Quarta-feira, 1 de Dezembro de 2010

Austeridade: a Europa a andar em sentido contrário

Michel Aglietta, economista e Lionel Jospin, antigo primeiro-ministro de França (1997-2002).


Depois da reunião do G20, perto de Seul, uma coisa é óbvia: as principais potências económicas do mundo não irão reduzir nem regular o sector financeiro que os estados deixaram constituir na economia mundial ao longo destas três últimas décadas.

Em 2008 e 2009, aquando das cimeiras de Washington e de Londres, foram assumidos compromissos solenes e foram elaboradas áreas de trabalho relevantes. Mas isso levou a muito poucas acções concretas. O sistema financeiro foi salvo e a depressão evitada graças aos planos de retoma económica por parte dos governos, que mostravam a ambição de reformar de uma forma concertada todo o mundo económico e financeiro,. E é esta ambição que entretanto se perdeu.

De onde é que vem esta incapacidade, esta impotência ? Porque é que os estados que salvaram o sistema e tem toda legitimidade para impor regras como representantes do povo, se mostram tão hesitantes em impor aos actores financeiros que assumam o seu lugar normal: o de agentes ao serviço da economia?

As razões são variadas. Muitos governos estão próximos dos mercados financeiros ou são afectados por fortes grupos de pressão. Além disso, alguns dos principais parceiros económicos acomodam-se bem com o status quo. Esta é a situação dos Estados Unidos, em que a atractividade de Wall Street e o papel do dólar como moeda de reserva permitem que se esteja a facilitar o endividamento. O mesmo se aplica à China, que com a subvalorização do yuan ajuda a acumular excedentes comerciais e confortáveis volumes de reservas cambiais. Finalmente, o paradigma da eficiência e da auto-regulação dos mercados continua a ser muito importante. Na mesma altura em que falham os dogmas do neoliberalismo, a análise económica dominante continua a tomá-los como a referência. Se se inicia um novo pensamento este ainda não consegue inspirar os governos.

É necessário não desistir da ambição de reformar o sistema económico e financeiro global. Instaurar uma regulação global da esfera monetária e financeira, pôr em causa as taxas de lucro exorbitantes exigidas às empresas pelos accionistas à custa dos trabalhadores é uma necessidade imperiosa. Também será interessante avaliar se, para além da proclamação de intenções, a presidência francesa do G20 vai unir a Europa em uma torno de uma proposta de reforma do sistema monetário internacional para depois e em seguida, iniciar a negociação entre as diversas áreas de integração económica.

No entanto, mesmo se uma reordenação do sistema económico global se iniciasse isto levaria algum tempo. Enquanto isso, cada um contará com as suas próprias forças e deverá preparar-se para estar na melhor situação possível para futuras negociações entre os diversos conjuntos económicos de países. E é aqui que a Europa está a ir por um caminho errado, que está a andar em sentido contrário. O nosso continente está a passar por uma crise persistente. E isso vai piorar se são mantidas as políticas generalizadas de austeridade decididas pelos governos para 2011 e anos seguintes. Não só essas políticas não são apropriados à situação actual, como também é contestável o diagnóstico que lhes está subjacente .

De facto, os planos de retoma precedentes contam bem pouco para os défices actuais. Os planos de recuperação para 2009 na União Europeia foram calibrados ex ante sobre um acréscimo do défice de 1,1% do produto interno bruto (PIB) em média. Ora o aumento do défice foi de 4,6%, ou seja mais de quatro vezes superior. Isto significa que a timidez dos governos europeus na retoma económica não nos pôde proteger de uma recessão severa. É a recessão, e não as políticas de retoma, que alargou os défices para níveis fora do comum.

Mas hoje, a Europa assenta numa contradição, num contra-senso, ao escolher a política de austeridade. Depois do primeiro erro de uma fraca calibragem da retoma económica em 2009, os governos agravam-no agora, quanto todos ao mesmo tempo invertem a posição e passam a utilizar políticas de austeridade. O prolongamento económico e de modo continuado da crise financeira resulta da falta de dinamismo da procura privada. Muitos actores têm que se desendividar, os bancos estão reticentes em emprestar e a estagnação dos rendimentos e o desemprego auto-alimentam-se. Estamos confrontados com uma situação de uma clara insuficiência da procura. Ora, as elites políticas da Europa fecham-se numa estranha retórica. Estas parecem acreditar que o simples anúncio de austeridade actuará, por todo o lado, como uma varinha mágica sobre esta entidade metafórica que são os mercados. Todas os constrangimentos no sector privado iriam assim desaparecer rapidamente. As famílias iriam começar a consumir e as empresas a investir, como se a crise não tivesse existido. Ora, não é isto o que nos diz o exemplo irlandês.

De facto, trabalhos recentes e muito elaborados do Fundo Monetário Internacional (FMI) varrem completamente essas ilusões. Ao estudar cuidadosamente muitas situações de austeridade fiscal, o FMI mostra que, em média, para um esforço de austeridade, de 1% do PIB, há um efeito de contracção do crescimento do PIB de 0,5%, após dois anos. Infelizmente, o FMI também sublinha que não estamos numa situação média. Na Europa, as consequências da austeridade orçamental podem ser piores, por três razões: todos os países praticam esta austeridade e todos o fazem ao mesmo tempo; as taxas de juros, já baixas, não nos levam muito mais longe; o euro corre o risco de se apreciar em vez de se depreciar, devido à política monetária dos Estados Unidos.

No nosso continente, o impacto da austeridade pode ser de 1% ou mesmo de 2%, dependendo das circunstâncias. Assim, em 2012 e 2013, é provável que o crescimento europeu seja muito baixo. Naturalmente, os défices não serão reduzidos, ou sê-lo-ão muito pouco, por falta de entrada de receitas fiscais, a dívida pública aumentará e o desemprego deverá aumentar novamente. As tensões sociais agravar-se-ão e os movimentos nacionalistas e populistas, que já estão a crescer na Europa, podem muito bem sair assim reforçados.

Para as pessoas de bom senso, esse risco não deve ser tomado. As nossas políticas devem ser mudadas para repor a trajectória do crescimento. Daí poderá mesmo depender a sobrevivência da zona do euro que terá, sem dúvida, muitas dificuldades para ultrapassar uma nova crise simultânea das finanças públicas nos países mais frágeis.

Estabelecer e dirigir uma política de crescimento é vital para a UE. Quer isto dizer que devemos ficar indiferentes aos excessos dos orçamentos e da dívida? Claro que não. Mas, como qualquer grande crise financeira, os seus efeitos estendem-se por uma década. Os governos devem programar o restabelecimento dos equilíbrios orçamentais no final da década e abandonar a ilusão absurda de um retorno rápido da dívida pública a 60% do PIB, quando todas as organizações internacionais têm projectado uma relação dívida / PIB em torno de 110 % a 120% , em média, no conjunto dos países da OCDE. O restabelecimento das finanças públicas não se pode alcançar pela austeridade, mas sim através de um esforço razoável de controle e por um auto-financiamento resultante do crescimento.

Sem dúvida, os mercados exercem, pela especulação, uma pressão sobre os países europeus mais vulneráveis. Eles induzem as agências de rating, pela degradação das suas notas de avaliação de risco, a encarecer o custo dos empréstimos. Os agentes financeiros reencontram assim, apesar dos seus graves erros das suas graves incapacidades, das suas graves falhas, a sua função de censores dos governo de que eles gostam tanto. E, contudo, é da responsabilidade dos Estados - que os têm resgatado - não aceitarem os seus diktats. A solidariedade do Banco Central Europeu (BCE) e dos governos europeus face à especulação contra os mais frágeis , até mesmo uma indicação - já dada pela Alemanha - de que em circunstâncias extremas, se deve organizar uma reestruturação da dívida, poderia servir como uma advertência útil relativamente aos mercados.

Na situação actual, o crescimento depende, fundamentalmente, das políticas públicas. È necessário simultaneamente compensar o défice da procura privada, melhorar a competitividade de muitos países dos europeus (entre os quais a França), criar incentivos para que se verifique uma nova vaga de investimentos e encontrar maneiras de o financiar. Temos de agir quer pelo lado dos recursos quer das despesas, ou seja, temos de reformular a estrutura dos orçamentos, como o fizeram os escandinavos, depois da severa crise bancária de 1991-1992.

No entanto, a insuficiência da procura actual é o resultado de uma evolução que vem de longe. É a deformação ao longo de várias décadas de distribuição da riqueza que levaram à corrida para o endividamento, a uma cobrança exorbitante sobre a economia, à enorme perda de receitas fiscais e tudo isto em benefício da riqueza privada e à pressão sistemática sobre os salários.

O aumento da remuneração do trabalho é, por todo o lado, a chave de toda a recuperação do crescimento. É verdade que com o nível de desemprego que prevalece na Europa, especialmente na França, não pode haver - excepto, talvez, na Alemanha - um aumento significativo do salário bruto. Mas poder-se-ia transferir , através de uma alteração da estrutura fiscal, poder de compra para as categorias sociais que são demasiado pobres para estarem endividadas e que consomem 100%, ou quase, dos acréscimos de rendimento por esta via recebidos. A tributação do capital seria reformulada, seria feita a eliminação de benefícios fiscais às famílias com rendimentos elevados, seria feita uma revisão dos impostos sobre as herança, ou seja, uma inversão das medidas que não tiveram nenhuma eficácia económica, mas que serviram clientelas especiais, é hoje uma necessidade para começar a inverter as desigualdades sociais e criar um fluxo adicional da procura.

No entanto, agir sobre a procura a curto prazo não é suficiente. Deve-se ainda ter os meios de actuar no terreno da oferta, de aumentar o crescimento potencial. Isso exige investimentos públicos e incentivos ao sector privado. Dois tipos de recursos, um disponível, o outro a criar, são passíveis de levar a cabo políticas ambiciosas por toda a Europa. Estes são a taxa de IVA e a fiscalidade sobre o carbono .

A UE deve acabar com o dumping fiscal, que lhe é mesmo devastador. Manipular a taxa de IVA, para promover este ou aquele sector específico cria distorções nefastas sobre os preços relativos. O ideal seria uma taxa uniforme do IVA, provavelmente de 19,6%. O efeito regressivo deve ser compensado por um aumento da progressividade do imposto sobre o rendimento . O fundamental é a criação de recursos fiscais para lançar uma ambiciosa política de educação ao longo da vida, um corolário necessário de qualquer reforma que prolongue a vida activa.

No entanto, a reforma na tributação mais significativa e prometedora para o crescimento é o imposto sobre o carbono. Um imposto europeu sobre o carbono, a partir de um nível próximo do preço de mercado dos direitos de poluição e crescente regularmente até 2020, criaria um valor social do carbono que iria mudar o sistema de preços relativos. Isso faria evoluir o consumo e abriria espaço de rentabilidade para os investimentos rentáveis que permitiriam à Europa manter a sua liderança nesta área.

O produto de tal imposto poderia ser dividido em três partes. A primeira parte deve subsidiar famílias de baixo nível de rendimento para compensar o aumento dos custos de consumo. A segunda poderia ser usada para diminuir a folha de cotizações sociais de modo a incentivar a escolha de postos de trabalho ricos em empregos. A terceira seria paga ao orçamento da UE para financiar os investimentos nas inovações ambientais. Esta última parte permitiria capitalizar uma intermediação financeira construída sobre um Fundo Verde Europeu destinado ao apoio à inovação sobre o meio ambiente. Seria possível emitir títulos para financiar os investimentos de longo prazo e arriscados - públicos ou privados - e mobilizar os investidores institucionais. O essencial seria criar um efeito de massa suficiente para suscitar na Europa uma dessas grandes vagas de inovações que sempre apoiaram o desenvolvimento económico.

Não é porém certo de que este tipo de análise e de propostas tenham actualmente possibilidades de serem aceites dado o actual estado de crispação ideológica e de paralisia política que caracteriza a Europa. Da mesma forma que é difícil esperar ver a Europa conduzir uma política cooperativa para o crescimento.

Mas é necessário lançar o debate, e isto bem para além dos círculos governamentais. Deve haver uma palavra a dizer nos partidos políticos, associações, sindicatos e líderes empresariais europeus posicionados sobre as alterações climáticas e as questões ambientais, mesmo por aqueles investidores financeiros que acreditam que o investimento socialmente responsável é portador de rentabilidade a longo prazo. O modelo económico dos últimos 30 anos - embora a França tenha feito algumas excepções, com a esquerda no poder - foi caracterizado pelo domínio da prioridade ao valor para o accionista, pela hipertrofia das finanças especulativas, pelas exigências financeiras incompatíveis com a rentabilidade das empresas, pelo tratamento fiscal favorável aos meios sociais privilegiados, pelas desigualdades crescentes na repartição do rendimento. È todo um outro modelo que deve agora emergir, se quisermos tirar profundas e enriquecedoras lições da crise financeira. Este modelo deve basear-se numa partilha mais equitativa dos rendimentos, sobre uma população activa mobilizada por remunerações decentes e a quem se oferece possibilidades de renovar as suas capacidades durante a sua vida, sobre um crescimento assente no respeito pelos equilíbrios naturais

Para unir as forças da sociedade civil em torno do novo pacto social, precisamos de um pensamento político consagrado nos programas a nível nacional e capaz de fazer abanar a governação da Europa e ter influência a nível internacional. Dar à análise económica do novo período uma expressão política capaz de agregar as pessoas poderá ser a tarefa central de uma social-democracia reformada .

