(Continuação)
O Aparecimento do Realismo
Sobretudo após o fim da Guerra Civil (1861-1865), os Estados-Unidos conhecem um processo de crescimento e desenvolvimento para o qual é difícil, senão impossível, encontrar um paralelo na história do mundo. O crescimento industrial gigantesco, o desenvolvimento económico em todos os sectores, o crescimento populacional exponencial alimentado pela imigração, e a marcha para oeste (onde os pioneiros vão desbravar algumas das terras mais férteis do mundo) são componentes desse princípio. Assiste-se a um crescimento desmesurado do capitalismo. A outra face da moeda são o agravamento das tensões sociais, da miséria e das depressões económicas. A especulação financeira invade a economia. Foerster refere o papel dos magnatas no processo, procurando mostrar o lado positivo e o negativo. Mas não deixa de apontar o caso de Jim Fisk, aventureiro, corretor da bolsa de Nova Iorque, assassinado por um rival. Não esquece os índios, que são perseguidos, subjugados e reduzidos à miséria, principalmente devido ao massacre dos búfalos, para facilitar a expansão do caminho de ferro e a introdução do gado.
A literatura tinha de reflectir estas realidades tão gritantes. Em 1874, Mark Twain (Samuel Langhorne Clemens, 1835-1910), em conjunto com Charles Dudley Warner (1829-1900), publica a sua primeira obra de ficção, The Gilded Age, uma sátira social inspirada num caso real. É de salientar que Foerster informa que a ficção ficou muito aquém da realidade, pois o caso real envolveria verbas muito maiores do que as contadas no livro. Mark Twain tornou-se um escritor de nível mundial, porque, para além do seu formidável talento e do seu sentido de humor, as suas obras mais conhecidas, The Adventures of Tom Sawyer e The Adventures of Huckleberry Finn, não só reproduzem os modos de falar e o estilo de vida da região do Mississípi de uma maneira muito realista, mas sobretudo transmitem valores reconhecidos universalmente, mas pouco compatíveis com os dominantes nos EUA em expansão.
Para além de Mark Twain, dois outros escritores estão na vanguarda desta transição do romantismo para o realismo. William Dean Howells (1837- 1920), natural do Ohio, teve desde novo uma experiência de vida que o despertou para as realidades à sua volta, mas ao mesmo tempo recebeu uma educação clássica. Admirava Poe e Jane Austen. Os excessos do romantismo, contudo, fizeram com que se inclinasse para o realismo. De entre as suas obras destaca-se The Rise of Silas Lapham (1885), cujo personagem central é um empresário que se arruína devido à sua decisão de vender a sua fábrica de um modo ético.
Henry James (1843-1916), nasceu em Nova Iorque, e pertencia a uma família culta e abastada. O filósofo William James era seu irmão mais velho. Viveu muito tempo na Europa, tendo falecido em Londres. Osproblemas básicos que ressaltam das suas obras, logo desde o início da sua carreira, são a contradição entre as maneiras de ser e de proceder dos americanos e dos europeus, as realidades conflituais da arte e da vida e a confusão entre a psicologia e a ética na abordagem do bem e do mal. Deixou uma obra gigantesca. The Portrait of a Lady (1981) foi a sua primeira obra a ter grande êxito junto do público.
Outros autores se poderiam referir. Refira-se apenas Harriet Beecher Stowe (1811-1896), autora de Uncle Tom’s Cabin (1851), obra talvez de escasso valor literário, mas de poderoso conteúdo humano, e a quem Lincoln disse quando lhe foi apresentado, já se travava a Guerra Civil: “Como é que uma senhora tão pequena pode ter causado uma guerra tão grande?"
(Continua)
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