Quinta-feira, 30 de Junho de 2011

Um dia saberei – poema e ilustração de Carlos Loures

 

 

 

 

 

 

 

 

Um dia saberei a tua face luminosa

de  colina húmida e
amanhecente.

Subirei os socalcos da tua ironia,

descerei o caule do teu sorriso

até à rosa incandescente onde

nasce o dia e a vida, à terra negra

e pedregosa onde o regato murmura.

Lá, onde, silencioso o pinheiro vigia

a frágil toalha da neblina pura,

cortando com verdes agulhas

o sol nascente

………………………………

Sim, um dia saberei também

os teus seios de cidade ensanguentada

pela fina poalha do sol moribundo…

 

(fragmentos de “Mais uma canção de amor”, in O Cárcere e o Prado Luminoso,
Lisboa, 1990)

publicado por Carlos Loures às 10:00

editado por João Machado em 29/06/2011 às 17:28
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43 comentários:
De Augusta Clara a 30 de Junho de 2011
Sei que não gostas destes elogios, mas eu tenho que dizer: lindo, lindo, lindo. Que mais posso dizer? Não sou crítica nem gosto dos críticos. Nisso sou como o Jorge de Sena, tenho o mesmo mau feitio. Falta-me o resto. Só sei dizer que é um belíssimo poema.
De Carlos Loures a 30 de Junho de 2011
Obrigado, Augusta Clara.

Quanto aos críticos, há-os de várias espécies - os que assumem a função da crítica como uma tarefa policial (são detestáveis) e os que, como Óscar Lopes ou Eduardo Lourenço - para citar apenas dois exemplos - nos ajudam a ler a obra criticada, guiando-nos, proporcionando-nos perspectivas novas... Esses, mais raros do que os «fiscais», são indispensáveis - sem eles, atrevo-me a dizer, não haveria verdadeiramente literatura.
De adriano pacheco a 30 de Junho de 2011
Belo poema que me deixou sem folgo, Carlos Loures! Afinal temos muitos poetas... alguns andam disfarçados.

Bem sei, e quanto sei!... a poesia toca apenas na sensibilidade, nem todos nós temos essa faculdade.

Parabéns Carlos Loures

Adriano
De Inês Aguiar a 30 de Junho de 2011
Carlos, sinto-me pequenina perante tanta beleza.
Gostaria um dia de ser a morada da poesia que a tua alma
alberga.
Fugiram-me os adjectivos e só posso dizer que há para aí tento poeta da treta e o poeta entardece ao sabor das
correntes.
Obrigada por este momento sublime, um beijo enorme
De adao cruz a 30 de Junho de 2011
Também gosto muito, Carlos.
De adao cruz a 30 de Junho de 2011
Só não estou inteiramente de acordo contigo, Carlos, no que diz respeito aos críticos. Críticos...em poesia? Se o poema é mau, quem sente a verdadeira poesia afasta-se dele às primeiras impressões, por instinto e por natureza, sem ter necessidade de o escalpelizar. Se o poema é, de facto, uma pura emanação da poesia, sente-se de forma perturbante e mágica, e o crítico pode senti-lo, tem todo o direito de o sentir na sua plenitude, mas qualquer incursão descodificadora pela alma do poema é, não só desnecessária como nefasta. Mas isto é apenas o que sinto, a penas uma opinião.
De Carlos Loures a 30 de Junho de 2011
Agradeço a todos.

Adão, não me referia em particular à crítica de poesia, mas no geral à crítica literária. Porém, existe, de facto, uma divergência entre os nossos pontos de vista e não é de agora. Eu acho que a poesia pode ser criticada como qualquer outro produto do engenho e da sensibilidade, do saber e da cultura - porque havemos de pôr a poesia num altar (como disse o Saramago relativamente à democracia)?