(Aglietta, Michel; Jospin, Lionel, Austerité: l’Europe à contresens, Le Monde, 22.11.2010)

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publicado por Carlos Loures às 19:30
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Dicionário Bibliográfico das Origens do Pensamento Social em Portugal (47)

O Século XIX Português


M. Fátima Bonifácio


Imprensa de Ciências Sociais, 2002


Liberalismo e radicalismo possuíam fundamentos filosóficos diferentes e até antagónicos. Por trás de cada uma destas distintas correntes políticas estavam distintas concepções sobre os fins da existência individual e social e sobre as relações entre o Estado e a sociedade. Ao egoísmo individualista dos liberais, fundado numa visão do indivíduo como um ser transcendente à sociedade, os radicais (ou democratas) opunham o ideal do cidadão despido dos seus interesses particulares e inteiramente votado à res publica entendida como uma comunidade de iguais, da qual o indivíduo não era mais do que uma emanação. À protecção da liberdade pessoal exigida pelos primeiros, os últimos contrapunham a supremacia dos interesses públicos sobre os privados. Aqueles estavam sobretudo empenhados em proteger os indivíduos da ingerência estatal nas suas vidas particulares…

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Seis Estudos sobre
O Liberalismo Português

Maria de Fátima Bonifácio


Editorial Estampa, 1996

«Existe na comunidade académica portuguesa o hábito pernicioso de ignorar o que os outros fazem. As citações de trabalhos alheios, com raras excepções, servem geralmente dois únicos propósitos: exibir erudição ou autorizar opiniões cuja responsabilidade o próprio não se atreve a assumir. Quase ninguém aproveita o trabalho dos outros para o confrontar seriamente com os resultados a que cada um, encastoado na sua quadrícula, vai chegando; muito menos para corrigir eventuais enganos – que ninguém, com raras e honrosas excepções, reconhece ter cometido. Em Portugal a crítica é ofensiva dos bons costumes académicos. É tida, geralmente, por sintoma de agressividade temperamental ou por falta de boas maneiras, ou ambas as coisas combinadas. É por isso que a publicação dos mais evidentes disparates beneficia de total impunidade.
Maria de Fátima Bonifácio

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publicado por Carlos Loures às 18:00
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O ‘MEU’ JANEIRO - cento e quarenta e duas velas se apagam hoje


José Magalhães
No dia 1 de Dezembro de 1868, nasceu o jornal «O Primeiro de Janeiro». Deve o seu nome às manifestações da «Janeirinha». Durante os primeiros anos da sua vida, o diário foi crescendo em tiragem e em importância, até se tornar no melhor jornal de Portugal.
Era já, ao fim de pouco tempo de existência, uma referência Nacional, e assim o foi durante dezenas de anos.
Era o jornal onde melhor se escrevia em Portugal. Por lá passaram os mais ilustres intelectuais do nosso País.
Atravessou incólume períodos conturbados da vida Nacional, como a implantação da República as primeira e segunda guerras mundiais ou a transição para o actual regime, acabando por se debater com a mais grave crise da sua história, na década de 1980, quando o seu enorme património foi desbaratado.
Hoje, o jornal continua, já sem o seu emblemático edifício na Rua de Santa Catarina, e sem os grandes nomes que o ajudaram a consolidar-se a nível Nacional, mas com a mesma vontade de se afirmar e de fazer jus a um passado de glória.

«O Primeiro de Janeiro» é, sempre o foi, o «meu» jornal. Por influência de um primo por quem tinha uma amizade e admiração enormes, Emílio Loubet, grande jornalista que também coloborou no Norte Desportivo, meu pai sempre o teve em sua casa e o leu religiosamente.
Uma das muitas imagens que guardo de meu pai, é a de o ver sentado no piso de baixo do autocarro de dois andares da carreira A, à hora de almoço e a caminho de casa, lendo o Janeiro, dobrando-o cuidadosamente de modo a não incomodar ninguém (nem sempre arranjávamos lugar no mesmo banco). Com meu pai aprendi nessa altura, como dobrar o jornal para bem o ler com os solavancos dos transportes, já que era bem maior do que hoje é, talvez do dobro do tamanho.

O meu primeiro contacto com o jornal, aconteceu ainda nem ler sabia. Não teria mais de três ou quatro anos, e aos domingos de manhã, aconchegado na cama de meus pais via avidamente a banda desenhada de «O Príncipe Valente», de «O sr. Calisto» e do «Zé do Boné». E foi assim depois durante muitos anos. Era a altura da semana que melhor me sabia e em que mais eu sentia a felicidade da vida que levava. O aconchego dos meus pais e o poder partilhar a leitura do jornal. Nessas alturas, sentia-me já um homem. Quase se poderia dizer que foi com aquelas páginas que comecei a ler e que tomei o gosto pela leitura..

Ao longo da minha vida, o Janeiro foi presença diária e leitura obrigatória. Mais tarde, já homem, e numa fase anterior a esta que agora vivemos, fui leitor fervoroso dos cadernos «Das Artes Das Letras» e «Se7e», entregava aos meus filhos mais novos «O Janeirinho» de modo a que se habituassem como eu me tinha habituado, a ler o jornal, e enviava semanalmente o «Caderno das Regiões Concelho do Porto» que saía às sextas-feiras, para a minha filha mais velha que habitava na Madeira, para que não perdesse o contacto com o jornal e com a região. E que saudades que a falta desses cadernos me fazem.
Hoje, sinto-me honrado em poder ver algumas palavras minhas publicadas neste «meu» jornal.

Actualmente luta-se, lutamos todos os que de uma forma ou de outra colaboramos com o nosso Janeiro, pela continuação da sua existência e por continuarmos a vê-lo nas bancas em lugar de destaque. Os dias que atravessamos são madrastos e sem complacência, pejados de dificuldades, sendo que as económicas estão cada vez mais com importância acrescida e numa primeira linha de influência. A competição é enorme e só os números das tiragens e das vendas de publicidade interessam.
Mas o «O Primeiro de Janeiro» apesar das múltiplas adversidades vai continuar, estou convencido disso, cada vez mais forte, a caminho de se tornar de novo, num dia que se deseja muito próximo, numa referência no panorama jornalistico e literário Português.

Ainda vamos voltar a ouvir pelas ruas do Porto o pregão: «Olhó Janeeeiiirooo».
Parabéns, Janeiro, pelos teus cento e quarenta e dois anos, e obrigado por me deixares fazer parte dos que lutam pelo teu bom nome, prestígio e projecção.


publicado por Carlos Loures às 16:30
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Terminamos ho je a publicação da Cartilha do Ziraldo - páginas 20 e 21



publicado por CRomualdo às 16:00
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Para Sempre, Tricinco ALLENDE E EU - autobiografia de Raúl Iturra - (15)

(Continuação)

Capítulo 4-O exílio e as suas lutas.



That’s the fact. Words talk. Words are action. Bem sei que estou a escrever com palavras na língua saxónica inglesa, que tem palavras também em latim, poucas, mas várias, por causa dos Romanos do Império e , antes, da República, terem colonizado as Ilhas Britânicas. O Conquistador foi denominado Britannicus . Mas, não queria desviar o olhar do leitor para as minhas habituais desagregações do texto, e insistir que as palavras são acção. Nós, não apenas falamos, também pensamos e a parte mais activa do nosso pensamento, são os conceitos usados , conceitos normalmente retirados da actividade e da acção.

