos acerca da mulher: «Não gosta de se desfazer dos vestidos, sapatos, chapéus, jóias, mesmo que precise de pão para a boca». Mesmo estas considerações revelam exagero como se falasse de um moderno guarda-roupa, que não era o caso visto ambos vestirem modestamente segundo as observações de diversos dos seus amigos.

 

Mal instalado, sobrevive da colaboração em jornais, dos direitos de autor que vai recebendo, do auxílio dos amigos. Declama poesia num restaurante típico português ganhando, mal, o sustento diário: «Comemos arroz, café, chá, um resto de queijo e pão», escreve num dos seus dolorosos apontamentos da segunda metade de 1958. Para o médico de Carminda pede 1000 cruzeiros emprestados a uma portuguesa com venda de ovos e galinhas na Avenida Princesa Isabel, mas no dia seguinte a mulher não leva a primeira injecção «porque não havia dinheiro para o pavio, quanto mais para a vela».

 

A Portugal chegam ecos desta situação e um articulista do jornal O Século escreve, por altura do falecimento do poeta, na secção “Últimas Notícias” (19 de Março de 1959), algumas linhas trágicas a encerrar uma breve nota biográfica: «Um dia, após anos de silêncio, soube-se aqui que o cantor das quentes noites lisboetas estava num asilo de indigentes, para onde o remetera a caridade alheia. Fora preso por vadiagem na grande metrópole projectada para o céu em gritos de cimento, quando abordava transeuntes e lhes sussurrava: - Sou o António Boto. Vinte cruzeiros por um poema». Esta fantasia, derivada certamente do processo de internamento hospitalar na Santa Casa da Misericórdia, ajuda-nos a compreender os exageros que envolveram a vida e a carreira literária do autor de Dandismo porque no Brasil, como em Portugal, o dinheiro entrava-lhe nos bolsos e saía deles com grande facilidade. O próprio Botto regista que Samuel Ribeiro «honrado santista, e cultura aprimorada», ofereceu-lhe trezentos mil cruzeiros, «como lembrança de um lial admirador de toda a minha obra» (sic). Concluo que boa parte das dificuldades financeiras com que sempre lutou deveram-se à sua total ausência de economia.

 

Paulo da Cunha Rabello é advogado, director-gerente da Sociedade de Incorporações e Realizações, Lda., intelectual e poeta, amigo e admirador de António Botto a quem este recorre e mais abertamente se confessa nos momentos de maior dificuldade. A partir de Niterói Paulo Rabello torna-se uma espécie de anjo da guarda do nosso compatriota pois não só o defende nas questões jurídicas como lhe facilita a resolução dos problemas que delas resultam. Em Junho de 1958 o advogado recebe do tribunal a ordem de despejo da Av. Almirante Alexandrino e apesar de Botto se alojar na Rua Joaquim Murtinho não deixa de procurar, com a colaboração do amigo, outro local onde possa viver com dignidade e respirar com esperança. Inicia então uma batida por Copacabana em jornadas exaustivas e desanimadoras pois o que vê é «tudo caro e mau». São dias tristes, angustiantes, dolorosos, que o poeta regista no seu diário. Em 13 de Outubro o casal passa pelo escritório de Paulo Rabello onde a par da informação sobre a jornada falam da peça A Raposa e as Uvas, de Guilherme de Figueiredo, em cena no Teatro Copacabana. Antes de regressarem a Santa Teresa «debaixo de uma chuva horrível, peganhenta, em que a cidade velha, escura, desmantelada, nos comunica o frio da desgraça e da morte», procuram um pouco de conforto e calor humano com esse amigo de todas as horas, conversando sobre poesia, sobre acontecimentos correntes como seja o aniversário da Elbi (?) com quem Botto diz ter dançado duas vezes. Depois a noite cai, o dramaturgo de Alfama retoma a realidade para regressar a casa e ao deixar o “bonde” atravessa a Joaquim Murtinho cruzando-se com «ratos, ratazanas e baratas» que passavam diante de si. Nessa casa gélida, pobre, «miserável» como lhe chama, posso imaginar que todos os dias, mesmo nos de sol, acorda com «o céu pesado, da cor dos cemitérios», conferindo ao drama do casal a dimensão da tragédia não fora a intervenção de Paulo Rabello em conseguir um «apartamento salvador». Nesse Dezembro de 58 faz no notário um contrato de locação com o Dr. Firmino Von Doellinger da Graça, representado por sua esposa na escritura do apartamento 902, situado no 9º andar do edifício Granada, Rua Belfort Roxo, nº 169, Bairro de Copacabana. O contrato estabelece uma renda de 1000 cruzeiros por mês, ficando Cunha Rabello como fiador e responsável contratual o que só comprova que António Botto tinha, de facto, amigos. O desafortunado ano de 1958 acabava a flutuar entre a tranquilidade e a esperança de uma paz que tardava em chegar. Apesar do tempo lhes ir fugindo os seus corações estremeciam na fé de que ainda teriam direito ao seu pequeno naco de felicidade.

 

 

 

 

 

 

Tomado pela consciência do íntimo silêncio de si próprio, onde fenece a chama criativa dos anos vinte e trinta, pouco fala do que escreve. Toca-lhe a dor e o desespero que caracterizam os versos do seu drama mas falta-lhe a voz da sedução e a capacidade em provocar emoções violentas e profundas como fora o caso da “Polémica das Canções” que arrebatou a intelectualidade lisboeta nos idos anos vinte. Todavia, de 1958 data uma introdução ao livro Mastros do meu Navio, que não chegou a publicar, aproveitando-a em Ainda não se Escreveu, obra póstuma cujo original enviou para as Edições Ática, em Lisboa, pouco tempo antes de falecer e onde acabará por ser editada. «Depois de onze anos ausente da minha Pátria, sem publicar, sequer, uma única obra inédita, apareço finalmente. A mim, meteram-me numa cova rasa, e puseram este letreiro para quem passasse e olhasse: - morreu de vez. Porém ressuscitei, não ao terceiro dia, como o Deus que nos faltava, mas ao cabo de onze anos (..)». Mais valia que não tivesse ressuscitado este escritor a quem a doença foi minando o talento, fragmentando o tempo e o verso sem epopeia e sem arte. Na mente do poeta interceptam-se segmentos rápidos de memórias, esfumam-se no espaço rostos de amigos, lides literárias, tertúlias, conferências, bastidores de teatros, dislates de conservadores e provocações que criaram escândalos. Anjos anunciadores de recordações passam acenando-lhe gestos simples de amor e amizade. Muito embora António Botto sinta nos seus amigos brasileiros carinho e manifesto calor humano percebe que a sua realidade se tornou fugidia como uma pena levada pela maré nos mares de Iemanjá.

(continua)

__________________

 

As Canções de António Botto

 

Dandismo

 

(Poema nº 16 – pag. 123 – nova edição Livraria Bertrand 1956)

 

Anda um ai na minha vida

 

Que me lembra a cada passo

A distância que separa

O que eu digo do que eu faço

 

Quem mo deu

 

- Partiu! …

Deixou-me na agrura

Interminável e fria

 

De ter de o guardar

Como único recurso

De poder viver ainda …

 

Anda um ai na minha vida,

Como lágrima que passa,

Que passa, - mas que não finda.

 

Dizê-lo? – nada lucrava.

Guardá-lo? – morro a senti-lo,


Anda um ai na minha vida

Que me lembra a cada passo

A distância que separa

O que eu digo do que eu faço.


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publicado por João Machado às 23:55
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Música romântica do século XX - 72

O moço atravessou os anos 80 e 90 com ar imberbe e sempre de calças de ganga e t-shirt e ainda hoje é difícil pensar nele como um cinquentão. Bryan Adams nasceu no Canadá em 1959, viveu durante um curto período da adolescência em Cascais ( o pai era diplomata e esteve em serviço durante alguns anos em Portugal), editou o seu primeiro álbum em 1980 e tem tido vários êxitos desde então.

 

No início da década de 1990, lançou (Everything I do) I do it for you, uma balada melosa incluída na banda sonora do filme “Robin Hood”, protagonizado por um Kevin Costner particularmente canastrão. Esta balada, escrita em parceria por Adams, Michael Kamen e Robert John “Mutt” Lange, esteve várias semanas nos primeiros lugares dos tops britânico, norte-americano e canadiano. Recebeu um “Grammy” e foi nomeada para um Óscar, que acabaria por perder para o filme de animação desse ano, “A Bela e O Monstro”. O próprio Adams gravou uma versão em espanhol: “Todo lo que hago lo hago por ti”.

 

Cá está Bryan Adams, com a melena dourada e o blusão de ganga que sempre lhe conhecemos.

 

 

 

 

publicado por CRomualdo às 23:00

editado por Carlos Loures em 29/01/2011 às 23:46
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Carta aberta ao Presidente da República - por Júlio Marques Mota

Coimbra, 28 de Janeiro de 2011

 

 

Ex.mo Senhor Presidente da República

 

Com conhecimento: ao Primeiro-Ministro, ao Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, à Ministra do Trabalho e aos líderes parlamentares.

 

Carta Aberta

 

A propósito de silêncios

 

Senhor Presidente, como cidadão e como profissional uma carta aberta sobre o caso BPN e sobre o ensino superior em Portugal lhe escrevi, mas nenhuma resposta, nenhum sinal sequer de recepção alguma vez recebi, o que já não aconteceu, sublinhe-se, com os seus segundos destinatários, por respeito institucional, como o Primeiro-ministro José Sócrates e com o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago.

 

Senhor Presidente, o tempo das eleições terminou, e desse tempo a luz dos holofotes sobre os candidatos, essa, por mais quatro anos, se apagou. Do resto, o que ficou? Um Presidente a 25 por cento dos votos possíveis, mas é o nosso Presidente e é esse facto que a história já registou. E dessa noite, também, uma sensação amarga nos ficou, com o discurso que ouvimos, pois uma vez eleito, o Presidente de todos nós, portugueses, para todos nós não falou, porque uma linguagem de concórdia entre os portugueses bem esperada, não foi essa a que utilizou.

Nessa noite de eleições, a diferença entre o discurso esperado e o discurso proferido foi tal que um analista na televisão chegou ao ponto mesmo de encontrar uma equivalência, uma espécie de noite das facas longas, mas felizmente, muito felizmente mesmo, estamos longe, longe da barbárie a que a noção de equivalência remetia. Distracção do jornalista. Nessa noite de um tempo de renovação de mandato e numa altura de crise tão violenta que todos queremos ver passada, nessa noite, era uma linguagem de futuro que a todos cabia ouvir porque cada um de nós se sente assustado sem um futuro poder minimamente garantir.

