Sexta-feira, 8 de Julho de 2011

Conclusões da Comissão de Inquérito sobre a Crise Financeira (nºs 6,7)

enviado por Julio Marques Mota


Conclusão nº 6

 

Concluímos que havia uma ruptura sistémica em termos de  responsabilidade e de ética.

 

A integridade de nossos mercados financeiros e a confiança do público nesses mercados são essenciais para o bem-estar económico do nosso país. A solidez e a prosperidade sustentada do sistema financeiro e da nossa economia assentam nas noções de tratamento justo, de responsabilidade e de transparência. Na  nossa economia, esperamos que as empresas e os indivíduos ao procurarem obter  benefícios ao mesmo tempo que produzem produtos e serviços de qualidade se estejam a  comportar  bem.

Infelizmente, como foi o caso no passado com os booms especulativos e as recessões , testemunhamos uma erosão dos padrões de responsabilidade e de ética, erosão esta que exacerbou a  crise financeira. Isto não terá sido universal, mas estas violações estenderam-se desde a base até ao nível de topo das grandes empresas.  Isto  não resultou apenas em significativas consequências de ordem financeira  mas também em danos para a confiança dos investidores, empresas e para o público quanto ao nosso  sistema financeiro.

Por exemplo, no  nosso trabalho de investigação verificámos , de acordo com uma medida de referência, que a percentagem  de mutuários que entraram em incumprimento com as  suas hipotecas em apenas uma questão de meses depois de contrair   um empréstimo quase dobrou a partir do Verão de 2006 para o final de 2007. Estes dados indicam que eles provavelmente obtiveram empréstimos sobre  hipotecas que nunca tiveram a capacidade ou a intenção de pagar. O que se escreveu  sobre os corretores de hipotecas  a  que foram pagos "prémios de rendimento crescentes" pelos credores para colocarem  os mutuários com de empréstimos de  maior custo para que eles obtenham  as taxas maiores, que frequentemente  nunca eram explicados  aos mutuários.                                                                                                                                                      

 

O nosso relatório mostra a crescente incidência da  fraude no mercado   de  hipotecas  que florescia num ambiente de colapso  quanto às normas nos créditos concedidos  e de uma  regulação frouxa. O número de casos  de actividades suspeitas, denúncias de possíveis crimes financeiros  liderados  por bancos de depósito e pelas suas  filiais relacionados   com  fraudes de hipotecas cresceu 20 vezes entre 1996 e 2005 e, em seguida, mais do que dobrou novamente entre 2005 e 2009. Um estudo calcula   as perdas resultantes de fraudes em empréstimos hipotecários feitos entre 2005 e 2007, no astronómico montante  de 112 milhares de milhões de dólares americanos.

Os credores, os mutuantes,  fizeram empréstimos que sabiam que os mutuários não podia pagar e que poderiam causar enormes perdas para os investidores em títulos hipotecários. Já em Setembro de 2004, os directores executivos da Countrywide reconheceram  que muitos dos empréstimos que eles tinham originado  poderiam resultar em "consequências catastróficas". Menos de um ano mais tarde, eles referiram que certos empréstimos de alto risco que eles estavam a fazer  poderiam resultar não apenas em execuções de hipotecas , mas também em "catástrofe  financeira  e de reputação" para a empresa. Mas eles não pararam.

E o nosso relatório mostra que as principais instituições financeiras da misturavam  sem qualquer resultado  empréstimos que estavam a comprar  para empacotar e vender aos investidores. Eles sabiam que uma percentagem  significativa  dos empréstimos incluídos na amostra não tinham  cumprido as normas  de concessão de empréstimos  quer as suas próprias normas  quer mesmo a dos agentes financeiros que originaram os créditos..No entanto, eles venderam os títulos aos investidores. A análise da Comissão sobre muitos dos  prospectos  dados aos  investidores mostra  que esta informação fundamental não era comunicada.


Estas conclusões devem ser vistas no contexto da natureza humana e da responsabilidade individual e social. Primeiro, entender  esta crise como  resultado de defeitos dos mortais  como a ganância e arrogância seria simplista. Foi a falha de não se ter em conta  as fraquezas humanas que é  relevante para esta crise.

Segundo, nós claramente consideramos   que a crise foi o resultado de erros humanos, de concepções erradas   e de crimes que resultaram em falhas sistémicas pelas quais o nosso país pagou bem caro.  Com   a leitura deste relatório ver-se-á  firmas  bem específicas e indivíduos  actuaram de modo  irresponsável . No entanto, uma crise desta grandeza, desta dimensão,   não pode ser apenas o trabalho de alguns maus autores  e não foi esse o caso aqui. Ao mesmo tempo, a amplitude desta crise não significa que "toda a gente  é culpada";  houve muitas firmas, houve muitos indivíduos que não  participaram nos  excessos que geraram este  desastre.

Consideramos como tendo uma responsabilidade  muito  especial  nesta crise os nosso dirigentes  públicos encarregados de proteger o nosso sistema financeiro, os nossos dirigentes afinal a quem  foram confiados a direcção dos nossos organismos reguladores  e ao mesmo nível consideramos também  os principais Directores ou Presidentes executivos de empresas cujas falhas nos levaram  à crise. Estes indivíduos procuraram e aceitaram posições de significativa responsabilidade e de significativas obrigações. Subiram ao topo, não importa e, neste caso, fomos nós que descemos.  Ninguém disse "não".