É apenas observar uma criança a crescer e entender como vai denominando aos objectos que começa a conhecer, essa descoberta do mundo, como analiso em vários textos meus, descoberta e colonização do mundo feito pelos mais novos, desde pequeno. Normalmente, nós, pais e mães, lembramos da primeira palavra pronunciada pelos nossos descendentes, essa forma de colonizar o mundo. Normalmente os objecto são baptizados pela infância, que ignora o conceito central, mas aprende ao agir dentro do mundo anos depois e é ou, corrigido pelos seus adultos, ou pela sua própria interacção social, ou pelo relacionamento com outros adultos. O importante de notar é que há um ditado que diz que toda criança tem uma língua mãe, que nunca mais esquece, por causa do seu agir entre objectos e o seu pensamento. Os objectos que impressionam aos mais novos, recebem um nome especial e ficam para sempre nas suas recordações. A nossa filha mais velha, referida já antes, a psicanalista, não conseguia aos 9 meses de idade, dizer palavra nenhuma, excepto ma ma ma, ou, essa a sua eterna palavra, jagua, que eu escrevo ao relatar o facto, com yagua, sem saber que há uma etnia no Brasil, que tem esse nome . A nossa pequena filha estava atrapalhada entre várias línguas: o Castelhano Chileno de casa, o inglês de Londres, o gaélico da Escócia e o Castelhano Argentino dos nossos melhores amigos em Edimburgo, a família de Ricardo e Aída Gáudio e do seu filho Santiago, os que, mais tarde na vida, deram asilo num Departamento o estudo deste Sociólogo Argentino aos nossos amigos Vio, num estudo estreito, onde apenas cabiam os quatro: Pancho, Mariana, Panchito e Daniela, a minha afilhada! A nossa filha Paula, lembro-me eu, e a minha mulher também, a primeira palavra que aprendeu, já no seu ano e meio de vida, foi “dillita, come to play with me”, no inglês mais aberto do mundo, esse referido como spanglish, ao andarmos no mato do jardim da Universidade de Edimburgo a tentar brincar com as denominadas, em inglês, squirrels, ou ardillas em castelhano chileno, em português, esquilos . É o problema de morar em sítios cuja actividade não conhecemos ou cuja História é aprendida por nós bem mais tarde. É por esse motivo que eu informo-me antes da História do sítio onde vou morar, estabeleço amizade com todas as pessoas e na troca de simpatia, vão ficando as palavras como conceitos activos na nossa consciência, o que permite falar e escrever, e , principalmente, interagir. Há uma ciência que estuda este tipo de aventuras linguísticas, além da psicanálise que também usa palavras para entender a mente do paciente e saber o seu sítio social e as suas aspirações, a semiologia ou semiótica, usada por nós, mais tarde no exílio, para entender as ideais e significados das palavras culturais ou habituais, usadas pelos britânicos e as outras que eram capazes de entender os chilenos exilados, para colaborar melhor na sua adaptação ao novo país, o Reino da Grã-bretanha. A primeira palavra sempre rejeitada, era a de Rainha, mas, em segredo, muito amada, por ser uma novidade para todos ter por chefe de Estado, uma realeza não sagrada. A semiologia ou semiótica , foi desenvolvida por Ferdinand de Saussure e, a seguir, outros. Entre nós, pelos Professores referidos na nota de rodapé 146. Ideias que colaboram a aceitar o exílio por mim denominado duplo: dos sítios onde nascemos, das ideias aprendidas na infância apagadas por novas ideias, conceitos e actividades ou acções, significados ao começo, traduzidos, mas, mais tarde, na passagem do tempo, fazem troca e troça dos nossos conceitos infantis para passarmos a ter conceitos impostos pelas actividades desempenhadas na dura luta da sobrevivência!
Da nossa mais pequena, o que mais lembro, também na gaiola de várias línguas, incluindo a língua luso-galaica da aldeia de Vilatuxe, onde estávamos em pesquisa de trabalho de campo nos anos 70 do Século passado, mandada a ser realizada, pelo meu professor Jack Goody, por intermédio do meu imediato tutor, o meu, infelizmente falecido muito novo, amigo Milán Stuchlick , essa mais pequena, usou duas palavras desde que eu lembro: Dad e a muito castiça palavra chilena caca- ou coco que se usa na conversa doméstica em Portugal, entre adultos e crianças. O uso da palavra fez parte de um ritual que o nosso amigo Milán nos ajudara a organizar. Camila usava chuchas e tetinas dos diversos países pelos que tínhamos passado e, mimada como era, especialmente pelo pai –eu era o grande pecador dos mimos às filhas!, aconteceu um grave problema: era preciso importar chuchas do Chile para ela dormir, da Grã-bretanha, para ela beber o biberão, da cidade de Compostela para a aldeia de Vilatuxe ou Paroquia de Vilatuxe, que eu estudava, e era o nosso horror perder os ditos chuchas e tetinas. As crianças não são parvas e gostam dominar aos pais para chamar a sua atenção. Á noite, era o horror! Ela precisava dormir com duas chuchas, uma das quais, normalmente, largava ao chão do seu quarto e gritava e chorava e lá íamos nós, a correr, para encontrar uma rapariga endiabrada a ..rir! e dizer a castiça palavra chilena chupete, da forma como falam os mais novos: “ no tete, no tete!”. Lá ficávamos Gloria e eu, a procurar o famoso tete por todos os cantos do quarto de casa da aldeia. Até que, um dia, descobrimos que o famoso tete era escondido por ela entre os lençóis do seu berço! Milan e Jarka, a sua mulher, observaram em silêncio a nossa atitude e disseram que estávamos a fazer mal, que não era assim que uma criança podia ser tratada. No dia seguinte, para dor do meu coração, o meu exilado amigo da Checoslováquia para o Chile e do Chile para Cambridge, como eu, levou a Camila ao pé da porta da cozinha, também casa de jantar, abriu a porta que lindava com o quintal da casa e começou um ritual de dizer – ele falava um perfeito castelhano do Chile – que a chucha era cocó, era caca. Camila perguntou “Caca?. Buaaaaa”, forma aprendida de nós para exprimir o seu sentimento de repulsa para as famosas borrachas!. Sabia bem o que era coco e, com Milan ao pé dela, atirou todas as chuchas e tetinas ao lixo do quintal e exprimiu nas sua meias palavras anglo – chilenas –lusas, o seu desprezo pelo que usava. Essa noite dormiu com eles, que não tinham autoridade emotiva sobre ela, e no dia a seguir, bebeu o seu leite de uma taça, como se faz na Espanha, com bolachas e pão misturados com leite, uma alegria do paladar que ela não conhecia. Era evidente que faltava família para tratar das nossas crianças! Sempre sós connosco, não havia maneira das poder criar. Para nós, a família foi sempre importante, não apenas pelo carinho, mas pelo o seu empenhamento em colaborar. Desde o Chile, a nossa sogra enviava as ditas tetinas, desde a Grã-bretanha, os nossos amigos, e assim por aí fora. Milan e Jarka acabaram com esse o nosso sofrimento, eu diria, ao nos apoiar a nós, mais do que apoiar a Camila. Esses pais, nós, estávamos a precisar de adultos para optar pelos remédios para corrigir essas nossas pequenas. Faltavam palavras adultas. É daí, também, que eu diga que as palavras são conceitos em acção, em guerra, especialmente de nervos....
O problema era sermos tão ciganos na maneira de estruturar as nossas vidas. Andava-mos de um país a outro, em trabalho de campo, a falar todas as línguas do mundo e a comer todo tipo de comestíveis. Vilatuxe foi o nosso ninho de paz e estabilidade por quase dois anos. Ainda Gloria, deprimida ao começo por causa da casa aldeã que eu tinha alugado, começou a gostar mais dela a pouco e pouco. Primeiro, tinha ao marido por perto, não como em Edimburgo, quando eu passava as horas todas na Universidade e ela só em casa, com Paula de 9 meses. Os nossos entretenimentos eram raros, não apenas por eu estar dedicado sempre ao trabalho académico, bem como por causa da Escócia ser Presbiteriana e não ter divertimentos. Lembro que apenas uma vez fomos ao cinema, o dia que a nossa amiga arquitecto escocesa Jean Laingh, filha de mãe chilena e pai escocês, ficou em casa a tomar conta de Paula. Fomos ver o filme Lady Chatterley, se me lembro bem. De resto, os nossos divertimentos eram ir a Londres para cursos meus, onde também estivemos no cinema com os nossos amigos chilenos da London University, a família Ugarte. Tomamos a vantagem de termos a mãe do nosso amigo em casa, e vimos Midnight Cowboy, um filme destemido e violento, revolucionário para os anos 60 do Século XX. Ainda nos tempos da nossa felicidade, antes do nosso exílio. Mas, tornando ao nosso exílio, era preciso andar em muitos sítios para, como diz Jack Goody , encher o tacho partilhado por nós quatro...Era um dos problemas do exílio, ter que inventar una família. Parte de esse invento, foi criar uma família com os Stuchlick. Eram como pais para nós, pais jovens ainda, com crianças novas, enquanto Milan e Jarka tinham já filhos adultos púberes. Tivemos dias lindos na Aldeia de Vilatuxe. Não consigo esquecer que o aparecer dos Stuchlick, foi uma surpresa para nós, não estava anunciada. Mantínhamos uma grande comunicação, por causa do trabalho de campo. Milan, muito sabido nas histórias de perca de documentos e textos, tinha-me aconselhado escrever o meu diário de campo a máquina – não havia ainda computadores nesse tempo, com papel carbónico entre duas páginas brancas e enviar sempre uma cópia a ele, caso o caso for...de ser assaltado, roubado, queimado ou, quase uma premonição, ser enviado de volta ao Chile como prisioneiro...Com fidelidade, eu escrevia todos os dias de manhã o que tinha apontado nesses os meus pequenos livros de notas de campo e reproduzia todo, com palavras castelhanas, os relatos do que tinha feito no dia anterior. Eram as minhas melhores horas!, como refiro no livro de 1978, já citado, Antropologia Económica da Galicia Rural. Essa comunicação originada em Cambridge, nas tutorias três vezes por semana, nas que eu devia dar conta das minhas leituras e levar textos escritos em inglês e discutir com ele os conteúdos do livro e do meu texto. Era comum entre nós falar em Castelhano e beber um café e falar de nós primeiro, porque a necessidade de família era de ida e volta ou de vice versa. Mas, ao começar a tutoria, mudávamos para a língua inglesa. Não é por acaso que tenha começado este capítulo com a ideia das palavras serem activas, conceitos no meio da actividade. A tese que seu estava a tratar, era para Inglaterra, devia, em consequência, ser em inglês. Como os textos. Milan tinha como obrigação transferir os meus trabalhos a Jack Goody, que sabia Castelhano, mas eu estava a ser provado!, se servia ou não para fazer e acabar o meu doutoramento ou se os acontecimentos do Chile tinham sido da tal maneira dolorosos para mim, que talvez tive-se perdido a memória, ou se a depressão for tão forte, como para tornar a minha memória incapaz de lembrar e produzir!. Bom, nada de isso acontecia, pelo que o Relatório do Professor Doutor Milan Stuchlik foi altamente positivo e foi-me concedido o grau de Magister para passar ao meu trabalho de campo e à corrida do doutoramento. O entendimento entre Milan e eu era simples e directo. Era o seu único orientado para o doutorado. Nas suas horas vagas, escrevia um livro, que está comigo .
Lembro bem como foi que Milan e família chegaram a nossa casa. Não avisaram apareceram de carro desde a Irlanda em Vilatuxe, em 1975, a perguntar se conheciam a Don Raúl Iturra. Mal era percebido pelos aldeões, que falavam a língua luso-galaica, o galego denominado enxebre e não esse inventado na cidade pelos nacionalistas galegos. Orgulho-me em dizer que a nossa filha Paula, com cinco anos e eu, aprendemos o galego, sem dar por isso. Essa nossa filha que teve que aprender e desaprender tantas língua, mas ficou com a capacidade de falar sete, hoje em dia. São os problemas do exílio, mas também as suas vantagens: é preciso aprender de novo e esquecer outras formas de fala e de escrita, eis o outro problema! Mas antes de desenvolver essa hipótese, vamos ainda, retomar ao Milan, batendo no pedestal do meu texto. Contou-me, ao chegar a casa, que tinham perguntado aos aldeões se conheciam a Don Raúl Iturra, hábito muito castiço no Chile, para referenciar uma pessoa aparentemente importante, como ele pensava que eu era na Paroquia. Esses vizinhos, que mal entendiam o castelhano – o que me obrigara a mim e família mais adulta, a aprender a língua galega, disseram que nada sabiam. Jarka teve a ideia de disse: “Pregunta por Raulito”, esse diminutivo que ela sabia era-me dito em família o que Milan fez. Ninguém sabia nada e disseram: esse senhor não mora cá. Milan ripostou: oiça, é esse senhor de barbas que vem do estrangeiro...e de imediato fui reconhecido: “Ah! O senhor está a perguntar pelo chileno!”, essa a minha alcunha na aldeia. Na Paroquia todos eram conhecidos por alcunhas e, as vezes, nem sabiam os nomes das famílias: O Ferreiro, José Montoto, tinha o seu filho António, denominado por todos , O Ferreirinho, diminutivo luso-galaico para Ferreiro, bem como a sua casa não era a casa Medela, era a casa do Ferreiro que pertencia a família Medela, apelido de solteira da sua mulher Marcelina, irmã do meu hóspede da minha segunda pesquisa em Vilatuxe, 25 anos depois: ela era a Ferreirinha, a da casa do Ferreiro, como relato em dois textos meus já citados antes: o Editado pela Xunta de Caliza, e esse mal vendido da Profedições. . Os Stuchlick nada sabiam deste costume- por outras palavras, tinham respeitado o meu segredo sem ler as cópias do meu diário de trabalho de campo enviadas por mim a Cambridge todas as semanas. Começaram a se desesperar: ter-se ião enganado, era outra a Paroquia, haveria um outro acesso? Eu era conhecido pela minha própria, alcunha que eles não sabiam nem podiam conhecer. Eu não era Don Raúl, excepto para os meus mais íntimos, o Pároco Luís Vázquez, a família referida Medela, os nossos vizinhos Ramón e Eduardo Fernández e as suas mulheres e filhos, e o único aristocrata da Paroquia, Don Carmelo Louzao dentro das 14 aldeias de Vilatuxe, era denominado O Chileno, o que tivemos que comunicar a nossa família, que, as tantas, nos visitavam na Galiza: a minha sogra, a nossa prima de quem falei no Capítulo anterior, Maria Teresa González Tornero, a minha irmã Blanquita e o seu marido Miguel e filha Alejandra de três meses de idade, e outros da cidade de Compostela, os nacionalistas galegos que nunca tinham tido o atrevimento de morar numa aldeia camponesa, até eu instaurar o modelo, seguido depois pelos os meus orientados para o Doutoramento, o Galego, José Maria Cardesín e a sua mulher de então, Beatriz Ruiz Fernádez, referida na mesma nota de rodapé do seu antigo marido– hoje é preciso falar com cuidado das famílias: aparecem, desaparecem, organizam-se novas famílias e nada sabemos delas, as tantas!. Foi lá que vivemos, até com a visita do meu amigo de longa data Brian O’Neill : à procura do sítio de pesquisa, percorremos juntos toda a Galiza, enquanto a minha mulher e filhas esperavam em Cambridge para saber de mim e o sítio escolhido, bem antes dos Stuclick aparecerem em Vilatuxe. A minha família esperava em Cambridge, reitero, com essa santa paciência que a minha mulher desenvolveu.

Notas:

Não resisto a tentação de informar directamente ao leitos destas invasões, com o parágrafo de Wikipédia ou Enciclopédia Livre da Net: “A invasão romana nas ilhas britânicas ocorreram em 43 d.C. O Império romano não "invadiu" a Britânia. Esse facto de invasão foi dado pelo império romano para propor a superioridade da nação sobre as pequenas tribos e cidades da Britânia. Antes da "invasão", o império romano já tinha algumas fortificações na ilha e tinha algumas relações com as nações que habitavam a região. O ano 43, foi o ano da conquista definitiva do Império romano sobre a Britânia e não o ano da invasão. A conquista da ilha em 43 foi concluída pelo imperador Cláudio. Júlio Cesar tentou conquistar a ilha antes que Cláudio. A Britânia tornou-se província do império”. Retirado da página Web: http://pt.wikipedia.org/wiki/Invas%C3%A3o_romana_das_ilhas_brit%C3%A2nicas .Para saber mais sobre Britannicus, filho do Imperador Claudius Germanicus e o seu herdeiro, mas assassinado pela segunda mulher do Imperador, Agripina para que o seu filho Nero for o herdeiro do Império, história que aparece no sítio Net: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&sa=X&oi=spell&resnum=0&ct=result&cd=1&q=Britannicus+&spell=1


