Sexta-feira, 30 de Julho de 2010

Autores fundadores da Antropologia, de Raúl Iturra



Bronislaw Malinowski, The family among the Australian Aborigines. A sociological study, University of London, Monographs on Sociology, Nº 2, University of London Press, 1913. Este texto foi a tese de Malinowski, orientada por Edward Westermarck na London School of Economics. Como se sabe, Malinowski era Doutor em Física e Química pela Universidade de Cracóvia. Durante um tempo, nos seus jovens vinte anos, sofreu um problema pulmonar que teve que curar na imobilidade. Para se entreter, léu vários livros, entre os quais O ramo de ouro, título original: The Golden Bough. A Study in Magic and Religion, de James Frazer, 1890, 1ª Edição em The MacMillan Press – a edição que uso é de Papermac, 1995. Livro que o impressionara até o ponto de abandonar as suas denominadas ciências exactas e, já curado da sua doença, foi de imediato para. Até este ponto, a minha fonte são os seus antigos estudantes quem em Cambridge, contaram-me estes factos, especialmente a minha amiga e vizinha Audrey Richards. Conheço a história toda, mas vou usar as palavras da wikipédia para continuar: Bronisław Kasper Malinowski (Cracóvia, 7 de Abril de 1884 — New Haven, 16 de Maio de 1942) foi um antropólogo polaco. Ele é considerado um dos fundadores da antropologia social. Fundou a escola funcionalista. Suas grandes influências incluíam James Frazer e Ernst Mach. Em Leipzig (Alemanha) foi orientado por Karl Bücher e Wilhem Wundt para então ir à London School of Economic em 1910. Mais tarde publicou a primeira obra: The Family Amoong the Australian Aborigenes (1913) onde criticou duramente o evolucionismo e provou conhecimento teórico. Para Malinowski, o evolucionista Morgan havia desorientado por gerações a pesquisa antropológica com o sistema classificatório de termos para parentes quando o demonstrou como aquilo que já foi e hoje já não é mais (DUHAN: 1986). Da mesma forma, Gräbner, outro evolucionista, teria desenvolvido uma abordagem antifuncional imbecil, que não estabelecia relação de objetos com propósitos e uso pessoal (IDEM: IBDEM).



Segundo o antropólogo Ernest Gellner, Malinowski tomou uma posição original em relação aos conflitos de ideias do seu tempo. Ele não repudiou o nacionalismo, uma das ideologias nascentes e marcantes do século XIX. Mas ele juntou o romantismo com o positivismo de uma nova maneira, tornando possível investigar as velhas comunidades mas ao mesmo tempo recusando conferir autoridade ao passado. Ele rejeitou a especulação evolucionista e a manipulação do passado para fins do presente, pecados vulgares do seu tempo. Fonte: as minha lembranças e as palavras de http://pt.wikipedia.org/wiki/Bronis%C5%82aw_Malinowski

Sem dúvida, a principal contribuição de Malinowski à antropologia foi o desenvolvimento de um novo método de investigação de campo, cuja origem remonta à sua intensa experiência de pesquisa na Austrália, inicialmente com o povo Mailu (1915) e posteriormente com os nativos das Ilhas Trobriand (1915-16, 1917-18), os Massim, denominados também povo Kiriwina. Fez a sua tese de doutoramento em três anos, tese que passou a ser livro em 1911. Este texto pode ser lido em: http://www.questiaschool.com/PM.qst;jsessionid=JwvCwwDfZynTLcv735bJWKgQb15hVGZpvWZ6T5qfWG2ypvf7HSzK!569501316!-957050587?a=o&d=64781836, ou em http://www.questia.com/PM.qst?a=o&d=64781836 com uma introdução de John Barnes, publicado em Nova Iorque, Schoquen Books, 1963. Barnes fez um comentário na sua introdução. Diz: Malinowski é especialmente lembrado pelos seus livros sobre os Ilhéus Trobriand da Papua New-Guine, pela sua teoria sobre o funcionalismo e pelo brilhante grupo de discípulos em Antropologia Social que estudaram com ele durante longos anos na Universidade de Londres. The Family Among the Australian Aborigines é parte de uma fase anterior da sua vida como Antropólogo, antes de ter viajado fora da Europa, como também antes de começar a sua metodologia de observação directa ou participante dos povos tribais dentro do seu próprio habitat. Foi escrita nos tempos em que os teóricos da antropologia eram directamente endereçados em favor ou em contra das ideias da evolução e de história universa. Ideias que passaram a ser um sucesso no Século XIX. Os académicos europeus estavam interessados nos povos primitivos para inferir de esse presente, o seu próprio passado, e não propriamente dos seres humanos que investigavam, como pessoas que fossem seres humanos de hoje e agora. Aliás, o livro foi escrito nos tempos em que a informação dos povos de fora da Europa. Eram colectadas de relatos de viajantes que e formados para a observação de povos primitivos....O livro, se bem publicado em 1913, foi escrito em 1910, durante a época de académicos de leitura. O texto pode ser lido em inglês em: http://www. questia.com/PM.qst?a=o&d=64781836 O próprio Frazer mais tarde
publicado por Carlos Loures às 15:00
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Freeport - insuficientes mas existem!

Como se previa o arquivamento do processo e consequente fim do segredo de justiça, veio levantar questões muito dolorosas para as entidades estatais que autorizaram a construção do Freeport.

Para além das 27 perguntas que não foram feitas a José Sócrates, o relatório do Ministério Público não é parco em palavras e diz claramente, que há provas de que houve pagamentos e movimentações de avultadas quantias em dinheiro nas contas bancárias dos arguidos. Provas insuficientes, é um facto, mas existentes!

Há ainda provas que a autorização foi conseguida após e devido ao envolvimento de figuras próximas do entáo secretário de estado do ambiente, tanto familiares como hierarquicamente dependente dele. Provas insuficiente, é um facto, mas existentes!

A credibilidade do primeiro ministro leva mais uma pázada de terra (talvez do cemitério que não autorizaram a construir no mesmo local por razões ambientais)e nos próximos dias as provas, insuficientes, é certo, mas existentes, vão continuar a serem publicadas pelos "media". Se em termos criminais, o primeiro ministro pode descansar, no que à opinião pública diz respeito é-lhe retirada a mais pequena porção de credibilidade que lhe restava.

Bem sei que a sua vida política está a acabar e que só razões de calculismo político, do próprio e alheio, o mantêm no lugar, até sair pela porte pequena. Quem também só tem portas pequenas é a Justiça, que nos quer convencer que há corruptores sem haver corrompidos! O curioso é que os únicos que são acusados são os privados, aqueles que de certa forma estavam a fazer pela vida. Precisavam de construir o Freeport para ganharem as comissões que são o seu rendimento enquanto intermediários.

Quanto à extorção não deveriam ser os extorquidos a apresentar queixa? É que só há extorção se houver uma ameaça física ou de outra ordem muito grave. Por exemplo, "ou me dás tanto, ou dou-te um tiro..." pois se ninguem se queixou como é que pode haver extorção?

O Presidente do Sindicato já vem dizer que vai defender os magistrados relatores no que for preciso, o PGR publicou uma nota a desmentir os magistrados relatores e vamos ter festa garantida!
publicado por Luis Moreira às 13:30
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O que importa o nome da rosa? - a rose by any other name would smell as sweet - l’important c’est la rose.