 

Senhor Presidente, nessa noite, foi a linguagem da discórdia que falou mais alto, foi esta que se fez entender, tomando como ponto de partida a situação do BPN, tomando como ponto de chegada aquilo que ninguém de bom senso pode alguma vez entender: que as eleições foram em si a prova de que o que foi dito à volta do BPN é uma questão pelo povo eleitor a dever esquecer, uma vez que as respostas tinham sido dadas a quem as quis entender. Não, senhor Presidente, uma coisa é votar em si como candidato, outra coisa é não compreender o que se passou, em termos de transparência de valores que cada um de nós no seu Presidente gostaria de reconhecer. Que não se confundam os planos, é essa a nossa sugestão.

 

Senhor Presidente, uma coisa se sabe, uma transacção de títulos efectuada fora de mercado, como tantas se fazem, como se fizeram recentemente com a Goldman Sachs e Facebook, é uma das operações que se fazem todos os dias, se bem que esta última tem na sua peugada a polícia, porque exactamente feita fora da bolsa e dos mecanismos de transparência que esta garante ou é presumível garantir, e já agora ninguém pode levar a mal, sem nenhuma má intenção, que o mais comum dos mortais que todos nós somos entenda que esta transacção é especial pelas suas duas contrapartes envolvidas: a primeira, a entidade compradora pela parte do BPN, está presa e vai ser julgada, a segunda, essa, era o candidato que é agora, de novo, o Presidente de todos os portugueses. Dessa transacção que transparente não pode ser chamada houve mais-valias pagas por um Banco falido, agora nacionalizado, a um seu amigo pessoal, hoje Presidente de todos nós, que as recebeu como mais-valias geradas pelo mercado (qual?) mas em que agora se sabe terem sido menos-valias transformadas em custos que seremos todos nós, os contribuintes portugueses, que as iremos afinal pagar. Não, senhor Presidente, não podemos lamentar que o mais simples dos contribuintes não perceba que estas mesmas mais-valias não possam ser devolvidas ao erário público, ao Banco donde saíram, porque caso contrário, será cada um dos mais simples contribuintes que somos todos nós que as iremos repor, e isto não é, nunca foi, dizer mal de ninguém. Esta é apenas a lógica da realidade imposta a posteriori, é certo, a exigir, uma outra atitude sua, creio, também ela necessariamente a posteriori, depois de conhecida a realidade de agora do BPN, realidade que então desconhecia, como é suposto admitir. É apenas a lógica da moralidade ao longo do tempo.

 

 

 

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por Luis Moreira às 11:12
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Contra a cegueira voluntária - por Max Dorra

Para lá da crise, pontos de vista de  Max Dorra em que se sublinha que  para  sair da crise se exige que “Toda a gente, principalmente  os intelectuais, tinham participado neste trabalho obscuro, obstinado, inflexível, de desbloquear o pensamento. O indispensável preliminar”. Desbloquear o pensamento é então este o caminho a fazer, o caminho por todos nós a termos de percorrer. Preliminar para a saída da crise.

Júlio Marques Mota

Nesse tempo - nas primeiras décadas do século XXI - o absurdo disputava-se contra a barbárie. Em França, nas escolas, as turmas de mais de trinta alunos tornavam o ensino quase impossível, excepto para um pequeno número de privilegiados. Os trabalhadores viviam sete anos a menos do que os executivos e, quando veio uma onda de calor no Verão, 15 000 velhos, entre os mais pobres, morreram porque ninguém estava lá para lhes dar de beber; isto foi rapidamente esquecido.



Poucos dias se passavam sem que não houvesse a informação de um suicídio entre os prisioneiros (e por vezes entre os seus supervisores) nas prisões superlotadas. Hospitais a funcionarem como empresas, e uma vez que tinham que ser "rentáveis", foram sujeitos a avaliações, classificações, cujo efeito perverso não se fez esperar: os "melhores" serviços foram aqueles em que a duração de estada era a mais curta, o que incitava a uma selecção de pacientes.


Ao mesmo tempo, os africanos viviam trinta anos a menos do que os europeus, 200 milhões de crianças em todo o mundo estavam a trabalhar como escravos, 6 milhões delas morrem anualmente de desnutrição. De tudo isto, muitas pessoas se indignavam, mas a maioria, certamente, por uma espécie de cegueira voluntária preferia - como os biólogos soviéticos que anteriormente tinham negado os dados da genética - viver na ignorância dos factos que os podiam perturbar.


No que diz respeito à "negação da realidade", é agora, como sabemos, uma questão frequentemente levantada nos exames nacionais do final do secundário : "comente as frases históricas proferidas pelo Ministro da Economia, das Finanças e do Emprego, Christine Lagarde, em 10 de Julho de 2007 na Assembleia Nacional: "Entre a igualdade de todos na linha de partida e os resultados de cada um à chegada, o trabalho faz do indivíduo o único responsável pelo seu próprio caminho (... ). Deixemos de opor  os ricos aos pobres (...). A luta de classes, esta ideia já não tem nenhuma utilidade para compreender a nossa sociedade”.

As pessoas vivem assim numa espécie de anestesia sustentada pelas quatro horas gastas diariamente com os grandes media. Na televisão, em particular, "a grande arma absoluta ", disse Georges Pompidou. Está em todos os lugares, oferecendo - e não apenas aos solitários - um grupo imaginário, uma família à qual se pertenceria com a condição de respeitar as suas regras, o seu tom. Nos estúdios, um sorriso permanente é de rigor, o tempo da palavra é curto, envolvendo uma simplificação empobrecedora dos temas mais complexos.


publicado por Carlos Loures às 20:00

editado por Luis Moreira às 01:34
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Cronologia da Guerra Colonial - 1970 - 1/2 - por José Brandão

1970

 

JANEIRO

?

- Estabelecimento dos primeiros contactos de militares portugueses do estado-maior de Spínola com chefes militares do PAIGC, numa tentativa de aliciamento para estes fazerem parte da futura força africana da Guiné, que se integrava na sua maneira política.
- Estabelecimento de uma base de apoio para a Operação “Mar Verde” na ilha de Soga-Bijagós, na Guiné, onde foram reunidos e treinados militares portugueses e elementos da oposição da Guiné-Conacri.
- Criação dos primeiros seis grupos especiais (GE) de milícias, em Moçambique, num total de 550 homens.
- Grande ofensiva militar do PAIGC contra as posições portuguesas de Guilege, Guidage, São Domingos e Gadamael.
- Em Angola a UNITA actua em acções restritas sobre viaturas isoladas ou com pequenas escoltas, serrações, viaturas da PSP ou OPVDCA, intimidação de populações ou raptos, mas reagindo sempre com violência às penetrações das forças portuguesas nas regiões onde possuem acampamentos, mantendo as suas bases nas regiões a sul de Cangumbe e no rio Lungué-Bungo.

1

Católicos distribuem nas igrejas do Porto um documento para «uma reflexão obre a paz».

3

- Morre em combate na Guiné 1 militar do BArt 2857.

- Morrem em combate em Moçambique 2 militares. Um furriel da CCaç Milange e um cabo da CCaç 2622.

5

- Partem para Moçambique os BCav 2903 e o BArt 2901.

- Morre em combate em Angola 1 militar da CCaç 2511.

6

- Morre em combate em Angola 1 militar do GCav 1.

- Morre em combate em Moçambique 1 militar do ECav 2.

- Os advogados espanhóis da família Delgado enviam uma carta ao Presidente do Conselho português, solicitando que sejam postos à disposição das autoridades judiciais espanholas os inculpados portugueses de Fevereiro de 1966, dado que em Portugal nenhum processo lhes havia sido instruído.

8

- Morre em combate em Angola 1 militar da CCaç 2608.

- Morre em combate em Moçambique o capitão Adelino Nunes Duarte do BCaç 16.

10

- Parte para Angola o BArt 2900.

- Morre em combate em Moçambique 1 militar da CArt 2452.

12

Morre em combate na Guiné 1 militar fuzileiro especial do DFE 8.

13

Morre em combate em Moçambique 1 militar do BCaç 2863.

15

Remodelação governamental, entrando para o governo, entre outros, Rui Patrício (Negócios Estrangeiros); Veiga Simão (Educação), Baltazar Rebelo de Sousa (Corporações) e os «tecnocratas» Rogério Martins, João Salgueiro, Xavier Pintado e Silva Pinto.

18

Morre em combate na Guiné 1 militar pára-quedista do BCP 12.

19

Morre em combate em Moçambique 1 militar da CCaç 2550.

20

Morre em combate em Moçambique 1 militar da CArt 2329.

21

- Morre em combate em Angola 1 militar da 19ª CCmds.

- Morre em combate em Moçambique 1 militar da CCaç 2554.

22

- Reunião preparatória da Conferência Internacional de Apoio aos Povos da Colónias Portuguesas realizada em Roma pela OSPAA (Organização de Solidariedade dos Povos Afro-Asiáticos), que decide realizar a Conferência em Roma, em 27 a 29 de Junho.

- O Sindicato Nacional dos Jornalistas aprova um Projecto de Lei de Imprensa.

- Na AN, o deputado Sá Carneiro questiona o Governo sobre vários assuntos – amnistia e indulto de crimes, aulas mistas em alguns graus de Ensino – e subscreve uma proposta sobre o desenvolvimento do turismo na Serra da Estrela.

- Comunicado ao País da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos, sobre a situação dos detidos pela DGS.

- São nomeados novos Governadores-Gerais para Moçambique e Cabo Verde.

23

- Morre em combate em Angola 1 militar da CCav 2524.

- Morrem em combate na Guiné 2 militares da CCaç 2403.

- Morre em combate em Moçambique 1 militar da CCav 2417.

- Accionamento de uma mina A/C por uma coluna militar nas proximidades do Catur, Niassa, Moçambique, de que resultaram 7 feridos.

26

Morre em combate na Guiné 1 militar da CCaç 2547.

27

- Morre em combate na Guiné 1 militar da CCaç 2618.

- Morre em combate em Moçambique 1 militar da 23ª CCmds.

28

- Morre em combate em Moçambique 1 militar do BCaç 20.

- Despacho da Censura proíbe o livro Gente de Bem, de José Vilhena. Este autor desenvolveu a sua actividade partir dos anos 60 e até ao 25 de Abril de 1974 escreve entre 60 e 70 livros. Praticamente todos os seus livros foram objecto de censura e apreendidos pela PIDE/DGS e pela PSP. Por três vezes foi levado para a prisão de Caxias.

- Nixon fura o embargo de Kennedy em relação a material de guerra americano para Portugal, passando os Estados Unidos a fornecer a Portugal equipamento militar «não letal», para utilização em África.

29

Morre em combate em Angola 1 militar do RI 21.

31

- Parte para a Guiné o BCaç 2905.

- Durante este mês as baixas nas forças portuguesas totalizaram 54 mortos. Em acções de combate morreram 26 militares.

 

FEVEREIRO

?