Para saber mais sobre os Jaguas, ver no sítio Net: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Etnia+Jagua&meta= Como diz parte do sítio: esta etnia que integra a Nação Guarani, em: www.guata.com.br/Tirando%20de%20letra/092507TLcontosmbya.htm , povo parte da Etnia Barasana estudada pelos os meus amigos e colegas do Departamento de Cambridge, Stephen e Christine Hugh-Jones, esses amigos até o dia de hoje, que trataram da minha papelada ao ser aceite de volta em Cambridge, no Departamento de Social Anthropology. Os seus textos sobre Barasanas estão referido no sítio Net: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&sa=X&oi=spell&resnum=0&ct=result&cd=1&q=Stephen+Hugh-Jones++Cambridge+University+Etnia+Barasana&spell=1 , bem como na página web, há um texto em português da autoria de Stephen Hugh-Jones, de Fevereiro de 2003: http://www.socioambiental.org/pib/epi/uaupes/cosm.shtm
Na Escócia, como na Irlanda e no Principado de Gales ou Wales da Grã-bretanha, fala-se essa língua que nos atrapalha a todos, o gaélico que, como especial concessão para nós, estrangeiros muito chilenos nesses tempos, bem como hoje, era falado num inglês que era difícil de entender, mas ao que ficamos habituados pela interacção com os nossos amigos Escoceses, especialmente os que mais nos visitavam em casa, o meu Tutor Peter Wasp e a sua mulher, linda como um sol, Diane. Eram tempos felizes e destemidos! Até a minha sogra, que de inglês nada sabia, era capaz de manter conversas em castelhano chileno com Peter Wasp, por horas...Para saber mais sobre o gaélico, ver a página web: http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_ga%C3%A9lica_escocesa , do sítio Net: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Ga%C3%A9lico&btnG=Pesquisar&meta= , que refere que: A língua gaélica escocesa (gaélico escocês; Gàidhlig) chegou à Escócia no século V D. C. , quando os celtas escoceses provenientes do norte da Irlanda se instalaram no Norte da Escócia
A palavra esquilos foi retirada do sítio Net: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Ardilla+Esquilos&btnG=Pesquisar&meta= , pela informação proporcionada a mim pela D. Ana de Jesus Rodrigues de Dias, que trabalha na minha casa e faz a minha comida, o que nenhum ordenado consegue pagar a sua simpatia e cuidados para mim.
Para saber de semiótica, senhor leitor, visite a página Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Semi%C3%B3tica
Para saber do autor, página web: http://pt.wikipedia.org/wiki/Semi%C3%B3tica#Ferdinand_de_Saussure , no sítio Net: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Semiologia+Ferdinand+de+Saussure&btnG=Pesquisar&meta= , especialmente a referência: www.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/S/semiologia.htm . Entre nós, têm analisado de forma semiológica os povos indianos de Goa e Ourissa na Índia, os Doutores Rosa Maria Perez, http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Rosa+Maria+Perez&btnG=Pesquisar&meta= ou em http://www.webboom.pt/pesquisaHPautores.asp?autorId=23218, ou, ainda no livro do mês :Os portugueses e o Oriente, em: www.webboom.pt/pesquisaHPautores.asp?autorId=23218 José Carlos Gomes da Silva, referido em http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Jos%C3%A9+Carlos+Gomes+da+Silva&btnG=Pesquisar&meta= bem como em http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Carlos_Gomes_da_Silva a enciclopédia net, que diz: “desde cedo se debruçou sobre os problemas da «tradução», nomeadamente, dos sistemas simbólicos. A sua principal linha de investigação nos últimos anos, tem sido a das hierarquias e dos sistemas de classificação simbólicos.”, Manuel João Ramos ao analisar histórias antigas do povo da Etiópia e dedicar o seu tempo aos peões automobilizados, criou uma nova antropologia, referida em: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Manuel+Jo%C3%A3o+Ramos&btnG=Pesquisar&meta= e em: A Automobilização do Pensamento Selvagem, página Web: www.aca-m.org/documentos/publicacoes/automobilizacao_do_pensamento_selvagem.pdf , e contos infantis, Francisco Vaz da Silva, referido com Bibliografia e Genealogia em: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Francisco+Vaz+da+Silva&btnG=Pesquisar&meta= e na página web: http://unics.iscte.pt/depant/investigadores.html que cita as suas publicações Nas minhas mãos os textos: Reis e Intocáveis. Um estudo do Sistema de Casta do Noroeste da Índia, Celta, Oeiras, 1994 da minha muito querida amiga Rosa Maria Perez, bem como os textos do meu admirado amigo José Carlos Gomes da Silva: 1993, como coordenador: Assimetria Social e Inversão, Ministério do Planeamento e da Administração do Território, Instituto de Investigação Científica Tropical, Lisboa, e o de 1994, individual: A Identidade Roubada. Ensaios de Antropologia Social, Gradiva, Lisboa, tradução. do original publicado na Bélgica, 1989: L’Identité Volée. Essais d’anthropologie sociale, Éditions de L’Université de Bruxelles. Todos, do nosso Departamento de Antropologia do ISCTE, onde cada um tem a sua referencia, as suas alegrias e as suas mágoas!
Milan Stuchlick, checo era contado entre os cidadãos contrários à invasão Soviética do seu País, procurou asilo no Chile, a convite da Universidade de Concepción e a de Temuco, onde morou com os Mapuche do Chile e foi aceite dentro da redução, apenas ele, nem a sua mulher nem os seus filhos. Trabalhamos imenso juntos em St John´s College, a sua Faculdade de Cambridge, à que eu estava destinado, mas ao sermos dois, Jack que aí tinha muita voz, escolheu Milan para St John’s e eu, para Trinity Hall.. Para saber vida e obra de Milan Stuchlick, ver o sítio net: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&sa=X&oi=spell&resnum=0&ct=result&cd=1&q=Milan+Stuchlik&spell=1 e a página web: http://www.radio.cz/en/article/11132 . Em 1976 foi transferido a Universidade de Belfast, Irlanda do Norte, ao Queens College, onde, junto a Ladislav Holly e outros criamos a Revista The Queens College Papers in Social Anthropology, na qual publiquei um texto denominado: “Strategies of social recruitment: a case of mutual help in rural Galicia”, praticamente corrigido todo ele por Milan. Era mais um contributo para ele edizer que tinha um orientado de Cambridge, e para mim, mais uma publicação. Estávamos a reconstruir, duramente, as nossa exiladas vidas! Milan foi postumamente condecorado pela República do Chile, como é referido no texto em inglês: Czechs awarded Chilean Order, por[03-12-2001] By Olga Szantová: Two Czechs were awarded the Order of Bernardo O'Higgins by the State of Chile a few days ago. The order is given to foreigners who have given outstanding services to the Chilean state in the humanities, culture, or science. Milan Stuchlik, who received the award in memoriam, and his wife Jarka Stuchlikova worked as anthropologists in Chile for years and Milan Stuchlik founded the Department of Anthropology at the university in Temuco. But the most interesting part of their work in Chile, says Jarka Stuchlikova was with the Indian Mapuche tribe


Já referido antes, fala de que uma família o um grupo domestico, como ele denomina, é partilhar o mesmo pote sob o mesmo tecto. Referido no sítio Net: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Jack+Goody+Domestic+Groups+Addison+Wesley+Modules&btnG=Pesquisa+do+Google&meta= . Não há texto na Net. O texto está comigo em formato de papel: Goody, Jack, 1972: Domestic Groups, em Addison-Wesley Module in Anthropology, Massachusetts, USA
Stuchlick, Milan, 1976: Life on a Half Share. Mechanisms of Social Recruitment among the Mapuche of Southern Chile, C. Hurst & Company, London. Citar assim um livro de Milan, parece-me frio, para um homem que era como um pai para mim. É verdade que tenho vários livros dedicados a mim, pela mão do autor, mas esta dedicatória é especial para mim. É um dos problemas do exílio, a perca de amigos tão queridos, como foi o caso do meu salvador Iain Wright. O livro diz, pela mão de Milan: “A mi amigo Raúl Iturra, com mucho aprecio, e, a seguir, a sua típica ilegível assinatura...O Leitor pode perceber de onde fui eu retirar as ideias de recrutamento, de reprodução, de mecanismos e outras, não apenas do meu outro falecido amigo e colega na Cátedra em Paris Pierre Bourdieu, ou do meu amigo da alma, Maurice Godelier, ou do meu velho Professor Sir Jack, mas de Milan....que me tinha introduzido às análises de Ervin Goffman e John Berger. Disse-me um dia: “É preciso retirara dessa cabeça as analises materialistas para ir ao encontro de outras”. Havia uma certa intencionalidade nas suas palavras, descoberta por mim no dia que comentou com muita raiva: “Estes malditos marxista que fazem da nossa vida uma dificuldade....” Como é evidente, defendi as minhas ideias e ele, muito senhor de si, disse: “não, eu não tenho nada contra os marxistas, a minha raiva advêm da ocupação do meu país pela União Soviética...” Eu ripostei: “e do nosso, pela CIA e a presidência norte americana..”. Era a tensão que sempre existiu entre nós, não com Jack, com ideias já formadas sobre materialismo, que usava nos seus trabalhos, nem com outros nos seminários das Sestas Feiras no Departamento, referidos por mim no meu texto de 2002, A economia deriva da religião, citado antes, em este texto. Em fim, as lutas ideológicas e pelo poder, são pão com manteiga no dia a dia da vida académica. Muito amo ao meu Departamento de Antropologia do ISCTE, mas que há debates, há, e, as vezes, duros...O importante referir nesta nota de rodapé, é a obra do meu amigo, mas não resistia comentar as nossas diferenças ideológicas, as vezes, em debates fortes e duros. Os textos dele são citados e usados pelos chilenos de Pontifícia Universidade de Chile de Temuco, tal como: 1985: “Las políticas indígenas de Chile y la Imagen de los Mapuches”, en Cultura-Hombre-Sociedad. Revista de Ciencias Sociales y Humanas. Centro de Investigaciones Sociales Regionales-CISRE-Volúmen 2, Nº 2, Temuco, Chile. Centro que eu visitei e proferi conferencias para lembrar ao amigo, bem como para saber da pesquisa do meu discípulo e amigo, o hoje Doutor Luís Silva Pereira, já citado. Para saber mais da obra de M Stuchlick, visite o site Net: http://www.google.pt/search?hl=pt- PT&q=Milan+Stuchlik+1979+-+Chilean+Native+Policies+and+the+Image+of+the+Mapuche+&btnG=Pesquisar&meta =
Enxebre é um conceito da língua luso-galaica, usada nas aldeias da Galiza, também no Minho partes do Norte de Portugal, que em português significa autêntico. Referido a mim pelo hoje Doutor António Medeiros, o meu antigo estudante que, mal foi criada por nós a Licenciatura em Antropologia, transferiu-se desde a Sociologia para o nosso Departamento, onde hoje é Professor. Eu acrescentaria que enxebre é também: fixe, nativo.
O primeiro é Antropologia Económica da Galiza Rural; o segundo, Como era quando não era o que sou. O crescimento das crianças.
O apelido de Carmelo é como eu retirei dos arquivos da Paroquia e do Registo Civil de Lalín, a Vila mais próxima a Vilatuxe. Mencionado também para entender as formas de falar luso-galaica, retiradas do português original. Em português, o apelido do Carmelo seria de Louçã. Apenas um facto comentado por mim nos textos citados na nota de rodapé anterior. Esse Carmelo que, como relato nos dois textos, disse-me um dia: Don com Don, não bate certo – em Castelhano, um aristocrata nunca falaria galego...Mas eu, teimoso, o levava ao galego que ele conhecia bem por ter casado com a filha de um dos seus jornaleiros, que apenas falava galego- não bate certo, diz, pelo que vamos ser Raúl y Carmelo, que te parece?. Eu respondi: me parece bem - o galego combina (mestura em galego) palavras e sintaxes castelhanas com palavras lusas do antigamente, também conceito luso-galaico....para saber mais, ou ver os textos ou sítios Net já referidos. Os problemas do exílio, entender todo até saber e agir....
José Maria Cardesín esteve em Portugal e ficou a trabalhar comigo durante três anos, com a sua mulher Beatriz Ruiz Fernández, até acabarem os trabalhos teóricos do doutorado. José Maria Cardesín viveu numa aldeia galega, para inveja dos Antropólogos Galegos, que até o dia de hoje não têm feito trabalho em terreno. A sua tese foi examinada em 1991, o hoje livro editado pelo Ministério da Agricultura Espanhol, do mesmo ano: Tierra, trabajo y producción social en una aldea gallega (s. XVIII-XX), Madrid. Beatriz Ruiz Fernández, antiga mulher do Doutor referido e mãe da filha da filha, a minha afilhada Núria, fez trabalho de campo na indústria de uma cidade galega, Vigo, defendeu a sua tese em Madrid em 1993, e, como a tese tinha formato de livro, foi publicado como: La dosmesticación de la economia. Antropologia económica de la ciudad de Vigo, no mesmo ano da sua defesa, pela UNAM ou Universidade de Ensino a Distância de Madrid, na que ela ensinava na Galiza, enquanto o seu marido dessa altura, José Maria, era Professor da Universidade da Cruña ou Corunha, o La Coruña, como é denominada de forma indiferente, ainda hoje, conforme a cor do credo ideológico!. O luso-galaico ainda não está fixado. Mais tarde, começaram a aparecer os candidatos orientados pelos meus antigos orientados e outros de Andaluzia, Burgos, Holanda, Alemanha, Grã-bretanha Pelos títulos, é possível perceber a herança de Jack Goody e Milan Stuchlick, transferidas a eles por mim. Como é por lei, na Espanha o meu nome apenas aparece como membro do júri, enquanto figuram como orientadores ou Ramón Villares Paz, Ubaldo Martínez Veiga, Isidoro Moreno Navarro e outros, todos os meus colegas na Cátedra. Este trabalho fez-me viajar imenso de avião, ainda em 2006, Setembro, para participar em júris como o Catedrático mais antigo de Antropologia de Península Ibérica, no activo. Assim é também como eu fiquei doente e escrevo estas palavras durante a minha convalescência causada pelo cansaço e um cancro adquirido nesses tempos. A minha sorte tem sido recuperar, como sempre digo, quando, por acaso, alguém telefona: “Como está?”, e eu digo “Hoje melhor do que ontem e amanhã, de certeza, melhor do que hoje!” . Todos têm sido excelentes discípulos, recebido o veneno do que me acusava Milán, o método analítico do materialismo histórico, mas a fila continua e eu não paro....de aceitar. Todos têm sido excelentes trabalhadores académicos e têm publicado os meus textos na Espanha e outros países, pelo que não consigo deixar de referir ao meu melhor estudante, o meu parceiro de ideais, compadre de empenhamento, amigo da alma o Professor Doutor José Maria Valcuende del Rio, colaborador excelente e escritor premiado. Para saber mais dele, ver o sítio Net: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Jos%C3%A9+Maria+Valcuende+del+R%C3%ADo&meta= Também estivera cá, o discípulo de um amigo meu, o Catedrático Manuel González de Molina Navarro, quem esteve connosco durante um ano académico para, como ele diz na sua simpatia, refrescar o seu saber e escrevemos em conjunto dois livros. O discípulo é David Martínez López, todo partido entre o seu orientador espanhol, Manuel González de Molina, e o português, eu, de forma que ao publicar a sua tese como livro, em 1996: Tierra, herencia y matrimónio, Editado pela Universidade de Jaén, Manolo escreveu o Prólogo e eu o Epílogo, hábito muito espanhol, excepto com José Maria Valcuende, com o que fizemos um seminário e um livro em conjunto: Hombres. La construcción social de las masculinidades, tAlAsA, Edições ( o título da editora não é gralha, é mesmo assim!), em 2003, apesar do seminário ter sido realizado em 2001 , . Mas....a vida editora e do escritor é assim! O livro está referido no sítio Net: http://ceas.iscte.pt/cria/pkm_jyd.html.e e também no sitio net: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Jos%C3%A9+Maria+Valcuende+del+R%C3%ADo+Hombres.+La+construcci%C3%B3n+social+de+la+masculinidad&btnG=Pesquisar&meta= Estes Historiadores Antropólogos são docentes da Universidade Pública Paulo de Olavide de Sevilha.
Brian Juan O’ Neill, como ele gosta de ser referido, tem sido o meu amigo desde os tempos de Cambridge eu e ele, na London School of Economics, desde o começo dos anos 70, até o dia de hoje. A sua obra é muito conhecida, mas a sua vida privada não e eu respeito esse desejo de silêncio. Apenas a sua obra, referido no sítio Net: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Brian+Juan+O%27Neill&meta=
Devo acrescentar que, para apressar a escrita da minha tese, a escrevi em Castelhano e Brian fez a tradução para o inglês, com imensas dicas teóricas que trocávamos nesse tempo, como hoje também. Fiz dele Professor Associado e assim entregar esse terrível trabalho de ser o ETERNO Presidente do Departamento. Não foi fácil, mas fica comigo...Ele foi Presidente por dois períodos, a seguir foi João Leal, que ficou gasto dentro de um ano e foi-se embora e fui eleito mais uma vez durante 4 anos, até eu adoecer....O exílio exige de nós formas caras de vida....! As lutas do exílio! Brian foi-nos visitar a Vilatuxe, fomos aos rituais do 2 de Novembro ao cemitério, chovia -Jack tinha-me dito: “Galicia, Hein?. Tens que levar guarda-chuvas!” Pensei que era o seu desgosto por não escolher África e continuar a pesquisar dentro da minha cultura...Mas, não, na Galiza sempre está a chover, Brian apanhou uma gripe e passou três dias acamado na nossa casa, connosco a tomar conta dele! Mas, não, na Galiza sempre está a chover, Brian apanhou uma gripe e passou três dias acamado na nossa casa, connosco a tomar conta dele! Era Galiza Espanhola, não a Polaca, porque, para o meu desmaio, quando procurei Galiza na Biblioteca da Universidade, nem percebia a escrita. Não sabia da existência dessas duas Galizas, Brian também não, apenas Jack, que, ao referir Galiza, disse-me: mas já tenho um lá!, Era o meu amigo da alma Chris, hoje o Prof. Christopher Hann, da Universidade de Berlim, o nosso permanente visitante e morador da nossa casa de Bateman Street, que pesquisava na Hungria e Polónia e tinha referido atrocidades não conhecidas por mim, do PC da, nesse tempo, União Soviética. Eu não queria acreditar. Mais um problema de exílio. Se o socialismo era assim, para que, então, ter lutado pela dita via chilena? Hoje, entendo. Nesses dias desesperados, não queria saber! Hoje, destemido, penso de outra maneira e defino-me como materialista histórico. Entretanto, o Chris está definido na página web: http://www.eth.mpg.de/dynamic-index.html?http://www.eth.mpg.de/people/hann/publications.html , do sítio Net: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Christopher++Hann&btnG=Pesquisar&meta= , uma amizade perdida, parte dos problemas do exílio. O livro escrito por ele e que eu mais uso, é o de 1980a Tázlár: a village in Hungary, Cambridge: Cambridge University Press (Changing Cultures Series), referido na página web: http://www.eth.mpg.de/dynamic-index.html?http://www.eth.mpg.de/people/hann/publications.html . Foi um dos seus vários livros sobre os países rurais dominados pela antiga União Das República Socialistas Soviéticas ou URSS. Para saber mais do meu amigo académico, ver: http://www.kent.ac.uk/anthropology/department/staff/chrisH.htm1 Tínhamos, como relatei em outro texto meu, uma corrida: quem publicava mais livros a partir da tese de Doutoramento, e quem escrevia a tese com menos palavras. Ganhou ele: escreveu a tese em 73.000 palavras, e eu, em 74.000. O limite era 80000 palavras, que eram pesadas e medidas pela Universidade. Ai de quem passar para as 81.0000! Bem como aceitou as condições para publicar em CUP a sua tese, condições que eu não gostava: diagramas estatísticos! Pelo que publiquei na CUP outros textos, a partir da tese. As tese era rejeitadas e devolvidas para serem refeitas....ou, se passava, era comentada como negativa pelos examinadores. Queríamos evitar esse problema: o facto de ser sintético, era outra maneira de pensar que nós devíamos aprender. Na América Latina, ou nos países latinos da Europa, enquanto mais se escreve, melhor. É o que eu denomino teses ao quilo! Como tantas que tenho tido que ler na Espanha, França e Portugal....Os meus orientados, excepto um, têm feito teses de apenas um volume, mas o zelo e teimosia de vários, tem-me confrontado com teses de....8000 páginas, é dizer, milhares de palavras. Todas excelentes, mas, imensas...

