Quinta-feira, 16 de Setembro de 2010
Augusta ClaraE os sonhos que nós sonhamos quando já não estamos a dormir?! Naquela fronteira em que tudo é, ainda, possível.
Insistimos, insistimos e eles continuam. Como os meninos que queriam que os deixassem continuar a acreditar no Pai Natal. Já nem sabemos se temos os olhos fechados ou abertos. Têm um narrador e tudo se desenrola a contento. E, quando não, a história começa a encravar. Repete uma frase, repete, repete, como um velho disco riscado. Damos-lhe um empurrão, ao narrador ou à história? Retoma-se o fio…na parte em que se era feliz. Tudo se recompõe e a felicidade é tão fácil!
E o narrador sabe tudo, de nós, dos outros e do que lhes vai na mente, do nosso destino, do que estava para ser mau mas vai ser bom, de todos os enredos que fazem a delícia de uma boa história. Pode endireitar tudo este narrador dos nos sonhos semi-acordados. É o amola tesouras da nossa alma. Raia o sol e ele toca aquela gaita como as canas dos índios e chama-nos para o sonho a construir. O tempo é muito pouco, temos que o aproveitar bem.
Até que a névoa se rasga. Todas as manhãs. Que crueldade!
E era tudo possível. Mas já não é outra vez.
Que mecanismo me faz isto? Que maquiavélico mestre desenrola a cena toda, me torna feliz, enrola o tapete, cerra o pano, fecha as luzes, acende o dia? Leva-me os actores?
Para que quero eu o dia?
Se eu fosse poeta, era muito fácil contar-te este sonho porque a poesia é o sonho escrito. Tudo faz sentido. E tu mo explicarias.
Um dia vou sonhar que o sonho é verdadeiro e vou acordar de repente. Apanho-o pelos calcanhares. E, então, talvez, tu fiques mesmo comigo.
Muito bonito.
De adão cruz a 16 de Setembro de 2010
Quando acordo de sonhos maus fico feliz. Quando são bons sinto tudo isso que descreves tão bem
Vocês são uma delícia de amigos
Então Augusta Clara, escreves tão bem... olha, por que não mandas mais textozinhos?
assinado:
Conde Drácula
Ai, Conde Drácula, tens o condão de me fazer rir, coisa de que eu sempre gostei muito :) Mas, olha, vou-te dizer uma coisa: desgraçado de quem caia no Estrolabio. Fica com a saúde arruinada para sempre. Eu já estou com um desarranjo hormonal: activou-se-me para aqui uma glândula qualquer e, agora, tenho sempre um texto às voltas na cabeça. E eu, antes, não sofria disto.
É isso é. Uma pessoa com a tua formação académica que agrega a poesia à massa genética e anda com textos embrulhados «numa glãndula qualquer", diz bem dos transtornos que o Estrolabio provoca nas criaturas. Tenho estado a ver se consigo que seja classificado como droga leve - entre o absinto e o haxixe - paga menos impostos embora o pedigree seja de escalão inferior.
Acredito, Adão, porque agora me lembrei que aquele lindíssimo poema "O Meu Sonho Azul", que levaste à maratona, me dá uma sensação semelhante.
De paxiano a 16 de Setembro de 2010
Sonhar acordado é o sonho mais possível que desemboca numa torrente poética. É aquele lusco-fusco onde pairamos sem destino.
Belo texto.
Você com esse nome tão apaixonado porque é que não escreve um texto sobre Pedro e Inês? E, assim, deixava de se cansar tanto a filosofar sobre os textos dos outros. Fui Clara?
De clara castilho a 16 de Setembro de 2010
Foste claríssima, Augusta Clara. Vou baralhar: e os sonhos que se repetem, repetem, repetem (bons e maus)? E os que nos proporcionam a resolução de conflitos, em que acordamos e sabemos o que responder a determinada pessoa, sobre determinado assunto? Quer o Freud tenha ou não razão, quer a cara da pessoa seja uma e por detrás esteja outra, etc., o facto é que não passamos sem sonhar! A dormir, semi-acordados, completamente acordados... Ah! e este sonho comum que todos fazemos ao mesmo tempo? Não é também um sonho?
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