- Conversações secretas em Dakar entre delegações de Portugal e do Senegal, com vista a um cessar-fogo na Guiné.
- Vaga de prisões de estudantes africanos nas Universidades portuguesas.
- Manifestação de protesto contra as guerras coloniais portuguesas e do Vietname.

2

Morre em combate em Moçambique um alferes da CCaç 2515.

3

Morre em combate em Angola 1 militar da CCaç 2604.

4

- Partem para Moçambique os BCaç 2906, 2907 e 2908.

- Morre em combate em Angola um alferes da CCaç 2546.

5

Morrem em combate em Moçambique 4 militares. Três da CCaç Vila Manica e um da CCaç 2451.

6

Em Luanda, na Livraria Lusitana, o agente da PIDE/DGS António Alves Barbosa apreende diversos livros.

8

Morrem em combate em Angola 2 militares. Um da CArt 2670 e um da CCaç 2307.

9

Morre em combate na Guiné 1 militar da CArt 2520.

11

Ataque executado pelo PAIGC a Enxalé, com devastação parcial da aldeia.

13

- Morre em combate em Angola 1 militar da CArt 2670.

- Fim do Curso de Comandos, em Fá Mandinga - Oio, da 1ª Companhia de Comandos Africanos, comandada pelo Capitão Graduado "Comando" João Bacar Jaló.

14

Parte para Angola o BCav 2903.

15

- Parte para Angola a 31ª CCmds.

- Morre em combate em Moçambique 1 militar do BCaç 2862.

18

- Parte para Angola o BCaç 2904.

- Morre em combate na Guiné o capitão Luís Rei Villar da CCav 2538.

- Morrem em combate em Angola 2 militares da CCaç 2600.

19

Salgado Zenha é preso, em Lisboa, momentos antes de iniciar uma conferência sobre a questão colonial.

20

- Morre em combate em Angola 1 militar da CCaç 2508.

- Preso o pároco de Belém (Lisboa), padre Felicidade Alves, que denunciara do púlpito as atrocidades da guerra.

22

Morre em combate na Guiné 1 militar fuzileiro especial do DFE 8.

25

- Cento e quarenta e sete individualidades apresentam ao Presidente do Conselho um pedido de aprovação dos estatutos de uma Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES).

- Na Assembleia Nacional o deputado Sá Carneiro apresenta perguntas ao Governo sobre a garantia de defesa de arguidos presos, propõe a retirada de uma proposta de lei para a criação de tribunais de família, defende a urgência de uma Lei de Imprensa e protesta contra os cortes que os serviços de Censura fizeram em declarações suas.

26

- Morrem em combate na Guiné 2 militares. Um da BAC 1 e um do PelRec 2045.

- Morre em combate em Moçambique 1 militar da CArt 2648.

27

- Morre em combate em Angola o capitão José Manuel Costa Martins da CCav 2635.

- Morrem em combate na Guiné 2 militares da BAC 1.

- Actividade operacional da FRELIMO na zona do Catur, no Niassa, com flagelações e minas, causando 8 feridos às forças portuguesas.

28

- Morre em combate em Angola 1 militar da CArt 2643.

- Durante este mês as baixas nas forças portuguesas totalizaram 54 mortos. Em acções de combate morreram 24 militares.

 

MARÇO

?

- Confirmação da existência de uma unidade de artilharia do PAIGC equipada com foguetões GRAB-1, 122 mm.
- Reorganização das forças do PAIGC, com formação do corpo de exército de Nhacra-Enxalé, numa

nova divisão territorial correspondente a novo patamar do seu processo evolutivo previsto por Amílcar Cabral.

2

Morre em combate na Guiné um alferes da CCaç 2616.

3

- Posse de Kaúlza de Arriaga do cargo de comandante-chefe de Moçambique, em substituição do general Augusto dos Santos.

- O Presidente do Conselho responde à carta dos advogados espanhóis da família Delgado, afirmando que os elementos disponíveis não permitem incriminar qualquer cidadão português, nem fora pedida a extradição de qualquer cidadão português.

4

Morre em combate em Moçambique 1 militar pára-quedista do BCP 32.

5

- Morre em combate em Moçambique 1 militar do BCaç 15.

- Emboscada a uma zorra dos caminhos-de-ferro, entre o Catur e Nova Guarda, no Niassa, provoca 8 mortos e 18 feridos, todos milícias e civis africanos.

8

Morre em combate em Moçambique 1 militar da CCaç 2471.

10

Morre em combate em Moçambique um alferes da CCaç 2620.

12

- Morrem em combate na Guiné 2 militares. Um furriel da CCaç 2680 e um soldado da BAC 1.

- Alguns dos signatários do pedido de aprovação de estatutos da SEDES são recebidos pelo Presidente do Conselho e consideram positiva a entrevista.

13

Morre em combate em Moçambique um alferes da 17ª CCmds.

16

Rebentamento de duas minas A/C na zona de Valadim, no Niassa, causa mais de 30 feridos, a maioria milícias de Daniel Roxo, apoiante das forças portuguesas.

17

Devido a acidente morrem em Moçambique 3 militares do BCaç 2875.

18

D. L. n.° 113/70. Autoriza o Governo a contrair encargos até ao montante de 1 milhão e 500 mil contos para continuação do reequipamento extraordinário do Exército e da Aeronáutica.

19

- Morre em combate em Angola 1 militar da CCaç 2598.

- A União Nacional muda a sua designação para Acção Nacional Popular.

20

- Despacho da Censura determina a proibição e apreensão imediata do livro De Poema em Riste, de José Carlos de Vasconcelos, que foi julgado pelo censor como «um pequeno livro de feição integralmente activista e comunista comprometida até à medula de cada verso.»

- Morre em combate na Guiné 1 militar da CArt 2520.

- Morrem em combate em Moçambique 2 militares da CArt 2453.

21

Morre em combate em Moçambique 1 militar da CArt 2630.

22

- Morre em combate em Angola 1 militar da CCaç 2601.

- Morrem em combate em Moçambique 3 militares da CArt 2629.

23

Morre em combate em Moçambique um furriel da CArt 2385.

24

- Morre em combate em Angola 1 militar da CArt 2625.

- O jornal brasileiro O Estado de S. Paulo publica um documento de apoio a Mário Soares, assinado por um grupo de exilados políticos portugueses.

25

- Despacho da Censura determina a proibição do livro do Padre José Felicidade Alves, Pessoas Felizes.

- Morrem em combate em Moçambique 3 militares do BCaç 15.

- Parte para a Guiné a 26ª CCmds.

26

- Morre em combate na Guiné 1 militar pára-quedista do BCP 12.

- Morre em combate em Moçambique 1 militar da 18ª CCmds.

30

Morre em combate em Moçambique 1 militar da CCaç 2663.

31

Durante este mês as baixas nas forças portuguesas totalizaram 64 mortos. Em acções de combate morreram 26 militares.

 

ABRIL

?

- Referência, num discurso em Mansoa, feito por Spínola diante do ministro do Ultramar, Silva Cunha, ao facto de a Guiné estar a viver um grande momento, por se aproximar o fim da guerra.
- Em Cabo Delgado (Moçambique), Samora Machel apresenta os planos da ofensiva a executar em Junho e Julho, aumentando a actividade militar da FRELIMO no distrito, com colocação de numerosos engenhos explosivos e grandes extensões de abatises, a fim de isolar as guarnições portuguesas.
- É criado na Guiné o Destacamento de Fuzileiros Especiais Africanos (DFE 21).

- Ao serviço do PAIGC, o Hospital de Koundara aumenta a capacidade, até então de 60 camas, e equipa-se com sala de radiologia e energia eléctrica. Passa a apoiar a Inter-Região Norte, evitando as evacuações para Boké. É para Koundara que são levados os feridos e doentes de toda a Inter-Região Norte. Neste hospital trabalham médicos cubanos, um cabo-verdiano e um norte-vietnamita. Para além de um médico português que desertou da guerra em Angola presta também serviço uma médica holandesa.
- A Legião Portuguesa organiza um curso de «guerra subversiva» que termina com exercícios de contraguerrilha na Serra de Sintra.

- Accionamento de uma mina por uma coluna militar de Engenharia na zona de Mapalísia, Niassa, provoca 7 feridos.

- Inauguração em Estocolmo, de uma exposição documental organizada pelo MPLA sobre as actividades políticas deste movimento e o auxilio sueco ao movimento.

- Protesto de Portugal na ONU por a Assembleia Mundial da Juventude, realizada sob a égide da ONU, ter convidado directamente representantes de Angola, Moçambique e Guiné sem o conhecimento do Governo português.

1

- Morre em combate em Angola 1 militar da CCav 2650.

- Conferência de imprensa de Mário Soares em Nova Iorque, condenando a guerra colonial.

6

Morre em combate em Moçambique 1 militar da CCav 2400.

7

- Morre em combate na Guiné 1 militar da CCaç 2466.

- Morre em combate em Moçambique um furriel da CArt 2646.

- O padre Joaquim Pinto de Andrade é preso pela sexta vez, juntamente com outros acusados de apoio ao MPLA.

8

Marcelo Caetano dirige-se ao País através da rádio e da RTP.

10

- Morre em combate em Moçambique 1 militar da CCaç 2551.

- D. L. n.° 149/70. Determina que sejam graduados pelos comandantes-chefes, dentro dos quadros orgânicos e dos efectivos autorizados, nos postos para que tenham revelado especial aptidão, os militares ou elementos das milícias designados para fazerem parte de unidades que venham a ser constituídas nas Províncias Ultramarinas onde existam operações militares ou de polícia.

11

Partem para Angola BCaç 2910 e o BCav 2009.

14

- Costa Gomes, comandante-chefe de Angola.

- O ministro da Educação Nacional divulga que por despacho desta data são mandados arquivar os processos disciplinares pendentes sobre estudantes da Universidade de Coimbra. Com efeito, o Presidente da República amnistiou o processo criminal pendente por ofensas à sua função.

- Por outro lado, o ministro da Educação Nacional decidiu no sentido de ser permitido aos estudantes universitários concluírem os seus cursos dentro do prazo legal, nos casos em que tenham sido chamados a frequentar o curso de oficiais milicianos, na sequência dos acontecimentos de 1969, em Coimbra.

16

Morrem em combate na Guiné 2 militares da CCaç 2531.

17

Morre em combate em Angola 1 militar da CCaç 2434.

18

Morrem em combate na Guiné 2 militares da CCaç 2615.

20

- Morrem numa emboscada os majores Passos Ramos, Pereira da Silva e Magalhães Osório e o alferes Joaquim Mosca, na zona de Teixeira Pinto, na Guiné, durante uma acção de contacto com elementos do PAIGC. Os corpos foram encontrados, abatidos com um tiro na nuca, retalhados e decapitados.