(Continua)
publicado por Carlos Loures às 15:00
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Para fugir à pobreza - idosa assassina duas meninas

Luís Moreira


Uma idosa no Japão assassinou duas meninas no espaço de uma semana. Razão? Segundo a própria passava a ter um tecto, roupa lavada e almoço e jantar. Isto é, ía para a prisão!

O Japão tem a população mais envelhecida das sociedades desenvolvidas, há dez anos que luta com uma recessão económica que fez perder milhões de postos de trabalho a gente de meia idade que nunca mais conseguiu um emprego. Esses homens e essas mulheres perderam o emprego, a família e não encontram na sociedade liberal actual, apoios.O resultado são os milhares de sem abrigo que vivem nas ruas, a violência praticada por idosos não cessa de crescer.

Estes fenómenos resultam de uma sociedade neo-liberal que cavou um fosso entre os que têm tudo e os que não têm nada.Os ricos vão passar a gastar muito dinheiro na sua segurança, a fome é má conselheira e quem não tem mais nada a perder não perdoa.

O que se passa no Rio de Janeiro é filha da mesma razão, a violência desceu dos morros e dos guetos, cada casa no Rio tem um gradeamento para proteger a porta da rua.E as pessoas andam na rua de alpergatas, é a melhor maneira de não serem roubadas. Como nos anos 20 a miséria está a atingir cada vez mais gente, mesmo gente que trabalha, a ganância de uns é a miséria de muitos.

Para fugirem à rua há cada vez mais idosos a praticarem crimes, "crime grisalho" como é conhecido, triplicou nos últimos dez anos, assim arranjam um tecto.O individualismo e a solidão afectam tanto idosos como jovens, numa sociedade que não quer saber deles.

Esta sociedade em que alguns têm um emprego para toda a vida à custa de outros que não têm emprego nenhum, caminha para o fim, os jovens não têm emprego e os idosos não têm família nem pensões que lhes garantam um nível de vida razoável.

Apesar de terem trabalhado toda uma vida descobrem no final que as empresas não descontaram o devido e agora estão confrontados com pensões de miséria.Outros há que não só recebem duas e três pensões como ainda têm trabalho, tirando emprego a outros que não têm nem uma coisa nem outra.

Basta olhar para o que está a acontecer no Japão para sabermos ser razoáveis e sensatos!
publicado por Luis Moreira às 13:30
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Carta aberta ao Professor Sílvio Castro

Carlos Loures


Sílvio Castro, meu prezadíssimo amigo, retribuo com os devidos juros os elogios que me fazes e que antecedem a tua patriótica indignação – considero-te um grande escritor, um probo intelectual e sei que és um excelso professor. Nada do que digo a seguir deve ser interpretado de outra forma que não seja a de prosseguir um diálogo entre amigos que divergem num pormenor, mas que sabem que estão de acordo em muitas coisas importantes. Conhecemo-nos há muitos anos e as nossas relações, as profissionais e as de amizade, sempre se pautaram por uma grande frontalidade. Não vamos abrir excepções.

Devias saber que nada me incomoda usar lugares-comuns sempre que acho que podem substituir formas mais elaboradas, mas menos claras. O lugar-comum é como a praça pública – aberto a todos. Tampouco me assustam adjectivos tais como «aberrante», «anacronístico» , como aqui dizemos, para mim vêm de carrinho. Usar anacronismos é precisamente um dos meus hábitos, num tempo em que a ditadura do “politicamente correcto” vai transformando em anacronismos valores, que constituíam suportes da vida em sociedade. Guio-me pelos juízos que das coisas faço. Como se costuma dizer, não sou de modas. Do que está na moda escolho o que me interessa e deito fora o que não me agrada. É pecha antiga que com a idade se vai agravando.

A moderna historiografia literária, tal como a antiga, como melhor do que eu sabes, não é uma ciência exacta, e o que agora é fixado como correcto está sujeito a no futuro ser considerado anacronismo, lugar-comum, quando não mesmo dislate. As Letras, as Humanidades são disciplinas que abordam o íntimo do ser humano e, se forem autênticas, não registam evoluções – Homero é tão pertinente quanto Saramago. A literatura ensina-nos que a natureza humana é igual á de há milhares de anos. Mudam as mentalidades? Mudam. Chamar-lhe evolução já não concordo, pois dá ideia de que seguem um padrão científico e que se vão aperfeiçoando. A natureza humana é imutável, pelo menos até que a engenharia genética a manipule e modifique. Correntes literárias, história da literatura, tudo o que a relaciona o homem como ser social – está sujeito à mudança e às tais modas a que sou indiferente. Estar ou não estar up-to-date seja no que for não me preocupa.

Entrando na questão que estamos a debater, não estou a depreciar os valores do patriotismo brasileiro, tão respeitáveis quanto os de qualquer outra nação. Não há nesta apreciação eurocentrismos ou europeísmos culturais. Aliás, com sete séculos de diferença, a independência de Portugal e a do Brasil têm similitudes – Afonso Henriques pertencia à nobreza leonesa e quis criar um reino independente. Pedro I, era o indigitado rei de Portugal, mas sonhou um Império vasto como um planeta. Patriotas, Afonso e Pedro? Acho que não – ambiciosos, diria antes. Eles e os que os acompanharam. E não considero a ambição um crime.. As épocas são diferentes e a ambição manifestou-se de forma diferente. A brutalidade dos barões medievais foi substituída pelo empolamento que o Romantismo induziu em toda a sociedade. E aí, meu caro Sílvio, és tu quem está a ser anacrónico e a deixar que o patriotismo interfira no raciocínio – os nobres que romperam com o reino de Leão ou Pedro, rompendo com Portugal, foram patriotas? Quanto a mim, não. Foram oportunistas. Ou, mitigando, podemos dizer que tiveram o sentido da oportunidade.

Os leoneses que criaram Portugal e os portugueses que criaram o Brasil não podiam ser patriotas de pátrias inexistentes. Nem eram oprimidos – queria bem saber Afonso dos que no seu condado viviam como animais ou estava preocupado Pedro com índios a ser exterminados ou com os negros que eram como mercadoria importados de África? Nem Afonso mudou a estrutura feudal do seu condado, nem Pedro deu liberdade aos escravos. Curioso que país «libertado do jugo colonial» quis manter os territórios que herdara do colonizador – deveria ter dado a liberdade ao Uruguai. Mas não. Prosseguiu a luta que os «portugueses opressores» tinham iniciado. Onde fica a coerência?

Quando digo que antes de haver estado brasileiro não existe literatura brasileira, quero dizer que antes da independência não existe Brasil. E aplico o mesmo critério a Portugal – não naturalizo as “Cantigas de Santa Maria”, embora faça parte da proto-história da nossa literatura (tal como da vossa). A língua portuguesa foi saindo do seu berço novilatino e iniciou uma deriva que passando por Fernão Lopes, Gil Vicente, Camões, António Vieira, chegaria ao belo idioma que hoje temos em nove nações (contando com a Galiza, a nação sem estado, a irmã com que há um milénio começámos a viagem). E tudo isto, de Afonso X a Rubem Fonseca, é nosso, é comum. Essa é a realidade.

Os patriotismos exacerbados são anacrónicos, são lugares-comuns e cheios de poeira que nos chegam, não da Idade Média ou da época dos Descobrimentos, mas sim desse mal - cheiroso século XIX, em que se forjaram impérios, romantismos anti-higiénicos que vieram a desembocar, já no desgraçado século XX em fascismos, nazismos, em estados - novos podres de velhos, em holocaustos… Deu-nos óperas bonitas, grandes romances, filósofos e poetas; o marxismo inventou-se e o capitalismo forjou-se ao ritmo do resfolegar da máquina a vapor. A ambição imperial tomou conta das cabeças. Napoleão não acabou em Waterloo, prolongou-se na sofreguidão de prussianos, russos, sérvios, austríacos, castelhanos que, sem espaço para criar o «seu» império, subjugaram vizinhos. O europeísmo cultural dominou as cabeças dos próceres da “libertações” americanas. A Europa de que diziam querer libertar-se, dominou-os, esteve em todos os seus actos. Na sua maioria, os «libertadores» eram europeus ou crioulos europeizados.
Queres anacronismos, meu caro Sílvio Castro? Tenta ler com olhos estrangeiros estes versos:

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas/ De um povo heróico o brado retumbante,/E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos,/Brilhou no céu da Pátria nesse instante.

Se o penhor dessa igualdade/Conseguimos conquistar com braço forte,/Em teu seio, ó Liberdade,/Desafia o nosso peito a própria morte

É bonito, acredito que os corações brasileiros bombeiem lágrimas para os olhos patrióticos ao evocar o “Eu fico!”, tal como nós aqui lacrimejamos quando gritamos “Contra os canhões, marchar, marchar!” – mas é tudo romantismo e literatice novecentista – Nem no Brasil com a independência raiou o sol da liberdade, nem os portugueses marcharam contra os canhões britânicos que dos navios da sua armada se preparavam para bombardear Lisboa e Porto, se o seu humilhante ultimato não fosse aceite. No Brasil a escravatura continuou até à lei Áurea de 1888; aqui fizemos uma subscrição que deu para comprar uma pequena canhoneira e lá aceitámos o ultimato. Cada um foi à sua vida. As coisas são como são.

