Domingo, 3 de Julho de 2011

Robert Henry Lowe - por Raúl Iturra

Robert Henry Lowe (June 12, 1883 – September 21, 1957) foi um American anthropologist nascido na Austrian. Perito em North American Indians, foi instrumental para o desenvolvimento da Antropologia Moderna. Lowe nasceu em Vienna, mas transferiu-se para United States em 1893, graduou-se no College of the City of New York (A.B.) em 1901, e na Columbia University (Ph.D.) em 1908, baixo a orientação de Franz Boas. Em 1909, foi curador assistente no American Museum of Natural History, Nova Iorque. Influenciado por Clark Wissler, Lowie passou a ser especialista indigenista das etnias Americanas. Desde 1921 até o seu se aposentar em 1950 foi Catedrático de Antropologia na University of California, Berkeley, na que, junto com Alfred Kroeber, passou a ser uma figura central no ensino e orientação de bolseiros em Antropologia.

 

Fonte: o meu saber, o livro de Marvin Harris de 1969: The Rise of Anthropological Theory, Routledge and Kegan Paul, Londres, 806 pp. e a informação da Wikipedia em: http://en.wikipedia.org/wiki/Robert_Lowie The Andaman Islander, Cambridge, Cam¬bridge University Press, 1922; The mother's brother in South Africa, ensaio publicado antes de ser livro, na Revista South African Journal of Science, vol. XXI, pp. 542-555. Sir A. R. Radcliffe-Brown e Daryll Forde, African systems of kinship and marriage, Oxford University Press: Londres, 1950. Pode parecer ao leitor que esta análise pormenorizada de tantos académicos que ensinaram, neste caso, a Radcliffe-Brown, pode ser um exagero. No entanto, parece-me que o conhecimento de uma ciência, não derive apenas do saber do candidato à academia, mas sim de transferências de conhecimentos dos mais velhos aos mais novos. A aprendizagem, como tenho provado em outros livros, é uma linha de cima para baixo, não é um círculo que começa com quem estudou antes e fecha quando as leituras do candidato estão feitas e provadas. Aliás, quem começa o seu treino académico, precisa viver com outros de diferente cultura, precisa de um intelectual que tenha passado antes por essa experiência. Muito bem lembro o meu próprio caso, narrado em outro livro meu, quando o meu orientador de doutoramento passava meses ao fio comigo no meu trabalho de campo. Ou essa a minha lembrança de antropólogos sob a minha orientação em qualquer país do mundo, e eu aparecia sem aviso prévio para observar os seus trabalhos. Parece-me conveniente dizer que a vida académica, toda ela, é uma colaboração do mais novo para os mais sabidos. Pequenas indicações, acabam por ser uma grande ajuda para o aprendiz de feiticeiro. Como esse caso de dois orientados meus, um alemão e um português, que iam comigo a terreno. A primeira questão que coloquei ao sairmos do carro e andar poucos quilómetros, foi dizer: essa pedra que está aí faz-me lembrar o cerimonial corrobbori estudado por Durkheim. Solicitei uma explicação do porque parecia ser, a resposta foi inteligente, pedi para a apontarem para não esquecerem da sua habilidade. Pediram-me papel e lápis para apontar. Fingi estranheza – bem sabia eu que nada tinham – e perguntei: meus senhores, e os vossos diários de campo, por onde andam? No carro! Tornaram a andar baixo o sol muito quente do sítio no qual estávamos e nunca mais esqueceram a lição. É o que eu chamaria a hermenêutica do saber ou interpretação do sentido das palavras, factos e ideias. Também definiria como arte de interpretar leis, códices, textos sagrados, etc. Sem sabermos os caminhos percorridos por Haddon, Rivers, as suas surpresas, ou a constelação de intelectuais como Kroeber, Lowie e os outros citados, era impossível entender as mudanças às que Radcliffe-Brown submetera à ciência da antropologia, ou essa a sua proposta de denominar Etnólogos aos que estudavam ritos e mitos em textos, e Antropólogos Sociais aos que iam ao terreno e retiravam o seus dados de genealogias, histórias de vida, trabalho físico, participar em rituais e festas de danças com orquestra ou gramofone.

 

Em síntese, sem Durkheim, Whitehed, Haddon, Rivers, Boas, não teria havido Kroeber. Sem Kroeber, não haveria Radcliffe-Brown; sem este, não haveria Evans-Pritchard, Meyer Fortes, que também precisou de Seligman para ser cientista trabalho de campo. Todos eles, fizeram um Goody, um Macfarlane, um Stuchlik, sem todos eles, eu não era o que sou, um Antropólogo Social com trabalho de campo, comparado com os trabalhos de Antropólogos dos académicos que Jack me apresentara: Maurice Godelier e de ai, Pierre Bourdieu, Françoise Heritiér, Louis Assieur – Andrieu, Philippe Descola e a incomparável colega e amiga, Marie – Élisabeth Handman. Uma equipa completa que, ao longo dos anos, fuomos juntando seminários no Collège de France, em Paris e o ISCTE em Lisboa. Sem todos eles, eu teria sido incapaz de andar essas milhas de trabalho de campo, percorridas por vários países. De mim para baixo, na cronologia do tempo...tantos, que nem me lembro e que ainda andam por ai...penso eu. Uma genealogia intelectual difícil de construir pela proximidade ou distância dos anos e experiências, as vezes distantes, as vezes a par um de outro. É-me impossível não deixar esta nota: os velhos académicos eram sempre acompanhados pelos académicos novos. Hábito que, parafraseando a famosa escritora norte-americana Margareth Mitchell, o vento do neoliberalismo levou…

publicado por Carlos Loures às 16:00

editado por João Machado às 11:04
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