Sexta-feira, 15 de Julho de 2011

SÓTÃO DESARRUMADO Parte II por Adriano Pacheco

 1ª parte

 

 

 

Acontece que entretanto, Olinda teve de se ausentar para o estrangeiro por algum tempo, deixando o sótão bem tratado, habitável e com bom arejamento. Passados alguns tempos e depois de uma boa temporada ausente, o velho sótão voltou ao estado anteriormente encontrado: cheio de pó, de teias de aranha e com ar sombrio. Era esta a situação dum espaço que só Olinda sabia ocupar e com ele se entendia, pese embora, lá de vez em quando, não compreendesse muito bem porque tão facilmente se desarrumasse.

 

O sol que entrava pelas frinchas do telhado, vinha esmaecido, sem força e sem vida, acentuando-lhe aquele ar pesado que causava aspecto de abandono, tal como antes acontecia. Os caixotes bem arrumadinhos e limpos, começavam a ser corroídos pelo bicho da madeira que entretanto ali tivera penetrado, até as famigeradas vespas encontraram espaço e ambiente para se instalarem à sua maneira sem qualquer dificuldade, tal era o estado de degradação a que tinha chegado o pobre sótão. Era uma lástima

 

Adivinhava-se que, quando Olinda voltasse, iria ter um ataque de nervos com a surpresa da presença de novos habitantes naquele sótão, pois em vez deles, melhor seria que por ali circulasse ar fresco vindo do Oriente fazendo germinar ideias novas, motivações fortes que dessem inspiração a um projecto de grande envergadura, ou quem sabe o desenvolvimento dum facto amoroso que entretanto ali se acolhesse no desfrute dum belo prazer, com alguma privacidade, claro.

 

O regresso de Olinda não se fez esperar e cedo se apercebeu que não seria fácil o enriquecimento daquele espaço, porque o velho sótão era um lugar de tamanho irregular, onde qualquer indício de renovação, ou inovação, podia colidir com as suas fronteiras naturais e obstruir o florescimento de novas ideias, o que obrigou Olinda a recorrer a outra parte de casa onde um novo projecto pudesse crescer e o seu espírito conseguisse um pouco de paz.

 

 

 

HARMONIA DOS CONTRÁRIOS

 

 

 

Como nos vemos e nos aceitamos

Como nos distinguimos

e nos amamos

Numa mistura de fel e mel

Sabor agridoce da pele

Amor perdido na idade

Sumo vivo da humanidade

Como nos amamos corremos

e saltamos

Como fugimos e nos encontramos

dentro do nosso descontentamento

Como somos levados no vento

E no vendaval nos encontramos

 

 

Como somos e nos propomos

ao deslize

Como nos encontramos depois

no afastamento

Como somos, nos erguemos

e padecemos

Num abraço de entendimento

 

 

Como somos e nos inquietamos

Mas só depois… nos aceitamos

 

Paxiano

 

 

 

publicado por Luis Moreira às 16:00
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2 comentários:
De adriano pacheco a 15 de Julho de 2011
Ah que bela imagem Luís, a condizer com o conteúdo do texto. Um belo caixilho valoriza sempre uma pintura.

Obrigado
De ethel feldman a 15 de Julho de 2011
entre os teus contrários habita o Pax - poeta, que se deixa apaixonar pela natureza.
Beijo

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