enviado por Julio Marques Mota
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Conclusão nº 8
• Concluímos que os produtos derivados negociados fora da Bolsa, os produtos OTC, contribuíram significativamente para esta crise.
A promulgação de legislação em 2000 que bania a regulamentação por ambos os governos, federal e estadual, sobre os produtos derivados OTC , over-the-counter , foi um momento decisivo na marcha em direcção à crise financeira.
A partir das empresas financeiras, para os agricultores e para os investidores, os produtos derivados têm sido usados para se protegerem contra ou para especular sobre as variações de preços, das taxas ou dos índices ou até mesmo de eventos como o incumprimento potencial de dívidas. No entanto, sem qualquer supervisão, os derivados OTC rapidamente saíram do controle e do alcance dos supervisores , crescendo para 673 milhões de milhões de dólares em valor nocional ou de referência Neste relatório falaremos sobre a alavancagem descontrolada, a falta de transparência assim como de capital e de requisitos de garantia; falaremos sobre a especulação; sobre as interconexões entre firmas e sobre as concentrações de risco neste mercado.
Os derivados OTC contribuíram para a crise de três maneiras bem significativas. Em primeiro lugar, um tipo dado tipo de derivados - os Credit Default Swaps, os CDS - , alimentou a cadeia da titularização das hipotecas. Os CDS foram vendidos a investidores para se protegerem contra o eventual incumprimento ou contra a queda do valor de activos que lhes estavam subjacentes, o colateral dos créditos de risco que foram titularizados . As empresas venderam protecção, e como ideia foi da ordem de 79 mil milhões de dólares, no caso da AIG, aos investidores nestas hipotecas o último grito em títulos , ajudando a lançar e expandir o mercado e, por sua vez, para continuar a alimentar a bolha imobiliária.
Em segundo lugar, os CDS foram essenciais para a criação de CDOs sintéticos. Estes CDOs sintéticos são simplesmente apostas sobre o resultado de activos reais ligados às hipotecas. Eles ampliaram as perdas com o colapso da bolha da habitação, permitindo que fossem feitas múltiplas apostas sobre os mesmos títulos e ajudaram a espalhá-los por todo o sistema financeiro. A Goldman Sachs por si-só embalou e vendeu 73 mil milhões em CDOs sintéticos de 1 de Julho de 2004 a 31 de Maio de 2007. Os CDOs sintéticos criados por Goldman Sachs tinham como referência mais de 3.400 títulos hipotecários e 610 deles foram referenciados pelo menos duas vezes. Isto é um aparte sobre quantas vezes esses títulos podem ter sido referenciado em CDOs sintéticos criados por outras instituições financeiras do mesmo género.
Finalmente, quando a bolha imobiliária estourou e se seguiu a crise, os produtos derivados ocuparam o centro da tempestade. A seguradora AIG, que não tinha sido obrigado a fazer reservas de protecção para os riscos que estava a assumir , a protecção que estava a vender, foi resgatada quando esta já não podia cumprir as suas obrigações. O governo finalmente envolveu mais de 180 mil milhões, devido ao medo existente de que o colapso da AIG pudesse provocar perdas em cascata em todo o sistema financeiro global. Além disso, a existência de milhões de contratos de produtos derivados de todos os tipos entre instituições financeiras sistemicamente importantes, invisíveis e desconhecidos neste mercado não regulamentado, aumentaram a incerteza e o pânico, ajudando ainda a precipitar a assistência do governo a estas instituições.
Conclusão nº 9
• Concluímos que as falhas das agências de notação de crédito foram peças essenciais na engrenagem da destruição financeira.
As três agências de rating de crédito foram os principais elementos catalisadores da crise financeira. Os títulos colateralizados com as hipotecas estão no centro da crise e estes não poderiam ter sido comercializados e vendidos sem o selo da sua aprovação. Os investidores confiavam neles , muitas vezes cegamente. Nalguns casos, eles eram obrigados a usá-los, ou as normas regulamentares sobre capital faziam que dessas agencias de dependesse . Esta crise não poderia ter acontecido sem as agências de rating. As suas avaliações ajudaram o mercado a disparar e a descida das suas notas ao longo de 2007 e 2008 causou estragos em todos os mercados e firmas.
No nosso relatório, será analisada as falhas de Moody’s, que foi examinada pela Comissão como um estudo de caso. De 2000 a 2007, a Moody’s avaliou cerca de 45.000 títulos relacionados com hipotecas com a classificação de triplo-A. Isto, pode-se comparar com seis empresas do sector privado que nos Estados Unidos obtiveram esta cobiçada classificação no início de 2010. Só em 2006, a Moody’s colocou o seu selo de aprovação com triplo-A em 30 activos ligados a hipotecas por cada dia de trabalho. Os resultados foram desastrosos: 83% dos títulos hipotecários avaliados com o selo de triplo-A daquele ano, baixaram depois de notação.
