Segunda-feira, 11 de Julho de 2011

A Europa em contra-relógio Martin Wolf-Financial Times, Le Monde

enviado por Júlio Marques Mota

 

Albert Einstein terá  um dia declarado que a loucura consistia em  fazer e refazer a mesma coisa e com isso esperar  obter resultados diferentes.

 

Na base deste  critério, o acordo que está quase concluído com a Grécia parece insensato. A sua única justificação é que se tem  necessidade de  ganhar tempo. É uma má estratégia. É necessário tomar medidas mais radicais.

 

A questão que é necessário colocar-se a respeito da Grécia não é tanto saber se vai  assumir uma situação de incumprimento mas sim de saber se esta situação quando se der será  suficiente para  voltar a dar uma saúde razoável à economia grega. Duvido fortemente. O país parece demasiado pouco competitivo para que isto lhe sirva como resposta. A situação de incumprimento  é uma condição necessária mas não suficiente para um regresso à boa saúde económica.

 

Os  resultados  na Grécia e  no âmbito do programa concluído em Maio de 2010 com o Fundo Monetário Internacional (FMI) é extraordinariamente  impressionante. Mas não teve êxito em tornar país de novo  solvente.

 

O “spread” (desvio de taxas) entre as obrigações gregas e as alemãs com a maturidade de dez  anos passou de 460 pontos base  (4,6 pontos de percentagem), depois do programa ter sido  anunciado, para  1.460 pontos de base, ou seja, 14,6%.

A mesma coisa para a Irlanda e para Portugal

 

A mesma coisa, ou quase , se passou  com  a Irlanda e Portugal. Mais perigoso  ainda, mesmo os spreads espanhóis atingiram 270 pontos base. A Grécia, a Irlanda e Portugal não têm nenhuma possibilidade de poder, num futuro próximo, conseguir contrair empréstimos  nos mercados a  taxas suportáveis.

 

O que  há de  particularmente deprimente  no caso da Grécia é que este alargar dos  spreads se verificou  apesar de desempenhos satisfatórios.

 

O programa original partia da hipótese que o produto interno bruto (PIB) grego cairia 4 % em 2010, seguidamente de 2,6% em 2011.

 

De acordo com o balanço publicado em Março, os números reais revelaram-se apenas ligeiramente superiores, ou seja respectivamente 4,5% e 3%.

 

O défice público estava previsto à partida à 8,1% do PIB para 2010 e 7,6% para 2011. De acordo com este mesmo balanço de Março de 2011, o défice atingiu apenas 9,6% em 2010 e 7,5% em 2011.

 

INSUFICIENTE POR QUATRO RAZÕES

 

Mesmo no que diz respeito ao défice das contas correntes, os 10,5% registados em  2010 e os 8,2% previstos para 2011 no balanço de Março passado são dificilmente piores que as previsões iniciais, respectivamente de 8,4% e 7,1%. Infelizmente, está  muito  longe de  ser suficiente, por quatro razões.

 

Em primeiro lugar, o perfil da dívida, que era já de loucos , ainda  se  agravou: o programa inicial previa que o rácio da dívida bruta em relação ao PIB atingiria um  PICO de 149% do PIB em 2012. Ora, de acordo com o balanço de Março passado, já terá  atingido 159%.

 

Além disso, a economia grega parece extraordinariamente não competitiva. O indicador mais impressionante é a combinação de um défice ainda enorme das contas - correntes e uma profunda recessão. Este défice externo já não pode continuar a ser  financiado pelo  mercado.

 

Em terceiro lugar, constata-se que as perspectivas relativas ao défice das contas - correntes degradam-se claramente: à partida, o FMI previa que o défice se estabeleceria  em  2,8% do PIB em 2014; no seu balanço de Março de 2011, fixa-o agora em  5,5% do PIB.

 

Em quarto lugar, e  por último, sem um forte aumento das exportações, será impossível à Grécia renovar  com um crescimento sustentado. Ora tal aumento exigirá uma forte redução dos custos nominais.
Ainda que isto seja possível, o que eu duvido, desta hipótese  resultaria então um novo aumento do rácio da dívida em relação ao PIB.