Segundo se diz nesse dia do “Eu fico”, o imperador estava com uma diarreia dos demónios, pouco adequada aos cânones românticos. Mas tal pormenor não ficaria bem nos versos empolados do Joaquim Osório Duque Estrada. Do nosso Afonso I não há notícia de distúrbios intestinais. Mas outros haveria.
A independência portuguesa foi uma questão familiar. Não existia por parte dos súbditos um impulso patriótico. Duvido que depois da independência alguma coisa de importante para eles tenha mudado. No Brasil, sete séculos após, as coisas não foram muito diferentes – escravos e índios terão visto as suas condições de vida melhorar?

Em Angola, em Moçambique, foi diferente. As independências foram conquistadas através de guerras contra a potência colonizadora, prolongando-se depois em terríveis guerras civis – antes das independências havia já uma literatura, escritores que, fazendo parte do património comum da lusofonia, não se inserem na literatura portuguesa. Em Cabo Verde, com circunstâncias históricas diferentes, há uma literatura que antecede a independência, sem que seja necessário anexar escritores portugueses que ali escreveram – Manuel Ferreira, com Hora di Bai e Morabeza, romances sobre Cabo Verde, foi um escritor português. Cabo Verde tem uma excelente literatura feita por cabo-verdianos – não necessita de empréstimos.

O que a historiografia literária afirma, interessa-me como informação, mas não como dogma. Guio-me pelos meus anacronismos e lugares-comuns e para mim Tomás António Gonzaga é um português, um portuense, subversivo na opinião do Santo Ofício, mas português – tão português como Bocage, seu companheiro árcade. Quanto ao Frei Caneca. está bem, meu caro Sílvio, fica lá com o Joaquim da Silva Rabelo, depois Frei Joaquim do Amor Divino. Acho que o Joaquim da Silva Rabelo era brasileiro, um dos primeiros. Esteve implicado na Revolução Pernambucana (1817) e na Confederação do Equador (1824) de cariz republicano contra o imperador. Aqui está um bom brasileiro, não um dos parasitas que acompanhavam Pedro I, sonhando o Brasil como um local de libertação e não como um pesadelo para escravos e indígenas.

A Carta de Pero Vaz de Caminha primeiro documento literário do Brasil? Seguindo esse critério, poderíamos dizer que a “Geografia” de Estrabão, um grego contemporâneo de Cristo ao serviço de Roma, ao descrever a Lusitânia e os lusitanos criou o primeiro monumento da literatura portuguesa .- pela sua dimensão geográfica e em particular pela antropológica pode ser considerada, pelo menos na versão latina, como um primeiro evento da nossa literatura, mais de um milénio antes de a Nação existir.

E ainda não foi desta vez que posso publicar o texto jubilatório sobre a magnífica literatura brasileira.
publicado por Carlos Loures às 12:00
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Olivenza ou Olivença? O destino numa carta

(Resumo feito por Manuel Simões)

1-Dá notícia da criação, por um grupo de cidadãos oliventinos, da associação “Além Guadiana” para promover a cultura portuguesa, a qual não se pronuncia sobre a questão política mas avança propostas para recuperar a herança cultural portuguesa: propõe o ensino do português nas escolas, difunde menus bilingues nos restaurantes e organiza festivais culturais como Lusofonias, dedicados ao mundo português e cuja 1ª edição teve lugar em 12 de Junho. A associação propôs em Maio que se acrescentasse aos nomes castelhanos das ruas o antigo nome português, o que já aconteceu em 73 sítios. O objectivo é assegurar as duas culturas.

2-Resume a história das vicissitudes políticas de Olivença, desde 1297, em que se tornou portuguesa (tratado de Alcanices) e as constantes passagens devidas a acções bélicas fronteiriças. No congresso de Viena de 1815 as potências europeias acolheram as reivindicações portuguesas sobre Olivença e arredores. E não obstante a Espanha tenha assinado este tratado dois anos depois, o território oliventino – actualmente composto por Olivença, Táliga, São Francisco de Olivença, San Rafael de Olivença, Vila Real, São Domingos de Gusmão, São Bento da Contenda e São Jorge de Alor – continua a fazer parte da província espanhola de Estremadura.

3-Em 2007 passou na Net um vídeo de 4 minutos em que dois homens atravessavam a cidade e colocavam uma bandeira portuguesa no castelo.O autarca de Olivença diz que o episódio nada tem a ver com os movimentos que consideram ilegal a ocupação espanhola, parecer confirmado pelo prof. Carlos Luna.
Com larga informação, narra-se a polémica à volta da reconstrução da Ponte da Ajuda, construída no séc. XVI por D. Manuel e semi-destruída em 1709, a seguir à guerra de secessão espanhola. Em 1990 os dois primeiros-ministros, Felipe González e Aníbal Cavaco Silva, estabeleceram um acordo para a sua restauração. A seguir, os autarcas de Elvas e de Olivença decidiram construir uma nova ponte para veículos, restaurando a antiga para peões. A nova ponte, de iniciativa municipal, subsidiada com fundos comunitários e pelo PIDDAC, foi inaugurada de forma não oficial em 11/11/2000, sem a presença de autoridades portuguesas porque comparecer em território ocupado seria como reconhecer a ocupação. Em 2008 o Grupo de Amigos de Olivença (GAO) tentou anular em tribunal a decisão de reconstruir a velha ponte por entidades espanholas, sem a aprovação do IPPAR. Já foram destinadas verbas no orçamento espanhol para 2007, 2008 e 2009, que deixaram de figurar no de 2010. Em 2007, o autarca de Elvas, Rondão Almeida, prometeu ao seu colega de Olivença que tudo faria para que a reconstrução fosse uma realidade.

4-A questão de Olivença interessou também a CIA, a qual, no relatório e mapa de 2003 não representava a cidade no território espanhol. A Espanha protestou e, nos anos seguintes,o mapa foi alterado, como se pode ver ainda hoje na página web da CIA.

5-O que pensam os portugueses da situação? Se é verdade que Portugal não aceita que Olivença seja espanhola, também não faz nada para que seja portuguesa. Para o prof. Carlos Luna, membro do GAO e líder do Comité Olivença Portuguesa, uma boa solução poderia ser semelhante à que o governo de Madrid propõe sobre Gibraltar. O Comité Olivença Portuguesa defende a formação de um governo local transitório (espanhol e português) que governaria o tempo necessário para esclarecer os oliventinos sobre o seu passado, escolhendo, a seguir, a que país querem pertencer.

6-O actual primeiro-ministro José Sócrates interveio sobre a questão de Olivença à margem do XXIII vértice ibérico de Braga (2008), definindo a presença de portugueses que reivindicavam a soberania sobre a cidade e zonas circunstantes – aos quais foi permitido exibir a faixa “Olivença é terra portuguesa” só a cinco quilómetros de distância – uma demonstração de folclore, afirmando que, de qualquer modo, a situação não faz parte da agenda dos colóquios ibéricos.

7-Esta disputa geopolítica é para os portugueses uma questão de dignidade nacional, enquanto para a Espanha vale o princípio pelo qual “o que cedo está cedido” e não se volta atrás.
publicado por Carlos Loures às 11:00
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Restauração de 1640 (António Marques)

Há 370 Anos, Portugal e os Portugueses restauraram a sua independência e as suas liberdades.



Que seja exemplo e nos ilumine neste tempo de crise política, económica, financeira, sobretudo moral.


É nosso dever, obriga-nos a memória do 1.º de Dezembro de 1640, depende da nossa vontade, restaurar Portugal.


publicado por Carlos Loures às 11:00
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Sempre Galiza! - Síntese do reintegracionismo contemporâneo (23), por Carlos Durão

coordenação de Pedro Godinho

Síntese do reintegracionismo contemporâneo (23)
  por Carlos Durão

(continuação)

Jürgen Schmidt-Radefeldt: “o galego, variedade dialectal do antigo galaico-português, sintagmaticamente perto do português mas foneticamente mais próximo do castelhano” (1990, 22: 149).

Eugenio Coseriu (Eugen Coşeriu era o seu nome romeno; assinava Eugenio Coseriu os seus trabalhos na filologia hispânica): “a pesar de que durante siglos no ha habido contactos efectivos, el gallego y el portugués siguen perteneciendo al mismo conjunto, al mismo continuum lingüístico [...] Históricamente, el portugués es el gallego de la Reconquista y es hasta hoy, en todas sus formas, la continuación de ese gallego. Esto vale también para el portugués literario y común en su relación con el gallego literario medieval, pues la tradición de este gallego ha sido adoptada y continuada por la lengua literaria portuguesa. Se trata, por tanto, del caso, bastante raro en la historia de las lenguas, de una lengua que, precisamente en la forma que se difunde y se constituye en lengua común y gran lengua de cultura, se llama con otro nombre: ya no gallego, sino portugués” (1989, II: 800); “provavelmente um estudo deste tipo, uma semântica estrutural do galego e do português chegaria à conclusão de que o sistema básico é o mesmo no galego e no português e que as distinções, as oposições básicas, os traços diferenciadores são os mesmos, mas há, como dizia o nosso amigo Leodegário, diferença de norma, como há também diferença de norma entre o português de Portugal e o português do Brasil e também no português de várias regiões de Portugal e no português de várias regiões do Brasil” (1993, III: 100); “Una lengua no se impone por decreto” (1995); “a ninguém se pode impor por decreto uma língua. A língua é sempre um  saber e o verbo saber não se conjuga no imperativo” (1995); “desde el punto de vista puramente lingüístico, el límite entre las “lenguas” es convencional, como también lo es el límite entre los dialectos: depende de las isoglosas que se consideren, pues casi no hay isoglosas que coincidan exactamente en un determinado territorio”; ““lengua” se llama, o se puede llamar, cualquier sistema de isoglosas” (1983); “não são [a maioria das inovações poéticas] quase sempre violações ou ampliações da norma, permitidas pelo sistema?” (1979: 50-51); “existem em cada língua oposições constantes e peculiares, tanto entre as invariantes quanto entre variantes normais, com a diferença de que as oposições entre invariantes são funcionais, enquanto que as oposições entre variantes não têm esse caráter, mesmo não sendo nem indiferentes nem arbitrárias na língua dada” (1979: 54); “o sistema é um conjunto de oposições funcionais; a norma é a realização “coletiva” do sistema, que contém o próprio sistema e, ademais, os elementos funcionalmente “não-pertinentes”, mas normais no falar duma comunidade; o falar (ou, se se quer, fala) é a realização individual-concreta da norma, que contém a própria norma e, ademais, a originalidade expressiva dos falantes./ O sistema é sistema de possibilidades, de coordenadas que indicam caminhos abertos e caminhos fechados: pode ser considerado como conjunto de “imposições”, mas também, e talvez melhor, como conjunto de liberdades, pois que admite infinitas realizações e só exige que não se afetem as condições funcionais do instrumento lingüístico: mais que “imperativa”, sua índole é consultiva. [...] A norma é, com efeito, um sistema de realizações obrigadas, de imposições sociais e culturais, e varia segundo a comunidade” (1979: 74); “é legítimo interpretar foneticamente as vogais nasais do português cindindo-as em vogal+arquifonema nasal” (1979: 122).

Mª do Carmo Henriques Salido: “Labov nos seus trabalhos manifesta que a “norma” é parte constitutiva da estrutura sócio-lingüística e que sem ela essa estrutura desaparece [...] A Assembleia do “Congresso Internacional da língua Portuguesa no mundo”, realizado em Lisboa em 1983, recolheu, entre outras esta proposta: “I.-Atendendo à situação dos estudos linguísticos, o Congresso reafirma a tese de que o Galego e o Português são normas cientificamente reconhecidas de um mesmo sistema, que engloba as comunidades linguísticas luso-galego-brasileiro-africanas”” (1984.1987, 18-22: 236-238); “A primazia do “espírito de campanário” é exponente de complexo provinciano e rústico; corresponde-se, porém, com o “novo” processo assimilacionista do galego, subsidiário do projecto nacional espanhol, embora os seus promotores revistam os seus textos de separatismo lingüístico, aparente a respeito do castelhano, real a respeito do português, que envolvem em retórica patrioteira inconsistente. Em síntese, constitui umha manobra manifesta para substituir o idioma nacional da Galiza polo espanhol” (1988, 14: 186); “lembraremos que a língua real se pode conceber satisfactoriamente como umha instituiçom em equilíbrio nom estático mas dinâmico e a que só por exigência de estudo se imagina como detida. Isto é, dentro do constante constituir-se ou conformar-se de umha língua histórica, cabe detectar um determinado estado de língua, um momento que, por necessidades de estudo, abstraímos do contínuo devir. E neste momento o que se observa é a existência de “variedades” entrecruzadas que, como variedades, remetem  a umha invariante fundamental chamada diassistema. Assim, o que se denomina normalmente “língua espanhola”, “língua galego-portuguesa” e “língua catalá”, som, observadas desde um determinado estado de língua, os diassistemas gerais que presidem aos diferentes sistemas lingüísticos cujas diferenças, vistas desde o respectivos diassistemas, nom som mais que variantes” (1996, 48: 421).

(continua)
publicado por estrolabio às 10:00
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Quatre Barres - Direcció de Josep Anton Vidal

Aquest espai, dedicat a tots els amics d'Estrolabio i, de manera molt especial, als que segueixen el nostre bloc des de les terres de parla catalana. Aquí parlarem de cultura lusòfona i de cultura catalana, i de les qüestions i els problemes que ens afecten als uns i als altres.