22

Os deputados Francisco Sá Carneiro e Pinto Balsemão apresentam na AN um projecto de Lei de Imprensa, onde se prevê o fim da Censura prévia e a criação de uma comissão adjunta ao Ministério da Defesa Nacional para apreciação das “notícias de carácter militar”, enquanto houver guerra em Africa.

24

Parte para a Guiné o BCaç 2912.

25

Partem para Moçambique os BCaç 2913 e 2914.

27

- Marcelo Caetano concede uma entrevista ao Times, onde declara que a política de sanções da Grã-Bretanha à Rodésia já causou enormes prejuízos à economia de Moçambique, além de abordar a situação militar nos territórios africanos sob administração portuguesa.

- Partem para Angola o BCaç 2911 e o BArt 2916.

29

Morte em acidente na Guiné de 2 alferes do QG/CTIG.

30

- Em nota oficiosa publicada nos jornais, intitulada “A propósito das actividades contra a defesa dos territórios do Ultramar”, a DGS acusa Mário Soares de cometer os seguintes crimes: “tentativa de separação de parcelas do território português da mãe pátria” e “divulgação de falsas notícias susceptíveis de pôr em causa o bom nome de Portugal no estrangeiro”.

- O Conselho da Europa realiza um debate, em Estrasburgo, sobre as violações dos Direitos do Homem em Portugal, tendo Mário Soares participado na discussão, com uma declaração.

- A OIT condena o Governo português pela violação dos direitos sindicais em Portugal, ao aprovar o relatório apresentado pelo Comité de Liberdade Sindical.

- É promovida, em Londres, uma campanha internacional para a realização de um inquérito em Portugal sobre o assassinato de Humberto Delgado, em que participam personalidades dos meios jurídicos e políticos britânicos.

- O deputado Sá Carneiro propõe, na AN, a revisão da Concordata com a Santa Sé e subscreve uma moção de apoio a um aviso prévio do deputado MilIer Guerra sobre a Universidade.

- Durante este mês as baixas nas forças portuguesas totalizaram 46 mortos. Em acções de combate morreram 14 militares.

 

MAIO

?

- Reorganização territorial do Exército em Portugal e nas colónias.
- Em Moçambique, e desde 1964, foram detectadas pelas forças portuguesas 5 290 minas e engenhos explosivos, dos quais 1 894 accionados por militares ou viaturas.
- Em Angola, o general Costa Gomes assume o cargo de comandante-chefe das Forças Armadas.
- A Mocidade Portuguesa organiza um seminário para estudar a estratégia e a táctica dos movimentos emancipalistas.

1

- Manifestações que assinalam o 1° de Maio são reprimidas pela polícia, sendo efectuadas algumas detenções. O padre Felicidade Alves é preso pela DGS durante cerca de 3 semanas, fazendo-se sentir pressões de meios eclesiásticos para a sua libertação.

5

Morre em combate na Guiné 1 militar da CCaç 2699.

6

Morre em combate em Angola um 2º sargento do Exército.

7

Morrem em combate em Moçambique 2 furriéis da CCaç 2663 e da CArt 2446.

8

Morrem em combate em Angola 2 militares da CCaç 2597 e da CCaç 2678.

10

- Morre em combate em Moçambique 1 militar da CArt 2646.

- Nomeação de Samora Machel e Marcelino dos Santos para presidente e vice-presidente da FRELIMO.

13

Morre em combate em Angola 1 militar da CCaç 2603.

15

Morrem em combate em Moçambique 3 militares do BArt 2897.

16

Morrem em combate na Guiné 5 militares da CCaç 2658. Um alferes e quatro praças.

17

Parte para a Guiné o BArt 2917.

18

- Morrem em combate em Angola 6 militares da CCaç 2501 e 1 alferes da 22ª CCmds.

- Morre em combate em Moçambique 1 militar da CArt 2627.

20

Partem para Moçambique o BCaç 2915 e o BArt 2918.

21

Morrem em combate em Angola 2 militares da CArt 2672.

22

O Presidente do Conselho visita oficialmente Espanha. São assinados um Acordo Cultural e uma Convenção Geral sobre Cooperação Científica e Tecnológica entre os dois países.

23

- Morre em combate em Angola 1 militar da CCaç 2568.

- Ataque do PAIGC ao navio Alvor no rio Cacheu, com lança-granadas-foguete.

25

- Um dos primeiros signatários do documento que pretende a aprovação dos estatutos da SEDES é recebido pelo ministro do Interior, a propósito da autorização para a constituição da Associação.

- Em Coimbra a polícia reprime manifestações de estudantes.

- Começa a publicar-se Portugal Informação, jornal da FPLN.

- Francisco Martins Rodrigues, João Pulido Valente e Rui d’Espinay são julgados e condenados a pesadas penas de prisão por “actividades subversivas”.

- Morrem em combate em Moçambique 3 militares da CCaç 2451.

26

- Morrem em combate em Moçambique 2 militares. Um da CArt 2627 e um da CCaç 2741.

- Paulo VI recebe Rui Patrício em audiência.

27

Morrem em combate em Moçambique 2 militares. Um da CCaç 2451 e um da 1ª/BCaç 17.

28

Morrem em combate em Angola 5 militares. Um furriel e um soldado da CCaç 2644 e dois soldados do PelMort 2165.

29

O secretário de Estado americano, William Rodgers, visita Lisboa.

31

- Em finais do mês, na Guiné, uma coluna de Nhamate para Binar com 8 soldados à frente a picar a estrada levam atrás o grupo de segurança que se deixam atrasar. Guerrilheiros emboscados junto à estrada enfrentam os picadores que, surpreendidos, levantam os braços em sinal de rendição, gesto inútil, porque foram mortos à queima-roupa. Uma Panhard da escolta à coluna aproxima-se da frente, mas a guerrilha já tinha desaparecido no mato. Na retirada, um dos guerrilheiros dá pela perda da arma, volta atrás para a recuperar e é visto pela auto-metralhadora que o abate com uma rajada. Dentro do saco do guerrilheiro encontraram um par de binóculos para visão nocturna.

- Durante este mês as baixas nas forças portuguesas totalizaram 69 mortos. Em acções de combate morreram 39 militares.

 

JUNHO

?

- Atraca em Ponta Negra, no Congo-Brazzaville, o navio Aoba San Maru, precedente da Argélia e que transporta munições destinadas ao MPLA.

1

- Acção da FNLA na zona de Totó contra uma viatura civil, que marca o reinício da sua actividade na zona, depois de ano e meio sem incidentes.

- Morre em combate em Moçambique 1 militar da CCaç 2622.

3

- Emboscada da FRELIMO a uma coluna da CArt 2387, no itinerário Lione-Vila Cabral, Niassa, causa 3 mortos e 4 feridos entre os militares.

- Morrem em combate em Angola 2 militares da CCaç 2613.

7

Richard Nixon e Marcello Caetano anunciam que vão passar a efectuar «consultas periódicas entre os dois governos».

8

Parte para Moçambique a 34ª CCmds.

9

- Morrem em combate em Moçambique 3 militares do BCaç 15.

- Morrem em combate na Guiné 3 militares da CCaç 2614.

10

Américo Tomás preside a uma reunião extraordinária do Conselho de Ministros alargada às chefias militares.

12

- Morrem em combate em Moçambique 2 militares. Um da CCaç 2705 e um da CCaç 2622.

- Morrem em combate em Angola 2 militares da CCaç 2723.

- Morre em combate na Guiné 1 militar da CArt 2440.

13

Morrem em combate em Moçambique 6 militares. Quatro são da CCaç 2665 e dois do BArt 2901.

15

- Morre em combate em Angola 1 militar da CArt 2397.

- Morrem em combate em Moçambique 2 militares. Um da CCaç Vila Cabral e um do BCaç 15.

- Publicação, pela revista alemã Der Spiegel, de fotografias sobre atrocidades cometidas em Moçambique pelas tropas portuguesas.

16

- Morrem em combate em Moçambique 3 militares. Um furriel da CCav 2722 e dois soldados da CCaç 2665 e da CArt 2497.

- Morrem em combate na Guiné 3 militares pára-quedistas do BCP 12.

- Devido a acidente morre em Moçambique o capitão Carlos Noronha Leote do BCaç 18.

18

- Morre em combate na Guiné um furriel da CCmds Afric.

- Morre em combate em Angola 1 militar da CArt 2711.

19

São presos, em Lisboa, vários activistas cristãos por assumirem posições contra a guerra.

20

- Morrem em combate na Guiné 3 militares. Dois são da CCaç 2527 e um do BCP 12.

- Morrem em combate em Angola 4 militares. Dois são da CCaç 2461 e dois da CArt 2645.

- Morrem em combate em Moçambique 3 militares. Dois são da CCaç 2423 e um do BCaç18.

21

Morre em combate na Guiné 1 militar da 26ª CCmds.

22

O livro Quatro Semanas em Outubro, de Alberto Ferreira, é proibido de circular por «alusões tendenciosas à Censura, guerra do Ultramar, etc.».

23

- O Director da Cadeia do Forte de Peniche manda afixar a seguinte determinação: «Em virtude de se estar a verificar que o tempo médio de demora por consulta a cada doente excede o que é normal, determino que a partir de hoje o tempo de consulta para cada doente não pode ultrapassar o tempo de 10 (dez) minutos. O guarda de serviço velará pelo exacto cumprimento desta determinação.»

- Morre em combate na Guiné 1 militar da CCaç 2584.

- Morrem em combate em Moçambique 2 militares da 23ª CCmds e CCaç 2623.

- Devido a doença morre em Angola o capitão-de-mar-e-guerra Guilhermino Vila Real.

25

Morre em combate em Angola 1 militar pára-quedista do BCP 21.

26

- Morrem em combate em Moçambique 2 militares da 2ª/BCaç 20 e da CArt 2647.

- Morrem em combate na Guiné 2 militares. Um furriel pára-quedista e um soldado comando.

- Conferência internacional de solidariedade para com os povos das colónias portuguesas, em Roma.

27

- Parte para a Guiné a 38ª CCmds.

- Morrem em combate em Moçambique 2 militares da 1ª CEng e da CArt 2631.

30

Durante este mês as baixas nas forças portuguesas totalizaram 91 mortos. Em acções de combate morreram 57 militares.

publicado por estrolabio às 18:00

editado por Carlos Loures em 28/01/2011 às 21:07
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O milagre que tardava a vir – por Adão Cruz


 

 

De um grande amigo meu, a quem enviei um texto de Mark Twain, recebi este mail:

 

 

A propósito do Criador, das doenças  e da ciência: circula nos meios noticiosos que vai ser beatificado (ou santificado? pouco importa) João Paulo II, com base na cura de uma freira que, com a "cunha" do papa, conseguiu d'Ele a cura da doença de Parkinson  (ou alzheimer - era a mesma doença de que padecia o papa).