 

O cepticismo do mercado quanto à capacidade da Grécia voltar a ser  solvente é justificado. Este assenta  sobre a tomada em consideração de dois factos: a dívida maciça e a falta de competitividade.

 

O facto de que o povo grego não queira suportar as consequências dolorosas torna completamente inconcebível o que era já pouco provável.

 

Neste caso, o que é  que justifica que se seja fortemente teimoso  em atribuir novos empréstimos se, ao fazê-lo,  se faz deslocar  uma parte crescente das dívidas do governo grego sobre as contas  do sector público? Vejo quatro argumentos.

AJUDA-SE OS SEUS PRÓPRIOS BANCOS

 

O primeiro é que esta estratégia esconde  a situação dos credores  privados. É muito menos embaraçoso declarar que se ajuda  a Grécia enquanto que realmente se está a ajudar  os seus próprios bancos. Se os credores  privados dispuserem de suficientemente tempo, poderão vender os seus empréstimos ao sector público ou registá-los como perdas e lucros  sem injecções de capitais por parte dos Estados.

 

O segundo argumento é que a estratégia de estar a retardar  permite a outros países de se colocarem eles-próprios em  ordem  antes de uma declaração de incumprimento  grego e, talvez, de uma saída em catástrofe da zona  euro. Se estes acontecimentos se produzissem  agora, teme-se,    assistir a um desfazer  maciço da dívida soberana e a uma corrida sobre os bancos nos países frágeis, com efeitos devastadores.

 

O terceiro argumento é o de que é possível que a Grécia se livre ainda. Atribuir o máximo de apoio ao país torna pelo menos essa hipótese praticável.

 

O quarto argumento é que o FMI considera que a Grécia registará um défice orçamental primário (sem o pagamento dos encargos, os juros,  da dívida) de 0,9% do PIB este ano. Assim  a transferência líquida  de recursos far-se-á com vantagem para o sector público grego. Tanto quanto for assim, e é por agora assim, uma situação de  incumprimento não tem nenhum sentido.

 

Em termos aproximados, estes argumentos são convincentes de acordo com uma ordem crescente.

O primeiro argumento foi utilizado para justificar a política da recusa que precipitou a América Latina na sua “década perdida” dos anos 80. O argumento parecia imoral à época e ainda o  parece  hoje . As perdas devem ser reconhecidas e os bancos devem ser recapitalizados.
O segundo argumento parte da hipótese que a posição grega continua a ser misteriosa. É no entanto evidente que a  desobrigação  em relação a outras jurisdições  frágeis está já a ser feito.

O terceiro argumento não é ridículo, mas uma  tal saída feliz parece improvável tendo em conta a situação na qual se encontra  a Grécia.

 

O último argumento é justo. Mas vale para uma curta suspensão, não para uma batalha prolongada.

 

No caso grego, a saída parece inevitável. Não vejo qual a  vantagem que haveria em que  a Grécia declarasse a situação de incumprimento no que diz respeito ao seu sector público ao fim  de anos longos de grandes esforços em vez de o fazer   face  ao seu sector privado nos próximos  meses.

 

O melhor seria agir de maneira preventiva. Um dos aspectos desta prevenção consistiria em  consolidar os outros membros e sistemas financeiros frágeis da zona euro. Num caso pelo menos, o da Irlanda, isso  deverá sem dúvida passar por uma reestruturação da dívida. Mas isso  exigirá  também que se  progrida  para um sistema financeiro único para o conjunto da zona euro, com um apoio orçamental correspondente.

 

Mas a principal exigência do momento é a de reconhecer a desagradável realidade.
.

Chegou a hora de obrigatoriamente reconhecer a dura realidade a que a Grécia está a ser sujeita e de agir imediatamente sobre as consequências que terá para os seus parceiros.

 

Martin Wolf, Grèce : l'Europe joue la montre,  LE MONDE ECONOMIE | 27 de Junho de 2011

publicado por Luis Moreira às 20:00
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