Se lermos também sobre as forças que estão por detrás das falhas de Moody’s, incluindo os modelos de computador que estavam inadaptados , estão a pressão de empresas financeiras que pagavam as classificações, a luta implacável pelo aumento das quotas de mercado , a falta de recursos para fazer o trabalho, apesar dos lucros recordes, assim como a ausência de supervisão pública significativa. E pode-se bem entender que sem a participação activa das agências de rating, o mercado de títulos colateralizados pelas hipotecas não poderia ter sido aquilo em que se tornou.
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Há muitas leituras diferentes e concorrentes sobre as causas desta crise. A este respeito, a Comissão tem procurado abordar questões fundamentais que nos foram colocadas. Aqui nós discutimos apenas três: a disponibilidade de capitais e o excesso de liquidez, o papel da Fannie Mae e Freddie Mac (GSEs), e a política habitacional do governo.
Primeiro, quanto à questão de excesso de liquidez: no nosso relatório, destacamos as políticas monetária e os fluxos de capitais durante os anos que antecederam a crise. As baixas taxas de juros, o capital amplamente disponível e os investidores internacionais que procuravam colocar o seu dinheiro em activos imobiliários nos Estados Unidos foram os pré-requisitos para a criação de uma bolha de crédito. Essas condições criaram riscos acrescidos, que deveriam ter sido reconhecidos pelos participantes do mercado, pelos decisores políticos e pelos reguladores. No entanto, é a conclusão da Comissão de que o excesso de liquidez não tem que provocar nenhuma crise. Foram as falhas acima citadas incluindo o facto de não ter sido criada nenhuma forma eficaz de controlar os excessos nas hipotecas e mercados financeiros que foram as principais causas desta crise. De facto, a disponibilidade de capital estrangeiro e nacional a baixa taxa de juro é uma oportunidade para a expansão económica e para o crescimento se canalizado para as diversas aplicações produtivas.
Em segundo lugar, examinamos o papel das GSEs, com Fannie Mae servindo como caso de estudo, nesta área, para a Comissão. Essas empresas patrocinadas pelo governo assentaram num modelo de actividade profundamente errado como o das grandes empresas negociadas na Bolsa com a garantia implícita dos subsídios do governo federal e com uma missão pública. A sua exposição em hipotecas era de 5 milhões de milhões de dólares e a sua posição no mercado eram significativas.
Em 2005 e 2006, eles decidiram subir as suas compras e de garantias de hipotecas de risco, exactamente quando o mercado imobiliário estava no auge. Os directores de Fannie Mae usaram o seu poder político durante décadas para escapar a uma efectiva regulação e fiscalização, gastando cerca de 164 milhões de dólares em lobby entre 1998-2008. Eles sofriam de muitas das mesmas falhas da corporate governance e da gestão de risco como a Comissão descobriu em muitas outras empresas financeiras. Até ao terceiro trimestre de 2010, o Departamento do Tesouro tinha fornecido 1151 mil milhões de dólares em apoio financeiro para as manter acima da linha de água.
Conclusão nº 10
Concluímos que estas duas entidades contribuíram para a crise, mas não foram uma causa primária.
Importante, os títulos hipotecários GSE essencialmente têm mantido o seu valor durante a crise e não contribuíam para a escala significativa das perdas financeiras da empresa que estiveram no cerne da crise financeira.
As empresas GSEs participaram na expansão das subprime e de outras hipotecas de risco, mas estes sobretudo seguiram Wall Street e outros credores, e não o inverso, na louca corrida para o ouro. Estas compraram os títulos, colateralizados por hipotecas , mais bem notados de empresas não GSE e a sua participação neste mercado acrescentou hélio no balão do mercado da habitação, mas as suas compras nunca representaram a maioria do mercado. As aquisições representaram cerca de 10,5% dos títulos colateralizados por hipotecas subprime emitidos pelas empresas não-GSE, em 2001, com a quota subindo para 40% em 2004, e a cair depois para 28% até 2008.
Eles abrandaram nas suas exigências de subscrição para comprarem ou para garantirem empréstimos mais arriscados e valores mobiliários relacionados, a fim de satisfazer os analistas do mercado de títulos e as expectativas dos investidores quanto ao seu crescimento e também para recuperarem a sua taxa de participação de mercado, e para assegurar uma compensação generosa para os seus executivos e funcionários - a justificar as suas actividades no amplo e sustentado apoio público quanto à política para aquisição de casa própria.
A Comissão também investigou os resultados dos empréstimos adquiridos ou garantidos por Fannie e Freddie. Enquanto eles geraram perdas significativas, as taxas de incumprimento para empréstimos GSE foram substancialmente mais baixos do que para os empréstimos titularizados por outras empresas financeiras. Por exemplo, dados compilados pela Comissão para um subconjunto de mutuários com pontuação de crédito similar, pontuações abaixo de 660 mostram que até ao final de 2008, as hipotecas GSE eram muito menos propensas a ficarem seriamente em posição de incumprimento do que as hipotecas titularizadas não-GSE: 6,2 contra 28,3%.
