Domingo, 26 de Junho de 2011

Como escrever um artigo sobre a "realidade" israelo-palestiniana - por Michel Collon (traduzido e enviado por Octopus)

Para um jornalista, falar do médio-oriente deve ser feito com   grande prudência para não chocar a opinião pública, sobretudo se se trata de   Israel. Com grande humor, Michel Collon deixa aqui algumas regras para evitar   de se ser acusado de ter uma opinião tendenciosa.

 - Não esquecer que são sempre os árabes que atacam, Israel   apenas se defende e sempre como retaliação.

- Quando as forças armadas matam civis árabes fá-lo sempre em   legitima defesa. Quando civis israelitas são mortos chama-se a isso  terrorismo. 

- Os israelitas não raptam civis palestinianos, capturam-nos.   Não esquecer de referir a necessidade de segurança para explicar esses   raptos.

- Inversamente, os palestinianos e libaneses não estão   habilitados a capturar israelitas. Se o fazerem, deve ser utilizado a palavra   rapto.

- Não dever ser mencionado o número de prisioneiros   palestinianos (11000, dos quais 300 crianças) capturados actualmente. Se,   apesar de tudo, os referir, qualifique-os de terroristas ou supostos   terroristas.

 - Utilize o menos possível o temo palestiniano, prefira o   termo árabe, que é o utilizado oficialmente pelo governo israelita para designar   os habitantes não-judeus nos dois territórios.

- Quando mencionar o "Hezbollah" acrescente sempre a   expressão: apoiado pela Síria e o Irão. Mas quando falar de Israel, é   escusado acrescentar que é apoiado pelos USA e a Europa. Pode fazer crer que   se trata de um conflito desequilibrado.

- Não utilize o termo "territórios ocupados" mas sim   territórios contestados. A esse propósito é preferível dizer Judeia-Samaria   em vez de Cisjordânia.

- Nunca lembrar as várias resoluções da ONU ou convenções de   Genebra desfavoráveis a Israel. Mesma coisa para as condenações do Tribunal   de Justiça da Haia... Isso pode perturbar o leitor, telespectador ou auditor.

- É preferível não dizer armada israelita, mas sim uma
  qualificação mais simpática de Tsahal.

- É de bom tom deixar entender que o "Hamas" é um   grupo terrorista que não reconhece o Estado de Israel. Sobretudo não referir   o reconhecimento feito em 2002.

- Não referir que Israel sempre se recusou fixar as suas   fronteiras e não reconhece a Palestina.

- A palavra colonato deve ser banida dos seus textos, utilize o   termo implantações.

- Para afirmar a simetria do conflito, nunca deve ser evocado o   expansionismo israelita, diga sempre que são dois povos que disputam um mesmo   território.

- No caso em que tenha que evocar os projectos de   desenvolvimento nuclear iranianos, não vale a pena insistir sobre o arsenal   nuclear militar israelita... Sobretudo não assinale que é a 6ª potência   mundial nesse domínio.

- Se deve falar da rejeição palestiniana de aceitar as condições   israelitas para por fim às hostilidades, acrescente sempre que "Israel   considera que já não existe qualquer parceiro para negociar o processo de   paz"... Se possível utilize um tom de lamentação.

- Se tiver de citar o "muro de separação", nunca diga   que este foi erguido sobre terras palestinianas anexadas, não esqueça é de   mencionar que ele foi erguido para acabar com os atentados terroristas... E   sobretudo não refira que o Tribunal Internacional de Justiça ordenou o seu  desmantelamento.

- Ao falar dos opositores a Israel nunca utilize as palavras   resistentes ou militantes... Fale sempre em activistas. Mesmo que estes se   manifestem unicamente pela paz, eles devem ser qualificados de   pro-palestinianos.

- No caso de haver uma nova operação para furar o bloqueio de   Gaza, utilize expressões como "estes navios de pretensos   pacifistas" ou "acto de provocação".... e sobretudo evite os   comentários do estilo "bloqueio ilegal de Israel, condenado pela   ONU".

- Se tiver a oportunidade, afirme que Israel é a única   democracia do Médio-Oriente. Evite, claro de acrescentar que essa qualidade   só se aplica à população branca e judia do país.

- Não faça qualquer critica à vontade do actual governo de   transformar o termo Israel em Estado Judeu, o que exclui os 20 % da sua   população muçulmana. Evite sempre as referência religiosas.

- Como os israelitas falam melhor francês que os árabes,   deixe-os falar frequentemente. assim poderão explicar-nos melhor as regras   anteriores e afirmar assim a sua neutralidade jornalística.

Nota importante: Nos casos em que certos colegas seus   infringissem estes regras, deverá prevenir os responsáveis do meio de   comunicação. É um dever de cidadão de sinalizar todas as derivas   antissemíticas.

 http://www.michelcollon.info/Comment-ecrire-un-article-sur-la.html?lang=fr

 

 

publicado por Carlos Loures às 13:00

editado por João Machado às 12:36
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2 comentários:
De adao cruz a 26 de Junho de 2011
Vergonha das vergonhas!
De Inês Aguiar a 26 de Junho de 2011

Hediondo e criminoso este perpetuar de poder e abençoadas as mão que desnudam a realidade.
Para o Carlos e João Machado o meu obrigada por este
artigo. Beijos

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