Sílvio Castro Um Novo Coração
Capítulo 43
Arco, 13ª jornada, 22/02/05
A enfermeira-chefe me entrega o exame do Raios X torácicos, parte importante de meu processo de reabilitação cardíaca. O atestado de radiologia diz a meu respeito:
"RX torácico - Tendência a incremento do vazamento pléurico-basal Sn descrito, com o atual perfil superior do mesmo projetado em inter-espaço costal no axilar posterior. Invariável o quadro restante.”
Leio e releio o resultado do exame. Naturalmente me recordo também da fisionomia do dr. Pozzan durante o nosso encontro e de sua conversação tranquila e cordial por toda a realização do exame. Porém, lendo as palavras do atestado, não consigo ligá-las à atmosfera do meu encontro com o dr. Pozzan. Me parece ler nos termos do atestado a realidade de uma atmosfera muito mais tensa de quanto não aquela conhecida durante a minha permanência no ambulatório de radiologia. Será que sofro nesse momento daquele mesmo problema, caro leitor, de que já tomamos conhecimento com referência a uma absoluta dificuldade existente entre médico e paciente quanto à prática de uma linguagem comum às duas partes? Leio e releio o atestado, e não vejo o dr. Pozzan nele, mas sim uma minha certa inquietude. Mas eu não sei até que ponto o líquido que se formou no meu inter-espaço costal justamente no axilar superior signifique algo de sério ou não. Como se trata de uma coisa minha, somente minha, eu a vejo mais como uma ameaça de dimensão que não sei medir, do que de um elogio à minha eugenia. Sinto assim e tão claramente que já me parece que o certo frio que me toma diante da neblina de Arco, que continua fortemente, não é um efeito do inverno externo, mas alguma coisa que se refere a um mal que perpassa pelo meu axilar posterior. Veja, caro leitor, em que situação complicada me encontro. Gostaria que você viesse comigo pelos corredores da “Casa de Saúde”, sabendo da inexatidão de tudo por que passo nesse momento. Tudo por culpa da linguagem que aqui usamos, em verdade não somente aqui, mas em todos os ambulatórios do mundo. Porém, o que verdadeiramente me interessa, e você que de certo já aprendeu a conhecer-me sabe disso, o que me interessa de verdade nesse momento é conseguir compreender o melhor possível os termos do meu atestado radiológico. Mas se eu entendia outra coisa quando conversava com o dr. Pozzan no exame, como posso dominar o significado mais concreto do que ele acabou por escrever no atestado? Não me é possível, principalmente porque, estando agora sozinho comigo mesmo, eu tendo àquela linguagem da consolação que cada paciente carrega consigo mesmo.
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