Ontem falamos aqui da privatização ou não da AdP. Está em cima da mesa essa possibilidade e começam a aparecer os números, os índices, esses malditos que nos dão uma visão bem menos romântica da AdP.
"O presidente da AEPSA chamou hoje a atenção para a difícil situação financeira da Águas de Portugal (AdP), devido ao facto das tarifas serem, em média, 40 por cento inferiores aos custos.
Há várias empresas em falência técnica e a própria AdP deve mais de 2,9 mil milhões de euros, "o que dificulta a contracção de mais empréstimos", indicou o mesmo responsável."
E, as câmaras, devem cerca de 300 milhões de euros à empresa. Está montado o circo que todos vamos pagar, como acontece em todas as empresas públicas.Durante anos ninguém soube nada de nada, tínhamos uma nascente de água transparente e límpida, afinal não passa de um mal cheiroso charco.
E, qual é a solução? Aumentar as tarifas, diz o presidente do monstruoso grupo que participa em 42 empresas em várias actividades: água, recolha e tratamento de resíduos urbanos e energias.
"Privatizar não é a formula mágica para resolver os problemas mas este modelo (o actual) está esgotado" disse ainda o presidente da associação do sector. " "Estão a ser consideradas como receitas valores teóricos que não entraram nas contas e que alguém vai pagar, não se sabe quem", salientou.
Basta ir a um sector público e começar a analisá-lo, a falar nele, tirá-lo da vida vegetativa em que há muito o meteram, "ameaçar" com a "privatização" e logo a verdade, filha da transparência, aparece para nosso desencanto. Que incentivos têm as câmaras para poupar água se sabem que não a pagam?
Onde há monopólio, há isto. Sem concorrência é como guiar sem volante. Bate , de frente, no primeiro obstáculo.
Tudo serve, realmente, para justificar a sanha privatizadora que, subitamente e não por acaso, invadiu a nossa praça.
A chamada "crise da dívida" e, porque não a acção dos últimos governos (friso bem, dos últimos) em tudo contribuíram para chegarmos a este ponto.
A existência de serviços estratégicos assegurados por empresas públicas ou por entidades geridas com modos semelhantes aos das empresas privadas, sempre foi quanto a mim um erro, pois estes deveriam ser assegurados por meros serviços públicos.
É que, realmente, fazer empresas cumprir preços "políticos" sem lhes pagar as respectivas indeminizações não dá!
E o que é mais engraçado disto tudo, é que, por exemplo, no sector dos transportes, onde isso também acontece, o estado que certamente paga às empresas privadas as indeminizações compensatórias não é tão lesto a fazer o mesmo às empresas do sector público, obrigando-as, quando têm prejuízos, a ir ao mercado para se financiarem ( e digo paga porque não estou a ver, por exemplo, o Barraqueiro a receber só o preço equivalente ao passe social e a continuar a trabalhar com o estado, porque nada me diz que o estado também não pague ao Barraqueiro).
Por outro lado dá imenso jeito, pois se fossem meros serviços públicos a prestar este serviço, estes "custos" teriam que, obrigatoriamente, figurar no Orçamento Geral do Estado e. logo, tornariam o défice muito mais real.
Depois e só depois, vem a questão das câmaras não pagarem, aí sim, se fossem os serviços fossem prestados por privados, que remédio tinham senão pagar, mas depois, como iriam registar isso mais cedo nas suas contas, lá aumentava o défice (o facto de só se registarem as despesas quando se pagam, também dá um certo jeito, né?)
Para mim, que se queira que determinados serviços estejam nas mãos dos privados, tudo bem, é uma questão ideológica e deve ser assumida como talo, agora vir invocar razões económicas para o caso é que não está bem. OK?
Até porque, se se considerar que esses serviços são essenciais e devem ter preços inferiores ao seu real custo, então terá que ser o Estado a continuar a subsidiar esses preços, portanto a privatização desses serviços, tirando o valor ganho na privatização, não terá qualquer ganho para o Estado.
Teríamos assim, mais PPP (parcerias público-privadas), desta vez ao contrário, mas onde, mais uma vez os lucros ficariam para os privados e os prejuízos para o Estado.
Como lhe digo o importante é encontar soluções.A AdP não teria chegado a este gigantismo e a esta situação se o dinheiro tivesse dono. Quanto às PPP a culpa é do estado que faz contratos irregulares com o risco todo para o seu lado e os benefícios para o lado dos privados. E se o Estado deixasse de brincar aos empresários e fizesse o que só o estado pode fazer? Reformar a Justiça, por exemplo? Mas, como vê isto é insustentável. O país está como está porque as "remunerações compensatórias" ( chame-lhe o que quiser), não passam de impostos que os contribuintes pagam. Tudo somado...
Pois, o problema é esse. Canalizem as energias, os meios, para o que é importante e só o estado pode fazer e deixem-se de negócios que, nas mãos do estado, são sempre ruinosos. Com uma Justiça capaz, mercados com regulação forte e independente de interesses e controlo do que é verdadeiramente estratégico na economia e isto vai lá.Ninguém pode estar em todo o lado e fazer tudo.O resultado é o que se vê.