Um trabalho feito por homens, seja uma cadeira ou seja um poema, pode ser apreciado, julgado, criticado, por outros homens. Não podemos (não devemos) materialistas que somos, atribuir um carácter divino a algo que é feito por homens - a minha teoria a este respeito está num texto que foi hoje publicado - o poeta, como o pintor, o músico, têm uma função social a cumprir - um poema, se nos proporcionar uns segundos de paz e de reflexão, é tão útil como um banco onde nos sentamos e descansamos por momentos. Um poeta é tão útil como um carpinteiro. É isso que defendo.
De Carlos Loures a 30 de Junho de 2011
Esqueci-me de um argumento, Adão. Dizes «se um poema é mau...» O que é um poema bom, o que é um poema mau? Como sabes, esta adjectivação tem mais a ver com o consumidor do que com o produtor. O mesmo poema, pode provocar sentimentos diferentes em pessoas diferentes. E o crítico (se não for um fiscal), pode ajudar a estruturar uma opinião minimamente objectiva, chamando a atenção para aspectos que valorizem a obra em apreciação. Digamos que ajudando quem lê, afinando a sensibilidade de quem lê. Porque só se gosta do que se compreende e muitas vezes não gostamos de um poema (ou de um quadro) porque não o entendemos.
De adao cruz a 30 de Junho de 2011
Carlos, os nossos beliscões são sempre os mesmos e, felizmente, não passam de cócegas. Somos materialistas, inegavelmente, e "deus" me livre de considerar um poema ou a poesia matéria divina. Nada mais errado. A área dos sentimentos dentro das neurociências nada tem de imaterial ou de sobrenatural, embora, na minha maneira de ver, uma cadeira, por mais arte que tenha, embora possa ser comparável, como obra de arte, à estrutura de um poema, dificilmente encerrará em si o SENTIMENTO POÉTICO, que, como sempre tenho dito, é a alma do poema ou de outra expressão artística nobre, como a música por exemplo. Quanto a considerar um poema bom ou mau, claro que o poema é bom ou mau para mim, e, mais uma vez, "deus" me livre de impor o meu "bom" e o meu "mau" aos outros. Mas como sentimento poético vivenciado por mim, muito meu e muito pessoal, não é o crítico que o vai ver e ler com os meus olhos, que o vai pensar com o meu pensamento e que o vai sentir com o meu íntimo.
De Carlos Loures a 30 de Junho de 2011
Claro, Adão, é uma divergência antiga e provavelmente nunca a resolveremos. Eu começo por não aceitar essa figura do "sentimento poético" - a meu ver, os poemas, como qualquer outra obra artística, são construídos e, portanto, podem ser desconstruídos. Parece-me ser aqui que reside o problema - tu não aceitas essa desmontagem. Quando da minha breve passagem pelo surrealismo, talvez aceitasse essa intocabilidade da obra poética. Agora já não.
De adao cruz a 30 de Junho de 2011
"Claro, Adão, é uma divergência antiga e provavelmente nunca a resolveremos," dizes tu. E eu penso que um dia poderá ser resolvida, a meu favor ou a teu favor. "Eu começo por não aceitar essa figura do "sentimento poético"", continuas, e eu penso que é aqui que reside o problema, e talvez seja esta divergência de conceitos que separa os nossos pontos de vista. "a meu ver, os poemas, como qualquer outra obra artística, são construídos e, portanto, podem ser desconstruídos", avanças tu. Nada a opôr, porque isso em nada me contradiz. Simplesmente a poesia "não se sabe", como o amor "não se sabe". " A poesia não se ensina" como o amor "não se ensina". Quando muito aprende-se a vivê-los melhor, com a vida. E quase me atreveria a contrariar-te, dizendo, um tanto atrevidamente, que a poesia não se costrói. A poesia, como o amor, vive-se e sente-se, sente ela ou ele o rabo em que tosca ou dourada cadeira se sentar. Pode ser que o SENTIMENTO POÉTICO (e não sentimentalismo poético...que horror!)de um poema sentado numa tosca pedra, seja bem mais profundo do que sentado numa cadeira de ouro e púrpura.
Vou-te dar um exemplo, muito muito pessoal. Eu não gosto, ou melhor, não sinto em mim a envolvência do SENTIMENTO POÉTICO, com grande parte da poesia de David Mourão Ferreira. No entanto é considerado um grande poeta, emérito professor de literatura, e alvo de labirínticas e rendilhadas críticas que nada me dizem.
Um abraço
De Augusta Clara a 30 de Junho de 2011
Que bom, voltou a guerra da poesia! Anda por aí muito poeta disfarçado.
De adao cruz a 30 de Junho de 2011
Augusta, conheces-me o suficiente para saber que eu não sou presunçoso, embora defenda a minha dama da melhor forma que sei e que posso. Por isso te digo, que em relação à poesia, cada vez gosto mais de menos coisas.
De Augusta Clara a 30 de Junho de 2011
Isso não é privilégio teu, Adão. Eu, mesmo sem ser poeta, também, cada vez gosto mais de menos coisas e pessoas. Vá, continuem que estou a gostar.
De adao cruz a 30 de Junho de 2011
Por isso concordo contigo, sem qualquer armanço, que há por aí muito poeta disfarçado. Basta ir à FNAC, p.ex. e começar a folhear o que por lá anda.

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