Sílvio Castro Um Novo Coração
Capítulo 45
Arco, 15ª jornada, 24/02/05
Alguma coisa de novo se passa em mim, eu o sinto nesse dia. Pela primeira vez depois de muito tempo dormi mais longamente. Já quando me sentara na sala de leitura, tomando como sempre uma xícara de camomila muito quente, preparando-me para ali ficar na noite por horas indefinidas, apenas começada a leitura dos mágicos contos do mundo armeno-americano de William Saroyan, depois de não mais de uma hora, repentinamente eu senti o perdido desejo de dormir que retornava. Dormi quase com total tranquilidade por quase seis horas. Quando os enfermeiros entraram, como a cada manhã, no quarto, mais que vê-los, eu os intuía presentes.
Pouco a pouco saí do sono que me acalentava sem querer cessar e me levantei com um ritmo que não conhecia de há muito. No banheiro, depois de fazer a barba, tomei um banho de chuveiro quente e quase cantei. Vestido com a minha habitual roupa de ginástica azul-marinho, depois de conversar um pouco com Roberto, desci para o café. No refeitório contei ao dr. Citton como eu me sentia bem naquele dia e ele me disse que o mesmo lhe acontecia. Para exaltar o dia, não comi o pão puro quotidiano, mas pela primeira vez em 2005 saborei um brioche. Repeti o café. Logo depois retornei ao meu quarto, onde já estava o dr. Pozzan para uma visita de controle. Com ele subi até o terceiro andar, na radiologia, para um posterior exame de RX torácico. Como sempre o dr. Pozzan conversou animadamente comigo. Mais tarde, quando eu já me repousara na tarde ainda com as alegrias da manhã, a enfermeira chefe me entregou o resultado do exame da radiologia
“Boa ainda que incompleta detersão do campo basal de Sn sob controle depois de toraxenteses com resídua epodiafania desemogênica do campo basal e hiporesquearibilidade dos recessos c.f. de mínimos reliquados líquidos. Invariado o restante quadro.”
Dentro da euforia vivida por todo aquele dia, de todo o resultado do exame eu me fixei somente no adjetivo “boa” que o abria.
Tudo isso porque me sentia envolvido pelo reencontro com o meu intestino em ótima forma. Não mais se podia falar de intestino preguiçoso que me tapava em abstenções defecatórias por muitos dias. Mais que isso, eu me sentia em saúde porque a partir de determinado momento, com o encontro do intestino retomado, eu me livrava com assiduidade e regra. Desde então, passei a me sentir capaz de exprimir alguma coisa que por longo tempo me fora subtraída: num desses dias apenas passados e depois sempre em repetição, como que surpreendido comigo mesmo, eu peidei. Sim, peidei, longa e livremente. Peidei, é assim que eu quero dizer, apesar da constringente tendência ao eufemismo de minha língua que me está sussurando para que eu diga, não como estou dizendo, peido, mas pum, traque.
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