Segunda-feira, 27 de Junho de 2011

LIÇÕES DE ETNOPSICOLOGIA DA INFÂNCIA - XXIV, por Raúl Iturra

(Continuação)

 

A vida sexual das crianças é de grande liberdade e existe a possibilidade de relações amorosas entre elas, seja de plaisanterie, sedução, brincadeira, ou ainda, de juntar os corpos em fellatio, esfregar um com o outro, masturbação em grupo, ou a uma penetração possível – a criança de três, quatro ou mais anos, tem erecção, prazer e orgasmo, como diria Klein na sua teoria meta psicológica já citada[1], embora não tenha ejaculação, esfregam os corpos como vêem fazer aos adultos com quem moram. Para entender essa vida sexual parece-me necessário explicar dois factos: a classificação por idades entre os Kiriwina; como é que acontece entre nós, como está permitido termos relações sexuais antes do ritual do matrimónio, ou apenas no dia do matrimónio, e nunca durante a época do contrato de compromisso para o matrimónio ocidental?

 

Entre nós, os tempos têm mudado, especialmente entre 1895 e a actualidade. O que Freud diz de sexualidade infantil é diferente das análises de hoje.[2] Quer Freud, quer Ferenczi, apesar de se dizer que inventaram a sexualidade infantil a partir de um código de comportamento retirado da vida adulta, analisam no entanto o abuso da sexualidade infantil, como, aliás, se prova pelos factos de pedofilia, o encerramento de Instituições, as acusações a homens detentores de poder politico na sociedade, o tráfico de crianças entre países e famílias, a prostituição infantil, demonstrando largamente que os textos sobre abuso infantil destes autores não estavam nada longe do real e dos danos que causavam. Diz Freud que o desenvolvimento da sexualidade infantil leva, no limite, à “ansiedade de castração”. A comparação do que a criança vê entre os adultos e o seu próprio corpo e as possibilidades dentro da sua libido erótica, faz com que o mais novo tenha medo desse adulto que pode violar o seu corpo, fisicamente falando, como Richard relata a Klein. Não existe apenas desejo infantil, excitação ou necessidades genitais precoces, mas também comportamento infantil na procura de prazer com adultos, como sugar o pénis de um homem adulto até à ejaculação, acariciar uma vagina ou brincar com corpos de adolescentes, como eu próprio presenciei no meu trabalho de campo, para prazer de ambos. É o que o analista designa por sexualidade oral ou anal, entre nós não permitida, mas ritual entre outros grupos[3]. A sensação de angústia do adulto, tem o seu começo na idade infantil, nas brincadeiras de masturbação em grupo, com amigos ou com adultos, como acontece nos factos observados, especialmente de homens novos com crianças que procuram o seu corpo, viúvas a temer gravidezes não desejadas, sucção de pénis que ejacula e outras actividades eróticas da libido[4]. Actividades que acontecem especialmente em actividades rituais e festivas, na altura em que o adulto usa drogas que rebaixam as suas pulsões éticas e a criança confia nele por não conhecer essas diferenças entre a vida quotidiana e de trabalho ou em família, e a vida solitária, quando o adulto não resiste conter a sua pulsão erótica e penetra na criança, pelo ânus ou pela boca. Penetração que a criança aceita ao pensar que é emotivamente evidente e permitida, especialmente se o adulto é da sua confiança, conhecimento e proximidade emotiva sentimental, como parentesco, filiação e outras já referidas para outros grupos sociais, tentando ignorar o nosso, hoje em tribunal, enquanto muito adulto anda pelos campos das neuroses.

 

 

As formas Melanésia são de uma outra estrutura. É preciso entender a diferença de idades para ver as possibilidades das crianças Massim e a sua vida sexual que é conforme a idade e a proximidade clânica e os comportamentos culturais Kiriwina. Malinowski elabora um quadro, antes de falar de comportamentos dinâmicos e proibições[5].

 

 

Désignation des âges

1.         Waywaga (fœtus; enfant jusqu'à l'âge où il commence à se traîner; garçon ou fille).

2.         Pwapwawa (enfant, jusqu'à l'âge où il commence à marcher; garçon ou fille).

3.         Gwadi (enfant, jusqu'à la puberté; garçon ou fille).

1e Phase: Gwadi : mot géné­rique servant à désigner les phases 1-4 : signifie enfant, de sexe masculin ou féminin, pendant toute la période qui s'étend de la naissance à la puberté.

4.         Monagwadi (enfant mâle).

4. Inagwadi (enfant de sexe féminin).

 

 

 

5.         To'ulatile (jeune homme, de la puberté au mariage).

5.         Nakapugula ou Nakubukwabuya (jeune fille, de la puberté au ma­riage).

2e Phase : Désignations génériques : Ta'u-homme, Vivila-femme.

6.         Tobulobowa'u (homme mûr).

6.         Nabubowa'u (femme mûre)

6a.       Tovavaygile (homme marié).

6.         Navavaygile (femme mariée).

 

 

 

7.         Tomwaya (vieillard).

7.         Numwaya (vieille femme).

3e Phase : Vieillesse.

7a.       Toboma (vieil­lard honoré).

