“enviado por Julio Marques Mota
O movimento “de indignados”, tal como a ajuda do Partido popular nas eleições municipais de 22 de Maio, são os sinais anunciadores de uma confusão dos socialistas espanhóis nas legislativas de 2012 ?
Desde há perto de um mês que a imprensa internacional cobre os acontecimentos relativos aos “Indignados”. Este movimento, nascido de maneira espontânea por ocasião de uma manifestação de jovens na Puerta del Solo em Madrid, a 15 de Maio, espalhou-se por outros lugares, na Espanha, na Europa e, mais recentemente, na Turquia. Do que é que se queixam “Os Indignados”? Do desemprego que atinge o conjunto da Espanha e em particular a faixa etária dos jovens ainda de forma mais dura ; da corrupção da classe política, seja direita como a de esquerda; pelo facto de a democracia, tal como foi restabelecida há trinta e cinco anos sob forma de monarquia parlamentar quase federal, não corresponde às suas expectativas.
Que reclamam os Indignados? Uma mudança da lei eleitoral que permita aos partidos mais pequenos fazer ouvir a sua voz, e reclamam trabalho a fim de poderem ter uma autonomia financeira em vez permanecerem dependentes dos seus pais até para além dos trinta anos , ao mesmo tempo que, devido ao rompimento da bolha imobiliária, mais de um milhão de alojamentos não encontram nenhum comprador. São todos eles de esquerda? São muito de esquerda? São todos os jovens? Responder-se-á prudentemente: possivelmente sim. Não são os todos os casos, pelo menos na sua grande maioria, nem partidários nem anti-sistema e as diferentes tentativas de recuperação do seu movimento pelo governo ou pela oposição comunista falharam.
O movimento vai durar ? Autogerido de maneira eficaz, com as suas tendas, com o seu material de electricidade, as suas cantinas, os seus jardins-escolas, as suas bibliotecas, não deixam de criar menos problemas de salubridade pública e de provocar a irritação dos comerciantes. Apesar das injunções da Junta eleitoral que proibia qualquer agrupamento durante o dia de reflexão que precede as eleições locais e regionais de 22 de Maio, os responsáveis da ordem pública tomaram a cuidadosa decisão de não tentar desalojar “ Os indignados”. Perante a perda progressiva de capacidade de mobilização, tomaram na quarta-feira dia 8 de Junho a decisão de levantar o campo no Domingo 12 de Junho. Só um núcleo de irredutíveis anunciou que permaneceria. Alguns começaram a manifestarem-se , no final da tarde, em frente do Congresso dos Deputados, em Madrid.
O que a maior parte de “ Os indignados” não fez, foi ir votar. Ora, 20 milhões de espanhóis voltaram às urnas, a 22 de Maio, e infligiram uma derrota significativa ao PSOE, o Partido socialista operário espanhol. Estes resultados eleitorais, que representam uma dupla afronta para José-Luís Rodriguez Zapatero, na sua qualidade de presidente do governo e secretário geral do PSOE, tiveram direito a pequenos artigos nos meios de comunicação social fora da Espanha.
Estas eleições marcam um momento decisivo muito importante na vida política espanhola, onde as eleições locais têm tradicionalmente uma grande importância: as eleições municipais, por razões nomeadamente históricas, e as regionais, devido aos largos poderes atribuídos às comunidades autónomas pela Constituição de 1978 e pelos diferentes estatutos de autonomia. Assim, aquando das municipais de 12 de Abril de 1931, os republicanos tinham ganho muitas das capitais de província, e o rei Afonso XIII, avô de Juan Carlos, tomou a decisão de deixar o seu país.
Este vazio do poder provocou a instauração da Segunda República, proclamada a 14 de Abril, que durou até aos horrores da guerra civil (1936-1939) e extinguiu-se com a vitória do general Franco, no poder até 1975. Percebe-se pois que os resultados das municipais sejam sempre acompanhados com muita atenção pela inteira e sejam sempre analisados minuciosamente .
No dia 22 de Maio, as eleições municipais realizaram-se em todo o território; em contrapartida, as regionais desenrolavam-se apenas em treze das dezassete comunidades autónomas, as quatro regiões ditas “históricas”, nomeadamente a Andaluzia, a Catalunha, a Galiza e o País Basco, que têm inclusive o seu próprio calendário eleitoral.
Assim, por exemplo, se um eleitor fosse votar em Barcelona ou em Málaga, ele fazia-o para as municipais. Em contrapartida, um eleitor em Madrid ou em Valência podia ao mesmo tempo votar para o seu conselho municipal e para o seu Parlamento regional.
Os resultados não deixam margem para dúvidas relativamente ao PSOE, a dez meses apenas das legislativas previstas o mais tardar para Março de 2012: uma diferença de 10 pontos de percentagem e mais de 2 milhões de votos em prol do seu principal adversário, o Partido popular (PP) ; a perda de bastiões socialistas como Barcelona (em prol dos nacionalistas catalães de CiU) ou Sevilha (em prol do PP); o deslocar para a direita de várias regiões, entre as quais Castela -la Mancha, ganha depois de cerrada luta pela secretária geral “popular”, Maria Dolores de Cospedal; esmagadora derrota, com uma de maré “popular” na Andaluzia, a pátria de Felipe Gonzalez, tradicionalmente situada à esquerda; a confirmação das maiorias absolutas “ populares” , em Madrid de Esperanza Aguirre, presidente de região, e de Alberto Ruiz-Gallardon, presidente da câmara municipal; a penetração da coligação de esquerda revolucionária nacionalista abertzale Bildu, considerada como o braço político da ETA, no País Basco.