 

É nestas alturas que dá sempre jeito termos por perto os homens da ciência,  para ajudarem a refletir os "rescapé" da Arca. A criatura tinha a doença devidamente diagnosticada. Será que os especialistas confundiram uma daquelas doenças arrasadoras com uma benigna doença nervosa, que qualquer abanão psicológico pode, numa noite, fazer desaparecer sem deixar rasto? Tratando-se doença séria, comprovada pela ciência (ou  também não  devemos dar grande crédito aos especialistas?), como de explica que a senhora nos apareça agora sem qualquer rasto da terrível doença? Tudo manipulado? Não será demasiada gente (aparentemente séria) a ser manipulada? A alguns dá para reflectir; a outros para rir. Certo é que o Criador deu uma cabeça a todos. Como cada um a usa, é isso mesmo, depende de cada um.

 

Eu respondi:

 

A mim dá-me para rir, obviamente! A medicina não é propriamente matemática, e tem coisas, por vezes, difíceis de explicar, não obrigando, contudo, a explicações anedóticas, sem ofensa para quem as aceita, que fazem rir.

 

Claro que o mais provável é que não fosse Doença de Parkinson, propriamente dita, comprovada, com substrato estrutural indiscutível, a qual é uma doença degenerativa, muito dificilmente reversível. Cada caso é um caso particular, como aliás acontece com todas as doenças. Por isso se diz que não há doenças, há doentes.

 

Mas a sintomatologia parkinsónica pode ser causada e mimetizada por outras doenças, nomeadamente por toxinas, doenças metabólicas ou outras condições neurológicas, as quais, se desaparecerem fazem desaparecer o parkinsonismo. Além disso, há parkinsonismos atípicos, que podem resultar de iatrogenia, isto é, de efeitos colaterais de medicamentos, por exemplo neurolépticos e antipsicóticos, como as fenotiazinas, os tioxantenos, as butirofenonas, as piperazinas e os próprios antidepressivos, não falando dos efeitos, ainda que muitas vezes não descritos, de outras drogas. Desaparecendo a causa desaparece a doença, e pode acontecer da noite para o dia. Há parkinsonismos, como há muitas outras doenças, a que chamamos idiopáticas, isto é, não têm uma causa aparente nem detectável pelos métodos disponíveis.

 

Daí a pôr João Paulo II como curandeiro, vai uma distância intransponível para milhões de cabeças. E muito mais intransponível se os méritos curadores advierem de uma santidade que faz rir muitos mais milhões de cabeças que conhecem bem os meandros dos crimes do vaticano e não só, em que a sua conivência, colaboração e aval, estão mais próximos do reino do pecado do que da esfera da santidade. Valha-nos deus!

 

 

publicado por João Machado às 16:00
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Mis Camelias – 14 – por Raúl Iturra

(Continuação)

 

MEMÓRIAS DE PADRES INTERESADOS - ENSAIO DE ETNOPSICOLOGIA DE LA INFANCIA

 

Bien, el desgarro del texto ha sido grande. Aún no he llegado al relato final de la meningitis de Eugenia. O, talvez, quiera evitarlo. Me siento... culpable...  El trabajo era mío y quién estaba a pagar por la investigación, era nuestra hija mayor, porque Gloria ya estaba habituada a nuestra forma de vida en la aldea y no quería irse de vuelta al Reino Unido, en  el día en que debíamos partir. Es evidente que la enfermedad de Eugenia atrasó la partida. Pero no causó alegría en ninguno de nosotros el hecho de demorarla, por causa del motivo de la tardanza. Aún más, debíamos partir porque, como he narrado en otro libro mío, tenía un  pasaporte temporal, de corta duración, dado por el ciudadano Español, Cónsul de Chile en el Puerto de Vigo, por simpatía para nosotros, perseguidos como estábamos en todo el mundo, por la Dictadura de Chile. El Cónsul que había sido Republicano en sus tiempos, otorgó una visa de dos meses, en Noviembre de 1975, que expiraba a finales de Enero de 1976. Y la enfermedad de Eugenia fue en Noviembre.

 

Nos sentíamos acosados por todos los sitios. Cuando reparé en la enfermedad de Eugenia, fui de inmediato a nuestro pedíatra de Lalín, quien nos dijo que no debía ser nada. Yo insistí mucho, relaté con el mismo fervor que había hablado en el Hospital de Edimburgo sobre el envenenamiento alimentar de Eugenia, pero un tuve éxito, el médico ya estaba habituado que por todo o por nada, estábamos en su consultorio. Me dijo que me fuera a casa o llevara a la niña, a las dos, porque si era lo que yo decía que parecía ser, una meningitis, había peligro de contagio para nuestra hija más pequeña. Repliqué de inmediato que por causa del frío, no las podía llevar a la calle, él, irónico, dijo que si era como yo decía, mucha fiebre, la nieve haría bajar la temperatura. Como no tenía alternativa e era un Viernes y los médicos no trabajan durante el fin de semana, me sentí desesperado y las fui a buscar. El médico las revisó, dio su diagnóstico y decidió, en su médica sabiduría,  que la niña tenía solo un catarro con otitis. Nada contento, volví con ellas a nuestra casa de la aldea. Esa noche fue en vela. Eugenia paseaba sonámbula por la casa, con nosotros sin saber qué hacer. Después, comenzó a dormir y tenía el cuello tieso. De madrugada, ese Sábado que nunca olvidaré, fui a correr al médico, ya estaba a preparar todo para volver a su casa de Compostela, pero al oír mi relato, dijo: "Bueno amigo, yo lo llevo, su casa, me queda en el camino a Santiago". No abrí la boca para que no se fuera a arrepentir. En vista de mi silencio, él fue cantando y yo, muy herido con todo, ni lo miraba. Bajamos en casa, entró, mal vio a la niña en la cama, la auscultó y dijo: "Joder, Ud. tenía toda la razón, parece ser meningitis, el problema es saber el tipo, si es de bacteria o de virus y sólo será posible saber si vamos a la Clínica y es allí analizada.

 

 Hay dos tipos, la que mata y la que lesiona, es decir, de batería o de vírus". Yo tenía todo, excepto dinero. Pero nuestra hija, como hace cantare Mozart en su Ópera Cosi fan tutte[81] que las personas amadas por nosotros, valen un Perú, es decir, una referencia a la estimada riqueza de oro de la hoy República del Perú. No pensé ni un minuto, pregunté cuál era la mejor Clínica de Compostela. Era, por supuesto, La Rosaleda, la mejor y la más cara. Pero los padres no nos fijamos en gastos en estos casos, por la que a La Rosaleda, nos dirigimos de inmediato. Para no quedar solos, llamamos a nuestros amigos Xosé Manuel Beiras y, en ese tiempo, su mujer, Teresa García Sabell. Corrieron a la clínica. Xosé Manuel decía: "Es que no es posible, no puede ser. La meningitis es endémica en Galicia y justo tenía que acontecer a la familia más sacrificada, mas entregada a la investigación de campo, eso que nosotros nunca hemos podido hacer", y, con desesperación, se paseaba por los corredores en cuanto la niña era examinada, agarrando la cabeza con dos manos. De padre sufriente y acongojado, tuve que pasar a ser amigo que apoyaba, marido que apoyaba, paciente que apoyaba a un médico arrepentido por no haberme creído a tiempo, por haber desconfiado de nosotros.

 

Ese apoyo me salvara de perder la cabeza y de entregarme, yo mismo, a la desesperación, porque, desesperado, eso estaba yo. Sabía también que un padre que pierde la cabeza nada puede hacer, ni salvar a su hija, que era lo que pretendíamos. La meningitis había sido adquirida por Eugenia en sus costumbres de jugar con sus amigas entre las vacas de los establos, o cortes, como se dice en luso galaico, y que los gallegos republicanos y contra Franco, aún vivo y dictador, hacían bromas: "Las cortes de Franco tienen...vacas y están llena de bostas". Tenía la esperanza de que fuera una meningitis bacteriana e no viral. La bacteriana es curable, la viral deja secuelas o mata.[82]. ¡Nunca en nuestra vida habíamos estado pendientes del color,excepto en el batic´ de Gloria, como esta vez, de una enfermedad! Si el líquido raquídeo era negro, entonces era viral y mata; si el líquido fuera blanco, era de bacteria, posible de curar de inmediato. Cuando Angel Pensado el médico salió del quirófano, donde estaba Eugenia, ese sitio que, en la infame práctica de los médicos no nos dejan entrar para estar con las personas que más amamos, dijo por suerte el líquido es de color blanco...  Como en el nacimiento de Eugenia, que no me fue permitido entrar al quirófano de dar a luz, como he referido en otros libros míos. Cuando Ángel salió, decía, venía aliviado: el líquido era blanco, era bacteria que, con penicilina sódica, podía ser curada. ¡Bueno, bueno, bueno! La niña estaba a ser salvada. Como es posible imaginar, no abandoné ni un momento a nuestra hija. Nuestra suerte era que mi hermana Blanquita, mi cuñado Miguel y la hija de ellos, Alejandra, de tres meses, estaban en nuestra casa de la aldea, para cuidar a nuestra Camila, que no podía entender en sus cortos año y medio de edad, lo que pasaba en casa, por qué los papás no estaban, especialmente su Daddy, o así lo quiero recordar yo y así quiero pensarlo. Gloria dormía en casa de los Beira, ese nuestro hogar en Compostela, y yo, en el Hospital. Cuando Eugenia estaba mejor, fui de inmediato a Vilatuxe para traer a la más nueva, Camila...  quién... no quería ir. ¡Ella adoraba estar con sus recién conocidos tíos! Tuve que dejarla en su santa libertad, lo que era menos un peso para nosotros.  No sabía lo famosos que éramos, pero, como siempre se dice, los amigos se conocen en la cárcel y en las deudas, agrego, y también en la enfermedad. Fue lo que pasó con nosotros, era un desfile de gallegos de Compostela y de Vilatuxe, para saber como estaban Eugenia y sus papás. Hasta dinero nos querían ofrecer... Especialmente nuestra amiga monja, Carmen Cervera, esa monja madrileña que, como relato en otro libro mío, me dijo que había dejado su Convento sin monjas, porque había hablado allí sobre nuestro internacional movimiento de Cristianos para el Socialismo. Agradecí el dinero, pero no lo acepté, antes pedí que, como era una persona creyente y de fe, que fuera a orar por nuestra hija, por causa de las posibles secuelas de la enfermedad[83]

.