Carlos Loures

Para quem aspira a uma democracia plena, o cenário da vida política portuguesa, da nossa «democracia», não podia ser mais desolador. Quando o ar está abafado dentro de casa, abre-se a janela e aspira-se ar puro. Porém, abrindo a janela, olhando globalmente o planeta, o ar é mais sufocante e o panorama é ainda mais assustador. Como num pesadelo ou num quadro de Dalí, num labirinto soturno, seres humanos sonâmbulos, errantes, incaracterísticos, vagueiam, enquanto um animal mutante e híbrido os persegue, devora e logo os regurgita devidamente educados, transformados em humanóides-socializados, em membros indiferenciados de uma gigantesca colmeia com milhares de milhões de corações, pulsando ao mesmo ritmo. Um a um, os seres vão sendo agarrados. Mas não fogem, oferecem-se aos dentes da fera com a indiferença de quem nada quer fazer para o evitar. Porque ser devorados e regurgitados, convertidos em peças da máquina global, parece ser o principal objectivo das suas vidas. E chamam a essa transmutação perversa «originalidade»!

Herbert Marcuse (1898-1979), o filósofo norte-americano de origem alemã, um dos mais importantes pensadores da Escola de Francoforte, explica-nos como o sistema, através de um marketing sofisticado, e utilizando os seus dispositivos de controlo, consegue que o «homem-unidemensional» assuma como seus os objectivos do sistema e como suas as necessidades do sistema (confundindo as formas de satisfação socialmente exigidas com as formas de satisfação genuinamente individuais – formas que, numa sociedade saudável, deveriam estar em dialéctico conflito). «Deste modo», conclui Marcuse, «a sociedade estabelecida assenta nos próprios pensamentos, nos próprios sentimentos e inclusivamente nos próprios corpos da maioria dos indivíduos».

Seria interessante que alguém estudasse a intertextualidade entre os conceitos de homem-massa, de Ortega y Gasset (a que já aqui aludi en passant) e o de homem unidimensional, de Marcuse. Ambos se parecem referir ao homem resultante da sociedade industrial – embora os modelos de um e de outro possam estar separados por duas ou três décadas e, portanto, algo desfasados. O pressuposto de Engels, segundo o qual é a vida que determina a consciência e não o contrário, é claramente assumido por Marcuse. A sociedade unidimensional, orientada pelo marketing, a sociedade de consumo como mais habitualmente dizemos, impõe um padrão de vida, esse padrão arrasta consigo uma ideologia de vida e essa ideologia molda a consciência do homem. Resulta no homem unidimensional.

Todos sabemos como, por exemplo, os adolescentes, na sua ânsia de se afirmarem como seres únicos e diferenciados, adoptam os hábitos da maioria com a insolência e a agressividade de quem está a inovar. Cabelos compridos, ou curtos, saias idem, piercings, tatuagens – coisas vulgares e vulgarizadas, massificadas – são usadas pelos jovens com a sensação de que estão a participar numa revolução. Como as variáveis não são muitas, a novidade de hoje pode ter sido a velharia de há oitenta anos e vice-versa Na realidade não chocam ninguém, não revolucionam nada – enriquecem os velhos das multinacionais que lhes impingem a tralha com que se ataviam e chateiam os pais. Os avós não se sentem incomodados - já viram este filme.

Refiro o exemplo dos adolescentes porque neles é mais visível o alinhamento numa massificação de usos, roupas, músicas, com essa falsíssima sensação de corajosa originalidade. Na realidade, nos adultos, a massificação é semelhante, embora não tão evidente. Porque o adulto vai tendo tempo para cultivar uma capa de personalidade única e invulgar, sob a qual esconde a sua massificada vulgaridade. As modas que os jovens e os menos jovens adoptam com a convicção de que estão a definir uma personalidade única, são estudadas meticulosamente por gabinetes de marketing. O mercado é dividido em grupos-alvo, segmentados sócio-demograficamente, em classes, segundo o sexo e a faixa etária, considerando o habitat, se urbano, se rural. Nós a levarmos uma vida cultivando o mito de que temos uma personalidade única e irrepetível e os sacanas dos copywriters e dos accounts a arrumarem-nos em meia-dúzia de categorias, a espetarem-nos no peito, como insectos no álbum de um entomólogo, um alfinete com um rótulo do género – Mulher, 43 anos, classe C1, habitat urbano. Tal como os adolescentes que, com a ideia estulta de que estão a ser rebeldes, estão a proceder como mansos cordeirinhos, os adultos compram os carros (escolhendo quase todos a mesma cor – desde há anos o cinzento metalizado), as roupas, os dentífricos, que o marketing lhes dita, sempre com a ilusão de que são uns gajos cheios de personalidade. E tal como acontece com as roupas e carros, as ideias políticas também são postas ao dispor dos «cidadãos - eleitores» já pensadas. Como se comer comida mastigada por outros fosse uma vantagem. Toda a gente protesta, mas depois, no momento de votar, uma larga maioria vota num dos dois partidos do poder – comida super -mastigada!

Falemos de nomenclatura. Que raio de nome havemos de dar a isto que tenho estado para aqui a defender? Temos de ir um pouco atrás. Quando critico os partidos do chamado «bloco central», faço-o tendo em conta as diferenças de índole programática entre os dois. O PS cada vez é menos socialista e não chega sequer a ser social-democrata. Quanto ao PSD, menos do que neo-liberal, não sei no que estava aquela gente a pensar quando crismou o PPD (embora os termos «popular» e «democrático» constituíssem já um monumental embuste). Agora, Partido Social-Democrata? Mas então ninguém, naquela casa sabe o que é a Social-Democracia? Nem o Pacheco Pereira? Nem o professor Marcelo? O Partido de Lenine era o Partido Social-Democrata Russo, inspirava-se em Marx e em Engels, e esteve na génese do PCUS. Social-Democracia ou Democracia-Social é a antítese da «democracia» neo-liberal. Mas enfim, a demagogia conduz a estes «equívocos». O Partido Socialista, parecia não se ter equivocado no nome, pois provém da Acção Socialista Portuguesa, constituída na sua maioria por gente formada na «cantera» (acho graça a este estúpido termo futeboleiro) do Partido Comunista. Era mesmo socialista que eles queriam dizer. Apenas porque dizer e fazer são coisas diferentes. Nem para todos, claro, houve e há socialistas honestos e que procuram ser coerentes com os seus ideais. Sou amigo de alguns.
No fundo, o que era preciso era realinhar as pessoas em novos partidos, digo eu e os que gostavam de ver a situação clarificada. Seria necessário um deus ex machina que viesse pôr-nos o leque político na ordem, como quem ordena uma mão antes da partida de bisca ou de sueca. Porém, embora para os políticos, esta simulação de luta ideológica seja útil, Sócrates e Pedro Passos Coelho, bem como a maioria dos seus mais destacados seguidores, deveriam estar todos no mesmo partido. São a mesma gente ambiciosa de poder, mas de ideologia pindérica.