Também estudamos longamente como o Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano do (HUD) como é que o estabelecimento de metas de habitação acessível para as GSEs afectavam os seus investimentos em hipotecas de risco. Com base nas provas e entrevistas com dezenas de pessoas envolvidas nesta área de estudo, nós determinamos que essas metas só contribuíram marginalmente para a participação de Fannie e Freddie nessas hipotecas.
Finalmente, quanto à questão de saber se as políticas de habitação do governo foram ou não a principal causa da crise: há décadas, a política do governo tem incentivado a aquisição de casa própria através de um conjunto de incentivos, programas de assistência, e de mandatos. Essas políticas foram postas em prática e promovidas por várias administrações e Congressos; de facto, ambos os presidentes Bill Clinton e George W. Bush estabeleceram metas agressivas para aumentar a percentagem de pessoas com casa própria.
Na realização do nosso estudo analisámos com cuidado as metas de habitação a preços acessíveis do HUD, como mencionámos acima, assim como fizemos o mesmo com a aplicação da Community Reinvestment Act (CRA). A CRA foi promulgada em 1997 para combater a "redlining" estabelecida pelos bancos, ou seja, a CRA como oposição á pratica de recusar conceder crédito a indivíduos ou empresas em certos bairros, independentemente da sua solvabilidade (redlining) . A CRA exige que os bancos e as caixas de poupança, as saving and loans, emprestem, invistam e prestem serviços às comunidades de onde eles recebem os seus depósitos, consistente com a segurança bancária e a solidez.
A Comissão conclui que a lei CRA não foi um factor significativo nos empréstimos subprime ou na crise. Muitos emprestadores subprime não estavam sujeitos ao CRA. O nosso estudo refere que apenas 6% dos empréstimos de alto custo, uma proxy para a análise de empréstimos subprime, tinham alguma ligação com esta lei. Os empréstimos concedidos por credores regulados pela CRA nos bairros em que foram obrigados a emprestar tinham metade da probabilidade de ficarem em incumprimento relativamente a empréstimos similares feitos nos mesmos bairros por originadores de hipotecas independentes que não estão sujeitos à lei.
No entanto, fazemos a seguinte observação sobre a política habitacional do governo - estes falharam a este respeito. Como uma nação, estabelecemos metas agressivas quanto à detenção de habitação própria com o desejo de estender o crédito às famílias a quem previamente era negado o acesso aos mercados financeiros. Mais ainda. O governo não conseguiu garantir que a filosofia de oportunidades fosse acompanhada pelas realidades concretas no terreno. Esta realidade testemunha novamente o fracasso de Federal Reserve e de outros órgãos reguladores para controlarem os empréstimos irresponsáveis. A detenção de casa para habitação própria atingiu o seu pico na Primavera de 2004 e, em seguida, começou a declinar. Deste ponto de vista o discurso sobre as oportunidades está trágica e frontalmente em oposição à realidade de um desastre financeiro que foi feito.
Quando esta Comissão começou o seu trabalho há 18 meses, alguns de nós imaginavam que os acontecimentos de 2008 e as suas consequências estariam já bem atrás de nós no momento em que publicássemos esse relatório. No entanto, mais de dois anos depois que o governo federal intervir de uma forma sem precedentes nos nossos mercados financeiros, o nosso país ainda está a braços com os efeitos posteriores dessa calamidade. O nosso sistema financeiro , em muitos aspectos, está ainda sem qualquer sinal de mudança desde o que existia na véspera do aparecimento da crise. De facto, na esteira da crise, o sector financeiro americano está agora mais concentrado do que nunca, nas mãos de umas poucas mas grandes instituições sistemicamente significativas .
Embora não tenhamos sido encarregados de elaborar quaisquer recomendações políticas, a finalidade do nosso relatório é a de fazer um balanço do que aconteceu para que possamos traçar um novo rumo. No nossso estudo encontrámos falhas dramáticas de governança corporativa, lapsos profundas na supervisão e regulação e falhas quase que fatais no nosso sistema financeiro. Nós também descobrimos que uma série de opções e de acções nos levaram a uma catástrofe para a qual estávamos mal preparados. Estas são questões sérias que devem ser abordadas e resolvidas para restaurar a fé nos nossos mercados financeiros, para evitar a próxima crise e para reconstruir um sistema de capital que forneça a base para uma nova era de prosperidade amplamente partilhada.
A maior tragédia seria aceitar o refrão de que ninguém poderia ter visto a crise aparecer e, assim, que nada contra ela poderia ter sido feito. Se aceitarmos essa ideia, a crise vai acontecer novamente.
Este relatório não deve ser visto como o fim da análise a ser feita pelo nosso país sobre esta crise. Há ainda muito a aprender, muito a investigar e muito a corrigir.
Esta é a nossa responsabilidade colectiva. Cabe-nos a nós fazer escolhas diferentes se queremos resultados diferentes.
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