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Eleccions parlamentàries a Catalunya

Josep Anton Vidal

Per llegir els resultats de les eleccions parlamentàries celebrades a Catalunya el passat diumenge dia 28 de novembre, cal tenir en compte alguns antecedents que, probablement, molts lectors portuguesos només coneixeran d’una manera vaga.

Des de la constitució de Catalunya com a Comunitat Autònoma, segons l’organització administrativa instituïda per la Constitució espanyola del postfranquisme, i fins al 2003, el govern de Catalunya va estar a les mans d’una federació de dos partits, Convergència de Catalunya i Unió Democràtica, que van concórrer a les successives convocatòries electorals amb el nom de Convergència i Unió (CiU). Malgrat que l’electorat ha assimilat la sigla que uneix els dos partits com a expressió d’un partit únic, els dos socis de la federació han procurat mantenir la seva identitat separada, sense arribar, però, a posar en perill una relació que els ha procurat el govern durant tants anys. El perfil de CiU es pot resumir dient que representen una opció de dretes democràtiques, amb una decantació més liberal per part de Convergència i més identificada amb la Democràcia Cristiana europea per part d’Unió; una opció nacionalista catalana, que ha procurat l’encaix en l’Estat espanyol, amb una més gran empatia de Convergència amb les opcions independentistes –sense que aquesta idea hagi estat mai recolzada per una majoria suficient de les seves bases i, per tant, sense que s’hagi convertit mai en un punt programàtic del Partit– i més clarament afí a les postures integracionistes per part d’Unió –que no acceptaria, però, haver de pagar el preu de la pèrdua identitària per aquesta integració en l’Estat espanyol–; i, finalment, i sense la pretensió de reduir a aquests tres trets el perfil de la formació, cal dir que presenten un programa polític de modernització del país des de postulats neoliberals i europeistes, i que defensen una acció política basada en el tactisme, el possibilisme i el pacte. L’un i l’altre consideren la llengua i la cultura com a trets identitaris irrenunciables.

Fins l’any 2003, el líder de CiU va ser Jordi Pujol, el fundador de Convergència de Catalunya.

L’any 2003, però, CiU va rebre el càstig d’una part del seu electorat per la connivència amb el govern del Partido Popular, que havia aconseguit instaurar en la presidència José María Aznar i la constitució del seu govern amb els vots de CiU. La guerra d’Iraq i la pèsima gestió dels esdeveniments més penosos de la gestió del Partido Popular, entre els quals cal comptar la catàstrofe del petrolier Prestige, la pèsima gestió de les infraestructures ferroviàries i energètiques, havien generat a Catalunya un desig de canvi que, a Catalunya, va coincidir amb la sensació que amb 23 anys de govern d’un mateix Partit i d’una mateixa persona ja n’hi havia prou. L’anunci de Jordi Pujol que, en cas que CiU hagués de formar govern novament ell no en seria el candidat, va influir en la campanya. Malgrat tot, CiU va ser la força més votada i el nou líder de la formació, Artur Mas, es va sentir, probablement, segur d’obtenir la presidència. Però, aquesta possibilitat es va esfondrar en a penes una nit, quan les tres forces d’esquerres que havien obtingut representació parlamentària –el Partit Socialista de Catalunya (PSC-PSOE), Esquerra Republicana (ERC) i Iniciativa i Unió (IU)– van decidir sumar els seus vots –cosa que els donava la majoria parlamentària–, pactar un programa de govern i fer president el líder socialista Pasqual Maragall.

CiU va viure l’experiència traumàtica de veure com, malgrat haver estat la força més votada, perdia la majoria parlamentària i es veia apartada del govern. I va iniciar així una travessia del desert com a força principal d’oposició parlamentària. A les properes eleccions, convocades anticipadament per Pasqual Maragall quan els tres partits que formaven el seu govern es van dividir en relació amb l’aprovació d’un nou Estatut d’Autonomia, l’any 2006, CiU va tornar a ser la força més votada. I novament la coalició tripartita, integrada per les mateixes forces, va fer-se amb la majoria parlamentària sumant els vots respectius, pactant un programa de govern i fent president el líder socialista, un català procedent de la immigració, l’andalús José Montilla, que havia estat alcalde de la ciutat de Cornellà de Llobretat, en la perifèria industrial de Barcelona, i ministre d’Indústria i Energia en el primer govern de José Luis Rodríguez Zapatero.

Després de 23 anys de govern de CiU, que van ser els primers de la naixent democràcia espanyola, la constitució d’un govern tripartit significava una novetat que no va ser fàcilment entesa per la població. Els partitis coaligats tenien l’obligació de complir el programa pactat, que recollia una part dels programes respectius, però que no satisfeia al cent per cent el programa de cap dels tres. Fins i tot, havien d’assumir que, en algun punt, l’acció de govern anés en contra dels punts que havien defensat durant la campanya electoral com a part del programa individual de cadascun, amb el descontentament consegüent del propi electorat. Això els duia sovint a marcar diferències com a partit respecte de les polítiques que estava aplicant el Govern de la Generalitat del qual formaven part. Es van generar així situacions difícils d’assimilar per la població i fàcilment criticables, com el fet que el Conseller (l’equivalent a un ministre) d’Interior, de qui depèn l’ordre públic i la policia que controla i vigila els aldarulls i les manifestacions, participés en manifestacions de protesta en les quals van arribar a exhibir-se gestos amenaçadors amb pistoles (de joguina, segons fonts del seu departament); o que un dels responsables de l’ordre públic participés estigués manifestant-se a Girona durant una vaga general, mentre a Barcelona es produïen avalots importants, el saqueig dels comerços al centre de la ciutat, i càrregues policials)... Aquesta ambigüitat de ser govern i oposició al govern, tot alhora, en una situació socioeconòmica de crisi prolongada, amb un creixement imparable de l’atur i una munió de problemes afegits, va generar en la població la sensació de desgovern, de vaixell a la deriva en un mar embravit i el convenciment, entre la població, que calia un govern fort, que ja n’hi havia prou de governs tripartits. I l’electorat va cercar en les files de l’oposició la seguretat i l’autoritat política que consideraven necessària per al país. I CiU, que havia estat sempre la força més votada, era ara el centre de totes les mirades.

El Partit Socialista de Catalunya, liderat per José Montilla, va voler aprofitar la descomposició del govern tripartit portant a la població la sensació que, deslliurat del pes dels dos partits que l’havien ajudat a construir la majoria, podria fer una política més ferma, més conforme al propi ideari, i capaç de treure el país de la crisi. Ara bé, la idea no va quallar, per la confluència de factors diversos: el descrèdit de la política que el PSOE està fent a Espanya, la pèsima gestió que el govern de Zapatero ha fet de la crisi, la desafecció dels catalans envers els partits espanyols, especialment després de la sentència del Tribunal Suprem contra l’Estatut de Catalunya. I, sobretot, la convicció, molt estesa entre l’electorat, que els tres partits que durant set anys havien format govern, i entre els quals hi havia també el PSC-PSOE, mereixien un càstig a les urnes.

Les eleccions celebrades el cap de setmana passat no han sorprès ningú, sinó és els qui pronosticaven una gran abstenció adduint l’argument del cansament de la població per la política. No ha estat així, i la participació ha estat superior a totes les expectatives, fins i tot les més optimistes. CiU s’ha fet amb la majoria parlamentària, a set punts de la majoria absoluta, i els tres partits que havien participat en els dos governs anteriors (PSC-PSOE, ERC i IU) han rebut el càstig dels electors, que han retirat la confiança especialment als dos primers, que reculen espectacularment, i han estat més indulgents amb IU.

L’altre tret significatiu dels resultats és l’entrada en el parlament d’un partit independentista, Solidaritat Catalana per la Independència, que ha conseguit quatre escons. Les forces polítiques de la dreta espanyolista i anticatalanista, que compten amb una base electoral força estable, mantenen la seva representació, amb un lleuger augment del PP, malgrat que, per la davallada dels altres grups, aconsegueixen una major importància relativa, que els situa com a tercera força parlamentària.

Per acabar aquest comentari, tres apunts: les decepcions electorals, l’ensurt de la jornada electoral i el ridícul més gran de la campanya. En el capítol de decepcions electorals, deixant de banda el fracàs estrepitós del PSC i d’ERC, el fet que Reagrupament, un dels partits independentistes que buscaven d’aconseguir de fer-se un lloc al Parlament, no ha conseguit representació. Pel que fa a l’ensurt, quan, amb el 50% dels vots escrutats es va difondre la notícia que obtindria tres escons Plataforma per Catalunya (PxC), un partit obertament xenòfob i feixista, la campanya del qual ha estat subvencionada per l’ultradreta austríaca i que ha basat exclusivament el seu programa en l’expulsió i l’exclusió dels immigrants. Finalment no va aconseguir representació parlamentària, gràcies, en part, al fet que el PP, que ha fet també campanya contra la immigració, ha conquerit una part dels votants potencials de PxC.

I finalment, el ridícul més gran de la campanya l’ha protagonitzat Ciutadans (C’s), un partit espanyolista que ha sembrat el secessionisme lingüístic, l’enfrontament entre els catalans en funció de la llengua, l’antagonisme català/castellà i ha mirat d’encendre un problema lingüístic fins ara inexistent a Catalunya. Els defensors de la llengua espanyola, que es proclamen també igualment defensors del català i del bilingüisme, que propugnen, a més, el trilingüisme proposant paritat entre castellà, català i anglès a l’escola, han editat un fullet de propanganda amb el seu programa polític en què barregen català i castellà i que està ple de faltes d’ortografia tant en una llengua com en l’altra. Naturalment, hi abunden molt més les faltes en català, que és la llengua que surt més mal parada de la ignorància lingüística d’aquest grup. L’error més gran consistia en el fet que el canvi d’una N per una M va fer que allà on havia de dir “contra els qui voleN (3a persona: ells) la independència” digués “contra els qui voleM (1a persona: nosaltres) la independència”. L’errada era tan perversa quant a l’ideari de Ciutadans, atès que els proclamava com a independentistes, quan el que volien era proclamar-se antiindependentistes, que van haver de repetir la impressió i la distribució del fullet. Però, com que són tan i tan intel•ligents i estan tan segurs dels seus recursos lingüístics, no van corregir cap de les faltes ortogràfiques, sintàctiques i lèxiques catalanes i castellanes que hi havia en el primer fullet i les van reproduït totes, amb l’excepció d’aquella més perversa que hem assenyalat, en la segona edició. Només això és suficient per desemmascarar la incoherència programàtica, política i de conviccions de C’s i la falsedat de l’exquisit respecte per les llengües de què presumeixen en totes les seves intervencions.
publicado por Carlos Loures às 09:00
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Palestina

Adão Cruz

Não há sol nos céus da Palestina não há luz nos olhos da Palestina.

Roubaram o sorriso à Palestina!

São de sangue as gotas de orvalho da madrugada e o vento só é vento quando as balas assobiam.

Roubaram as manhãs à Palestina!

O céu de chumbo esmaga as almas e os ossos e é de lágrimas a chuva quando cai.

Não há sol nos céus da Palestina!

Do ventre da lua cheia de aço e de amargura nasce a cada hora um menino com bombas à cintura.

Mataram a infância na Palestina!

Rasgam as mães os seios com arroubos de ternura para alimentar a raiva. Por cada filho que perdem
outro nasce da sepultura.

Semearam a dor na Palestina!

Nas casas esventradas rompem por entre as pedras leitos de sofrimento onde à noite se acoitam os amantes queimando a dor na paixão de um momento.

Fizeram em pedaços o amor na Palestina!

Cada instante é uma vida na vida da Palestina cada momento uma taça de vingança clandestina cada gesto um vulcão de raiva que nem a morte amansa.

Roubaram a paz à Palestina!

Na sombra do dia ou na calada da noite cravam os vampiros nazis seus dentes de ferro no coração da Palestina. Não há sangue que farte a fúria assassina.

Sangraram cobardemente a Palestina!

Para atirar contra os tanques uma pedra agiganta-se o ódio a cada bater do coração. Por não haver sangue de tanto sangue vertido outra força não há para erguer a mão...

e dar à Palestina algum sentido.


(Ilustração foto net)
publicado por Carlos Loures às 08:00
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Insones, noctívagos & afins - Arthur Koestler

O último julgamento

Arthur Koestler



O gongo soou três vezes. As suas vibrações expandiram-se em esferas concêntricas através da escuridão e a voz anunciou:


- Senhores, o Último Julgamento.

Bocejando, os acusados ocuparam os seus lugares nos acanhados vagões; a pequena locomotiva rangeu e partiram. Tratava-se de um comboio do Caminho de Ferro Pictórico, que os levou por um túnel sinuoso e escuro.

Em ambas as paredes do túnel havia grutas fortemente iluminadas e isoladas por vidraças, como montras; por detrás dos vidros, engenhosos autómatos, lembrando figuras de um relógio medieval, representavam charadas referentes ao passado dos acusados. A princípio, as charadas eram de natureza embaraçante, mas inofensiva; porém, à medida que o túnel se internava, as cenas tornavam-se mais violentas e obscenas; os movimentos dos autómatos, repetindo continuamente a mesma acção, multiplicavam o horror e a vergonha. Mais adiante, as figuras começavam a perder as suas feições humanas; criaturas cabeludas e simiescas, armadas com maças, contorciam-se violentamente, fazendo caretas hediondas atrás das vidraças. No comboio, os passageiros queixavam-se e gemiam; os seus gritos, as suas respirações aceleradas enchiam o ar abafado do túnel; tentavam fechar os olhos, mas a luz brilhante das grutas penetrava através dos cílios, obrigando-os a ver.