Eran las consecuencias lo que más temíamos. Un problema es curar la enfermedad, el otro, lo que pueda suceder después. Esa era nuestra mayor preocupación. En esos días, lo más importante era mejorar a nuestra hija y no pensábamos mucho en el futuro. Más bien, no había tiempo para pensar: con una hija siempre a dormir, tres días sin conciencia, a tentar adivinar lo que decía, oír sus pesadillas, sus gritos día y noche, o por causa de la fiebre, o por causa de los dolores que causa la inflamación de las meninges, ese delicado tejido que envuelve el cerebro y la médula espinal. El problema nuestro era si hubiese o no consecuencias poco simpáticas. Los mayores problemas que causan una enfermedad, no son sólo las consecuencias directas de la enfermedad, pero sí los bien intencionados comentarios que acaban por meter miedo a quien tiene un brote de pasión, con esa dolencia. Los comentarios y los sentimientos de alerta ofrecidos gratuitamente por personas amigas, son, normalmente, la peor parte social de toda enfermedad. Nunca faltan las personas comedidas que nos dan consejos y no saben callar su boca. Desde que he sido padre de hijas que han tenido enfermedades causadas por virus o bacterias, he aprendido a visitar sin preguntar nada y esperar que las personas acongojadas hablen primero y, nosotros, callar lo más posible, hasta el punto de la descortesía. Quién tiene un vástago con una enfermedad grave, lo que menos desea oír son consejos de cómo tratar a la persona doliente. Para eso existen médicos. Nosotros, en La Rosaleda, teníamos los mejores. Pero en la aldea, mal aparecí yo, fui abordado por los vecinos que, prácticamente, me daban palabras de pésame, como si nuestra hija hubiera muerto. Por ser enfermedad endémica de la población, era, la famosa meningitis, una enfermedad social. Las personas tienen miedo de estar con nosotros, piensan que estamos contagiados y podemos transmitir la enfermedad.

 

Fue en esos días que aprendí que toda enfermedad puede tener dos aspectos: el biológico, y el social. El primero, es tratado por otros en el lugar que corresponde, en el hospital, sea la Clínica Miraflores en Viña del Mar, Chile, el ya referido de Edimburgo, en La Rosaleda en Compostela, Galicia, o Adenbrooks, en Cambridge, Reino Unido. Las personas saben, las personas pretenden saber los secretos de la de las dolencias. Nunca me olvido como Elida de Varela, llamada la bruja, vino a recitar plegarias e sahumerios cuando Eugenia estaba aún en casa, sin hablar y con mucha fiebre. Tenía toda la fe que recitar un Padrenuestro de atrás para adelante, o al revés, curaba no solo a las personas bien como a los animales. Cuando nuestro amigo y vecino Eduardo Fernández y Encarnación Ramos, su mujer, estaban a perder una causa de parto, la última persona a la que recurrieron, fue al veterinario, normalmente gratis, quien pagaba era la Empresa Nestlé, para quien ellos trabajaban en sus tierras y con sus vacas. Si para nosotros la enfermedad de Eugenia era un problema afectivo, Para Eduardo y Encarnación una vaca a morir era un problema de sobre vivencia: menos una vaca, y no podían vender todos los días los litros necesarios para mantener su trabajo en marcha, más una vaca, y no la podían mantener. Tenían lo que he llamado lo justo para su sobre vivencia como labradores Los "bichitos", como mi amigo Eduardo los llamaba, "los bichitos, Don Raúl, necesitan comidas especiales y sin esa comida, no dan leche.

 

¡Los bichitos son caros, Don Raúl... ! "[84]. Fue por eso que mandó llamar a Elida, él era católico romano y se ufanaba de serlo, pero tenía las formas de ser de lo que denomino en otros textos míos, ya citados en éste, la mente cultural. Elida trató con el Padrenuestro al contrario, y como la vaca no paría, al día siguiente estábamos ahí todos otra vez para rezar las letanías de San Antonio. Porque la falta de esa vaca causaba un problema financiero para ellos. Y del problema financiero, pasaba al problema emocional. Eduardo y Encarnación amaban a sus vacas, vivían de ellas, pero también vivían para ellas. Las sacaban a pastar en el fresco de la tarde, para limpiar las cortes de las vacas. Este trabajo de producir leche, les tomaba todo el día y todo el año. Para nuestros vecinos de Vilatuxe, los animales y los niños eran iguales, los trataban con el mismo cariño, aunque siempre observé que era más el cariño a las dadoras de leche, que el cariño a los niños. Es natural, los niños aparecían y era una mala inversión, las vacas eran compradas con el crédito que daba la empresa que era, para decirlo así, la propietaria de hecho de los animales y de la tierra.

 

(Continuação)

publicado por Carlos Loures às 15:00
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Dia de enganos - Adão Cruz

coordenação de Augusta Clara de Matos

 

 

Eu li...este poema de Adão Cruz

 

  

 

 

(ilustração de Adão Cruz)

 

Adão Cruz  Dia de enganos

 

Uma gaivota beijando a espuma branca das águas fundas em bailado grandi mestri culminando as chaminés do cabo do mundo.

 

O barco ao longe só estático no horizonte como eu aqui de olhos fitos nas rochas.

 

Gaivotas bailando Rossini mascagni massenet sem ponte nem horizonte verdi wagner bizet sobre a espuma da tarde sem dia do dia sem ponte sem horizonte para lá das rochas negras e nuas.

 

Marcia trionfale dunas de espuma branca abraçando as rochas do meu deserto tão perto do mar imenso tocando as nuvens por dentro de mim.

 

Alguém me leva nas asas da gaivota por dentro de mim em doce intermezo de rios de sol e mar sem fim.

 

Alguém me passeia por dentro de ti cavalcate delle valchirie a vertigem avança em turbilhão até planar bailando sobre o coração cravado no sol poente vermelho e quente do sangue que verti.

 

Bruscamente o prelúdio voando dentro de mim a alma que resta em meditazioni pelo espaço imenso tocando aqui e ali as penas das asas que perdi.

 

Vesti la giuba viajante da barcarola com ar triunfante va pensiero seguro de quem se apoia nas pedras nuas da orla do mar esquecendo o mar que navega infinito mistério.

publicado por Augusta Clara às 14:00
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Ensino - quanto custa um aluno na escola estatal?

Luis Moreira

 

O movimento de pais SOS vai avançar com uma "acção pública" a entregar na Assembleia da República para que o ME informe o país do custo efectivo por aluno na escola estatal.

 

"O SOS - Movimento Educação pondera avançar com uma acção popular contra o Ministério da Educação (ME) para que este apresente um estudo sobre os custos reais de um aluno na escola pública. A acção popular pode ser feita por um conjunto de cidadãos que, angariando assinaturas suficientes, podem obrigar a que a mesma seja apreciada no Parlamento. "

 

O primeiro número que apareceu pela mão do secretário - geral da Associação das Escolas Privadas dava o custo por aluno da escola privada mais baixo que o aluno da escola estatal em cerca de 1 000 euros/ano. Apareceram outras leituras dos números que, ao contrário, dão o custo por aluno na escola privada mais elevado ( veja-se o texto no estrolabio de Rui Oliveira). Há mesmo quem, simplesmente, divida o custo total do ME inscrito no Orçamento do Estado, pelo número de alunos das escolas estatais e chegue a um custo mais alto que o custo por aluno da privada. Não sei se o metodo é aceitável, mas é uma conta que se pode fazer.

 

Quanto ao custo por aluno na escola privada é fácil de fazer, basta ler os contratos entre o ME e as escolas e não há discussão possível, é aquele e mais nenhum a não ser que o estado, nas costas do orçamento, desvie umas verbas "a pedido", o que é frequente como sabemos.

 

É, tempo, de o ME dar as informações necessárias para que os cidadãos possam saber de fonte fidedigna se sim ou não há diferenças significativas e, a par dos rankings das escolas, todos podermos falar mais correctamente informados . É , inaceitável, que o ME ainda não tenha apresentado, preto no branco, quanto custa um aluno, para lá das profissões de fé que vem efectuando .

 

O custo ( 3 752 euros/aluno) por aluno apresentado pelo Secretário de Estado na discussão do Orçamento incorpora todos os custos ? Estão lá os custos da manutençao física das escolas? Por trás do movimento dos pais estão os directores das escolas que ganham mais de 5 000 euros/ mês? As escolas privadas dizem que com o custo / aluno indicado pelo ME não têm possibilidade de se manterem operacionais e que o custo real é bastante mais elevado. Não se pode discutir sem informação completa e credível a que todos temos direito. Hoje, no "Prós & Contras", vamos ter de um lado a Ministra e do outro quem contesta esta política, talvez se descubra onde está a verdade, ou se estamos só perante opções políticas e ideológicas.

 

Note-se que o custo que o Secretário -Geral das escolas privadas apresenta, quer o custo apresentado pelo nosso companheiro  Rui Oliveira, são retirados de um estudo da OCDE,  que será o mesmo ao que presumo. Por sua vez o custo apresentado pelo ME não é igual a nenhum dos dois.

 

Podem ler o artigo e os comentários no Público.

publicado por Luis Moreira às 13:00
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O 31 de Janeiro foi há 120 anos – por Carlos Loures

 

O levantamento militar de 31 de Janeiro de 1891, no Porto, foi a primeira tentativa de derrube do regime monárquico pela força. Desde 1880, quando das comemorações do tricentenário de Camões, que, em crescendo, o ideal republicano e a capacidade de organização dos seus militantes, inclusive no seio das Forças Armadas, fazia prever uma rebelião.

 

 

A cedência do Governo e do rei perante o ultimato britânico de 1890 (a questão do Mapa Cor-de-Rosa, já aqui abordada) tinha deixado um profundo travo de humilhação, nomeadamente entre os militares. O directório do Partido Republicano Português, liderado nessa altura por Elias Garcia, mostrara-se favorável à preparação de um movimento insurreccional.

 

 

Porém, com alguma precipitação, sem deixar que os preparativos se consumassem, a classe de sargentos pressionou os responsáveis locais e a revolta eclodiu. Haviam chegado ao Porto ordens de transferência que afectavam alguns oficiais e, sobretudo sargentos, o que levou a um descontentamento quase generalizado.

 

 

O capitão António Amaral Leitão, foi o líder deste levantamento; outras personalidade, tais como Sampaio Bruno, João Chagas, Basílio Teles, Aurélio Pais dos Reis e o alferes Rodolfo Malheiro, estiveram também ligadas ao movimento.

 

 

Em síntese, as coisas passaram-se assim: cerca das três e meia da madrugada do dis 31, o Batalhão de Caçadores 9, comandado apenas por subalternos,  posicionou-se junto do Regimento de Infantaria 18, no Campo de Santo Ovídio (actual Praça da República). De notar que tendo aderido à revolta, o coronel Meneses de Lencastre, comandante de Infantaria 18, não permitiu que os efectivos saíssem, mantendo-se neutral. O alferes Rodolfo Malheiro, assumiu o comando.

