enviado Julio Marques Mota
Conclusão nº 4
• Concluímos que houve uma combinação de endividamento excessivo, de investimentos de risco, e de falta de transparência que em conjunto colocaram o sistema financeiro em rota de colisão com a crise.
Claramente, esta vulnerabilidade está relacionada com as falhas de governança ao nível das empresas e da regulação, mas é significativamente suficiente por si só para justificar aqui a nossa atenção.
Nos anos que antecederam a crise, muitas instituições financeiras, bem como muitas famílias, endividaram-se ao máximo, deixando-os assim vulneráveis a problemas financeiros ou mesmo sujeitos a irem para a ruína se o valor dos seus investimentos caísse ainda que modestamente. Por exemplo, a partir de 2007, os cinco grandes bancos de investimento Bear Stearns, Goldman Sachs, Lehman Brothers, Merrill Lynch e Morgan Stanley, estavam a trabalhar com capital próprio extraordinariamente baixo .
Por uma das formas como esta relação é calculada, os seus rácios de alavancagem foram tão elevadas como 40-1, ou seja, para cada 40 dólares em activos, havia apenas US $ 1 em capital para cobrir as perdas. Uma descida mesmo inferior a 3% nos valores dos activos poderia acabar com uma empresa. Para piorar ainda mais a situação, grande parte do seu endividamento era de curto prazo, no mercado overnight, ou seja, os seus empréstimos tinham diariamente que ser renovados .
Por exemplo, no final de 2007, o Bear Stearns tinha 11,1 mil milhões de dólares em capital e 386,6 mil milhões de dólares em responsabilidades, tinha em empréstimos cerca de 70 mil milhões no mercado overnight. Isto era equivalente a uma pequena empresa com $ 50,000 de património que fosse contrair um empréstimos de US $ 1,6 milhões, com 296.750 dólares de empréstimo overnight, mobilizáveis diariamente. Não se pode realmente perguntar "O que é que eles estavam a pensar?" Quando até parece que havia muitos deles que estavam a pensar da mesma forma.
E a alavancagem foi muitas vezes escondida através de posições sobre produtos derivados , em itens fora do balanço, e através de "vitrina" de relatórios financeiros disponíveis para o público investidor.
Os reis de alavancagem foram Fannie Mae e Freddie Mac, as duas empresas monstras , empresas patrocinadas pelo Estado (GSEs). Por exemplo, até ao final de 2007, Fannie e Freddie o ratio de alavancagem combinada, incluindo empréstimos que possuíam e garantias , situou-se em 75-1.
Mas as empresas financeiras não estavam sozinhos nesta farra dos empréstimos: de 2001 a 2007, a dívida nacional hipotecária quase duplicou, e a quantidade de dívida hipotecária por família subiu mais de 63% a partir de 91.500 dólares para 149.500 dólares, e isto quando os salários tinham basicamente estagnado .Quando a crise imobiliária apareceu , as empresas financeiras e as famílias altamente endividadas foram duramente atingidas.
A pesada dívida assumida por algumas instituições financeiras foi agravada pelos activos de risco que eles estavam a adquirir com essa dívida. Como o mercado de hipotecas e do imobiliário estava agitado tornava os empréstimos mais arriscados e de maior risco, muitas instituições financeiras carregavam nos encargos e remunerações destes . Até ao final de 2007, o Lehman tinha acumulado 111 mil milhões de dólares em habitações comerciais e residenciais como activos imobiliários e em títulos, o que representava quase o dobro dos seus valores sobre que tinha trabalhado apenas dois anos antes e representava mais de quatro vezes o seu património total.
E, de novo, o risco não estava a ser assumido apenas pelas grandes firmas financeiras , mas também pelas famílias. Aproximadamente um em cada 10 mutuários em 2005 e 2006 contraiu empréstimos com "a opção ARM", (aquisição de casa a taxa de juro variável) o que significava que poderia escolher efectuar pagamentos mensais tão baixos quanto subia o valor das suas casas hipotecadas.
Dentro do sistema financeiro , os perigos desta dívida foram ainda ampliados porque a transparência não era nem necessária nem desejada. Dívida enormíssima, de empréstimos de curto prazo, combinada com as obrigações não visíveis para os outros agentes no mercado, aumentou assim as possibilidades de o sistema poder rapidamente se desfazer. Na primeira metade do século 20, nós criámos uma série de protecções - o Federal Reserve como um emprestador de última instância, o seguro federal para os depósito, amplos regulamentos para fornecer um protecção contra as situações de pânico que tinham regularmente flagelado o sistema bancário da América no século XIX.