A questão central deste texto – a da ideologia que os mídia e o mercado impõem, através da televisão e da imprensa, ao homem comum, «unidimensional» ou «massa» – o artolas que paga o circo, mas que não tem direito a ir para o redondel. Paga para ver o espectáculo e não para nele participar. Por isso, voltemos ao tio Herbert: há um opusculozinho de Marcuse com um discurso que ele fez em Março de 1969 no aeroporto de Vancouver. De notar que as autoridades canadianas o tinham intimado, à sua chegada, na véspera a abandonar o país no dia seguinte – democracia, sim, mas devagar - Por isso ele fez uma palestra para estudantes que foram ao aeroporto. «Exigir o Impossível» foi o título dado ao livrinho onde a palestra foi registada. Título que retirou de um graffiti nas paredes da Sorbonne, no escaldante Maio do ano anterior: «Sejamos realistas, exijamos o impossível!» Porque só exigindo o impossível, sendo radicais (ou seja, indo à raiz dos problemas) é que podemos contrariar a manipulação que é feita às consciências de milhares de milhões de pessoas. Já não falo de socialismo, pois o termo está conspurcado pelas experiências históricas que conhecemos e por partidos bastardos como o nosso PS. Nem faz sentido invocar Marx.

Devemos sempre exigir o impossível. E o impossível é ser dado a cada pessoa, apenas por ter nascido, aquilo a que tem direito, prover as suas necessidades físicas e intelectuais. Redesenhar a sociedade e construir um modelo voltado para as necessidades da família humana e não para a usura, para a ganância do lucro a todo o custo. Montar os dispositivos que permitam distribuir a riqueza existente de forma racional, dando a cada um a sua parte (porque não estamos a falar de a cada um segundo as suas capacidades ou segundo as suas necessidades – ou mesmo de acordo com a suas rapacidades. As necessidades são iguais – alimentação, vestuário e tratamento na doença. As outras necessidades, as de carácter intelectual – a educação, a cultura, a informação - podem ser satisfeitos de forma maciça, através das novas tecnologias, as que existem e as que vão existir. Tendo sempre em consideração a grande diversidade de opções que neste campo os seres humanos manifestam.

E podem pôr a este sistema, assumidamente subversivo da ordem estabelecida, o nome que quiserem – socialismo, comunismo, cristianismo, anarquismo, o que queiram – até podem chamar-lhe social-democracia. Agora já percebem onde queria chegar com o título trilingue: O que importa o nome da rosa? - a rose by any other name would smell as sweet - l’important c’est la rose.
publicado por Carlos Loures às 12:00
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PT fica no Brasil

Carlos Mesquita

Foi aqui publicado no dia 4 do corrente, um meu artigo titulado “Portugal Telecom. Projecto VIVO ou morto” onde falava sobre o interesse relevante para a PT e Portugal em manter a sua presença no mercado das telecomunicações do Brasil. Não vou repetir argumentos, no início do mês essa presença era com a VIVO. As razões porque defendia que o governo usasse a Golden Share também estão nesse artigo, e hoje é patente que todas as partes envolvidas no negócio, excepto os espanhóis, concordam (alguns só agora) com a medida de Sócrates. Convém realçar que a proposta de aquisição da telefónica exigia que a PT deixasse o Brasil, portanto sem intervenção do governo, para satisfação imediata dos accionistas receosos e dos crentes da Teologia do Mercado, a PT já tinha saído do Brasil. Não saiu, os accionistas (que vão receber mais dinheiro) estão satisfeitos, o governo brasileiro também, ficou Passos Coelho a falar sozinho, ou se quisermos ser mauzinhos a carpir com os espanhóis. A Telefónica ganhou a VIVO embora por um preço que alguns especialistas dizem exagerado, mas isso é o que menos importa a nós portugueses, como também interessa pouco que se tenha endividado demais ou descido do ranking das empresas de telecomunicações mundiais de 1ª no fim do ano passado para 5ª agora, é um problema deles. Para os portugueses o que conta é que o negócio com a Oi permite continuar no Brasil, foi defendido o interesse estratégico nacional. Apesar da complexidade do negócio sabe-se que a Portugal Telecom, que passa a ser o maior accionista individual da Oi, terá poderes especiais na estrutura accionista e participadas, e poder de veto sobre as decisões dos principais accionistas privados. A PT não vai só injectar dinheiro na Oi, vai levar capacidade de gestão e know how nacional de engenharia e tecnologia de telecomunicações, vai permitir manter os empregos criados em Portugal e gerar mais condições para o apoio à formação e pesquisa tecnológica, da actividade económica de ponta que é o sector das telecomunicações; esse é o principal interesse estratégico para o país, ganhos em investigação e desenvolvimento.


Zeinal Bava presidente da PT, prometeu reduzir o preço que os portugueses pagam pelas telecomunicações, ficamos à espera, como também aguardamos que uma empresa com a dimensão actual da Portugal Telecom, deixe de usar trabalhadores contratados a empresas de trabalho temporário, nas suas actividades normais.

Uma palavra para Lula da Silva, que escolheu os portugueses para parceiros no projecto de levar banda larga a todo o Brasil, e de criar uma Telecom de vocação global não só para os países de língua oficial portuguesa, como para a América Latina.

A internacionalização da PT é inevitável e fundamental, está num mercado infinito como o brasileiro, escapa à crise europeia e satisfaz a necessidade de desenvolvimento dum país emergente em crescimento; há muito trabalho pela frente mas isso, fazemos bem.

Deste negócio da PT há lições a retirar; não cedendo à pressão dos poderosos na primeira ameaça, há compensações. A Telefónica comprou a VIVO por 7,5 mil milhões (que Belmiro venderia por 2 mil milhões há 4 anos) depois de ter oferecido 6,5 há três meses e 7,15 na Assembleia da PT. A diferença entre 7,15 e 7,5 milhões é como uma multa que teve de pagar por esquecer, na sua soberba, o accionista Estado. Com Passos Coelho no governo a VIVO era mais barata para os espanhóis e a PT tinha saído do Brasil, o resto é politiquice.
publicado por Carlos Loures às 11:00
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Novas Viagens na Minha Terra

Manuela Degerine

Capítulo LXIV

Décima sétima etapa: de Vilarinho a Barcelos

Após o dilúvio da madrugada, os caminhos continuam alagados. Portanto, novidade do dia: arrumei os crocs. Impossibilitada de usar este imaterial calçado, interroguei-me, algo inquieta, enquanto redobrava o nó dos atacadores, que parte dos vinte e oito quilómetros caminharia com as botas. Talvez poucos metros...

Se não as aguentar, abandono a caminhada, pois será insensato, com feridas nos pés, enfiá-los em lama e águas sujas. No entanto, uma vez saída de Vilarinho, até a desistência se complica, por não haver transportes públicos. Restar-me-á pedir boleia – um recurso do qual, por razões de segurança, não convém abusar.

Sempre que, excepcionalmente, recorri a esta solução, conheci pessoas com as quais, de outra maneira, nunca teria contactado. Quase todos dispomos, mesmo vivendo numa capital, de um círculo de relações homogéneo e eu, tanto em Lisboa, como em Paris, convivo com pintores, escritores, doutores, seres únicos e preciosos – os meus amigos. No entanto também me interessa ouvir os outros, aqueles cujos trabalhos eu não imaginava de maneira concreta: transportar – e descarregar – papel para reciclagem, desenhar barras sinaléticas nas estradas, levar água às vacas nos prados... Estes condutores, capazes de parar, de levar uma desconhecida, contaram-me, nos limites de um trajecto, as suas ocupações e preocupações, as suas vidas familiares, os seus sonhados projectos; tais conversas, algumas muito curtas, outras de uma ou duas horas, representam contributos decisivos para o que hoje sou – e ensinaram-me mais do que a maioria dos professores na Faculdade de Letras de Lisboa. (E no entanto tive boa formação universitária.)

