Quinta-feira, 7 de Julho de 2011

Conclusões da Comissão de Inquérito sobre a Crise Financeira (nºs 4,5) A Comissão Pecora II

enviado Julio Marques Mota

Conclusão nº 4
• Concluímos que houve uma combinação de endividamento excessivo, de investimentos de risco, e de  falta de transparência que em conjunto colocaram  o sistema financeiro  em rota de colisão com a crise.

 

Claramente, esta vulnerabilidade está relacionada com as  falhas de governança  ao nível das empresas e da  regulação, mas é significativamente suficiente  por si só para justificar aqui a nossa atenção.

 

Nos anos que antecederam a crise, muitas instituições financeiras, bem como muitas famílias, endividaram-se ao máximo, deixando-os assim vulneráveis ​​a problemas financeiros ou mesmo sujeitos a irem para a ruína se o valor dos  seus investimentos caísse  ainda que  modestamente. Por exemplo, a partir de 2007, os cinco grandes bancos de  investimento Bear Stearns, Goldman Sachs, Lehman Brothers, Merrill Lynch e Morgan Stanley, estavam a trabalhar com  capital próprio extraordinariamente baixo .                                                                                                             

 

Por uma das formas como esta   relação é calculada,  os seus rácios de alavancagem foram tão elevadas como 40-1, ou seja, para cada 40 dólares em activos, havia apenas US $ 1 em capital para cobrir as perdas. Uma descida mesmo inferior a  3% nos valores dos activos poderia acabar com uma empresa. Para piorar ainda mais a situação, grande parte do  seu endividamento era de curto prazo, no mercado overnight, ou seja, os seus  empréstimos tinham diariamente que ser renovados .                                                                                                                                

 

Por exemplo, no final de 2007, o Bear Stearns tinha  11,1 mil milhões  de dólares em capital e 386,6 mil milhões de dólares em responsabilidades,  tinha em  empréstimos cerca de  70 mil milhões no  mercado overnight. Isto era  equivalente a uma pequena empresa com $ 50,000 de património que fosse contrair um  empréstimos  de US $ 1,6 milhões, com   296.750 dólares de empréstimo overnight, mobilizáveis diariamente. Não se pode realmente perguntar "O que é que eles estavam a pensar?"  Quando até parece que havia muitos deles que estavam a pensar  da mesma forma.

E a alavancagem foi muitas vezes escondida através de  posições sobre produtos derivados , em itens fora do balanço, e através de "vitrina" de relatórios financeiros disponíveis para o público investidor.

Os reis de alavancagem foram Fannie Mae e Freddie Mac, as duas empresas monstras , empresas patrocinadas pelo Estado  (GSEs). Por exemplo, até ao final de 2007, Fannie e Freddie o ratio de  alavancagem combinada, incluindo empréstimos que possuíam e garantias , situou-se em 75-1.
Mas as empresas financeiras não estavam sozinhos nesta  farra dos  empréstimos: de 2001 a 2007, a dívida nacional hipotecária quase duplicou, e a quantidade de dívida hipotecária por família subiu  mais de 63% a partir de 91.500 dólares para 149.500 dólares, e isto quando  os salários tinham basicamente estagnado .Quando a crise imobiliária apareceu , as empresas financeiras e as famílias altamente endividadas foram duramente atingidas.

 

A pesada dívida assumida por algumas instituições financeiras foi agravada pelos  activos de risco que eles estavam a adquirir  com essa dívida. Como o  mercado de hipotecas e do imobiliário estava agitado  tornava os empréstimos mais arriscados e de maior risco, muitas instituições financeiras carregavam  nos encargos e remunerações destes . Até ao final de 2007, o Lehman tinha acumulado  111 mil milhões de dólares em habitações comerciais e residenciais como activos imobiliários e em  títulos, o que representava  quase o dobro dos seus valores  sobre que tinha trabalhado  apenas dois anos antes  e representava mais de quatro vezes o seu património total.                                                                     

 

E, de  novo,  o risco não estava a ser  assumido  apenas pelas grandes  firmas financeiras , mas também pelas famílias. Aproximadamente  um em cada 10 mutuários em 2005 e 2006 contraiu    empréstimos com "a opção ARM", (aquisição de casa a taxa de juro variável)  o que significava que poderia escolher  efectuar  pagamentos mensais tão baixos quanto subia o valor das  suas casas hipotecadas.

 

Dentro do sistema financeiro , os perigos desta dívida foram ainda ampliados porque a transparência não era nem  necessária nem  desejada. Dívida enormíssima,  de empréstimos de curto prazo, combinada com as obrigações  não visíveis para os outros agentes no mercado, aumentou assim as possibilidades de o sistema poder  rapidamente se desfazer. Na primeira metade do século 20, nós criámos uma série de protecções - o Federal Reserve como um emprestador de última instância, o seguro federal para os  depósito, amplos regulamentos para fornecer um protecção contra as situações de  pânico que tinham  regularmente flagelado o sistema bancário da América  no século XIX.                                                              

 

 

No entanto, nos últimos 30 anos ou mais, permitiu-se  o crescimento de um sistema bancário sombra opaco e assente no enorme volume   de dívida de curto prazo, que rivalizava com a dimensão  do sistema bancário tradicional. As componentes  chave do mercado, por exemplo, os multi-millhões de milhões de crédito do mercado repo, as múltiplas entidades fora do balanço  bem como a utilização de  produtos derivados OTC ( negociados fora da bolsa )    estavam assim fora  da vista, escondidos, sem as protecções que tinha sido criadas  para evitar os colapsos financeiros. Nós tínhamos um sistema financeiro  do século XXI  com as salvaguardas do século XIX.

