enviado por Júlio Marques Mota
Albert Einstein terá um dia declarado que a loucura consistia em fazer e refazer a mesma coisa e com isso esperar obter resultados diferentes.
Na base deste critério, o acordo que está quase concluído com a Grécia parece insensato. A sua única justificação é que se tem necessidade de ganhar tempo. É uma má estratégia. É necessário tomar medidas mais radicais.
A questão que é necessário colocar-se a respeito da Grécia não é tanto saber se vai assumir uma situação de incumprimento mas sim de saber se esta situação quando se der será suficiente para voltar a dar uma saúde razoável à economia grega. Duvido fortemente. O país parece demasiado pouco competitivo para que isto lhe sirva como resposta. A situação de incumprimento é uma condição necessária mas não suficiente para um regresso à boa saúde económica.
Os resultados na Grécia e no âmbito do programa concluído em Maio de 2010 com o Fundo Monetário Internacional (FMI) é extraordinariamente impressionante. Mas não teve êxito em tornar país de novo solvente.
O “spread” (desvio de taxas) entre as obrigações gregas e as alemãs com a maturidade de dez anos passou de 460 pontos base (4,6 pontos de percentagem), depois do programa ter sido anunciado, para 1.460 pontos de base, ou seja, 14,6%.
A mesma coisa para a Irlanda e para Portugal
A mesma coisa, ou quase , se passou com a Irlanda e Portugal. Mais perigoso ainda, mesmo os spreads espanhóis atingiram 270 pontos base. A Grécia, a Irlanda e Portugal não têm nenhuma possibilidade de poder, num futuro próximo, conseguir contrair empréstimos nos mercados a taxas suportáveis.
O que há de particularmente deprimente no caso da Grécia é que este alargar dos spreads se verificou apesar de desempenhos satisfatórios.
O programa original partia da hipótese que o produto interno bruto (PIB) grego cairia 4 % em 2010, seguidamente de 2,6% em 2011.
De acordo com o balanço publicado em Março, os números reais revelaram-se apenas ligeiramente superiores, ou seja respectivamente 4,5% e 3%.
O défice público estava previsto à partida à 8,1% do PIB para 2010 e 7,6% para 2011. De acordo com este mesmo balanço de Março de 2011, o défice atingiu apenas 9,6% em 2010 e 7,5% em 2011.
INSUFICIENTE POR QUATRO RAZÕES
Mesmo no que diz respeito ao défice das contas correntes, os 10,5% registados em 2010 e os 8,2% previstos para 2011 no balanço de Março passado são dificilmente piores que as previsões iniciais, respectivamente de 8,4% e 7,1%. Infelizmente, está muito longe de ser suficiente, por quatro razões.
Em primeiro lugar, o perfil da dívida, que era já de loucos , ainda se agravou: o programa inicial previa que o rácio da dívida bruta em relação ao PIB atingiria um PICO de 149% do PIB em 2012. Ora, de acordo com o balanço de Março passado, já terá atingido 159%.
Além disso, a economia grega parece extraordinariamente não competitiva. O indicador mais impressionante é a combinação de um défice ainda enorme das contas - correntes e uma profunda recessão. Este défice externo já não pode continuar a ser financiado pelo mercado.
Em terceiro lugar, constata-se que as perspectivas relativas ao défice das contas - correntes degradam-se claramente: à partida, o FMI previa que o défice se estabeleceria em 2,8% do PIB em 2014; no seu balanço de Março de 2011, fixa-o agora em 5,5% do PIB.
Em quarto lugar, e por último, sem um forte aumento das exportações, será impossível à Grécia renovar com um crescimento sustentado. Ora tal aumento exigirá uma forte redução dos custos nominais.
Ainda que isto seja possível, o que eu duvido, desta hipótese resultaria então um novo aumento do rácio da dívida em relação ao PIB.
O cepticismo do mercado quanto à capacidade da Grécia voltar a ser solvente é justificado. Este assenta sobre a tomada em consideração de dois factos: a dívida maciça e a falta de competitividade.
O facto de que o povo grego não queira suportar as consequências dolorosas torna completamente inconcebível o que era já pouco provável.
Neste caso, o que é que justifica que se seja fortemente teimoso em atribuir novos empréstimos se, ao fazê-lo, se faz deslocar uma parte crescente das dívidas do governo grego sobre as contas do sector público? Vejo quatro argumentos.
AJUDA-SE OS SEUS PRÓPRIOS BANCOS
O primeiro é que esta estratégia esconde a situação dos credores privados. É muito menos embaraçoso declarar que se ajuda a Grécia enquanto que realmente se está a ajudar os seus próprios bancos. Se os credores privados dispuserem de suficientemente tempo, poderão vender os seus empréstimos ao sector público ou registá-los como perdas e lucros sem injecções de capitais por parte dos Estados.
O segundo argumento é que a estratégia de estar a retardar permite a outros países de se colocarem eles-próprios em ordem antes de uma declaração de incumprimento grego e, talvez, de uma saída em catástrofe da zona euro. Se estes acontecimentos se produzissem agora, teme-se, assistir a um desfazer maciço da dívida soberana e a uma corrida sobre os bancos nos países frágeis, com efeitos devastadores.
O terceiro argumento é o de que é possível que a Grécia se livre ainda. Atribuir o máximo de apoio ao país torna pelo menos essa hipótese praticável.
O quarto argumento é que o FMI considera que a Grécia registará um défice orçamental primário (sem o pagamento dos encargos, os juros, da dívida) de 0,9% do PIB este ano. Assim a transferência líquida de recursos far-se-á com vantagem para o sector público grego. Tanto quanto for assim, e é por agora assim, uma situação de incumprimento não tem nenhum sentido.
Em termos aproximados, estes argumentos são convincentes de acordo com uma ordem crescente.
O primeiro argumento foi utilizado para justificar a política da recusa que precipitou a América Latina na sua “década perdida” dos anos 80. O argumento parecia imoral à época e ainda o parece hoje . As perdas devem ser reconhecidas e os bancos devem ser recapitalizados.
O segundo argumento parte da hipótese que a posição grega continua a ser misteriosa. É no entanto evidente que a desobrigação em relação a outras jurisdições frágeis está já a ser feito.
O terceiro argumento não é ridículo, mas uma tal saída feliz parece improvável tendo em conta a situação na qual se encontra a Grécia.
O último argumento é justo. Mas vale para uma curta suspensão, não para uma batalha prolongada.
No caso grego, a saída parece inevitável. Não vejo qual a vantagem que haveria em que a Grécia declarasse a situação de incumprimento no que diz respeito ao seu sector público ao fim de anos longos de grandes esforços em vez de o fazer face ao seu sector privado nos próximos meses.
O melhor seria agir de maneira preventiva. Um dos aspectos desta prevenção consistiria em consolidar os outros membros e sistemas financeiros frágeis da zona euro. Num caso pelo menos, o da Irlanda, isso deverá sem dúvida passar por uma reestruturação da dívida. Mas isso exigirá também que se progrida para um sistema financeiro único para o conjunto da zona euro, com um apoio orçamental correspondente.
Mas a principal exigência do momento é a de reconhecer a desagradável realidade.
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Chegou a hora de obrigatoriamente reconhecer a dura realidade a que a Grécia está a ser sujeita e de agir imediatamente sobre as consequências que terá para os seus parceiros.
Martin Wolf, Grèce : l'Europe joue la montre, LE MONDE ECONOMIE | 27 de Junho de 2011
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