Consciente dos riscos de um mau encontro, reservo contudo a boleia para circunstâncias excepcionais. Na verdade... Uma mulher prudente não partiria agora para Bagunte.

Estou a vê-la... Entra no café e, embora pareça só, o dono não se surpreende, por cada dia atender, às mesmas horas, gente com mochila e bizarros costumes. Todavia esta mulher encomenda em português um galão e inquire a que horas passa a camioneta de Vila do Conde. Aqui ele mira-a com mais atenção: de manhã os estrangeiros costumam prosseguir a pé e só à tarde, quando o abrigo se enche, buscam meios de transporte colectivo.

- É portuguesa...

- Sou.

- Não vai para Santiago?

- Ia... Mas tenho várias bolhas, não posso calçar as botas, mais vale regressar a casa.

- Vem a pé de onde?

- Do Porto.

A Mulher Prudente não pode vir de Lisboa. Se vem de Lisboa, abandone ou não a caminhada em Vilarinho, sem ser imprudente, opta todavia por – em certas circunstâncias – correr alguns riscos. Já o leitor tirou as lógicas conclusões: não sou esta mulher. Por isso – agora parto. (Descubro-me como oximoro ambulante: a ousada prudência e a cautela aventurosa são a minha especialidade.)

É domingo. Seis e meia da manhã. Vejo um céu carregado de cinzento – convém aproveitar enquanto as nuvens hesitam. Sem dúvida, em alguns lugares, a tromba de água arrastou pedras, criou torrentes... Será possível prosseguir? E se de súbito algum temporal transformar em ribeira o trilho onde me encontro? Ocorrem-me imagens de telejornal, pontes derruídas, carros arrastados, casas demolidas, ravinas derrocadas, árvores arrancadas, em plena Europa, alguns em Portugal, até em lugares por onde passo: perto de Queluz, morreu uma mulher, dentro de um carro, levada pelas águas, num percurso quotidiano.

O meu roteiro indica um atalho através da mata. Desta vez, por causa da lama e destes receios, prefiro caminhar à beira da estrada – agora não há carros.

É de manhã, levo as botas calçadas: sinto a mochila leve e caminho com gosto. Devoro uma sandes. Depois, sentindo ainda fome, vou trincando nozes, uma barra, uma banana... Conservo um apetite de ogre. Bom sinal.

Cai-me, ora na cara, ora nas mãos, de vez em quando, uma gota de chuva.
publicado por Carlos Loures às 10:00
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Olivença em vídeos

publicado por Carlos Loures às 09:00
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À beira da estrada nascem rosas

Ethel Feldman

À beira da estrada nascem rosas, fora de horas

calam-se os pardais.
Ama a mulher o Deus menino,
como se amasse o esposo.
Fosse o tempo vivido a contento
cantariam os pardais,
amaria a mulher o homem, em devido tempo.
Pede o anjo ajuda ao arcanjo,
que o tempo seja sem tempo.

Nascem rosas sem hora,
cantam os pardais sem parar.
Dia e noite, noite e dia
e o tempo é sempre o mesmo.
publicado por Carlos Loures às 08:00
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Odio teológico contra Saramago

Paolo Flores d’Arcais El País – Madrid 22 de junio de 2010
(
Enviado por Manuel Simões)


El artículo de 'L'Osservatore Romano' contra el fallecido Premio Nobel portugués no despide más que una ira furiosa y vulgaridad. Lo único que consigue es delinear un proceso exactamente al estilo del Santo Oficio.

José Saramago ha dejado la isla de Lanzarote. Sus restos mortales han ido a Portugal, donde serán incinerados después de la capilla ardiente. Una parte de sus cenizas regresará a la isla para ser sepultada al pie de un olivo".

Las agencias de noticias que transmitían estas informaciones añadían otra más: el gran escritor desaparecido era objeto de un reconocimiento extraordinario, el ataque furioso del diario del Vaticano, L'Osservatore Romano, tan dominado por la pulsión del anatema que daba salida a una prosa desquiciada y torcida. Pero ya se sabe que la caridad cristiana, en manos de la Iglesia jerárquica, puede hacer milagros.
Es evidente que las inolvidables novelas de José Saramago tienen la capacidad de absorber al lector "en cuerpo y alma", despiertan su espíritu crítico y, al mismo tiempo, las emociones y la fantasía, incluso ante temas sobre los que la Iglesia jerárquica pretende ejercer un monopolio vigilante, si el órgano oficial del presunto Vicario de Cristo en la Tierra ha sentido la necesidad irrefrenable de vomitar a tambor batiente un vade retro! de injurias incoherentes, con el cuerpo aún caliente, en vez del requiescat in pacem canónico.

Comienza con que "aunque haya fallecido a la respetable edad de 87 años, no podrá decirse de José Saramago que el destino le mantuvo con vida a toda costa", una expresión que tal vez pretende ser una utilización irónica de una frase de su novela Todos los nombres pero que, por el contrario, no despide más que odio y vulgaridad.

A continuación inicia el rosario de acusaciones contra sus novelas, su contenido, su estilo, todo: " La Historia con mayúscula en filigrana con la del pueblo" (solo faltaría, en alguien que era novelista y no historiador), "una estructura autoritaria totalmente sometida al autor, más que a la voz narradora" (a la "pluma" del Papa se le escapa que, independientemente de que el relato lo conduzca la voz narradora o el autor, "Madame Bovary c'est moi", como explicaba Flaubert y como sucede con cualquier escritor), "una técnica de diálogo completamente deudora de la oralidad" (no se sabe cuál es el problema, porque la fusión entre narración y oralidad es uno de los elementos estilísticos que hacen que las obras de Saramago sean memorables), "un intento imaginativo que no se molesta en encubrir con la fantasía la impronta ideológica de eterno marxista"; ya está, aquí estamos, eso es lo que saca de quicio al periódico del Papa. Y sobre todo, "un tono de inevitable apocalipsis con un presagio perturbador que pretende celebrar el fracaso de un Creador y su creación".

En resumen, la grandeza literaria es lo de menos.

L'Osservatore Romano resulta patético cuando trata de reevaluar bajo el perfil de la creatividad una obra que hizo de José Saramago el mayor escritor vivo y lo único que consigue es delinear un proceso exactamente al estilo del Santo Oficio.

Primera imputación: "respecto a la religión, dado que siempre tuvo la mente enganchada en una banalización desestabilizadora de lo sagrado (...), Saramago no dejó nunca de apoyar un descorazonador simplismo teológico".

En italiano, lo primero que evoca siempre la palabra uncinata (enganchada) es la croce uncinata, la cruz gamada, una asonancia hitleriana, un acto fallido con el que se perjudican a sí mismos, porque es un adjetivo que más valdría haber evitado en el periódico de un Papa que en su juventud lució la enseña de las Juventudes Hitleristas (Hitlerjugend). Pero cuando se es esclavo furioso del odio teológico ya no se controla lo que se dice.

Por otra parte, dado que la otra imagen que evoca uncinato es la de los ganchos en los que cuelgan los cuartos de la res los carniceros, las palabras "una mente uncinata da una banalizzazione", "una mente enganchada en una banalización", o las ha escrito un genio de la ficción barata, o las han firmado con tinta azul en cualquier gimnasio.