Após algum tempo, o comboio parou e os passageiros desceram para uma plataforma fronteira a uma catedral.

Os pórticos estavam abertos e podia-se ver a Corte já reunida na outra extremidade da nave. O interior sombrio da catedral estava submerso no rumorejar do órgão. Entraram em fila indiana; a música cessou. À medida que cada acusado se adiantava pela nave central, via um numeroso público enchendo as filas de cadeirais. As nuca dos espectadores eram todas iguais, mas não era possível virar o rosto para lhes ver as caras; à medida que avançavam, o juiz e os magistrados recuavam, de maneira a que os seus rostos também não se pudessem ver.

Entretanto, o julgamento do primeiro acusado tinha começado. Era um homem ascético e magro. Estava de pé, encarando a Corte.

- Como se sente? – perguntou o juiz com uma voz terrível, que ecoou pela nave.

- Humildemente, meu senhor – disse o acusado. Mas a sua voz era tão fina que quebrou o ar sem eco e tombou lastimavelmente, de asas quebradas, sobre o mármore do chão.

- Mau eco – rugia o juiz – Mas continue.

- Ele sacrificou a sua fortuna para ajudar os pobres – disse o advogado de defesa, O seu rosto assemelhava-se ao do acusado, mas o seu corpo era mais robusto e mais firme a sua voz.

- O que foi que jantou hoje? – trovejou o juiz.

- Um copo de leite e côdea de pão, meu Senhor – respondeu o acusado.


- O Promotor ergueu-se de repente. Assemelhava-se também ao acusado; tinha uma aparência mais macilenta. A sua voz era um chicote:

- Enquanto ele se encharcava de leite e pão, uma criança morreu de fome na China! – gritou.

- Condenado – bramiu o Juiz; e o público fez eco, com vozes amedrontadas:

- Condenado, condenado.

O acusado saiu vagarosamente da catedral e, sentando-se no comboio, no lugar que anteriormente ocupara, cobriu o rosto com as mãos.

O acusado seguinte era jovial, homem simplório e rubicundo. Avançou, com o rosto brilhando e, à medida que avançava, os magistrados opostos mudavam de aparência; novamente se assemelhavam ambos ao acusado; o Defensor parecia ainda mais bonacheirão e obeso.

- O que foi que jantou hoje? – rugiu o Juiz.

Bem, meu Senhor – disse o acusado – pensamos que poderíamos ter começado com salmão fresco, pois está na sua época, e uma garrafa de vinho branco do Reno, para o manter nadando e frio.

- Chega – bradou o Juiz – O que tem a Defesa a alegar?

- Bendita digestão a dele – admitiu o Defensor honestamente, cruzando as mãos sobre o ventre. – E, já agora, qual é a acusação?

O Juiz voltou-se para a Acusação, mas o respectivo assento estava vazio.

- Absolvido por falta de acusação – rugiu, e o público repetiu alegremente:

- Absolvido, absolvido.

O acusado, curvando-se respeitosamente, saiu e foi para o seu velho assento no comboio onde depressa adormeceu.

Aproximou-se outro acusado e os magistrados transformaram-se novamente. Tratava-se de um homem de aparência arrojada e temerária. Logo que encarou a Corte, o Promotor levantou-se.

- Acuso este homem – disse, com voz suave e angélica – de assassínio, incêndio e traição.

- Confessamos com orgulho todas essas acções – gritou o Defensor – Agimos ao serviço da nossa causa.

- Nunca escutou a nossa voz a não ser quando adormecido – queixou-se o Promotor – Semeou desgraças por onde andou – choramingou, golpeando-se no peito.

- A fim de que o bem fosse colhido quando o tempo chegasse – gritou o Defensor.

- Você já viu a colheita? – berrou o Juiz.

- Ainda não – respondeu o acusado – mas…

- Acusado por falta de evidência – rugiu o Juiz; o público fez eco e o acusado, com um sorriso de provocação, saiu da Corte e voltou para o comboio.

O acusado seguinte era um homem muito velho, apoiava-se numa bengala nodosa e, à medida que avançava, o silêncio caía sobre a catedral. Estacou, com a cabeça inclinada, ignorando o que o circundava, como se estivesse escutando um som apenas audível por si; porém, o silêncio tornou-se tão profundo que os outros também o ouviram. Era um som estranho, agudo, que se erguia e morria a espaços, como se alguém estivesse afinando um velho clavicórdio.

- O que está ele a fazer? – perguntou o Juiz.

- Está a afinar o coração – disse o Defensor.

- Mas ele não tem o aparelho necessário – protestou o Juiz.

- Está a tentar afiná-lo de acordo com a tonalidade celeste – explicou o Defensor. – Quando o consegue, o seu eu expande-se e dissolve-se no espírito universal,

O Promotor ergueu-se. Era ainda mais velho do que o acusado; os seus lábios pálidos estavam torcidos num esgar de amargura e desilusão.

- Acuso este homem – disse ponderadament6e – de cumplicidade em todos os assassínios e crimes do presente, do passado e do futuro.

- Ele nunca matou uma mosca – protestou o Defensor.

- A mosca que ele não matou provocou uma epidemia de peste em toda uma região – respondeu o Promotor.

- Olhem-no e ouçam-no – murmurou o Defensor.

O velho tinha subitamente levantado a cabeça; o seu rosto iluminara-se com um sorriso de cego; o Juiz e o público apuraram a audição, mas a vibração do acorde tinha aumentado tanto que já não conseguiam saber se estavam realmente ouvindo alguma coisa ou se era apenas o silvo dos seus ouvidos.

- Condenado por existência de dúvidas – disse o Juiz; o público fez eco e o acusado, com o sorriso apagado e a cabeça de novo reclinada, manquejou vagarosamente até ao assento no comboio.

A Corte esteve reunida durante toda a noite e, acusado após acusado, veio receber o julgamento, uns tremendo, outros com simulada indiferença, alguns humildemente submissos, outros de sobrancelhas franzidas e rostos contorcidos; e apesar da voz ciciante do Promotor, o veredicto era para quase todos «condenado». Havia os que tinham sido correctos por razões erradas e os que tinham errado por razões correctas; havia os que tinham mortificado os seus corpos, mas cujas feridas de masoquistas não eram suficientemente profundas e aqueles que tinham colhido os frutos da carne, mas cujo gozo deixava muito a desejar. Alguns eram castigados por mandar, outros por obedecer; alguns por darem muito valor à vida, outros por morrerem com desprendimento pela causa errada; os doentes eram punidos pelas suas doenças e os sãos pela sua saúde.

Pronunciado o veredicto, todos voltavam aos seus lugares no comboio; e agora, o último da fila, um jovem de expressão tímida, avançou pela nave deserta para enfrentar a Corte.

- Quem é este? – rugiu o Juiz.

- Um cruzado que perdeu a sua cruz – disse o Promotor,

- Um cruzado que procura uma cruz – disse o Defensor.

- Bem, não podemos dar-lhe uma – estrondeou o Juiz. – Isso seria demasiado fácil.

- Fácil, meu Senhor – observou amargamente o Defensor. – Olhai para todo o ruidoso lastro metálico que a Acusação lhe pendurou ao pescoço.

- Tínhamos que contrabalançar a sua cabeça flutuante – respondeu o Promotor. – A Defesa tinha-lhe posto na cabeça uma quantidade excessiva de bolhas de ar.

- Ele não pôde flutuar com todo esse peso – protestou o Defensor.

- Há tempo para se flutuar e tempo para se afundar – observou o Juiz, impacientemente, pois tinha outros afazeres para aquela noite.

- A tempo ou não, a maioria dos meus clientes flutua – observou o Defensor, satisfeito.

- Só serão salvos os que se afundarem – disse o Promotor.

- Basta – disse o Juiz. Voltou-se para o acusado:

- Até que esses dois cheguem a acordo, não terás paz. A sentença é: Purgatório, para ser experimentado.

- Mas eu já estive no Purgatório – observou mansamente o jovem.

- Não tem importância – disse o Juiz – Alguns são postos à prova durante toda a vida.

- Toda a vida – fez eco o público.

- São os eternos adolescentes através dos quais a raça amadurece.

- Amadurece, amadurece, amadurece – cantou solenemente o público.

- A sessão está encerrada – disse o Juiz, e a Corte levantou-se.

- À medida que o jovem atravessava a nave em direcção ao pórtico, percebeu que não só os rostos do Promotor e do defensor, como os de todos os presente, eram moldados segundo a sua imagem. O coração contraiu-se-lhe de desespero.

- Estou sozinho? – perguntou.

E o público respondeu.

- Não há mais ninguém sob esta abóbada.

Finalmente estavam todos sentados; a locomotiva silvou e o comboio dirigiu-se ao ponto de partida. Contudo, agora as grutas estavam apagadas e o túnel acinzentado pela luz da aurora. Os passageiros dormiam. O jovem deu uma cotovelada ao vizinho.

- Que tribunal esquisito era este? – perguntou.

- Ora, era a Corte suprema – disse o vizinho. – Nunca veio aqui antes?

- Não – disse o jovem. – Volta-se para cá?

- Todas as noites – disse o outro, sonolentamente.

- E julgam-nos novamente?

- É sempre o Último Julgamento – disse o homem e adormeceu novamente.

Mas o jovem voltou a acordá-lo:

- Como é que toda esta gente volta no mesmo comboio?

- Ora, o que é que esperava? – indagou o vizinho.

- Mas uns foram condenados, outros absolvidos, alguns estão à experiência e, mesmo assim, não há nenhuma diferença?

- Acha que não há?... – perguntou o vizinho, bocejando.

- Se não há diferença, por que hei-de eu submeter-me às suas regras?

- Porque é o Último Julgamento – disse o outro, voltando a adormecer,

Após algum tempo, o comboio saiu do túnel e parou. Os passageiros espreguiçaram-se, saíram e dispersaram-se apressadamente, sem olhar para trás. A manhã era cinzenta e fria; toda a gente voltou aos seus afazeres, sem pensar que à noite se encontrariam novamente.



(Extraído do livro «Maravilhas do Conto Fantástico», organizado por Fernando Correia da Silva, Editora Cultrix, São Paulo, 1968, com adaptação à norma portuguesa)
publicado por Carlos Loures às 03:00
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Gaspar Martins - um soldado oliventino do século XVII

Carlos Luna


Já se sabe que as guerras são momentos de muita crueldade e desumanidade. Não há dúvida de que constituem a pior invenção do ´"génio"(?) humano.

Apesar de tudo, temos de falar delas. Dos heróis. Dos traidores e das vítimas. Talvez para que as suas histórias nos sirvam de lição e procuremos outros caminhos para resolver desinteligências.

A Guerra da Restauração (ou da Aclamação ) foi um conflito terrível. Vinte e oito anos (1640-1668) de destruição e ódio. Grande preço pagaram os povos de Portugal e Espanha para que se reconhecesse o que devia ser evidente, já então, mesmo com as limitações compreensíveis da época (Século XVII): que cada povo deve poder governar-se por si só, e decidir o seu próprio destino.

Portugal, em revolta porque achava que esse direito fora violado, cuidou de se fortificar logo a partir de 1640. E um especialista holandês, jesuíta, Jan Ciermans, mais conhecido pelo nome latinizado de João Pascácio Cosmander, foi contratado para fazer planos de fortificações estilo "Vauban", incluindo entradas secretas e outros pormenores.

Quis o destino que Pascácio Cosmander mudasse de opinião, talvez por dinheiro, talvez por convicção. E, ao serviço da Coroa espanhola, tornou-se um perigo imenso. Ele podia introduzir inimigos, sem dar nas vistas, nas praças fronteiriças portuguesas cujos planos ajudara a elaborar. Na raia alentejana, instalou-se um clima de medo.

Assim foi. Cosmander tentou entrar na Praça de Olivença, mais ou menos disfarçado, em 1648. Mas...foi reconhecido. Um carpinteiro, "guerrilheiro" voluntário na Guerra, chamado Gaspar Martins, não hesitou ao vê-lo, e matou-o com um disparo certeiro.

Logicamente, o atento oliventino viu-se transformado em herói.

Recebeu mercês e bens vários, e tornou-se um exemplo para as gentes da Raia Alentejana. Os seus descendentes viriam ainda a beneficiar das recompensas. O exército português respirou de alívio.

Podemos hoje meditar sobre a real valia deste tipo de feitos. Mas o sentimento da época foi claro. Na memória popular, principalmente em Olivença, algumas quadras imortalizaram o feito:

Já morreu o vil traidor
p`ros infernos muitos anos
quis vender o nosso povo
ao poder dos castelhanos.


Cosmander foi um vilão
ao serviço dos mariolas
mas teve morte de cão
com sepultura d'esmola.


Era um diabo, um malvado
sem honra nem coração;
dorme, filho, descansado,
que já morreu esse cão.


______________________________________________________________________________
publicado por Carlos Loures às 02:00
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Música romântica do Século XX - 14

Over the Rainbow, frequentemente referido como  Somewhere Over the Rainbow, é uma composição musical de Harold Arlen com letra de E.Y. Harburg. Gravada em 1939, foi criada para o filme The Wizard of Oz, - O feiticeiro de Oz (1939), onde foi cantada por Judy Garland.

Há muitas interpretações. Vamos ouvir a original:
publicado por Carlos Loures às 01:00
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