No entanto, nos últimos 30 anos ou mais, permitiu-se o crescimento de um sistema bancário sombra opaco e assente no enorme volume de dívida de curto prazo, que rivalizava com a dimensão do sistema bancário tradicional. As componentes chave do mercado, por exemplo, os multi-millhões de milhões de crédito do mercado repo, as múltiplas entidades fora do balanço bem como a utilização de produtos derivados OTC ( negociados fora da bolsa ) estavam assim fora da vista, escondidos, sem as protecções que tinha sido criadas para evitar os colapsos financeiros. Nós tínhamos um sistema financeiro do século XXI com as salvaguardas do século XIX.
Quando o mercado imobiliário e de hipotecas se afundou , a falta de transparência, os extraordinários volumes de dívida, os empréstimos de curto prazo, e todos os activos de risco ficaram assim expostos . O resultado foi o pânico. Tivemos como colheita o que semeámos.
Conclusão nº 5
• Concluímos que o governo estava mal preparado para a crise, e sua resposta inconsistente adicionou ainda mais incerteza e pânico aos mercados financeiros.
Como parte do nosso fardo era apropriado e necessário rever as acções governamentais que foram tomadas em resposta à crise que estava em pleno desenvolvimento, e com isto queremos dizer não apenas as políticas ou acções que a precederam, para poder determinar se cada uma das respostas que estavam a ser dadas contribuíram ou agravaram a crise.
Como mostra o nosso relatório, os principais decisores políticos - o Departamento do Tesouro, o Federal Reserve Board e o Federal Reserve Bank of New York- que eram os que estavam melhores posicionados para fiscalizar os nossos mercados estavam mal preparados para os eventos de 2007 e 2008. Outras agências também estivam na mesma situação ou pior, não viram nada, estavam atrás da curva Eles ficaram atrapalhados e embaraçados porque não tinham uma compreensão clara do sistema financeiro de que eles estavam encarregados de supervisão, nomeadamente no que se tinha desenvolvido nos anos que antecederam a crise. Tudo isso foi em grande medida devido à falta de transparência nos principais mercados.
Eles pensaram que o risco tinha sido diversificado quando, na verdade, e ao contrário do suposto, o risco tinha-se é concentrado . Uma e outra vez, a partir da Primavera de 2007 em diante, os decisores políticos e os reguladores foram apanhados de surpresa com a propagação de contágio, respondendo numa base ad hoc com programas específicos para tapar com as mãos os buracos do dique. Não havia um plano abrangente e estratégico de contenção, porque lhes faltava uma completa compreensão dos riscos e das interligações nos mercados financeiros. Algumas entidades reguladoras admitiram o erro. Nós permitimos que o sistema estivesse sempre à frente de nossa capacidade de o proteger.
Embora houvesse alguma consciência, ou pelo menos um debate sobre, da bolha imobiliária, o registo reflecte apenas que os altos funcionários públicos não reconheceram que um estouro da bolha poderia ameaçar todo o sistema financeiro. Durante todo o verão de 2007, tanto o Federal Reserve, Ben Bernanke, e o secretário do Tesouro, Henry Paulson, ofereceram garantias públicas de que a turbulência nos mercados de hipotecas subprime seria contida. Quando os hedge funds de Bear Stearns, que tinham fortemente investido em activos ligados às hipotecas, implodiu em Junho de 2007, o Federal Reserve discutiu as implicações do colapso.
Apesar do facto de que muitos outros fundos foram expostos aos mesmos riscos que os hedge funds, os fundos Bear Stearns teriam sido pensados como sendo "relativamente únicos." Dias antes do colapso do Bear Stearns em Março de 2008, o presidente da SEC, Christopher Cox, expressa o seu "conforto sobre as reservas de capital" dos grandes bancos de investimento.
Mas só depois de Agosto de 2008, até poucas semanas antes da intervenção pública sobre Fannie Mae e Freddie Mac, é que o Departamento do Tesouro compreendeu plenamente a dimensão das condições financeiras terríveis dessas duas instituições. E apenas a um mês antes do colapso do Lehman, o Federal Reserve Bank de Nova York ainda andava à procura de informações sobre as exposições ao risco criadas pelos contratos do Lehman em mais de 900.000 contratos sobre produtos derivados.
Além disso, o trabalho inconsistente do governo sobre as grandes instituições financeiras durante a crise - a decisão de salvar o Bear Stearns e, em seguida, colocar a Fannie Mae e Freddie Mac sob a tutela governamental, seguida pela sua decisão de não salvar o Lehman Brothers e, em seguida, a decisão de salvar AIG- aumentou a incerteza e o pânico nos mercados.
Ao fazer estas observações, sublinhemos que respeitamos e apreciamos muito os esforços feitos pelo secretário Paulson, pelo Presidente Bernanke, e por Timothy Geithner, ex-presidente do Federal Reserve Bank of New York e agora secretário do Tesouro, e por tantos outros que trabalharam para estabilizar o nosso sistema financeiro e a nossa economia e nas circunstâncias mais caóticas e mais difíceis .
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