Y ahora viene la pregunta: ¿el autor de la necrológica cristiana quiere decir que el cerebro de Saramago estaba desestabilizado por la banalización de lo sagrado (es decir, que estaba loco o era un gilipollas), o que dicha banalización, unida a su materialismo libertario, desestabilizaba la fe de los lectores? Porque, si se trata de este último caso, eso sería un elogio.

¿Y en qué consistiría el "descorazonador simplismo teológico" de que le acusa Claudio Toscani?

En haber sostenido (la síntesis es de Carneade) que, "si Dios está en el origen de todo, Él es la causa de todo efecto y el efecto de toda causa" y, por consiguiente, por haberse enojado con "un Dios en el que nunca había creído, por Su omnipotencia, Su omnisciencia, Su omnividencia".

Es decir, por haber ilustrado con un talento narrativo espectacular las antinomias de la teodicea, que los doctores de la Iglesia no han sabido nunca resolver pese a siglos de sutilezas teológicas y de agarrarse a clavos ardiendo. Además, Toscani, en su papel de filósofo improvisado, olvida que la característica de Dios que es incompatible con la omnipotencia no es la omnisciencia, sino la bondad y la justicia infinitas, vistos los horrores de los que está llena "Su" creación.

Pero la obra que hizo que las jerarquías de la Iglesia vertieran auténtica bilis, una bilis que aún perdura 20 años después, fue, por supuesto, El Evangelio según Jesucristo, "un desafío a las memorias del cristianismo del que no se sabe qué salvar".

No lo sabe el amanuense del Papa, porque sí lo saben muy bien los millones de lectores apasionados y los historiadores del cristianismo primitivo, que dan por sentado que el profeta judío itinerante de Galilea llamado Jesús no se consideró jamás el Mesías (para una minoría, como mucho, "Cristo no sabe nada de Sí hasta cuando está a un paso de la cruz", precisamente lo que Toscani reprocha a Saramago), y que, en efecto, "María fue para él una madre ocasional", hasta el punto de que no sabemos nada de ella aparte de que opinaba que su hijo estaba "fuera de sí" (Marcos, 3:21).

Cuando el paladín del Evangelio según Ratzinger concluye, con la lanza en ristre pero la prosa un poco retorcida, que "la esterilidad lógica, antes que teológica, de esos asuntos narrativos, no produce la deconstrucción ontológica buscada, sino que se enrosca en una parcialidad dialéctica tan evidente que es preciso negarle toda credibilidad", solo se puede decir: "de te fabula narratur".

Por otra parte, el odio teológico impide el respeto a la lógica e incluso a los hechos: como golpe final, L'Osservatore Romano reprocha al gran escritor que "un populista extremista como él, que se había hecho cargo del porqué de los males del mundo, debería haber vinculado el problema a las estructuras humanas pervertidas, desde las histórico-políticas hasta las histórico-económicas", exactamente lo que hizo Saramago, con su empeño inagotable "en nombre de los últimos", de los pobres, los marginados, que debería recordar algo a quien pretende predicar el Evangelio todos los domingos.

El escritor llamaba a todo esto "comunismo", pero, como ha recordado Luis Sepúlveda, para Saramago, "ser comunista en el confuso siglo XXI" era sencillamente "una cuestión de ética frente a la historia", no era ideología sino entender "la solidaridad como algo unido al hecho de vivir. Nadie se había sacrificado tanto por tantas causas justas y en tan poco tiempo".







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publicado por Carlos Loures às 01:00
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Quinta-feira, 29 de Julho de 2010

"O Escritor Fantasma", de Roman Polanski

João Machado


Fui ontem ver este filme. Muito certinho, mas não é o melhor de Polanski. Gira à volta de um tema muito actual. Imaginem um escritor habituado a escrever sob o nome de outros, ou sob a capa de personagens especiais. Daí o título do filme, Ghost Writer, que deve ter um equivalente em português, que não me lembro qual é. Entretanto o nosso homem é contratado, um bocado contrariado, para escrever (como Ghost Writer, claro) uma autobiografia, precisamente a do ex-primeiro ministro inglês. Para o efeito tem de ir para os Estados Unidos, para uma ilha, para, em máxima segurança, executar a tarefa de que o incumbiram. Entretanto, fica a saber que está a continuar o trabalho de um assessor do ex-primeiro ministro, que apareceu morto. O filme então arranca como uma história policial, com bastante suspense.

O ex-primeiro ministro inspira-se, obviamente em Tony Blair, e nas suas ligações aos norte americanos. É um tema de grande actualidade, sem dúvida, mas a transformação do escritor em detective não é muito convincente. Aí o Roman Polanski não mostrou o seu grande talento. Embora o enredo tenha alguma verosimilhança, penso que o rancor aos Estados Unidos tê-lo-á feito perder algum engenho. As tonalidades estão lá, a fúria securitária, a voracidade da comunicação social existem na vida real, assim como o cabotinismo e a duplicidade dos políticos, mais as atitudes quase demenciais das pessoas que os rodeiam. O que não consigo é imaginar um escritor profissional, muito bem pago, de repente virar detective, e enfrentar tudo e todos, incluindo perigos muito evidentes de um modo tão directo. Claro que há pessoas com princípios, mas não parecia ser o caso do nosso herói, que até era um homem que não se interessava por política. Permito-me uma comparação: Manuel Vázquez Montalbán aborda um tema parecido de um modo brilhante em Galíndez, que decorre, é verdade, em meios muito diferentes. Conta a história de um crime cometido para encobrir outros, de natureza política, analisando detidamente as motivações dos vários personagens, o que Polanski faz apenas muito ao de leve. Mesmo tendo em conta as diferentes possibilidades de narração entre um filme e um romance, acho podia ter ido mais longe neste campo.

Os filmes de Roman Polanski que vi podiam-se arrumar em diferentes géneros cinematográficos, policias (como Chinatown), de terror (como Rosemary’s Baby), ou de vampiros (como The Fearless Vampire Killers, em Portugal Por Favor Não me Mordam o Pescoço). Contudo todos tinham um toque muito pessoal, que contribuía decisivamente para cativar o público. Ghost Writer também prende a atenção, mas não é tão convincente. Os actores são muito bons, o enredo é que não foi bem desenvolvido.

publicado por Carlos Loures às 22:30
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Recordando Costa Ferreira


António Gomes Marques

Conheci Costa Ferreira em 1961, ano esse que foi também o da fundação do Teatro Moderno de Lisboa, de que foi um dos societários. Desde então o diálogo foi permanente, diminuindo pouco a pouco nos seus últimos cinco anos de vida por a doença não permitir que fosse de outro modo. Apesar de tudo, ainda lhe ouvimos algumas palavras alguns dias antes de ter expirado. Morreu a invocar os seus pais e rodeado do casal que mais o acarinhou nos últimos 40 anos, a Otília e o Manuel. Eram 16 horas do dia 29 de Julho de 1997, completando-se, agora, 13 anos sobre o seu falecimento. Não temos qualquer dúvida de que, se não fossem os cuidados da Otília e do Manuel, o António Joaquim da Costa Ferreira nos teria deixado bem mais cedo. No dia 10 de Junho desse ano havia completado 79 anos.