Quando o mercado imobiliário e de hipotecas se afundou , a falta de transparência, os extraordinários  volumes de  dívida, os empréstimos de curto prazo, e todos os activos de risco ficaram assim expostos . O resultado foi o pânico. Tivemos como colheita o que semeámos.

 

Conclusão nº 5
• Concluímos que o governo estava mal preparado para a crise, e sua resposta inconsistente adicionou ainda mais incerteza e pânico aos mercados financeiros.

 

Como parte do nosso fardo  era apropriado e necessário  rever as acções governamentais que foram tomadas em resposta à crise que estava em pleno desenvolvimento, e com isto queremos dizer não  apenas as políticas ou acções que a precederam, para poder determinar se  cada uma das respostas que estavam a ser dadas contribuíram ou agravaram a crise.

Como mostra o nosso relatório, os principais decisores políticos - o Departamento do Tesouro, o Federal Reserve Board  e o Federal Reserve Bank of New York- que eram os que estavam  melhores posicionados  para fiscalizar   os nossos mercados estavam  mal preparados para os eventos de 2007 e 2008. Outras agências também estivam na mesma situação ou pior, não viram nada, estavam atrás da curva                                                     Eles ficaram atrapalhados  e embaraçados porque não tinham uma compreensão clara do sistema financeiro de que eles estavam encarregados ​​de supervisão, nomeadamente no que se tinha  desenvolvido nos anos que antecederam a crise. Tudo isso foi em grande medida devido à falta de transparência nos principais mercados.                                                                                                                                                                                           

 

Eles pensaram que o risco tinha sido diversificado  quando, na verdade, e ao contrário do suposto, o risco  tinha-se é concentrado . Uma e outra vez, a partir da  Primavera de 2007 em diante, os decisores políticos e os reguladores foram  apanhados  de surpresa com  a propagação de contágio,  respondendo  numa base ad hoc com programas específicos para tapar com as mãos os buracos do  dique. Não havia um plano abrangente e estratégico de  contenção, porque lhes faltava uma completa compreensão dos riscos e das interligações nos mercados financeiros. Algumas entidades reguladoras admitiram  o erro. Nós permitimos  que o sistema estivesse  sempre  à frente de nossa capacidade de o proteger.

Embora houvesse alguma consciência, ou pelo menos um debate sobre, da bolha imobiliária, o registo reflecte  apenas que os altos funcionários públicos não reconheceram  que um estouro da bolha poderia ameaçar todo o sistema financeiro. Durante todo o verão de 2007, tanto o Federal Reserve, Ben Bernanke, e o secretário do Tesouro, Henry Paulson, ofereceram  garantias públicas de que a turbulência nos mercados de hipotecas subprime seria contida. Quando os hedge funds  de Bear Stearns, que  tinham  fortemente investido   em activos ligados às  hipotecas, implodiu em Junho de 2007, o Federal  Reserve  discutiu as implicações do colapso.                                                                                                         

 

Apesar do facto de que  muitos  outros fundos foram expostos aos mesmos riscos que os hedge funds, os fundos Bear Stearns teriam sido pensados como sendo  "relativamente únicos." Dias antes do colapso do Bear Stearns em Março de 2008, o presidente da SEC, Christopher Cox,  expressa o seu "conforto sobre as reservas de capital"  dos grandes bancos de investimento.                                                                                         

 

Mas só depois de Agosto de 2008, até poucas semanas antes da intervenção pública sobre  Fannie Mae e Freddie Mac, é que o Departamento do Tesouro  compreendeu plenamente a dimensão  das condições financeiras terríveis dessas duas instituições. E apenas a um mês antes do colapso do Lehman, o Federal Reserve Bank de Nova York ainda andava à  procura de  informações sobre as exposições  ao risco criadas  pelos  contratos do Lehman em mais de 900.000 contratos sobre produtos  derivados.

 

Além disso, o trabalho  inconsistente do governo sobre as  grandes instituições financeiras durante a crise - a decisão de salvar o Bear Stearns e, em seguida, colocar a Fannie Mae e Freddie Mac sob a tutela governamental, seguida  pela sua  decisão de não salvar o Lehman Brothers e, em seguida, a decisão de  salvar AIG- aumentou a  incerteza e o pânico nos mercados.

Ao fazer estas observações, sublinhemos   que respeitamos e apreciamos muito  os esforços feitos pelo secretário Paulson, pelo Presidente Bernanke, e por Timothy Geithner, ex-presidente do Federal Reserve Bank of New York e agora secretário do Tesouro, e por tantos outros que trabalharam para estabilizar o nosso sistema financeiro e a  nossa economia e nas circunstâncias mais caóticas  e mais difíceis .

publicado por Luis Moreira às 20:00
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