Mais do que uma vitória do PP, que ganhou somente 500.000 votos, trata-se de uma derrota do PSOE, que perde mais de 1,5 milhão de votos.
Num país onde poucos são os eleitores que passam de um grande partido para um outro grande partido, por outras palavras do PSOE para o PP ou vice-versa, estes votos foram captados por partidos nacionais como UPyD (União Progreso yDemocracia, partido jacobino de centro esquerdo ganho por Rosa Diez, socialista dissidente), e IU (Izquierda unida, coalição marxista), ou por partidos regionais como o PNV (Partido nacionalista basco, nacionalista basco de centro direita) ou por CiU (Convergencia I Unio, coligação catalã de centro direita).
A Espanha entrou, portanto, na era pós-Zapatero. Os movimentos em curso e as eleições fazem apenas confirmar esta realidade. Tudo isto exprime, diferentemente mas sem equívoco possível, a grande vaga da sociedade espanhola provocada pela grave situação que atravessa, bem como a falta de confiança quer no que diz respeito ao conjunto da classe política, quer no que diz respeito ao governo. “ Os Indignados” estão muito longe de terem o monopólio da indignação.
A algumas semanas das eleições, os barões socialistas tinham exigido e tinham obtido de Zapatero que anunciasse publicamente que não se candidataria a uma terceira legislatura. Esperavam assim evitar a hemorragia dos votos anunciada por todas as sondagens, preferindo apresentarem-se sem candidato à sucessão de Zapatero, do que se apresentarem com ele. Em vão.
Imediatamente depois das eleições, alguns tenores socialistas, como Patxi Lopez, lehendakari, presidente do governo basco procedente de uma coligação atípica a nível regional do PSOE e do PP, aceleraram o processo de nomeação de um candidato socialista às eleições. A escolha levou-os ao Vice-Presidente do governo e ministro do interior, Alfredo Pérez Rubalcaba, em desfavor da jovem ministro da defesa, Carme Chacon, que fez “ uma grande caixa ” em toda a imprensa internacional quando passou as tropas em revista, grávida de sete meses, aquando da sua entrada ao governo.
Ambos apareciam desde há alguns meses como os possíveis herdeiros. É provável que a grande experiência de um homem especialista em questões do terrorismo pesou na balança, no momento em que Bildu efectua um avanço espectacular e se torna a segunda força política no País Basco, atrás do PNV, com 25% dos votos. As fugas de WikiLeaks, abundantemente retransmitidas pelo diário El Pais, mostram a que ponto os Americanos consideram Pérez Rubalcaba como um formidável animal político. Um simulacro de primárias abriu-se 1 Junho e encerrar-se-á a 15 de Junho.
Excepto qualquer surpresa improvável, Rubalcaba será por conseguinte o candidato socialista às próximas eleições legislativas. A questão que se levanta é a de saber se Zapatero, que continua ser o primeiro ministro e a ser o secretário geral do PSOE, poderá permanecer no comando, do seu governo e do seu partido, ou se dever convocar um congresso extraordinário do PSOE e/ou convocar eleições parlamentares antecipadas.
A Espanha, economicamente KO, está a ser dirigida por um homem politicamente KO. Pode a Espanha permitir que assim seja?
Se a probabilidade de evitar uma vitória do PP nas eleições gerais parece agora ténue, o PSOE vai procurar diminuir a distância que separa os dois partidos maioritários nas últimas eleições e que aumentou, de acordo com as últimas sondagens, de 13 para 15 pontos em percentagem. A questão não é pois tanto saber se o PP vai ganhar as eleições, mas se obterá ou não a maioria absoluta. Ora “o Partido Popular” é caracterizado por uma ausência de programa.
A sua campanha eleitoral e, de maneira mais geral, a sua estratégia política assentam sobre a crítica das medidas governamentais. Espera-se sempre da parte dele propostas precisas. Duvida-se que venham a impor medidas de austeridade à maneira de James Cameron, mas sem outra precisão. Este silêncio, que lhes serviu até agora , poderá voltar-se contra eles. Ouvem-se já vozes no partido contra o mutismo de Mariano Rajoy, o seu presidente. Os mais pragmáticos assinalam que a margem é tão estreita para uma Espanha encosta de tal modo à parede como ela está que o governo, qualquer que seja a sua cor política, poderá apenas aplicar as medidas que lhe forem ditadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), pela Comissão Europeia e pelo Banco Central Europeu (BCE). Neste caso, para quê então tanta discussão!
Uma outra notícia passou despercebida na imprensa internacional: o rei Juan Carlos não navegará este verão, como era seu hábito fazê-lo nas suas férias de Verão, para Palma de Maiorca . Não terá mais a seu cargo a direcção do leme dos eu barco . Às perguntas que lhe faziam os jornalistas sobre a sua saúde, respondeu com garra : “ estou muito mal. Vocês gostariam de me ver morto e dão-me diariamente um murro no estômago na imprensa. »
A Espanha estará ela a perder o seu timoneiro , o monarca que soube restaurar a democracia no seu país e é o chefe de Estado muito pouco contestado desde o dia 22 de Novembro de 1975? Deve a Espanha preparar-se para o após Juan Carlos?
Sylvia Desazars de Montgailhard
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