O lema da vida de Costa Ferreira pode resumir-se numa afirmação de seu pai, o General Costa Ferreira, que o dramaturgo, encenador e actor transcreve nas suas memórias, Uma Casa com Janelas para Dentro: «...não tenho a pretensão de endireitar o mundo, mas sim o firme propósito de não me deixar entortar..».

Volto a reler as cartas que, regularmente, me escrevia para Moçambique, onde cumpria o serviço militar obrigatório na guerra colonial. A Frelimo, em dado momento, havia-se aproximado da localidade onde me encontrava e, do facto, dei conhecimento ao Costa Ferreira, logo ele concluindo, naturalmente, que a minha segurança poderia correr perigo, temendo também o meu amigo que eu não soubesse defender-me contra os que lutavam pela libertação do seu país. Atente-se no que Costa Ferreira me escreveu, na sua carta datada de 22/2/970:

«Eu só senti pessoalmente o perigo físico uma noite em Paris e há cerca dum ano aqui em Lisboa no tremendo tremor de terra. Traumatizado, nas noites que se seguiram tinha para adormecer que fazer a aceitação da minha impotência. O seu caso é outro: v. tem de se aceitar como elemento irresponsável dum mecanismo social que o transcende e como peça dum mecanismo funcionar mecanicamente para se defender, matando se for preciso. Em Paris esqueci-me de dizer que fugi, não como uma lebre, o que seria vaidade, mas como um urso que também é capaz de correr bastante. Aí é diferente, você e a sua arma fazem um conjunto que não vale a pena criticar e que tem de ser eficiente para que a peça não se estrague. Não será nunca v., ser pensante e responsável, quem mata, mas o mecanismo no qual v. está integrado. Perante essas circunstâncias tem o dever para consigo próprio de se defender. Mentalmente aceite a situação imaginando as consequências todas, mesmo as humanamente mais repugnantes. A consciencialização dentro dum raciocínio materialista é sempre o caminho certo. Estou convencido que você como indivíduo no meio social em que é obrigado a viver só pode inteligentemente ter esta atitude.»

A transcrição foi longa mas bem demonstrativa da formação filosófica e política de Costa Ferreira, sustentáculo da coragem de que sempre deu provas nas mais variadas situações.

Desde a mais tenra idade, Costa Ferreira tinha a paixão do teatro. Viria, no entanto, a licenciar-se em Junho de 1943 em Ciências Histórico-Jurídicas por amor de seus Pais, tranquilizando-os assim. A sua paixão poderia agora realizar-se com mais facilidade, a sua felicidade poderia agora tornar-se possível dado que não traria tanta preocupação àqueles que mais amava, sendo este outro dos ensinamentos que a vida exemplar de Costa Ferreira nos dá - nunca construir a nossa felicidade à custa da infelicidade dos outros.

Após alguns anos como advogado e sempre ligado ao teatro, quer como crítico quer como actor, no teatro de amadores e no teatro experimental, quer também como autor, Costa Ferreira toma a decisão de abandonar a promissora e proveitosa carreira de advogado, com proventos equivalentes na altura ao vencimento de um Ministro, e ingressa no teatro profissional.

No teatro profissional, o carácter de Costa Ferreira vai naturalmente impor-se. Prosseguia a sua luta em busca da verdade contra os que da verdade se arrogam detentores.

Ao falar de Costa Ferreira não podemos dissociar o homem do criador. O seu comportamento ético é uma constante presença, quer se pense no cidadão ou no criador. Como criador podemos ver que o teatro está sempre presente, embora a sua incursão no campo da ficção novelística, «Uma Família e Duas Repúblicas», não deva ser esquecida e, com notável destaque, na crónica romanceada, «Uma Vida em Cinco Dias», o melhor livro que em Portugal se publicou sobre o Maio de 68, e no campo das memórias com «Uma Casa com Janelas para Dentro», que nenhum historiador que sobre o nosso século XX se debruce poderá, em nossa opinião, ignorar - obra-prima lhe chamou Carlos Porto. Foi dos autores mais representados na década de 50, período áureo do Teatro Português. É bom recordar a feroz censura que se exercia sem qualquer disfarce. Assim, para se chegar ao público, razão de ser do teatro, havia que usar de muita imaginação, mais ainda se se queria continuar independente e do lado dos que contra a ditadura continuavam a lutar. Costa Ferreira de modo algum poderia deixar de ser coerente consigo próprio. A crítica que dos mesmos ideais comungava compreendeu; críticos houve, no entanto, ligados ao regime que tentaram lançar a confusão dizendo bem. Podemos dizer que era uma forma inteligente de actuar.

Jorge de Sena, o tão brilhante e tão injustamente tratado escritor, estava entre os críticos de teatro mais exigentes e, há que dizê-lo, dos que melhor serviu o Teatro Português e o Teatro em Portugal. Mas não há bela sem senão. A amizade que o ligava a Costa Ferreira terá levado Jorge de Sena a ser mais exigente e mais exigente também por lhe reconhecer grande talento. Este facto, ligado à percepção que C. Ferreira tinha de quererem transformá-lo num dos intelectuais protegidos pelo SNI, levou-o a escrever «Os Desesperados» e «O Quarto», naturalmente proibidas pela censura e que as companhias portuguesas continuam lamentavelmente a ignorar, apresentando-nos, muitas vezes, textos sem qualidade. E para quando a reposição de «Trapo de Luxo»?

Do Costa Ferreira encenador, lembremos o que lhe disse Bernardo Santareno: «Você é sobretudo claridade». Mas essa claridade, como ele próprio disse, «era a tal janela aberta para dentro, por onde deve entrar toda a luz necessária para que as personagens se aproximem de nós e os conceitos se distanciem em noções concretas, objectivas, úteis.»

A Costa Ferreira foram prestadas algumas homenagens públicas que muito o sensibilizaram. Mas a melhor homenagem que se lhe pode prestar é representá-lo, como o fez o CDIAG, da Amascultura, levando à cena, em 1992, «Onde Está a Música?», numa encenação de Rui Mendes.

Esperemos agora a publicação das suas obras pela Imprensa Nacional, sem esquecer a notável peça de teatro, baseada numa novela de José Saramago e adaptada em parceria com este: «O Fim da Paciência», peça esta que se mantém escandalosamente inédita.


(texto de 1997 agora actualizado)

Na fotografia acima: Costa Ferreira e Armando Cortez, numa cena de «O Tinteiro», farsa de Carlos Muñiz, pelo Teatro Moderno de Lisboa, em 1961
publicado por Carlos Loures às 21:00
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Mas a PT não podia sempre entrar na OI?



Luís Moreira
A cambalhota do governo é pura propaganda, dá como uma grande vitória ter conseguido entrar na OI e manter-se no Brasil.Mas alguma vez esteve impedida de o fazer?

O que se passou foi que a Telefónica pagou o que os accionistas não podiam deixar de aceitar, e a telefónica, agora que a VIVO está a começar a dar dinheiro, comprou-a como foi sempre seu objectivo. Comprou-a e fez o melhor negócio do mundo,porque rapidamente vai recuperar o investimento e pagá-lo com o "pêlo do mesmo cão".

O pagamento vai ser às pinguinhas, só com a actualização a uma taxa parecida como a que a VIVO libertava, uma grande tranche fica nas mãos da Telefónica. Como 68% dos accionistas são estrangeiros, ficam cá em Portugal uns milhões, o que é uma miséria , comparado com o que se apregoa.