 

 

Nas proximidades da Cadeia da Relação, colocou-se o Regimento de Infantaria 10 e uma companhia da Guarda Fiscal, comandados pelo tenente Coelho. Às seis horas, os cerca de 800 amotinados desceram a Rua do Almada e tomaram posições na actual Praça da Liberdade, que na altura se chamava de D. Pedro IV, em frente do antigo edifício da Câmara Municipal. O Dr. Alves Veiga, responsável civil do movimento, proclamou a República em nome do Governo Provisório, lendo os nomes que o compunham, e hasteou, às sete da manhã, uma bandeira verde-rubra do centro Democrático Federal 15 de Novembro do PRP.  Houve foguetes e a fanfarra militar tocava  A Portuguesa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

publicado por Carlos Loures às 12:00
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Se levarem Vénus... - por Ethel Feldman

Mais um capítulo só para Clara distrair-se. Revejo textos antigos. O do diospiro encaixa no meu livro.
Clara chega sempre sorridente. Fala baixo. Ouve só o que quer.
- Então Ana?
Feliz, digo que escrevi, escrevi, escrevi, escrevi! Na estante todos meus desabafos (alguém conhecido assim condenou a minha escrita). Orgulhosa mostro quase 20 páginas A4.

 


Enquanto acomoda-se no sofá, faço um chá - Flores da Paixão – chá verde com rosas.
Clara avisou-me que ia apontar todos os erros. Aceito como um exercício de humildade.
- Ana, falta a ligação... Não estás a escrever só para ti. Nada é tão óbvio.
- hm
- E depois os diospiros não se descascam!
- Nunca os comi, apenas imaginei.
- Mas está errado amiga. O diospiro abre-se. Chupa-se.
- Deixa-me descacar a fruta Clara. Deixa-me dar dentadas na laranja.
- Eu deixo. Mas está mal. Olha, não te vou largar. Vou ser uma chata. Só vais alterar se achares bem. Mas não te vou poupar.
Hoje, David enviou-me uma mensagem a dizer que eu comesse o fruto como bem quisesse. Quando menos espero apetece-me morder um ananás com casca. Ferir os lábios, sangrar. No meio da dor o suco da fruta a fazer-me feliz.

 
- Quero mostrar-te a carta que escrevi a Cleo quando Gabriel saiu de casa. Quero expulsar a dor que resta. Importas-te?
- Claro que não.
Ontem, disseram-me que uma energia intrusa tomou conta da mim. Baco, Vénus, Sansão e Dalila moram comigo. Se os expulsar o que vai restar de mim?
Estou tão cansada desta convivência! Por isso, não resisto. Que venha à superfície o que sou.
Como sempre, sigo o meu impulso. Meu Deus que procuro eu? Mostrar que valho a pena? Esta modéstia mentirosa. Vou tirando o disfarce. Dalila não me cortes o cabelo!
A febre volta a tomar conta de mim. Deliro. Quero embebedar-me. Esquecer. Tirar a roupa, perder-me de desejo.
Se me levarem Vénus como vou existir?
- Ana. Acorda linda. Vai correr tudo bem. Contenta-te com o que tens.
Água salgada que limpa o meu rosto. Lágrimas uma seguir as outras. Na garganta um nó! Mãe aparece, dá-me o teu colo que eu hoje sou criança de novo.  Faz de conta que me deixo engolir pela onda e tu dizes que sim. Não me puxes para norte mãe, eu quero o sul.
Olha meu corpo cheio de nódoas. Esta é a cor da dor mãe – roxa. Tem um som fundo, quase silencioso. Vem do estômago este grito que ninguém ouve.

o que corrigir nesse texto.

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publicado por Carlos Loures às 11:00
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Arran de la lectura d'un poema de Carlos Loures: Ibèria en la mirada i evocació de Salvador Espriu

Aquest espai, dedicat a tots els amics d'Estrolabio i, de manera molt especial, als que segueixen el nostre bloc des de les terres de parla catalana. Aquí parlarem de cultura lusòfona i de cultura catalana, i de les qüestions i els problemes que ens afecten als uns i als altres.

 

Recordo, dels temps d'infant, una extravagant lliçó de geografia d'Europa, en què un amic de la família –no pas un mestre– mostrant-me el mapa del continent girat de manera que l'extrem occidental quedés al capdamunt, m'hi feia veure una figura humana vestida amb faldilles amples o una llarga túnica que s'obria en ventall als seus peus.


-És una reina –em deia–. Fixa't en el vestit, com s'eixampla...


I m'assenyalava la hipotètica cintura de la figura entre l'extrem més interior del mar Adriàtic i la península de Jutlàndia, des d'on resseguia el perfil amb el dit fins a l'eixamplament de la Gran Plana Europea, per les costes fredes de l'Àrtic, baixava per la serralada dels Urals, fins al mar d'Azov, i des d'aquí fins a Grècia. Després, resseguia el litoral mediterrani fins a la península Itàlica.


-Mira –em deia–, porta el braç aixecat i a la mà... Saps què hi porta, a la mà?...


I esperava la meva resposta, mentre jo me'l mirava embadalit i encara desconcertat, intentant de compondre aquella figura que m'assenyalava i que apareixia als meus ulls cada vegada més nítida.


-No... –responia jo, mirant-me l'illa de Sicília, que em semblava realment enganxada a l'extrem del que fins aleshores havia estat per a mi no pas un braç, sinó una bota.


-Porta un ceptre... I saps per què? –I, sense esperar la meva resposta, hi afegia:- Perquè és una reina. Mira...


I n'assenyalava aleshores el bust, certament estrafet, entre el golf de Gènova i el golf del Lleó. Però la migradesa d'aquell bust monàrquic ja no era obstacle per a la meva fantasia, que havia entrat plenament en el joc imaginatiu que em proposaven.


-Això és el cap –em deia–. Mira la barbeta –i assenyalava el tros de costa des del cap de la Nau fins al cap de Palos–, la boca –el cap de Gata, a Almeria–, el nas –Gibraltar– i els ulls –el golf de Cadis.


Aleshores em va mirar, preparat per donar l'últim cop d'efecte al meu enlluernament, i va dir:


-I al cap, no veus què hi porta? –I assenyalava el rectangle de Portugal fins a l'extrem gallec de Fisterra–. Es la corona!


Mai més no em van tornar a repetir aquesta lliçó singular, però l'he recordada sovint en mirar-me el mapa d'Europa. Perquè vaig aprendre que de vegades és bo de mirar d'una manera inèdita les coses que estem habituats a veure des d'una sola perspectiva. He tornat a recordar aquesta història recentment, tot llegint "Península", un poema de l'amic Carlos Loures:


"No extremo de um cansado continente,

um rosto de mulher emerge do oceano..."


Potser Carlos Loures va tenir en la seva infantesa la experiència d'una lliçó semblant a la meva? No ho sé... Però, la seva mirada al continent, i a la anciana península que el culmina per l'occident meridional, abocada a l'Atlàntic, petonejada per l'oreig càlid del continent africà, ens retorna a la realitat, ben diferent del quasi conte de fades d'aquell meu descobriment infantil del continent europeu. Els pobles ibèrics –desfeu-vos, siusplau, de l'esquema reduccionista i mistificador dels Estats constituïts (és de pobles, que us parlo)– no han après mai a veure's com a cap coronat del continent. Potser sí que els poderosos, d'un temps o un altre, han somiat grandeses, potser sí que s'han cregut en algun moment que el món es podia partir en dos en funció dels seus interessos de domini exclusius, i potser sí que en algun moment de la seva història, els poderosos, van dir orgullosos que als seus dominis mai no es ponia el sol...


Però, els pobles ibèrics, els qui hem poblat aquestes terres antigues, assedegades, fetes de pedra i pols, excessives de muntanyes i excessives de planes, pobres d'aigua, on cada tros de terra conreat parla de lluita esforçada contra un paisatge indòmit..., els pobles ibèrics –repeteixo– no ens hem sentit mai el cap coronat del continent. Al contrari, hem alimentat el sentiment de la marginalitat. I la història ens hi ha ajudat.


Tancats i aïllats, amorrats a la terra, ancorats en el passat, i oprimits per poders absoluts, retrògrads, obscurantistes... ens hem avesat a mirar cap al nord amb una barreja d'enveja i esperança. En la història recent, oprimits pel jou del feixisme, miràvem amb un dolorós estoïcisme, llargament après, cap a les terres d'Europa... Bé, no pas de tot Europa, sinó cap al Nord i, especialment, cap al cor del continent, cap a la centralitat que ens mancava. El Nord era el progrés, la cultura, la civilitat... Era sobretot la llibertat.


Potser la mirada esperançada cap al Nord ens ha desacostumat de mirar amb amor real cap a aquest extrem del continent on vivim i, avui, quan sabem que la nostra llibertat –salvant les distàncies que calgui– és homologable a la dels altres països d'Europa, i fins i tot envejable per a bona part dels pobles europeus orientals, ens adonem que hem desaprès de conèixer-nos, d'estimar-nos, de valorar-nos nosaltres mateixos i entre nosaltres. I ignorem més del que cal allò que de nosaltres mateixos hauríem de conèixer. I fins i tot m'atreviria a dir que menystenim allò que podríem tenir en comú, allò que hauríem de compartir i d'estimar com a patrimoni comú, perquè és el que ens pot fer forts, segurs i cultes. Cal, però –com diu el poeta català Salvador Espriu en el seu Assaig de càntic en el temple –, que ens descobrim a nosaltres mateixos estimant, "amb un desesperat dolor", la nostra "pobra, bruta, trista, dissortada" pàtria.


Penso novament en aquella singular lliçó de geografia d'Europa de la meva experiència infantil i en el que em va ensenyar: Val la pena l'esforç d'obrir la nostra mirada a una perspectiva diferent o inèdita.

 


Josep A. Vidal

 

 

Península

Allà als confins remots d'un cansat continent

el rostre d'una dona sorgeix de l'oceà,

perfil d'esfinx que esguarda l'occident.

Un oreig africà li petoneja el coll

i té els cabells nevats de pedra i fam.

Serenament espera. Vull dir,

amb la serenitat que ha après durant mil·lennis,

va consumint la seva pell d'escorça, vinya i blat,

es va podrint, amb amarga tristesa, la seva carn d'ametlla,

d'oliveres, i els llavis de taronja,

i les dents minerals, i els seus ulls d'aigua i por.

Guarda un secret, guarda un secret amor,

la pregona esperança engendrada

al seu ventre de silenci i dolor.

Malgrat que mil presons li capolin el cos,

encara que el seu rostre torturat

sigui un crit dreçat a l'occident,

la lluminosa Ibéria, l'estimada,

amb la serenitat que ha après durant mil·lennis,

va consumint la vida tot plantant cara al temps.

Espera, espera sempre la llibertat.

Aquí, al capdavall del continent,

hi ha un rostre que el temps va esgarrinxant,

que adreça al Sol, tristament, un somriure

i espera.

Espera.

 
Carlos Loures ("O cárcere e o prado luminoso")
Traducció: Josep A. Vidal
 

Assaig de càntic en el temple


Oh, que cansat estic de la meva

covarda, vella, tan salvatge terra,

i com m'agradaria d'allunyar-me'n,

nord enllà,

on diuen que la gent és neta

i noble, culta, rica, lliure,

desvetllada i feliç!

