SÓTÃO DESARRUMADO
(ALEGORIA)
O sótão esconso junto às águas-furtadas havia anos que estava fechado sem qualquer visita que lhe pudesse dar de alguma utilidade. Estava fechado. Tão fechado que as teias de aranha faziam o rendilhado dos cantos, cujo adorno mais se parecia com a casa dos fantasmas a condizer com aquele desarrumo de caixotes que por ali se quedavam. Era estranho e não deixava de ser inquietante.
Olinda que entretanto chegara de longa viagem, decidiu entrar naquele espaço com a ideia de lhe dar alguma arrumação. À entrada ia perdendo a coragem com tal desalinho. Era o caos. Desarrumo que não tinha ponta por onde se pegasse. Mas como gostava de desafios e nunca entendera por que razão, ou ideia, tinha ficado tanto tempo abandonado, decidiu pôr mãos à obra e, com todo o carinho, deu-lhe alguma ordem de modo a que a luz das clarabóias iluminassem os cantos mais escuros. Ficou mais airoso e acolhedor
Aos poucos e poucos, Olinda passou a frequentar aquele sótão que, entretanto, ficara mais habitável com os caixotes alinhadinhos, em corredores bem definidos, onde o ar e as ideias podiam fluir com a clareza que se pode adivinhar. Ela própria passou a ser visita assídua daquele espaço.
VENS DO OUTRO LADO
Vens desse espaço etéreo
Sem corpo nem tamanho
Como forma duma ideia
Sublimada no desenho
Da semente que se semeia
Mas vens sempre reluzente
Nas manhãs de densa neblina
Mas airosa e brilhante
Tão radiosa e cintilante
Tão segura quanto perdida
braço depois o teu espaço
como quem envolve o universo
Como quem olha o infinito
Erguendo o mundo num só grito
Na rima infinda dum só verso
Vens sempre de sorriso aberto
E vacilas na rima dum só verso
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