A "golden share" não tem nada de estratégico, serviu para sacar mais ulguns tostões e, como se viu, não impediu nada. Como não impede a privatização da EDP e da GALP, que tambem têm a figurinha...
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publicado por Luis Moreira às 19:30
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República nos livros de ontem nos livros de hoje - 88 (José Brandão)

A Igreja Católica e Sidónio Pais

Cunha e Costa

Coimbra Editora, 1921

Essa hora virá, ma só quando a Providência entender que a expiação colectiva suficientemente resgatou os graves pecados de que nenhum de nós está inocente.

Estou, entretanto, convencido, de que a tragédia da noite de 14 de Novembro de 1918 muito contribuiu para adiantar essa hora.

Em torno dessa memória se está lenta mas seguramente, refazendo a Nação, como, devagar, mas com firmeza, após Alcácer-Quibir se refez.

O erro dos que ainda hoje a mera invocação do seu nome enfurece, consiste em não se aperceberem de que o chamado Sidonismo não pôde ser um partido político precisamente porque é a religião cívica de todos os bons portugueses.

Assim considerado, ele é invencível. Pode-se, em rigor, exterminar uma facção politica;
publicado por Carlos Loures às 18:00
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Autores fundadores da antropologia, de Raúl Iturra

Émile Durkheim (Épinal, 15 de abril de 1858 — Paris, 15 de novembro de 1917) é considerado um dos pais da sociologia moderna. Durkheim foi o fundador da escola francesa de sociologia, posterior a Marx, que combinava a pesquisa empírica com a teoria sociológica. É reconhecido amplamente como um dos melhores teóricos do conceito da coesão social. Para que reine certo consenso nessa sociedade, deve-se favorecer o aparecimento de uma solidariedade entre seus membros. Uma vez que a solidariedade varia segundo o grau de modernidade da sociedade, a norma moral tende a tornar-se norma jurídica, pois é preciso definir, numa sociedade moderna, regras de cooperação e troca de serviços entre os que participam do trabalho colectivo (preponderância progressiva da solidariedade orgânica). É assim que sintetizo a teoria de Durkheim, roubando as palavras à Wikipédia em: http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89mile_Durkheim. Para saber mais sobre esta forma de teorizar, remeto ao leitor para um dos vários livros escritos por mim sobre Durkheim, o mais recente e que revela as suas tendências ideológicas é: O presente, essa grande mentira social. A reciprocidade com mais-valia.

Ensaio Antropológico de Sociologia Económica, Afrontamento, Porto, 2008. Porquê Sociologia Económica? Apesar de dois títulos de uma das suas 35 obras, referidos como sacrifício, religião, rituais, Durkheim tinha entendido que a vida social estava baseada na produção de bens, como refere na nota 1 nas conclusões, página 419 do livro que uso, em língua inglesa. O seu texto sobre As formas elementares da vida religiosa, no meu ver, é um livro de economia mais de que religião. Comparava rituais religiosos em base as sua ideias e pesquisas das formas de caça Arunta, formas de horticultura, a estrutura nómada da tribo, e as formas de falar. Estas, debatia com o linguista Max Müller, que atribuía essas formas elementares ao animismo e não a conjuntura da produção conjunto e a aprendizagem, elaborada por meio de rituais, da preservação das bases naturais de reprodução da natureza para os Arunta continuarem a viver.
publicado por Carlos Loures às 15:00
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Um simples periquito

Adão Cruz


Não sei muito bem o que fazer nas férias. Não gosto de praia, não gosto de viagens programadas em grupo, não gosto de cruzeiros, enfiarem-me num resort qualquer é pior do que me enfiarem em Custóias. Só gosto de viajar, mas de carro, sem destino, ao deus-dará. Foi o que fiz na passada semana. Vi, por acaso, uma exposição de André Brasilier no Chateaux de Chenonceaux, e mal cheguei, fiz dois quadros, mais ou menos dentro da sua linha, a qual tem algumas semelhanças com a minha, ou melhor, a minha tem algumas semelhanças com a dele. Provavelmente, amanhã farei deles um post. Cheguei de férias.

Mas onde eu queria chegar era ao periquito. Não é que eu não goste de animais. Gosto sim senhor, mas sempre que possível em casa dos outros. Um amigo meu, pintor, ofereceu-me um periquito. Em princípio tudo bem. Um periquito não é assim uma coisa que atemorize. Porém, este periquito foi o único ser e produto que, em toda a minha vida, funcionou de alergéneo e me ofereceu uma bronquite aguda asmatiforme que me obrigou a enfiar com o gajo na marquise. Entre a marquise e a cozinha há uma janela, através da qual eu vejo e converso com o periquito. Sim, converso com ele. Cheguei ontem. Quando chego e abro a janela, o bichinho está mudo que nem uma pedra. Então chamo várias vezes por ele: pilinhas, pilinhas, pilinhas! Venha daí uma sinfonia. Ele concentra-se, mantém alguns minutos de silêncio e manda três assobiadelas estridentes. Um pouco como aqueles três morteiros que antecedem o fogo de artifício no rio Douro. Daí em diante é um ver se te avias. Sonatas, serenatas, zarzuelas, música de câmara, sinfonias, eu sei lá! Quando eu lhe digo, Pilinhas agora é mesmo de escacha pessegueiro, ele abre a goela e chilreia de tal modo que parece uma estrela de rock, até se empoleira de papo para o ar.

Eu vivo sozinho, embora tenha a frequente presença dos meus filhos e netos. Estou cheio de mulheres, melhor dizendo, estou cheio das incomensuráveis complicações que as mulheres acarretam. De mulheres não estou cheio, obviamente, até porque as vejo na rua e sei o prazer que delas conseguiria obter. Mas vivo sozinho. E em vez de mulher... há um periquito. Nunca na vida pensei que um insignificante periquito fizesse a companhia que faz. Ao fim e ao cabo, tudo nesta vida é relativo.
publicado por Carlos Loures às 13:30
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Uma vitória da Europa civilizada

Carlos Loures

No Parlamento catalão, por 68 votos a favor, 55 contra e 9 abstenções, os deputados aprovaram a proibição das touradas. Será a segunda comunidade que as proíbe, pois as Canárias assumiram esta medida em 1991. Portanto, na Catalunha, em 1 de Janeiro de 2012, entra em vigor a lei que proíbe as corridas de touros. Os que defendem a “fiesta” tentarão evitar que a proibição passe da legislação ao plano prático, usando todos os artifícios processuais. Os anti-taurinos procurarão que a lei seja respeitada, Para além do problema político, em que a nação catalã afirma mais um traço da sua identidade, há dois tipos de mentalidade em confronto.

Nos debates parlamentares que antecederam a votação de ontem, depuseram a favor de uma e outra posição diversas personalidades. Por exemplo, no sentido da defesa da continuidade das touradas depuseram, entre outros, Hervé Schiavetti, «maire» de Arles e presidente da União das Cidades Taurinas de França, e o filósofo Francis Wolff, professor da Sorbonne, e autor de uma “Filosofía de las corridas de toros”. Na sua intervenção, declarou que a corrida «já não é a festa nacional de Espanha, pois agora é património mundial». As alegações basearam-se nas banalidades do costume, salientando-se no entanto, na intervenção de Schiavetti a chamada de atenção para a vertente económica do assunto: «Não se trata apenas de um elemento cultural, mas também de uma questão económica; hoje em dia criar touros e aquilo que a criação comporta, constitui um forma imprescindível da gestão do território». O que põe o dedo na ferida. Lembrou que em França a exploração que inclui a criação do touro, implica a manutenção de mais de 300 000 hectares de reservas húmidas. Um ganadeiro catalão afirmou que se os deputados catalães aprovassem a lei, seriam responsáveis pela extinção desta espécie animal. Valeu tudo. Um outro de Tarragona comparou a abolição das touradas com a censura franquista.