Mas como uma nação, devemos também aceitar a responsabilidade por aquilo que permitimos  que ocorressem. Colectivamente, mas certamente não por unanimidade,  nós  consentimos  ou abraçámos  um sistema, um conjunto de políticas e de acções  que deram  origem a nossa situação actual.


O nosso relatório descreve os EVENTOS  e  o sistema que impulsionou a nossa nação para a crise. A complexa maquinaria dos nossos mercados financeiros tem muitas engrenagens essenciais algumas das  quais desempenharam  um papel crucial no desenvolvimento assim como no aprofundado da crise .  Aqui apresentamos as nossas conclusões sobre as componentes específicas do sistema que nós acreditamos que contribuiu significativamente para o colapso financeiro.

Conclusão 7

• Nós concluímos que o colapso nas regras de concepção dos empréstimos hipotecários  e a  titularização destas hipotecas foram o rastilho e a mecha  que deram origem  à crise e ao seu contágio .
Quando os preços da habitação caíram e os mutuários de hipotecas ficaram em situação de incumprimento , as luzes começaram a diminuir  em Wall Street. Este relatório  mostra   a corrosão na  concessão de empréstimos hipotecários e na sua titularização   que assentava  em  hipotecas tóxicas   criadas desde   os bairros através de América  e colocadas depois nos  investidores de todo o globo.

Muitos credores em empréstimos com  hipoteca colocaram a fasquia tão baixa que os credores simplesmente  queriam tornar mais fáceis as qualificações para se conseguir  empréstimos baseadas muitas vezes apenas  na  fé e  muitas vezes com uma total indiferença quanto  à capacidade do  mutuário poder  pagar. Quase um quarto de todas as hipotecas feitas no primeiro semestre de 2005 foram só de juros sobre os empréstimos. Durante o mesmo ano, 68%  dos empréstimos  feitos com  "opção ARM" originados pela Countrywide e por Washington Mutual tinham requisitos de pouca ou nenhuma documentação.

Estas tendências não eram secretas. Com  empréstimos irresponsáveis, incluindo práticas predatórias  e fraudulentas, a tornarem-se a regra dominante , o Federal Reserve  e outros órgãos e autoridades reguladoras ouviram advertências  vindas  de diversos quadrantes. No entanto, o Federal Reserve negligenciou e a sua missão "para garantir a segurança e a solidez do sistema bancário do país e do sistema financeiro  e para proteger os direitos de crédito dos consumidores."  O Federal Reserve  não conseguiu construir o muro de protecção   e antes que fosse demasiado  tarde.  E o Office of the Comptroller of the Currency  e o  Office of Thrift Supervision foram apanhados em guerras sobre a definição das áreas respectivas a deverem controlar  consideraram antecipadamente que os reguladores estaduais refreavam r os abusos.

 Embora muitas dessas hipotecas tivessem sido mantidas nos registos  de contas dos bancos,  quanto   mais fosse  o dinheiro que vinha dos  investidores globais que  pretendiam  colocar o seu dinheiro nos recentes títulos colateralizados pelos valores mobiliários.  Tinha-se a ideia, pelas  instituições financeiras, investidores e reguladores e muito  que o risco tinha sido conquistado, dominado: os investidores detinham  títulos altamente cotados que eles consideravam altamente líquidos, os bancos achavam que tinham colado  fora das suas contas  os  empréstimos de alto risco  e os reguladores viam as firmas a   obterem  lucros e empréstimos a baixas taxas de juro.  Mas em cada etapa da cadeia de titularização  de hipotecas dependia-se do próximo passo em conseguir  manter a procura alta .                                                                                                

 

Dos  especuladores que especulavam sobre  casas aos  corretores de hipotecas, que  arranjavam os clientes para os empréstimos , aos  credores, que emitiam as hipotecas,  às  empresas financeiras  que emitiam os títulos colateralizados  em hipotecas, dos títulos (CDOs), dos CDOs ao quadrado, e dos  CDOs sintéticos: não há ninguém nesta cadeia  de hipotecas tóxicas que se tenha neste jogo deixado a pele, que se tenha queimado.  Todos eles acreditavam que poderiam  transferir os  seus riscos  ao mínimo sinal de alarme para o elemento seguinte da cadeia . Eles estavam errados. Quando os mutuários deixaram de fazer pagamentos sobre as suas  hipotecas, as perdas, ampliadas pela utilização de produtos derivados, percorreu toda a cadeia financeira . Como se viu, essas perdas estavam  concentradas sistemicamente num dado conjunto de importantes instituições financeiras .

No final, o sistema que criou milhões de hipotecas e de modo eficiente  provou  ser difícil desta situação sair. A sua complexidade erigiu barreiras para a modificação das  hipotecas e de tal forma que assim  tornou dificil que as famílias pudessem  permanecer  nas suas  casas e criou ainda mais incerteza sobre a saúde do mercado imobiliário e das instituições financeiras.

 

publicado por Luis Moreira às 20:00
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