 

 

É possível perceber a diferença entre as pessoas, para entender a vida livre da infância, em relação à sua libido parental, amiga, fraterna e, eventualmente, erótica, que Malinowski descreve na página 48 da 2ª parte do texto e que, antes de debater, vou citar:

 

« Les enfants jouissent aux îles Trobriand d'une liberté et d'une indépendance considé­ra­bles. Ils sont émancipés de bonne heure de la tutelle des parents qui n'est jamais bien stricte. Quelques-uns obéissent à leurs parents de bon cœur, mais cela dépend uniquement du tempérament personnel aussi bien des parents que des enfants: il n'existe ni notion de dis­ci­pline régulière ni système de coercition domestique. Il m'est souvent arrivé, lorsque j'assistais à un incident de famille ou à une querelle entre parent et enfant, d'entendre le premier dire au second de faire ceci ou cela: c'était toujours une prière plutôt qu'un ordre, bien que cette prière fût parfois accompagnée d'une menace de violence. Le plus souvent, lorsque les parents flattent ou grondent leurs enfants en leur demandant quelque chose, ils s'adressent à eux comme à des égaux. Ici on n'adresse jamais à un enfant un simple ordre impliquant l'attente d'une obéissance naturelle.


Il arrive parfois que les parents se mettent en colère contre leurs enfants et vont même jusqu'à les frapper; mais j'ai vu tout aussi souvent des enfants se précipiter furieusement sur le père ou la mère et les frapper à leur tour. Cette attaque sera reçue avec un sourire indulgent, ou bien le coup sera rendu avec colère; mais l'idée d'une rétribution définie ou d'une punition coercitive n'est pas seulement étrangère à l’indigène: elle lui répugne. Lorsque je croyais devoir suggérer, après un flagrant méfait commis par un enfant, que ce serait une bon­­ne leçon pour l'avenir que de le corriger ou de le punir d'une façon quelconque, en dehors de tout emportement, mon conseil apparaissait à mes amis immoraux et contre nature et était repoussé non sans un certain ressentiment.


Un des effets de cette liberté consiste dans la formation de petites communautés d'enfants, groupes indépendants qui englobent naturellement tous les enfants dès l'âge de quatre ou cinq ans et dans lesquels ils restent jusqu'à la puberté. N'écoutant que leur bon plaisir, ils peuvent tantôt rester avec leurs parents toute la journée, tantôt s'en aller rejoindre pour un temps plus ou moins long leurs camarades de jeux dans leur petite république. Et cette communauté dans la communauté n'agit que conformément aux décisions de ses membres et se trouve souvent dans une attitude d'opposition collective aux aînés. Lorsque les enfants ont décidé de faire telle ou telle chose, de s'en aller, par exemple, en expédition pour toute la journée, les plus âgés et même leur chef (j'ai souvent eu l'occasion de le constater) sont impuissants à les en empêcher. J'ai été à même, voire obligé, au cours de mes travaux ethnographiques, de me renseigner directement auprès des enfants sur eux-mêmes et sur leurs affaires: tous s'accordaient à m'affirmer leur indépendance spirituelle dans les jeux et autres activités enfantines et beaucoup d'entre eux ont même été capables de m'instruire en me donnant des explications sur la signification souvent compliquée de leurs jeux et entreprises.

 

(Continua)



[1] Klein, Melanie, especialmente os ensaios do volume Inveja e gratidão e Narrativa da análise de uma criança, Imago, Rio de Janeiro, 1991 ou a colecção Payot dos anos 80 e 90, Paris. Também, a História do pequeno Hans de Freud, notas 39 e seguintes, Capítulo II deste texto.

[2] Freud, Sigmund, para além dos textos citados de 1906 e 1913, especialmente as Histórias mencionadas do Caso do pequeno Hans e o Caso do pequeno Arpád – retirado da análise de Ferenczi, dos seus textos sobre abuso de crianças Analyse d’enfant avec les adultes  http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&ie=UTF-8&q=Sandor+Ferenczi+Analysis+Arp%C3%A1d&btnG=Pesquisar&meta= , ver 1905 Teoria da sedução  na sexualidade infantil ou Ritual Abuse em  http://directory.google.com/Top/Society/Issues/Children,_Youth_and_Family/Child_Abuse/Sexual_Abuse/

[3] Freud, Sigmund, em Website http://directory.google.com/Top/Society/Issues/Children,_Youth_and_Family/Child_Abuse/Sexual_Abuse/ , bem como em Totem e Taboo e 1905: O abandono da infância a sexualidade ou Drei Abhandlungen zur Sexuakltheorie Website em alemão, com texto: http://www.iep.utm.edu/f/freud.htm#Infantile%20Sexuality ou teoria tripartida, retirada das ideias de Platão, as análises clínicas e as suas conclusões do Id, Ego e Superego, onde o ego da criança fica erotizado. Ver Website http://www.iep.utm.edu/f/freud.htm#Neuroses%20and%20The%20Structure%20of%20the%20Mind ou

 http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&ie=UTF-8&q=Freud+Drei+abhandlungen+zur+Sexualtheorie&btnG=Pesquisar&meta= Versão inglesa de 1905: Sexual aberrations, Penguin, Londres. Website com texto e debates: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Sigmund+Freud+Sexual+Aberrations&btnG=Pesquisar&meta=

[5] Malinowski, texto citado, nota 36, Volume 1.

 

publicado por João Machado às 14:00
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