De Madrid chegaram ajudas aos defensores das corridas. Ignacio González, vice-presidente da Comunidade de Madrid, anunciou que o seu governo irá declarar as touradas um «bem de interesse cultural» integrando-as na Lei do Património Artístico. O que, de facto, irá ser feito Foi também invocado o interesse de grandes artistas pelo espectáculo taurino – Goya, Picasso, García Lorca, Hemingway e Orson Welles. Voltando à intervenção do tal filósofo que defende as touradas, Wolff considerou hipócrita a lei portuguesa que, não permite a morte na arena, o que não retira nada ao sofrimento o animal; sofrimento que Wolff, em todo o caso, desvalorizou. Nisto dou-lhe razão: a crueldade das touradas «à portuguesa» não é inferior á dos touros de morte – pelo que devem ser proibidas tão depressa quanto possível. O exemplo do município de Viana do Castelo deve ser seguido por todo o país.

Disse no texto anterior que sempre que se fala na tradição taurina em Portugal, é obrigatória a alusão ao conto de Rebelo da Silva «A Última Corrida de Touros em Salvaterra», o que demonstra a carência de referências. Em tempos pediram-me um parecer sobre uma edição de uma história das touradas em Portugal. Esforcei-me por encontrar material que pudesse justificar tal edição, embora o tema me desagradasse. Apenas se encontraram meia-dúzia de referências e a impossibilidade de manter um fio discursivo que ligasse as pinturas rupestres, representando bois, que os pró-taurinos insistem em reivindicar como primeiras representações da «sua» história, à actualidade. Encontram-se referências dispersas sobre as corridas de canas que se faziam no Terreiro do Paço, mas nada que permitisse alimentar uma obra de grande envergadura como a que se pretendia.

A informação volumosa (textos, pinturas, fotografias) começa apenas no século XIX. Felizmente que o estudo de mercado encomendado a uma empresa da especialidade revelou a falta de interesse do público em geral pelo tema, indiciando um fracasso editorial. De notar que, em Espanha, onde o público potencial para uma edição deste tipo seria muito maior, também não se previu uma massa crítica suficiente para a alimentar. A opinião dos meus colegas catalães, foi igualmente negativa, dada, mesmo ali, a ausência de um caudal iconográfico que permitisse ilustrar um mínimo de oito volumes com 300 páginas cada.

As fontes, são escassas e inconclusivas. Quem quer provar a ancestralidade da tourada vai buscá-la às referidas pinturas rupestres, a pré-históricos sacrifícios cerimoniais ou ao circo romano. Há quem defenda que os romanos colheram a arte de lidar touros na Península Ibérica. Há quem diga exactamente o contrário, que foram eles que a trouxeram. Há relatos medievais de festas com touros. No que se refere a Portugal, em “Ensinança de Bem Cavalgar toda a Sela, D..Duarte refere-se, entre outras, à arte tourear a cavalo. E há referência a uma lide de D, Sebastião nas vésperas de partir para Alcácer Quibir e alusões dispersas e inconsistentes.

Segundo parece no Século XVIII as corridas de touros eram um divertimento muito popular. O conto de Luís Augusto Rebelo da Silva (1822-1871), não sendo literariamente a melhor obra deste autor do Romantismo, ganhou fama pelo seu teor dramático – o velho conde de Marialva, cujo filho, o conde dos Arcos, é morto por um touro, para o vingar o velho desce à arena e mata o touro. Passa-se durante o reinado de D. José I, governo do marquês de Pombal. e este pede ao rei que proíba as touradas. Diz Rebelo da Silva: “Sebastião José de Carvalho voltava de propósito as costas à praça, falando com o monarca. Punia assim a barbaridade do circo. — Temos guerra com a Espanha, Senhor. É inevitável. Vossa Majestade não pode consentir que os touros lhe matem o tempo e os vassalos! Se continuássemos neste caminho... cedo iria Portugal à vela. — Foi a última corrida, marquês. A morte do conde dos Arcos acabou com os touros reais, enquanto eu reinar.”

Parece existir nisto alguma base histórica, mas o escritor ficcionou os factos que nem sequer se passaram em Salvaterra nem no reinado de D. José que nunca proibiu as touradas. Isso aconteceu no reinado de D. Maria II e em todo o território nacional, aconteceu em 1836, doze anos antes de Rebelo da Silva publicar o seu conto, o ministro do Reino Passos Manuel promulgou um decreto proibindo as touradas, como referi no texto de ontem. O estranho é que esta ficção se transformou num recorrente argumento dos que defendem as corridas de touros. Um fado relata a história criada pelo escritor romântico como se de um facto histórico se tratasse. Um outro homem da família morreu em Tânger, e aqui não há ficção. Conta-se que durante a tomada da praça, em 1464, cego de fúria, D. João Coutinho, o velho marquês de Marialva, entrou sozinho a cavalo dentro do templo (onde se haviam refugiado os não-combatentes) e, com a sua espada, matou muitas dezenas daquelas gentes indefesas, até que, já sem forças, encharcado em sangue dos pés à cabeça, foi, pelas mulheres, velhos e crianças, puxado de cima da montada e literalmente despedaçado.

No Século XIX, o rei D. Miguel era também conhecido pela sua fina arte do toureio, sendo, durante o seu reinado, inaugurado o Campo de Santana em Lisboa e o decreto de Passos Manuel reflecte a sua posição de homem moderno, liberal, face ao obscurantismo conservador dos miguelistas. Duas mentalidades. Porém, nove meses depois as Cortes Gerais revogaram o decreto de Passos Manuel.

Voltemos então à luta travada Parlamento da Catalunha – ele pôs frente a frente dois tipos de mentalidade. E não estou a falar em catalães metódicos e nos álacres castelhanos. Não precisamos de sair de Portugal ou mesmo da cidade em que vivemos para encontrar esses dois tipos de enfrentar a realidade. Os que condenam a barbárie e os que a defendem (mesmo que invocando os valores supremos da cultura, da tradição, da identidade nacional e até, para meu espanto, da conservação das espécies.

É aquilo a que vulgarmente se chama civilização. Oxalá a Catalunha consiga na prática o que já conseguiu no plano jurídico - erradicar este espectáculo, de beleza ímpar para uns e para outros uma manifestação do que de mais obscuro existe na mente humana. São lapidares as palavras de uma crónica sobre este tema do Prof. Carlos Fiolhais publicada no Público em 5 de Dezembro de 2008: «Aos defensores dos espectáculos tauromáquicos têm-se oposto os defensores dos direitos dos animais. Se os primeiros dizem que “se há alguém que cuida e que ama os touros são os próprios toureiros", os segundos ripostam que isso "é o mesmo que dizer que os pedófilos são os melhores amigos das crianças"»
publicado por Carlos Loures às 12:00
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