Aleshores, a la congregació, els germans dirien

desaprovant: "Com l'ocell que deixa el niu,

així l'home que se'n va del seu indret",

mentre jo, ja ben lluny, em riuria

de la llei i de l'antiga saviesa

d'aquest meu àrid poble.

Però no he de seguir mai el meu somni

i em quedaré aquí fins a la mort.

Car sóc també molt covard i salvatge

i estimo a més amb un

desesperat dolor

aquesta meva pobra,

bruta, trista, dissortada pàtria.

 

Salvador Espriu ("El caminant i el mur", 1951-1953)


publicado por Josep Anton Vidal às 10:00
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Artexto - texto do Carlos Loures, quadro de Adão Cruz


Monólogo de um soldado espartano na batalha das Termópilas

 

 

 

 

 

 

Da neblina da nossa ignorância, emergem deuses. Dizem que, a cada momento, os deuses disparam setas sobre o coração dos homens. Só a última seta é fatal. Nós, frágeis, mas serenos, recebemos as setas sobre o peito. Venha a seta fatal, pois de tantos ver morrer, já vi mil vezes a minha morte. Ó deuses, entre as setas que os persas nos enviam, mandai a vossa seta fatal! Quando a última seta atingir o último homem, todos os deuses morrerão – sem homens, não há deuses. Mandai as vossas setas, filhos de puta! Suicidai-vos!

publicado por João Machado às 08:00

editado por Luis Moreira em 30/01/2011 às 22:46
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Domingo, 30 de Janeiro de 2011

ANTÓNIO BOTTO NO BRASIL – 13– por António Sales

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os Últimos Anos de Infortúnio

(continuação)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Brasil que lhe ofereceu glórias não lhe poupou desgraças. Humanamente o poeta esquece as primeiras e enreda-se na malha das segundas. Na sua psique fragilizada acumulam-se recalcamentos que alivia em apontamentos escritos sobre o país escolhido para emigrar. No diário, entre 13 de Outubro e 23 de Novembro de 1958, talvez num dos mais tristes momentos da sua vida, António Botto não poupa comentários críticos e depreciativos em impressões avulsas, na maioria telegráficas, indicando pessoas, marcas, coisas, observações da vida corrente, estabelecendo o contraponto entre a nação rica e «a miséria [que] é o pão de cada dia». A sua realidade conjugada com um envolvimento social difícil deprime a ponto de proclamar a revolta interior de forma algo violenta: «Levanta-te Rei D. João VI, e vem presenciar este novo campo de concentração para os que trabalham. Os outros, os magnates, esses arrastam correntes de ouro pelas ruas da capital desprezada, cheia de lixo e covas onde se podem enterrar os pobres» (BNL- espólio de AB – cota E 12/63).

 

 

Botto foi sempre um homem sensível à miséria social, provavelmente pela vincada memória das suas origens sobre as quais podia mentir mas não se podia furtar. Em muitos dos seus poemas e outros textos encontramos solidariedade com a dor e infelicidade alheias. Creio que foi sincero no desgosto perante o drama dos outros onde integrava também o seu. A realidade dos que labutavam no charco da ignorância e da pobreza entristecia-o, pelo que não deixou de se emocionar com o destino daqueles que viviam no limbo do sacrifício. Daqui deriva, certamente, a imagem de um Brasil «árido [onde], a hostilidade é o brazão sem nobreza deste país condenado pela política» (BNL-espólio de AB-cota E 12/163). Não obstante ser política qualquer crítica social (mesmo a sua), o lusitano poeta declarava-se «visceralmente anti-política», pois dizia: «…De resto não sou um político: sou um poeta» (Revista da Semana), o que não o impediu de escrever, provavelmente em 1954, durante o levantamento popular na Hungria, o Poema aos Estados Unidos da América sem Política Nenhuma (inédito dactilografado no espólio), de gosto duvidoso mas suficiente para concluir que o seu autor era manifestamente anti-estalinista e anti-comunista. E não serão por acaso políticas as duas cartas escritas a Salazar? Remetida a primeira, ainda em 1958, da Almirante Alexandrino, felicitas o ditador pelo aniversário que ocorrerá em 27 de Abril, informando-o que o teu maior desejo seria estar em Lisboa nessa data para poderes «apertar a sua mão comovido e feliz».Um caso de idolatria, para não dizer bajulação, a repetir-se na segunda, datada de 2 de Fevereiro de 1959, em que manifestas a tua veneração de sempre para com o ditador, «Agora que esse caso deploravelmente lamentável do sr. General Humberto Delgado deixou de andar nas notícias de jornais, todos os dias, como oposição que foi (…)». Para quem era «visceralmente anti-política» tornava-se evidente que a política não te era de todo indiferente, ou pelo menos um certo tipo de personalidades políticas, como se deduz pela desconfortável leitura das duas cartas carregadas de elogios. Estes serão, contudo, pecados menores ditados pelo exagero que punhas nas palavras e atitudes como se representasses em palco a figura de António Botto por ti próprio. Este exercício de um salazarismo servil, jamais manifestado enquanto viveste em Portugal, só encontra explicação no desejo secreto que acalentavas de regressar à pátria. Salazar nunca te respondeu. Salazar não gostava de ti.

 

O caso da tua exoneração compulsiva da função pública foi disso significativo embora o inquérito oficial tenha englobado sete funcionários, entre os quais três senhoras. Na altura (1942) eras 1º escriturário de 2ª classe do Arquivo Geral do Registo Criminal e Policial e foste acusado de “Não manter na repartição a devida compostura e aprumo, dirigindo galanteios e frases de sentido equívoco a um seu colega, denunciando tendências condenadas pela moral social; Fazer versos e recitá-los durante as horas regulamentares do funcionamento da repartição (…)”. Publicado o resultado do processo no Diário do Governo Botto vem para a rua e passou a vangloriar-se publicamente de ser o primeiro pederasta português com direito a reconhecimento oficial, chegando a mandar imprimir cartões de visita com tal classificação. A sobranceria sarcástica do autor de Ciúme acerca da deliberação que o atinge esconde um presumível ressentimento sobre a decisão pública, a qual terá efeito devastador na sua vida. A nova ordem jesuítica do salazarismo nunca lhe perdoou a personalidade arrevesada e provocatória atacada por muitos mas também defendida como forma de salvar o poeta e a sua obra da onde de hipocrisia moralista.

 

Na prática colegas de letras afastaram-se, ou cortaram relações, com António Botto devido ao seu homossexualismo e feitio maledicente origem de sérios dissabores de que o período do Brasil não foi excepção. Queixava-se, por isso, de ser esquecido pelos amigos, não ser acarinhado como sentia merecer, do infortúnio que o atingia ao ponto de considerar que «a perseguição [entrara consigo] no barco». A estiagem da sua carreira literária e a arquitectura de fantasias roubam-lhe lucidez pois classifica-se figura ilustre à qual a Colónia Portuguesa não presta homenagem, antes lhe torpedeia os lugares que tem nos jornais Mundo Português, Voz de Portugal e Globo. Na realidade todos são culpados das suas desgraças e ele o único inocente, como podemos ler em registo inédito: «Acabo este livro de impressões sobre o Brasil, pedindo uma indemnização ao Império da Banana porque vim iludido com as falsas reportagens de tanto cretino comprado para as fazer. Indemnização pela neurastenia., pela perda da saúde, pelos aborrecimentos, pela perda da vontade pela vida, e pela soma de infâmias que pretenderam com a semente da inveja manchar o meu nome limpo de artista, de Homem e de Poeta» (sic) (BNL-espólio da AB- cota E12/174).

 

Estes desabafos fortemente ditados pela amargura de situações desesperadas não correspondem literalmente à verdade. António Botto sentia prazer em lamentar-se pelas desatenções de que era vítima esquecendo-se que imensas vezes as motivava. Não obstante, são incontroversas as provas de constante e verdadeira amizade de muitos portugueses e brasileiros ali radicados. Rodearam-no de atenções, proporcionaram-lhe oportunidades, ajudaram-no moral e materialmente impedindo a sua queda total. Mesmo nos piores momentos, apesar de Botto nada de relevante ter acrescentado à sua obra publicada em Portugal, desfrutou de condigna posição entre a intelectualidade brasileira e destaque na imprensa como se verifica no noticiário do seu internamento na Beneficência Portuguesa e depois nas circunstâncias da sua morte.

 

(continua)

 

Em cima: Retrato de António Botto por Almada Negreiros

 

Damos hoje início a uma pequena antologia de poemas de António Botto:

 

Canção Mutilada

 

A tarde cai amaciando a terra,

E enchendo-a de miragens tentadoras

Enquanto o sol,

 

Nos últimos alentos,

Se prende aos galhos de um arbusto

Que, ressequido, à beira de uma ermida,

Parece o próprio símbolo da vida.

 

De enxada ao ombro, alguns trabalhadores,

Pisam o pó e as pedras dos caminhos

- Como bandeiras humanas

Movidas pelo infortúnio,

Sem alegria, sórdidos, curvados,

Mas enormes no seu frémito de luta!

 

Ah!, nem a Morte quer os homens

Quando eles são desgraçados!

 

As estrelas lá, no alto,

Riscam cintilantes brilhos.

 

E em bandos –

Os maltrapilhos,

Silenciosos e ateus,

Zombam do Amor

E até de Deus!

 

A miséria

Quando atola

O homem nos seus negros labirintos,

Dá-lhe, também, a loucura

Dos mais trágicos instintos …

 

Agora, neste momento,

A noite –

É uma imensa realidade …

 

E eu julgo ver a Justiça

Afundar-se na penumbra

Da sua inútil verdade.

 

NOTA - Este poema de A. Botto é datado de 1936 e vem incluído no livro “Imagens do Alentejo”, da colecção “Amanhã”, que era dirigida por Henrique Zarco e o livro de sua autoria. A obra foi editada em 1936 e Botto foi convidado a fazer o poema.

publicado por João Machado às 23:55
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Música romântica do Século XX - 71

No II Festival de Sanremo, em  1960 com Romantica, música de Renato Rascel e letra de Dino Verde, interpretada pelo próprio Rascel e por Tony Dallara, acentuava-se a hegemonia do slow rock, a versão lenta e domesticada do rock que vindo dos Estados Unidos, principalmente com Bill Haley & His Comets no seu Rock Around the Clock, rapidamente alastrou pela Europa.

Vamos ouvir a interpretação de Tony Dallara, quanto a nós mais expressiva do que a do autor, no Festival de Sanremo, do qual Romantica foi a canção vencedora:

 

 

 

 

 

Sanremo 1960-Tony Dallara

publicado por Carlos Loures às 23:00

editado por Luis Moreira às 22:44
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